Poesia Ativa: Antologia Prêmio Absurtos 2022
De Rose Almeida
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Sobre este e-book
SOBRE A ORGANIZADORA
Rose Almeida é paulistana, nasceu em 1976 e é formada em Letras pela USP. Escreve poesia desde a pré-adolescência e foi professora de português na rede pública por mais de uma década. Em 2016 passou a publicar poemas nas mídias sociais. Participou da Antologia Inaugural Patuscada (2016) e da Antologia Ruínas (2020), ambas pela Editora Patuá. Desde 2019 é editora-executiva na Absurtos Editora, onde já editou e lançou diversos títulos, de poetas contemporâneos de todo o Brasil.
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Poesia Ativa - Rose Almeida
Um novo olhar
- Nando Donel (Francisco Beltrão/PR)
Identificar o olhar que transcende o corpo,
aquele que os olhos não podem ver,
e deixar a materialidade do caos desfocada
na trava do existir disperso,
buscar o existir atento
e trazer o olhar transcendente consigo,
viver o que a vida dispõe
e se dispor para a vida,
ser folha leve para o vento,
ser árvore para o pássaro,
ser céu para os olhos,
ser grama para o tombo
e ser para a vida
gestação univitelina
no útero do instante.
Poesia indigesta
- Anna Karolina Barroso (Juiz de Fora/MG)
Ando comendo palavras
De dentro para fora
Ando pensando demais
E me engasgando para dizer
Num desprazer que se sente
Ao comer sem paladar
Vou caminhando no vazio
Sem ter que chegar
Divagando e devagar
Torcendo
Para que haja uma pedra no caminho
Ou um deslize que me vire a cabeça
Um delírio – que seja!
Deixando lacunas
Revirando
Ando ando ando
Gerundiando em labirintos
Digerindo o não dito
Que não cessa de me comer.
Indign_ação
- Luisa Soalheiro (Ilhéus/BA)
Pois que comam brioches
Pois que comprem fuzis
Se repetem na história
As respostas dos imbecis
Não comemos brioches
Não queremos fuzis
Seiscentos mil mortos
Covas rasas, chão de giz
Diante dessa solidão
Risos, motos, e daís
Disparam balas de canhão
Matam gente, árvores, colibris
Pandêmica raça de hipócritas
Virulência de zeros e afins
Vestidos em peles falsas
Defendendo seus florins
Não comemos brioches
Não queremos fuzis
Queremos tudo de volta
Amigos, praças, jardins
That’s over, baby!
E não tá nada ok!
Entendimento
- Alex Alves Sampaio (Paraíso das Águas/MS)
Quase no fim,
uma parada.
No começo,
uma longa jornada.
Quase que normal,
um imoral.
No fundo da alma
respiramos paz,
transpiramos o amor
e brotamos nas emoções.
Numa longa jornada,
em plena madrugada.
Num vago caminho,
numa flor que brota sem espinhos,
num lugar para sonhar.
Tudo começa
ao terminar!
Era num jardim de estátuas tristes
- Alexandre Bernardi (Chapecó/SC)
Um obséquio vulgar, desses que nós prestamos aos desconhecidos que sofrem, pela imperiosa simpatia sentimental que há no fundo de todos nós
(Alceu Wamosy)
Era num jardim de estátuas tristes
Em que eu costumava passear
Agora só restam ruínas
Em que a morte me espreita
Num espaldar
Atrás, lá longe, no infinito
Prestes a chegar, me atiçar
Me soçobrar no mais fundo e tenebroso
Mar das desilusões
Aonde não mais voltarei
Acabarei
Não mais sobrarei
Apenas poeiras de ossos ebúrneos
Plasma e moléculas destroçadas
Translocadas nas suas puras metáforas
Dispersas no rochedo cósmico da eternidade
Esquecido para sempre
Imolado das convicções
Apartado dos sentimentos
Enfim, liberto… eterno… para sempre liberto
Crescer
- Alice Martineli (Brasília/DF)
Ei, criança, vá com calma
você ao menos olhou em volta?
sua visão torta te fez uma alma inquieta
sabe aonde vai com tamanha pressa?
bom, não muito diferente do que expressa a sua volta.
Talvez a mente adulta tenha consumido suas ambições
ou quem sabe perdeu seu tempo infantil
assim, seu passatempo virou a ignorância
novamente tão parecida com a deselegância ao redor.
Ei, criança, você ainda se reconhece?
encontre a resposta enquanto sua inocência desvanece
mas o livre espírito ainda permanece
restrito aos olhares dos prisioneiros
que, em um mundo corriqueiro, a individualidade esmorece.
Talvez você nem seja tão