Último Degrau

De Daniel Marx

Muita gente se pergunta por que deve se matar ou desistir da vida. Por que é mais fácil ficar recluso do que viver em uma sociedade? Por que aquelas pessoas que pareciam tão felizes atentaram contra a própria vida? Por que após um suicídio de uma celebridade, o índice de suicídio principalmente entre os jovens tem um aumento considerável?Essas são algumas perguntas que muitas vezes ficam sem respostas, ou temos vergonha de perguntar.A depressão e o suicídio são problemas de saúde pública e precisam ser combatidos e discutido com seriedade. E as pessoas afetadas por esse mal precisam ser apoiadas e socorridas.Quase um milhão de pessoas tiram a própria vida todos os anos. E por que não fazemos nada? Por que não cuidamos uns dos outros? Por que os governantes muitas vezes fecham os olhos para esse mal que acomete a população?Neste livro vamos abordar essas e muitas outras questões envolvendo esse tema que virou um tabu para na sociedade, mas que tem que ser quebrado e vencido.Vamos bater um papo. Vamos falar de depressão e suicídio.

• Idioma: Português
• Editora: Bibliomundi
• Data de lançamento: 16 de dez. de 2021
• ISBN: 9786588676127

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A VIDA DE MERDA

Eu poderia ter morrido...

Afinal de contas a vida é uma porcaria, nada presta, ninguém vale a pena e o mundo conspira contra mim.

Não tenho o emprego que eu quero, nunca estudei onde gostaria e muito menos o curso que eu sonhava. Não sou correspondido no amor e minha vida financeira é um desastre. Tive um acidente e hoje não consigo andar. Meus pais morreram e eu fui criado por parentes sem nunca mais ter sentido o amor fraternal. Sou gay e meus pais não aceitam ou não tenho coragem de contar para eles. Meu marido, ou esposa, me traiu. Fui demitido e preciso pagar aluguel. Meu filho tem câncer.

Eu sei, é horrível qualquer uma destas situações e, em muitos dos casos, não sei como se sentem, pois nunca passei por algumas destas situações e outras nunca vou passar. E é por isso que o que tenho a dizer é que, para qualquer destes problemas, você tem apenas duas saídas:

1° – Desistir de tudo e continuar enxergando o copo meio vazio, deixar que o tempo faça seu papel e, quem sabe, até desistir da própria vida, podendo se afundar na depressão, se afastando de tudo e de todos e definhar até a morte, mas também pode adiantar o processo e se matar, assim você não precisa prolongar o sofrimento, nem seu e nem das pessoas ao seu redor.

2° – Ou você pode respirar fundo e saber que você não é a última bolacha do pacote. Que você tem sim problemas e, às vezes, problemas horríveis que te tiram o sono e que te secam as lágrimas sem que ninguém veja. Talvez seu problema seja do tipo que te faz respirar pausadamente e seu coração acelerar, e que faz com que sua gastrite ataque a ponto de virar uma úlcera. No entanto, você resolve andar mais um passo em direção ao problema, pois sabe que se adiar ou fugir não vai adiantar. Em algum momento precisará enfrentá-lo. Você poderia desistir, afinal seria mais fácil, mas você resolve lutar porque alguém depende de você e, se não depender, você depende de você e isso basta. E depois que você faz isto percebe que não foi tão difícil assim, que já se passaram dias e às vezes anos desde aquele problema horrível e impossível de resolver. E aqui está você, refletindo sobre a escolha que fez e que pode não ter sido a certa, mas ao menos foi a escolha que te fez não desistir da vida.

Bem, passado este momento de apresentação dos pontos principais deste livro, gostaria de salientar que este livro não é um livro de auto ajuda, eu o classifico mais como uma conversa entre amigos, de uma forma sem preconceitos e julgamentos, de uma maneira clara e às vezes objetiva para mostrar que vivemos em um mundo problemático, com pessoas ruins e rancorosas, e que cabe a você não se deixar contaminar com essas pessoas, não se contaminar com esse mundo, não importando o estágio de depressão, ou o que eu chamaria de pré-suicídio, em que esteja vivendo neste momento. Eu peço apenas que espere só mais um dia, ou mais uma hora, ou até mais um minuto e, quem sabe, você respira fundo e percebe que ainda tem uma chance para você, que ainda dá tempo de subir daquele poço que parece sem fundo e que, se você não tiver forças para subir sozinho, que não é vergonha alguma pedir ajuda, gritar por socorro, que não é vergonha chorar e quebrar algo, gritar que não aguenta mais, de blasfemar contra Deus e até jogar uma bíblia contra a parede. Apenas espere um pouco mais.

