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Contos de Uma Fada #1 A Rainha Etorn
Contos de Uma Fada #1 A Rainha Etorn
Contos de Uma Fada #1 A Rainha Etorn
E-book257 páginas3 horas

Contos de Uma Fada #1 A Rainha Etorn

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Sobre este e-book

Um julgamento aguarda por Michelle. Seu crime? Nascer.Michelle está prestes a ter sua vida virada de cabeça para baixo. Ela passa de uma simples garota carioca que gasta seu tempo livre com o namorado, Guilherme, para uma princesa de Lammertia, a terra das fadas.Descobrindo ser fruto da junção perigosa de elfos e fadas e que não deveria ter sobrevivido aos primeiros segundos de vida, Michelle parte para a Nascente das Montanhas com a ajuda de seus novos e mágicos cúmplices. Ela tem de convencer a todos do reino que pode continuar viva; e isso não será nada fácil. Tudo o que a nova princesa deseja é voltar para casa e para seu namorado. Mas antes terá de mudar o mundo das fadas para sempre. Será que ela vai conseguir?- Essa história está publicada em formato físico e faz parte do livro Contos de Uma Fada: A Nascente das Montanhas, publicado pela editora Novo Século em 2012. Se você já leu o exemplar físico, remenda-se que vá direto para Contos de uma Fada: A Princesa Guerreira.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de abr. de 2021
ISBN9781526040473
Contos de Uma Fada #1 A Rainha Etorn
Autor

Letícia Black

Letícia Black é natural do Rio de Janeiro, nascida no comecinho da década de 90. Seu primeiro livro foi publicado em 2012 e ela não pretende parar. Autora orgulhosa dos livros Contos de Uma Fada, Garota de Domingo, Safira, Toque de Recolher, Monstro, Deserto e da série Jogando os Dados.

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    Contos de Uma Fada #1 A Rainha Etorn - Letícia Black

    Revisão:

    Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

    Black, Letícia

    Contos de Uma Fada: A Rainha Etorn / Letícia Black

    Ficção brasileira I. Título

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da autora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

    Dedicatória

    À minha mãe e minha avó, que sempre acreditaram em mim, dos primeiros gibis e poemas desconexos até aqui.

    À minha amiga Piu, que me ajudou em passos mais largos do que eu conseguia na época.

    E a todos os meus leitores, que confiaram e dedicaram seu carinho e sua atenção em mim. Essa é para vocês.

    Sumário

    Dedicatória

    Sumário

    Prefácio

    Capítulo Um

    Capítulo Dois

    Capítulo Três

    Capítulo Quatro

    Capítulo Cinco

    Capitulo Seis

    Capitulo Sete

    Capítulo Oito

    Capítulo Nove

    Capítulo Dez

    Capítulo Onze

    Capítulo Doze

    Capítulo Treze

    Capítulo Catorze

    Capítulo Quinze

    Outros livros da autora:

    Prefácio

    Era uma vez uma fada.

    Sim, eu sei. Essa história já começa errada. Não me bastava ser diferente, uma fada, ainda tinha que fazer tudo isso da forma mais distante possível da normalidade.

    Meu reflexo, que eu podia ver nas águas do mar, mostrava uma garota arrasada, com cabelos extremamente cacheados. E, atrás dela, grandes e imponentes asas brancas e vermelhas.

    Era assustador.

    Eu estava deixando toda a vida que eu conhecia para trás e ela parecia cada vez mais distante, assim como a costa, que eu tanto amava, que já quase não dava pra ver no horizonte.

    O desconhecido estava a minha espera e minha intuição dizia que era ainda mais amedrontador que asas brotando do nada nas minhas costas.

    Bom, reza a lenda que nunca se deve duvidar das intuições de uma fada.

    Capítulo Um

    A mudança

    Trinta e seis horas antes

    O que eu faria agora?

    Encarei a quantidade de gente ao redor, sentindo que entraria em crise de choro bem em breve. Suspirei, dei a volta no quiosque, ficando escondida entre a parede e um ônibus estacionado, esperando que os passageiros subissem.

    Escorreguei pela parede até o chão e abri minha bolsa com cuidado. Eu não gostava de ficar parada ali, mas dentro da Central do Brasil era movimentado demais e sabia que cobravam para acessar os banheiros do subsolo. Então, contrariando meus instintos de proteção, tirei o celular da bolsa.

