O Profeta
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Sobre este e-book
E não pensem que podem direcionar o curso do amor, pois o amor, se lhes acharem dignos, determinará ele próprio o seu curso.
O amor não tem outro desejo senão o de cumprir a si mesmo.' (Gibran)
***
Gibran é o tipo de escritor que trabalha no limite da linguagem, quando as palavras, apesar de serem apenas cascas de sentimento, conseguem ainda assim trazer um resquício do gosto e do perfume dos frutos que crescem além do tempo, no interior da alma.
Assim disse Mansour Challita, tradutor de toda a sua obra, sobre ele: 'Gibran não era um filósofo no sentido transcendental da palavra. Não trouxe uma nova doutrina, uma nova interpretação do universo. Era um filósofo no sentido humano da palavra, um pensador, um guia. E trouxe o que talvez mais falte a era atual, tão rica e tão pobre ao mesmo tempo: uma nova fé no homem, uma nova fé na vida. Gibran redescobriu o papel do coração'.
'O Profeta', escrito originalmente em árabe e, depois, em inglês, é a obra mais profunda, conhecida e bem sucedida de Gibran. Já foi traduzida para mais de 30 idiomas e lida por milhões de pessoas em todo o mundo. Dentre estas há, quem sabe, milhares que o elegeram um livro de cabeceira, para onde retornam cada vez que sentem saudades da primavera. Gibran, afinal, entendia da Alma, do Amor e das Estações...
O editor.
***
[número de páginas]
Equivalente a aproximadamente 100 págs. de um livro impresso (tamanho A5).
[sumário, com índice ativo]
- Introdução
- O Profeta
(Com os capítulos: A chegada do navio; O amor; O casamento; Os filhos; A caridade; O comer e o beber; O trabalho; A alegria e a tristeza; As casas; As roupas; O comprar e o vender; O crime e o castigo; As leis; A liberdade; A razão e a paixão; A dor; O autoconhecimento; O ensino; A amizade; A conversação; O tempo; O bem e o mal; A oração; O prazer; A beleza; A religião; A morte; A despedida)
- Epílogo: Após Gibran
Obs.: Este livro digital foi ilustrado com a arte selecionada do próprio autor ao longo dos capítulos, o que pode ser conferido na amostra gratuita.
[ uma edição Textos para Reflexão distribuída em parceria com a Bibliomundi - saiba mais em raph.com.br/tpr ]
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O Profeta - Khalil Gibran
O Profeta
ALMUSTAFA, o eleito e amado, que era uma aurora em seu próprio dia, residiu por doze anos na cidade de Orphalese, esperando pelo retorno do navio que o levaria de volta a ilha onde nasceu.
E no décimo segundo ano, ao sétimo dia de Ailul, o mês da colheita, ele subiu num monte onde podia observar o mar além das muradas da cidade e se deparou com o navio chegando através da névoa.
Então os portais de seu coração se abriram, e sua alegria alçou voo sobre o mar. E fechou os olhos, orando no silêncio de sua alma.
Porém, na medida em que descia do monte, uma tristeza se aproximou, e ele pensou em seu coração:
"Como poderei ir embora em paz e sem pesar? Não, não será sem um ferimento na alma que deixarei esta cidade.
Longos foram os dias de angústia que passei dentro de seus muros, e longas foram as noites de solidão; e quem pode se separar de sua angústia e de sua solidão sem lamento?
Muitos foram os fragmentos do espírito que deixei espalhados nestas ruas, e muitas são as crias do meu desejo que caminham nuas por entre suas colinas, e eu não posso me afastar delas sem uma dor e um pesar.
Não é de um simples traje que eu hoje me dispo, mas de uma pele que arranco com minhas próprias mãos.
Tampouco é um mero pensamento que deixo para trás, mas um coração adocicado pela fome e pela sede.
Ainda assim, não posso mais me demorar.
A maré que tudo clama para si clama por mim, e eu preciso embarcar.
Pois permanecer, embora as horas queimem pela noite, seria me congelar e cristalizar, e estar delimitado num molde.
De bom grado levaria comigo tudo o que aqui está. Mas como isso poderia ser feito?
Uma voz não pode carregar consigo a língua e os lábios que lhe deram asas. É sozinha que ela deve buscar ao éter.
E igualmente só, sem o seu ninho, deve a águia voar rumo ao sol."
Então, quando atingiu o sopé do monte, se virou novamente para o mar e observou o seu navio se aproximando do porto, e pôde ver um grupo de marinheiros na proa. Eram os homens de sua terra natal.
E sua alma gritou por eles, e ele lhes disse:
"Filhos de minha mãe ancestral, ó cavaleiros das ondas, com que frequência vocês têm navegado em meus sonhos.
E agora vocês vêm em meu despertar, que é o meu sonho mais profundo.
Estou pronto para viajar, e minha ânsia pela navegação está de velas abertas, esperando pelo vento.
Irei inspirar apenas uma vez mais neste ar calmo, e dedicarei apenas um único olhar amoroso para o que ficou.
E então deverei me juntar a vocês, um navegante entre navegantes.
E você, ó vasta maré, mãe adormecida,
Que sozinha é a paz e a liberdade para o rio e para o córrego,
Somente mais uma curva fará este riacho, apenas mais um murmúrio nesta clareira,
E então desaguarei em você, uma gota ilimitada num oceano ilimitado."
E enquanto caminhava, observou a distância aos homens e mulheres abandonando suas hortas e vinhedos e correndo para os portões da cidade.
E ouviu suas vozes chamando seu nome, e anunciando a chegada do seu navio de um lado ao outro dos