O sociólogo francês Émile Durkheim definiu em seu livro O suicídio 4 tipos de suicídio:

1º Suicídio Altruísta – Que é aquele que pode morrer por uma causa, ser um herói para determinado grupo de pessoas ou sociedade. Aqui podemos destacar os kamikazes que, durante a Segunda Guerra, jogavam seus aviões repletos de explosivos em cima dos navios dos inimigos, sendo assim chamados Os guardiões da pátria. Eu também incluiria os homens bombas que acreditam em sua causa, em um bem maior em nome de um determinado grupo ou ser superior.

2º Suicídio Anômico -  Seria o isolamento social, um limitador das paixões individuais. É a pessoas que tira a própria vida por problemas financeiros, porque perdeu um ente querido, perdeu o emprego ou separou-se. Seja o que for que lhe foi tirado e que ele, de certa forma, amava aquilo muito mais do que a si mesmo.

3º Suicídio Fatalista – É quando a pessoas não enxerga um futuro em sua vida, vive massacrada pela sociedade ou governo totalitário. Os países africanos são bons exemplos para esse tipo de suicídio, mas também países governados por ditadores como alguns países do Oriente Médio e América do Sul.

4° Suicídio Egoísta – Aqui o indivíduo não se dá valor, não quer existir, não se encontra em nenhum grupo, não se sente integrado na sociedade ou comunidade, grupos, família ou amigos. Aqui ele está depressivo e não acha sentido em sua vida. E muitas vezes nem ao menos sabe o motivo de se sentir assim.

Você pode observar que, não importa a ocasião em que o indivíduo possa chegar a um ponto crucial de tomar uma atitude como as citadas acima, ou outra semelhante, existe uma grande pressão psicológica que o faz caminhar neste sentido, e seja essa pressão externa ou interna, ela o desnorteia, o embriaga e seduz a ponto do indivíduo já não pensar em seus valores ou com uma consciência equilibrada que o faria acender o sinal de alerta se caso ele estivesse em seu estado normal. Esse indivíduo já não responde por si, mas por uma causa, um propósito maior que precisa ser alcançado, nem que para isso sua vida e a de muitas outras pessoas sejam destruídas. Ele enxerga a luz no fim do túnel, mesmo que essa luz seja ilusória, mas para ele é o tão cobiçado graal.

É preciso livrar-se da dor, é preciso se vingar da pessoa que o traiu, mostrar para seus pais que eles estavam errados todo o tempo e que, por este motivo, vão viver a amargura de carregar o suicídio de um filho nas costas. Às vezes, o que leva a pessoa a dar cabo da própria vida é o simples fato de ser notado ou deixar um recado para a sociedade. Seja qual for o motivo, existe uma causa aparente. Ou você nunca passou por um momento crucial de sua vida que, nem que seja por um segundo, pensou em sumir, em morrer, para que tudo aquilo passasse ou para que não precisasse passar? Seja porque descobriu uma doença incurável ou pelo simples fato de não sentir mais vontade de seguir adiante, perceber em um certo momento de sua vida, muitas vezes ainda imatura e até juvenil, que você não quer mais continuar, que essa vida que lhe foi proporcionada não era o que você queria e que, em algum lugar do universo, alguém te pregou uma peça e te vendeu gato por lebre. E então você simplesmente diz: Basta, não quero mais, vou desistir porque aqui é meu limite.

Caso você não se encaixe em nenhum destes exemplos, parabéns, você é uma pessoa evoluída e talvez de muita fé, ou simplesmente leva a vida sem reparar à sua volta para ver que alguém próximo a você tem um destes problemas e está gritando por ajuda enquanto você segue sua vida medíocre, preocupado apenas com seu próprio rabo.

O que quero dizer é que você, pessoa egoísta, não está sozinha no mundo, sinta-se feliz, existem milhares que, assim como você, seguem adiante atravessando os corpos de pessoas que poderiam não ter morrido caso você apenas as tivesse reparado.

DEPRESSÃO É FRESCURA

Depressão é frescura. É doença de rico. É coisa de viado, de quem não tem o que fazer. Tem que arrumar uma ocupação, uma lavagem de roupa. É falta de macho.

Na certa você já ouviu algo semelhante, ou já pensou ou até falou algumas destas barbaridades para alguém. Não é de se admirar frases como esta, em um mundo machista, homofóbico e preconceituoso em que fomos criados e que, em pleno século XXI, ainda matamos negros simplesmente pela ousadia que ele teve de ser negro, matamos mulheres porque são mulheres e precisam estar abaixo dos homens e matamos homossexuais pela petulância de serem homossexuais.

Nós simplesmente odiamos nossos vizinhos ou parentes porque sua posição política e religiosa é diferente da nossa, ou porque ele não frequenta o ciclo social que eu frequento, porque ele, ou ela, é feio, ou feia, ou gorda, ou se veste mal, ou tem uma deficiência física.

Não importa o motivo que seja a nossa indiferença ou distanciamento destas pessoas por acharmos que somos melhores ou estarmos no topo da cadeia alimentar, o caso aqui é que somos escrotos se pensamos assim, somos parasitas que nos alimentamos com o sofrimento