    Para quem ligaria? Era provável que minha mãe não quisesse me ver já que eu era um estorvo na vida daquela família. Tinha quase certeza que teriam preferido que eu tivesse morrido sozinha onde me acharam e que se arrependeram de me acolherem; não me rebaixaria a ligar à ela e pedir que viesse me buscar, não tão sensível como eu estava. Eu não deixaria que ela me visse assim.

    Mordi meu lábio, fechei a bolsa, a colocando no chão, sentando-me em cima dela, decidida a ficar ali por um pouco mais de tempo, a sensação de segurança totalmente errônea me dominando. Eu tinha alguém pra quem podia ligar.

    O rosto dele dominou meus pensamentos por alguns segundos, antes do sorriso brincar em meu rosto com o simples pensamento de que vê-lo em alguns minutos iria melhorar o meu dia. Seu rosto bonito, seu sorriso sincero e protetor. Seus olhos doces seriam o suficiente para que eu me sentisse melhor. Guilherme viria. Ele não me deixaria sozinha em momento nenhum, tudo o que eu precisava era pedir. Não precisava me sentir envergonhada, não com ele.

    Nove-cinco-quatro...

    Eu senti a faca no meu pescoço antes de conseguir apertar o próximo número.

    — Passa — Eu ouvi.

    Respirei fundo, quase chorando, quando levantei meus olhos para a figura imunda à minha frente. A serra da faca apertou-se mais em meu pescoço, então lhe estendi meu celular, puxando um pouco meu vestido, esticando-o para os lados, para esconder que estava sentada em cima da minha bolsa. Por sorte, ele apenas pegou meu celular e correu.

    Alguém abriu a janela do ônibus parado à minha frente e gritou, perguntando se eu estava bem. Concordei com a cabeça sem olhar porque não queria que vissem o desespero em meus olhos. Disfarçando o meu mal-estar, estiquei minha perna e distrai-me em amarrar e desamarrar meus cadarços. Só fiquei satisfeita quando o ônibus ligou seus motores e saiu, deixando-me a vista novamente.

    Levantei-me, decidida. Andei até a faixa de pedestres da Presidente Vargas, esperando impacientemente que o sinal fechasse para que pudesse correr e atravessar a rua de uma vez só. Havia um orelhão do outro lado, eu tinha certeza. Eu tinha decorado seu número de tantas vezes que liguei.

    Agarrei a minha bolsa e disparei pela faixa de pedestres, contra a multidão que atravessava na direção oposta. Desviei, tropecei e corri a tempo de chegar ao outro lado antes do sinal fechar pra mim. Parei, tentando localizar o orelhão dali. Pisquei, encontrando-o, ao mesmo tempo que um velho reparou em mim, me olhando de cima a baixo de forma desrespeitosa.

    Soltando um muxoxo de frustração com o andamento péssimo do meu dia, agarrei minha bolsa com mais força e caminhei em passos largos e rápidos até o orelhão. Não tinha fila. Todos tinham seus celulares.

    Eu não tinha dinheiro ou cartão telefônico. Sentindo lágrimas de desespero querendo rolar pelos meus olhos, disquei uma dupla de noventa, ligação a cobrar, antes do número de Guilherme. Esperava que ele não se importasse.

    Chamou uma vez. Duas. Então ele atendeu, começando a tocar a música que indicava aquela era uma ligação a cobrar.

    Por favor, Gui, não desligue. Eu implorei para mim mesma.

    Alô ouvi a voz dele dizer, o tom explicitando uma curiosidade ligeiramente cuidadosa.

    A vontade de chorar voltou ainda mais forte, desencadeada pelo alívio de ouvir sua voz, junto com o constrangimento da ligação a cobrar e do pedido de ajuda, apesar de saber que ele não se importaria.

    — Gui... — Eu murmurei, entre soluços — Des...culpe.

    Escutei algum barulho, uma cadeira sendo arrastada, algo do gênero. Percebi que ele ainda estava trabalhando e a culpa me corroeu por dentro.

    Mi? perguntou, a voz ardendo em preocupação. Mais lágrimas brotaram dos meus olhos. Michie, o que houve?

    Não consegui prestar atenção no que ele dizia, continuei em meu pedido de desculpas insano e descontrolado.

    — Desculpa, Gui, eu... Não sabia o que fazer... Pra quem ligar, eu...

    Seu tom de voz foi muito mais firme e forte quando ele me cortou pela segunda vez:

    Michelle a voz me fez parar de falar e respirar fundo. Eu não sabia como ele fazia isso. Por favor, fique calma. Onde você está?

