Contos de Uma Fada #3 A Princesa Guerreira
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Sobre este e-book
Letícia Black
Letícia Black é natural do Rio de Janeiro, nascida no comecinho da década de 90. Seu primeiro livro foi publicado em 2012 e ela não pretende parar. Autora orgulhosa dos livros Contos de Uma Fada, Garota de Domingo, Safira, Toque de Recolher, Monstro, Deserto e da série Jogando os Dados.
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Contos de Uma Fada #3 A Princesa Guerreira - Letícia Black
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
Black, Letícia
Contos de Uma Fada: A Princesa Guerreira / Letícia Black
Ficção brasileira I. Título
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da autora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.
Dedicatória
Não poderia dedicar esse livro pra outra pessoa senão para você, que aguardou amargos 7 anos de desculpas minhas até essa continuação finalmente sair. Meus medos e meus traumas adiaram esse plano ano após ano e você continuou aqui comigo. Esse livro é pra você, e apenas pra você.
Sumário
Dedicatória
Sumário
Prefácio
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Outros livros da autora:
Prefácio
Desde sempre, antes que eu retornasse e deixasse os braços dele me envolverem, eu sabia que eu teria que partir.
Deixei-me acomodar. O tempo passou e, o que foi designado para mim, parecia não se esgotar. Achei que talvez, a ironia do destino de ser híbrida estivesse sorrindo para mim e que eu nunca teria que deixá-lo.
Quão iludida eu fui.
Capítulo Um
O Renascimento
— Está tudo bem? — Guilherme me perguntou pela milésima vez naquela manhã.
Queria dizer-lhe a verdade. Levantei meus olhos do lenço que meu pai me dera e que estava tentando enfiar na pequena mala que começara a preparar naquela manhã. Sabia que ele podia entender o que estava acontecendo.
Sentei-me na cama, ao lado da mala, e enfiei minhas mãos no meu cabelo, desesperada, sentindo a dor latejando em minhas costas, em áreas já conhecidas. Não queria me deixar chorar porque não me sentia triste. Sempre soube que aquela partida teria que acontecer, embora estivesse começando a duvidar, depois de passar quase um ano e meio na Terra. Tal como sentira saudades de Guilherme em Lammertia, sentia falta do meu mundo, das minhas amigas e da minha família na Terra, mas cada momento, cada milésimo de segundo ao lado de Guilherme... Valeu a pena. Foi tudo perfeito, mesmo com a sombra do incerto nos perseguindo de perto, mesmo com ele acordando a noite para me tatear e ter certeza que continuava ali.
— Michie... — Guilherme chamou-me, ajoelhando-se à minha frente, os olhos marejados e preocupados.
Não pude encará-lo. Olhei para nossa TV desligada, fingindo não reparar em meu nariz vermelho pelas lágrimas que estava tentando conter.
— Desculpe — foi a única coisa que eu consegui soltar antes que fosse atingida por uma maré de soluços.
Ouvi o suspiro cansado de Guilherme e logo senti seus braços ao meu redor, obrigando-me a encharcar sua blusa com minhas lágrimas.
— Está na hora? — perguntou-me. Com um aperto no coração e um monte de pontadas nas costas, concordei com a cabeça. — Está tudo bem, Michelle. Eu entendo.
Não, não estava nada bem e tinha certeza que ele não entendia. Foram inúmeras as tentativas para que aceitasse me casar com ele e inúmeras as vezes em que fora obrigada a lhe dizer que partiria e que não desejava que ele se prendesse a minha memória.
Acalmei-me um pouco, apertando-o contra mim. Ele arriscou se afastar um pouco e capturou meus lábios em um selinho salgado pelas lágrimas.
— Eu amo você — sussurrei-lhe. — Promete nunca esquecer isso?
Guilherme sorriu de lado e levei minhas mãos ao seu rosto, dedilhando-o por um momento distraído, até que ele beijou um de meus pulsos.
— Eu também te amo — afirmou. — E eu prometo que não vou desistir de você, como você não desistiu de mim.
