Coisa da sua cabeça?: Como a depressão afeta o seu cérebro
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Sobre este e-book
Fernanda Neves
Fernanda Neves é farmacêutica, doutora em Ciências Farmacêuticas pela UFRJ e professora. Atua em pós-graduação referência no mercado farmacêutico em diversos estados brasileiros. Possui artigos científicos publicados em periódicos internacionais e realiza palestras sobre depressão e empatia em igrejas, eventos para farmacêuticos, psicólogos e demais profissionais de saúde.
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Coisa da sua cabeça? - Fernanda Neves
CAPÍTULO 1
O que é depressão
Mais uma cena se repete em uma cidade pacata do interior do Rio de Janeiro. Na segunda-feira, João acordou cedo e foi até a área de serviço da casa, procurou por uma corda, mas não encontrou. Sem conseguir afastar os pensamentos que teimavam em aparecer em sua mente, foi até a venda do Seu Manoel Gambá e comprou aquele utensílio aparentemente inofensivo. Ele sentia um nó na garganta, uma angústia no peito, coração acelerado e um desespero sem igual.
Nas noites que se seguiram, João não conseguia pregar o olho, a cabeça e o coração não conseguiam se acalmar. Ele precisava dar cabo em toda aquela dor que o consumia; não fazia mais sentido sofrer tanto. Naquela manhã ensolarada de domingo, ele decidiu que seria o grande dia. Aproveitou que todos haviam saído e começou a montar o cenário que já tinha sido pensado, em cada detalhe, diversas vezes. O plano já estava traçado.
O jovem João, angustiado, vai até o frondoso pé de manga no quintal, escolhe um galho forte, amarra a corda já com o nó da forca, olha para um lado, para o outro e não vê ninguém. Do lado de fora, um silêncio macabro lhe gelava até os ossos; na sua mente a ideia, cada vez mais intensa, de que a única solução possível era por fim àquela existência extremamente dolorosa.
Aquele moço subiu em um banquinho de madeira, passou a corda pela cabeça e a ajustou em volta do seu pescoço, como quem acerta o nó de uma gravata. Então, não conseguiu sentir mais nada além de dor e angústia. Ele empurrou o banco com os seus pés descalços e se lançou pensando que, finalmente, estaria acabando com todo o seu sofrimento.
Naquele momento, por sorte do destino, o seu pai que voltara antes do tempo previsto, viu a situação e imediatamente, cortou a corda com um canivete que, há anos, andava com ele na cintura. O seu filho quase sem vida foi levado ao hospital. Lá, João acordou com a sua mãe chorando ao seu lado, dizendo que o amava e pedindo perdão por tudo que pudesse ter feito para contribuir com aquela situação.
Naquele instante, um filme passou pela cabeça daquele moço. Ele lembrou que tinha uma vida comum, era feliz, tinha muitos amigos, planos e sonhos. Ele não sabia como e quando, mas o colorido das coisas tinha se tornado cinza e ele passou a não mais enxergar o valor da vida. Os dias foram passando e esses sentimentos sombrios insistiam em tomar conta da sua mente, do seu corpo. A sensação que ele tinha é que não era possível viver a vida sem tal sofrimento, que consumia tudo de bom que poderia ter existido ou que ainda pudesse existir na terra. Por isso, ele achava que não existia uma outra saída.
Envolto em suas lembranças conflituosas, João lembrou do que vinha enfrentando e do que viria pela frente. Uma das situações mais difíceis era o peso de ter que lidar com o julgamento das outras pessoas, principalmente dos familiares e amigos, pois as pessoas concluíam e verbalizavam que era um absurdo um jovem tão cheio de vida e saúde encontrar-se triste, desmotivado e infeliz. Eles acreditavam firmemente que João não teria motivos para tal.
Isto não é possível! Só pode ser fraqueza, frescura, preguiça ou falta fé!
- falavam sem pestanejar. Ou ainda, se o moço tivesse muito trabalho a fazer e não tivesse a moleza que tem, não estaria nessa circunstância
. E a mais cruel das inverdades é que as pessoas acreditavam que era falta de vontade dele em mudar aquele quadro.
Ao lembrar desses comentários cheios de preconceito, João se sentia cada vez pior, como se ele fosse um peso para aqueles que estavam próximos. O sentimento de culpa e inutilidade invadiu os seus pensamentos mais uma vez. Em alguns momentos, chegou a ponto de questionar se realmente ele não era tudo aquilo que as pessoas repetiam constantemente. Será que ele não era mesmo um preguiçoso? E para falar a verdade, o fundo do poço em que se encontrava, ficava cada vez mais profundo e ele não via esperança alguma.
Após o ocorrido, aquele jovem pensava que a sua vergonha seria ainda pior. Agora, os julgamentos seriam outros. Aquela tentativa de suicídio seria classificada como egoísmo, covardia ou uma forma de chamar a atenção por ser mimado. Mais um rótulo, dentre tantos outros, seria acrescentado com letras garrafais em sua testa.
Um inimigo invisível?
Tantos Joões estão neste instante sofrendo em silêncio porque as pessoas ao redor preferem não enxergar a situação, muito menos aceitá-la. É difícil conversar abertamente sobre o tema, pois há sempre julgamentos e falta de empatia. Além disso, existe um número grande de pessoas que passam anos da sua vida sofrendo, com a mente e corpo sobrecarregados, mas por não saberem identificar e nomear os seus sentimentos, tentam minimizar o que sente e seguem a vida sem saber que tem uma doença chamada depressão.
A depressão é um transtorno mental grave, que afeta a vida de milhares de jovens e adultos, retirando-lhes o brilho nos olhos e a esperança de uma vida melhor. À medida que o tempo passa, ocorre mudança no comportamento da pessoa, que começa a apresentar um humor deprimido, ou seja, ela desenvolve um estado de ânimo triste, meio para baixo
, vazio, cheio de angústia. Esse estado perdura na maior parte do dia, por pelo menos duas semanas