    Ele viria. Guilherme viria.

    — Na Central. — informei.

    Funguei, secando as lágrimas. Ficaria tudo bem agora.

    Por quê... Eu podia vê-lo fechando os olhos pra manter a calma Por que você ainda está aí a esta hora? ia responder, mas ele não permitiu. Esquece. Estou indo. Me espera no metrô, perto das escadas. Por favor, eu não demoro.

    Eu não tinha culpa se eu tinha passado quase uma hora parada em frente aos acessos às plataformas, tentando entender como o meu cartão de embarque havia quebrado justo hoje, contando moedas para ver se conseguia juntar o suficiente para comprar uma passagem. Quando entendi que jamais seria o suficiente, pensei em pedir carona em um ônibus, mas a coragem me esvaiu e acabei perdendo o celular.

    — Eu... Tá — murmurei, em concordância.

    Se acalme, Michie podia ouvir o sorriso tranquilizador em sua voz. Te vejo em vinte minutos.

    E desligou.

    Coloquei o telefone no ganho, secando minhas lágrimas com o antebraço antes de virar para encarar o ir e vir dos desconhecidos. O relógio, com estrelas piscantes, estava marcando vinte horas e quarenta e cinco minutos.

    Mesmo com aquele turbilhão de sentimentos em mim, tentei me concentrar em atravessar as quatro faixas movimentadas, fazendo o caminho de volta à Central do Brasil. Minha momentânea fragilidade me deixou lerda o suficiente para que precisasse de dois sinais para completar a travessia.

    Até chegar ao ponto de encontro marcado, dez minutos já haviam se passado. Encolhi-me perto de uma pequena lanchonete, vigiando as escadas enquanto um fluxo interminável de pessoas cruzava o saguão.

    Foram os dez minutos mais longos da minha vida.

    Via as pessoas subindo e descendo as escadas rolantes sem nenhum sinal do rosto do conforto que o rosto do meu namorado me trazia. A sensação de impotência contra as adversidades da minha vida tinha me deixado ainda mais insegura no meio de tanta gente.

    Por três vezes, a atendente da lanchonete perguntou-me se eu queria alguma coisa. Respondi todas elas com uma negativa, vendo-a fazer careta. Sua impaciência me informava que ela gostaria que eu não estivesse ali, mas preferi ficar. A presença estranha da garota incomodada me dava uma breve segurança.

    Meu estômago roncou; coloquei minha mão sobre a barriga e me pus a encarar as escadas, esperançosa.

    Senti-me realizada ao descobrir que ainda sabia sorrir ao ver Guilherme virar o rosto de um lado para o outro, descendo as escadas rolantes, procurando-me com o olhar. Fiquei parada, apenas observando até que ele me encontrou. Suspirou, visivelmente aliviado.

    — Mi — murmurou, chegando perto o suficiente para perceber que o escutaria. No segundo seguinte, seus braços envolveram minha cintura e eu escondi meu rosto em seu peito, voltando a chorar. — Mi, o que aconteceu?

    Apertei-me mais contra o seu abraço e ele levou a mão a minha cabeça, fazendo cafuné. Fingi não perceber quando ele pegou uma mecha do meu cabelo, provavelmente notando os cachos, largando em seguida.

    Aguardou até que eu me acalmasse o suficiente para falar.

    — Eu estava andando com o dinheiro contado de novo — confessei, tirando o rosto de seu peito para encará-lo.

    Ele revirou os olhos antes de sorrir lindamente e secar minhas lágrimas.

    — Já disse para parar de fazer isso — argumentou, colocando meus cabelos atrás da orelha. Seus lábios encostaram-se aos meus por um segundo, rápido demais, mas já me sentia melhor. — Você ficou sem dinheiro pra voltar pra casa, foi só isso?

    Mordi o lábio e neguei com a cabeça. Demorei um pouco e ele aguardou calmamente por um tempo, até que levantou meu rosto com a mão para que eu o encarasse e cedesse aos seus olhos cor de mel.

    — Me roubaram — informei. — O celular. Quando eu ia te ligar.

    Ele levantou a sobrancelha, fazendo sua cicatriz criar um formato fofo que eu adorava.

    — Te machucaram? — perguntou. Neguei, rapidamente, vendo que ele estava ficando tenso. Ele fechou os olhos. — Michelle, eu sei que não foi isso.