Fechei os olhos com força, desejando que ele não soubesse do que estava falando. Querer não é poder, já havia repetido milhares de vezes a ele. Contei-lhe tudo que podia, sem contar da magia. Contei que se ele fosse, nunca mais poderia voltar. Esperava que tivesse entendido cada palavra dita e que estivesse me dizendo isso apenas pelo calor do momento.
Antes que pudesse retrucar, repetir recomendações e resmungar mais um pouco sobre a impulsividade levar a arrependimentos futuros, a campainha tocou. Guilherme beijos meus lábios e passou os dedos pelos meus cabelos antes de se levantar e sumir para a sala.
Fechei meus olhos e estremeci de dor. Respirei fundo, sentindo o cheiro do mar da baía da Guanabara, tentando manter a calma. Meus sentidos para os elementos estava aumentando com rapidez, a magia voltando para mim junto com minhas asas. Olhei para minhas mãos, tremendo, e não pude deixar de sussurrar:
— Fogo — implorei por ajuda.
E, como toda vez que lhe pedia, ele respondeu. Agora, sem minhas asas, ele vinha bem fraco, quase imperceptível, mas sentia sua força ao meu redor, um abraço invisível que me dava a sensação de poder.
Levantei meus olhos para porta, encarando Guilherme me olhar com um sorriso quase divertido.
— Vieram te buscar — contou.
E com a boca escancarada, encarei a figura loira que o seguira. Bem mais forte do que me lembrava e, agora, mais alto que eu, mas eram os mesmos lábios em sorriso brincalhão que eu tanto amava, o mesmo cabelo loiro enfiado em uma touca para esconder suas orelhas, os mesmos olhos, tão iguais aos meus.
— Kie — sussurrei em admiração, pulando da cama ao seu encontro.
Tive que pular para poder encaixar meu queixo em seu ombro, enquanto ele soltava uma gargalhada contente, puxando e apertando-me.
— Também senti sua falta, Mi — apertou-me em seus braços.
Pulei para trás para admirá-lo mais uma vez, impressionada como meu irmão mudara.
— Você cresceu tanto — afirmei. — Meu Deus, está tão grande! Tão bonito!
Eu podia começar a chorar em qualquer momento e tinha certeza que ambos os rapazes sabiam disso. Kieran cutucou-me na costela, com um sorriso arteiro.
— Você está mais bonita também — Disse. — Engordou.
Encarei-o boquiaberta por alguns momentos, nos quais Guilherme não escondeu sua risada. Bateu no ombro de Kieran, de leve, que ainda não entendia o que havia dito de errado.
— Não se diz isso pra uma garota, cara — Guilherme explicou.
Kieran deu de ombros.
— Ela é minha irmã, eu falo o que eu quiser — resmungou, passando os braços pelos meus ombros. — Pronta?
Abri e fechei a boca algumas vezes antes de encontrar as palavras certas para responder àquela pergunta.
— Eu... Preciso de um momento — pedi, olhando para Guilherme, que encarava o chão.
Kieran estalou os lábios e escorregou o braço para longe de mim. Disfarçando, caminhou até a minha mala.
— Uau — exclamou. — Você tem uma mala agora. Estamos evoluindo!
E, colocando-a sobre os ombros, saiu do quarto. Guilherme continuou encarando seus sapatos até que olhei para ele.
— Mi... — chamou.
— Preciso de um momento — repeti, com toda a dureza que conseguiria ter naquele momento.
Ele levantou o olhar pra mim, quase admirado e concordou com a cabeça. Assim que fechou a porta atrás de si, resolvi tentar deixar mais uma pista.
Eu havia lhe dito, várias vezes, coisas que talvez o fizessem me encontrar, se quisesse. Não podia entregar de bandeja, mas ele sabia que era uma ilha desconhecida, pois deixara bem claro, mas onde?
Cinco minutos depois, saí do quarto sentindo-me extremamente genial pela ideia sutil e inteligente que eu tivera. Guilherme, é claro, talvez não gostasse de descobrir que eu estragara sua bermuda favorita desenhando triângulos desformes nela. Deixei minha obra de arte em cima da cama.
Ele me esperava encostado à parede em frente a porta do quarto. Kieran, pelos barulhos, estava na cozinha inspecionando, o que não me impressionava.