    Olhei para baixo mesmo com suas mãos segurando meu rosto firmemente. Balancei a cabeça, desvencilhando-me dela e escondendo-me em seu peito. Ele suspirou.

    — Eu sabia — continuou. — Você não é de ceder por pouco — seus braços me envolveram com cuidado e ele voltou a acariciar meus cabelos. — Você sabe que eu estou aqui pro que precisar, não é?

    Concordei com a cabeça, afastando-me dele e secando meus olhos molhados. Ele sorriu e beijou-me de leve novamente.

    — Vem, vamos sair daqui —  sussurrou, dando um passo para trás e pegando minha mão — Está com fome?

    Eu não queria ver gente e tinha certeza que Gui sabia disso, mas não era muito fácil encontrar um lugar vazio para comer, não importava se era dia da semana ou não. Então, meio contrariado, ele sugeriu um shopping próximo da casa dele. Tive que negar veementemente com a cabeça para que ele desistisse da ideia. Suspirando, acabou tomando outro caminho.

    Levamos cerca de meia hora para conseguir sair do centro, enquanto ele batucava no volante e balançava a cabeça, resmungando algo sobre eu não querer ir ao shopping. Ignorei-o, encarando a janela porque não queria que ele visse que algumas lágrimas continuavam a se rebelar e escorrer pelo meu rosto.

    Sequei uma lágrima teimosa com raiva. Fingi não sentir a mão dele sobre a minha perna, mas acabei me rendendo e olhando em sua direção. Como o trânsito estava parado, ele pôde encarar-me e sorrir pra mim, antes de precisar andar mais alguns metros.

    — Você não vai me contar o que houve? — inquiriu. Fiquei impassível — Tudo bem, acho que você quer comer primeiro, certo?

    Ri. Ele não se rendia ao meu silêncio, nunca. Sempre perdia para seus gracejos. Seu sorriso se alargou ao me ver relaxar enquanto acendia a luz acima de nós, percebendo que havia um carro de polícia parado a alguns metros à nossa frente. Ele ficou um pouco mais concentrado até passarmos por eles e o trânsito melhorou assim que a polícia ficou para trás.

    — A gente... pode... — engoli a seco, minha voz falhando por falta de uso e pelo choro frequente — Comer no carro?

    Ele olhou pra mim, de rabo de olho. Eu sabia que ele queria contradizer, mas não o fez.

    — Claro — concordou.

    Só então ele percebeu que a luz ainda estava acesa e levantou a mão para apagá-la, mas congelou-se, o olhar fixo em meu reflexo no vidro.

    — Michie? — chamou-me. olhei em sua direção, meio a contragosto. provavelmente estava com o nariz vermelho, um dos motivos pelo qual queria comer no carro — O que houve com seu pescoço?

    Instintivamente, levei a mão até ele, tateando um pequeno corte, nada muito ostensivo.

    — Nada — respondi.

    Gui fez uma curva fechada e estacionou na fila do drive-thru. Puxou o freio de mão e olhou pra mim, apoiando o braço distraidamente no volante.

    — Michie — disse, a voz séria fez os pelos da minha nuca se arrepiarem — Eu não posso te ajudar se você não falar nada.

    Concordei com a cabeça, olhando para baixo. Eu havia ligado, eu sabia que agora eu devia algo a ele. E devia contar-lhe o que estava acontecendo.

    Uma de suas mãos deslizou pelo meu braço, acariciando-me com doçura. A outra foi ao meu queixo, fazendo com que mantivéssemos contato visual. Ele sempre me obrigava a manter contato visual com ele porque sabia que eu só cedia assim.

    O que eu podia fazer? Ele tinha os olhos amendoados mais lindos que eu já vira!

    — Eu sei que você odeia isso, que odeia se sentir assim — argumentou. — Mas sou eu, Mi. Não sou qualquer pessoa, certo? — Esperou que eu concordasse, mordendo o lábio, com lágrimas nos olhos — Eu quero te ajudar, você sabe. Mas eu preciso que você facilite pra mim.

    O carro da frente foi atendido e Gui voltou ao volante reclamando da péssima hora. Ele fez o pedido, pagou e pegou, antes que voltasse a estacionar para me encarar.

    Estávamos parados no estacionamento do fast-food mais perto que ele encontrou. Sabia que ele estava querendo chegar ali o mais rápido possível para poder me colocar contra a parede, mas o trânsito o havia atrapalhado.

    Entregou meu lanche em silêncio, observando cada detalhe do que eu fazia, percebendo seu olhar buscar o corte em meu pescoço de tempos em tempos. Comemos parcialmente em silêncio enquanto ele esperava que eu começasse a lhe contar as coisas que haviam acontecido.

    Suspirei.

    — Foi no roubo — expliquei — Ele tinha... Uma faca.

    Não foi fácil segurar o choro. Guilherme largou a comida em cima do, soltando meu cinto e o dele para que ele pudesse me abraçar. Quando percebi, estava sentada no colo dele, minha comida abandonada no banco do carona, onde eu estivera.

    Seu nariz encostou ao meu, acariciando-o levemente. Seus olhos estavam fechados e ele parecia tão... maravilhoso assim. A mão dele acariciava meus cabelos na altura da nuca e a outra estava mantendo-me em seu colo, acariciando minha coxa.

    Fui eu que iniciei o beijo. Não foi um beijo rápido, a posição pedia que fosse um pouco mais compenetrado, mais compatível com o número de anos que nós estávamos juntos.

    Houve um pouco mais de resistência da parte dele, preocupado demais em como eu estava, mas ele acabou desistindo e pegando o controle do beijo para si até que ficássemos sem ar o suficiente para apenas encostar nossas testas. Ele continuou a mordiscar meu lábio inferior, fazendo arrepios subirem pela minha espinha.

    Nós dois estávamos de olhos entreabertos, passando o nariz um no outro carinhosamente quando ele escorregou a mão da minha nuca ao meu rosto, acariciando-o. Seus olhos abriram-se mais que os meus e eu abaixei o olhar.

    — Me conta — implorou.

    Eu não estava preparada para esse tom de voz e ele me desconcertou. Encolhi-me, escondendo meu rosto em seu pescoço, meu nariz estrategicamente posicionado sobre a pinta que ele tinha abaixo da orelha.

    Gui continuou a acariciar-me, passando as mãos pelas minhas costas, paciente.

    — Hoje de manhã — comecei. Percebi seu suspiro de alívio contra a minha nuca. — Eu discuti com a... — Doía pensar minha mãe, sabendo que ela não era, mas não sabia como dizer isso de outra forma. — Minha mãe. — Murmurei, apertando os lábios para conter o gemido que viria a seguir.

    Infelizmente, fui incapaz de contar as lágrimas.

    — Foi muito... Ruim? — perguntou.

    Ele devia estar me achando patética. Infantil.

    — Eu não acho que ela queira me ver mais — murmurei, agora querendo contar tudo para que ele entendesse que o problema não era tão pequeno, que eu não estava triste por bobagem — Ela... Ela disse que... Eu sou... Adotada. Ela... Falou que... Se arrependeu.

    Cada pausa entoada com um soluço. Patético.

    Ele abraçou-me com mais força, disfarçando o choque com a notícia. Suas mãos friccionavam minhas costas, como se isso fosse arrancar a dor de mim. Tudo o que eu queria era que ele fosse capaz de fazer isso.

    — Você devia ter me ligado mais cedo — soprou, a voz clara, mostrando que finalmente havia entendido. Que fazia sentido eu estava tão mal.

    — Eu não queria...

    Ele me interrompeu.

    — Me perturbar com bobagens? — questionou. Com meu silêncio, ele teve sua resposta. — Você não é bobagem, Mi, você sabe.

    Ele passou os dois braços pela minha cintura, segurando-me firmemente antes de beijar meu ombro, única área que seus lábios conseguiam me alcançar.

    — Desculpe — murmurei, sentindo-me mais idiota que antes.

    Ele riu, beijando meu ombro mais uma vez.

    — Você não precisa me pedir desculpas, Michie — sussurrou. — Mas, mesmo que de vez em quando, você tem que se lembrar que eu sou seu namorado, sabia? Você sempre quer ser forte e independente e esquece que você precisa de um abraço às vezes.

    Funguei. Sua boca conseguiu encostar-se em meu pescoço com um pouco de esforço.

    — Gosto de abraços — confessei, parecendo criança.

    Pude sentir seu sorriso em minha pele.

    — Dos meus? — perguntou.

    — É.

    Gui riu baixinho, os braços ao meu redor apertando-se cada vez mais. Ficamos assim por um bom tempo, com nossos lanches esfriando sem que nos importássemos.

    Suspirei, sentindo meu coração doer de tanto pesar depois daquele dia difícil.

    — Ela não quer mais me

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