— Então... — murmurei. Eu voltara pra me despedir e, naquele momento, acabava de perceber que não queria ter que dizer adeus.
Guilherme parecia estar na mesma situação que eu, pois apenas cruzou o espaço entre nós e grudou nossos lábios de forma desesperada. Puxei seus cabelos, deixando-o me apertar entre ele e a parede ao lado da porta, sentindo seus lábios abandonarem os meus para morder meu pescoço, com a corrente do meu cordão das línguas entre seus dentes.
Kieran pigarreou em algum lugar próximo a nós, mas nem nos movemos. Guilherme levou seus lábios ao meu ouvido e sussurrou:
— Queria ter você só mais uma vez, antes que fosse — estremeci com a sugestão.
Puxei-o, apertando ainda mais contra mim e a imagem das minhas asas brotando em meio ao nosso ato de amor fez com que eu resistisse.
— Eu preciso ir — sussurrei-lhe, com toda a força de vontade que tinha.
Ele concordou com a cabeça e apertei meus olhos da mesma forma que sentia meu coração se apertar. Ele beijou-me mais uma, duas vezes, selinhos rápidos e dolorosos.
— Eu te amo, Mi — sussurrou, pegando minha mão com a sua e apertando contra seus lábios. — Pra sempre.
Senti uma lágrima fugir do meu controle com suas palavras.
— Para sempre — repeti, me afastando, sabendo que, para mim, era muito mais além do que para ele.
Continuei olhando para ele, meus olhos marejados e um sorriso triste no rosto enquanto caminhava em direção à mão estendida de Kieran. Alcancei-o e apertei-a. Ele passou os braços ao redor de mim, guiando-me para a porta do apartamento, e beijou o topo da minha cabeça com uma facilidade que não seria possível da última vez que nos vimos.
— Eu vou te encontrar, Mi — Gui disse, assim que Kieran deslizou a mão pela maçaneta, abrindo a porta. — Por Deus, mesmo que demore, acharei você.
Kieran balançou a cabeça em reprovação e sorri para Guilherme, antes de ser puxada para fora do apartamento. O elevador já nos aguardava e, assim que a porta dele fechou-se atrás de mim, soltei o gemido que eu estava segurando e deixei todas as minhas lágrimas desesperadas.
— Uau.— Kieran disse, puxando-me para encostar a cabeça em seu ombro. — Sabia que você estava feliz em me ver, mas não precisava tanto.
Tão fácil como sempre, ele me fez soltar uma risada em meio a toda escuridão dos meus sentimentos. Funguei, tentando engolir meu choro, rindo de forma tão estranha que Kieran acabou rindo de mim.
— Estou feliz em ver você, Kie — garanti. — Só não muito feliz em... Bom, em deixar Gui.
Kieran revirou os olhos sem nem disfarçar. Neste momento, a porta do elevador se abriu e me empurrou para fora do mesmo, arrastando-me para fora do prédio tão rápido que quase não conseguir acenar para o porteiro, parecendo preocupado com a minha cara de choro e minha mala. Acho que todos ainda se lembravam do quanto Guilherme sofrera sem mim.
Respirei a brisa do mar, contente em sentir minhas forças da natureza serem restauradas. Havia apenas um vestígio do poder que sentia antes e agora estava subindo pouco a pouco.
Com uma mão segurando minha mala e a outra na minha, Kieran me puxou pela rua movimentada do meio da tarde de um fim de semana. Já tinha começado a sentir as dores há algumas horas e isso significava que talvez não tivéssemos muito tempo antes de um desastre. Ele me arrastou até um canto da praia e, apesar da movimentação, me guiou para dentro de um pequeno barco de pescador. Com uma olhada para ver se ninguém prestava a atenção, enfiou a mão da água e disparamos em alta velocidade para alto mar.
— Caramba — impressionei-me.
Kieran me piscou um olho. Tinha perdido dois aniversários dele naquele período e Kieran saíra de um doce adolescente para um quase homem charmoso, belo e confiante. E, aparentemente, extremamente poderoso.
— Tenho praticado — ele me contou.
A água devia ser seu elemento principal, então, tal como o meu era o fogo, que me respondia com facilidade mesmo na Terra.