Fale-nos Dele: Recordações dos dias que mudaram a nossa história
De Fabio Ciardi
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Sobre este e-book
"Fale-nos Dele" terá sido o insistente pedido que muitas pessoas fizeram aos personagens que conviveram com Jesus de Nazaré.
Deixe-se levar ao encontro com esses personagens, deixe que eles mesmos lhe contem suas recordações de episódios tão conhecidos e marcantes.
Como se fosse uma série de crônicas, o best-seller de Fabio Ciardi leva você à Palestina daqueles tempos, e também a uma reflexão, a um instante de recolhimento, que permite vislumbrar quem foi Jesus de Nazaré...
"Fale-nos Dele" será o pedido que também você poderá fazer ao encontrar esses personagens...
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Pré-visualização do livro
Fale-nos Dele - Fabio Ciardi
Título Original: PARLACI DI LUI / I RACCONTI DI CAFARNAO
© Città Nuova Editrice – Roma – 2007
Tradução: Irami B. Silva
© Editora Cidade Nova – São Paulo – 2010
Coordenação editorial: Alexandre Araújo
Revisão: Ignez Maria Bordin e Klaus Brüschke
Projeto gráfico e capa: Maria Clara de R. Oliveira
Foto: José Maria Garcia Corral
Convsersão para Epub: Cláritas Comunicação
Todos os direitos estão reservados
ISBN 978-85-7821-095-3
(original: 978-88-311-4406-3)
Editora Cidade Nova
Rua José Ernesto Tozzi, 198
Vargem Grande Paulista – São Paulo – Brasil
CEP 06730-000 – Telefax: (11) 4158.2252
www.cidadenova.org.br
editoria@cidadenova.org.br
Sumário
Tomou-a pela mão
Eu o encontrei primeiro
Nós, a sua família
Houve festa no povoado
Agora, vejo-O com os meus próprios olhos
Não sou digno de que venha a minha casa
Tu és o mais belo entre os filhos do homem
Tu me amas?
E para você, quem sou eu?
Seu rosto não é o rosto dos pintores...
Não o vejo, mas insistirei em procurá-lo
até o dia dos meus últimos passos na terra.
José Luis Borges
TOMOU-ME PELA MÃO
— Fale-nos Dele!
— Já falei Dele tantas vezes...
— Mesmo assim, fale um pouco mais!
Como todo sábado, ao anoitecer, tinham-se reunido em sua casa. O velho criado recebera-os na porta cumprimentando-o como sempre, repetindo cada vez com originalidade e convicção: Shalom, irmão! Shalom, irmã!
, reservando um sorriso de bondade para as crianças. Ela, com a frigideira grande, cheia de verduras e o peixe, apareceu quando todos já estavam sentados à mesa. Os pães espalhavam-se sobre a mesa. Ela servia com seu sorriso largo, que atenuava as velhas rugas do rosto. Servia e parecia uma rainha.
Tinham lido as palavras dos Pais, tinham relembrado os preceitos do Mestre, tinham louvado e agradecido ao Senhor, tinham partido o pão como tantas vezes Ele havia feito com eles. E agora, tarde da noite, tinham deixado a mesa para reunirem-se em volta do fogo. As crianças já dormiam e eles continuavam suplicando a ela:
— Fale-nos Dele!
— Já falei Dele tantas vezes...
— Mesmo assim, fale um pouco mais!
Ficava seduzida com a insistência. E toda vez, a reticência dela logo cedia. Não se cansava nunca de contar a história já tantas vezes contada e eles não se cansavam nunca de ouvi-la.
Era um sábado como hoje, quando entrou em meu quarto. Fazia dias que a febre me dominava. Sentada na cama, sentia minhas forças esvaírem-se. Eu estava extenuada. A sede havia queimado meus lábios, e eu estava molhada de suor. Minha filha não arredava o pé da cama, passava dia e noite a meu lado com amor de mãe. Era mãe para mim e eu, sua filha. Mas eu a sentia cada vez mais distante, apenas a divisava com os olhos embaçados pela sombra da morte.
Sou como água derramada
— dizia a mim mesma, enquanto me ausentava de tudo o que me cercava —, meus ossos estão desarticulados, meu coração é como cera derretida em minhas vísceras, minha garganta está seca como um caco de barro, minha língua gruda-se no céu da boca... Mas, Adonai, não fique tão longe, minha força, venha logo em meu socorro
.
Quando a vida começava a me abandonar, Ele entrou em meu quarto, mas nem o vi. Fazia horas que não abria mais os olhos. Sequer o senti. Estava escorregando para o Sheol, sem mais força para resistir.
Uma mão me deteve no último passo. Ele me tomara pela mão. Sua mão forte e delicada. Tomou-a com decisão. Levantou-me e aconchegou-me a si.
Foi como um doce despertar, como quando uma pessoa descansa bem e por muito tempo, sem nenhum pesadelo. Dei por mim já sentada na cama. Minha filha a meu lado, Simão, André, nosso criado fiel, e Ele. Jamais o havia visto antes daquela hora. Os outros também; era como se eu os tivesse vendo pela primeira vez. Estava morta e agora estava viva. Tudo era novo ao meu redor. Eu mesma era outra.
Continuava segurando minha mão. Mas segurava firme. A vida passava de mão em mão. Eu estava vivendo uma vida que jamais vivera.
Vieram-me aos lábios as palavras do nosso rei Davi: Tu me tomaste pela mão direita; com teu conselho me guias e depois na glória me recebes
. Pronunciei essas palavras olhando para Ele na penumbra do quarto que voltara a ser arejado e familiar. Olhava para Ele, mas sentia-o todo em sua mão, na minha mão.
Com braço forte fizeste o teu povo sair do Egito
— murmurei. — Agora, eu sabia qual era a mão forte que havia libertado os nossos pais. A mesma que me segurava firme e livrava da morte. Eu havia descido à treva do Sheol, e a mão Dele havia-me agarrado, havia-me devolvido à vida.
Mais tarde, percorreu novamente o mesmo caminho, por todos vocês, por todos nós. Em Jerusalém, fora dos muros da cidade, na colina, abriu-se para Ele o abismo da morte e Ele desceu para baixo da terra e, com braço forte e com a segurança firme de sua mão, pegou cada homem, cada mulher que jazia no fosso da morte. Com o Senhor ressuscitado, estamos todos ressuscitados.
Mas eu ainda não sabia disso. Então sentia apenas um sangue novo, pulsando em minhas veias, um sopro de vida, penetrando em minhas narinas. Senti-me viva, viva, viva.
Eu estava em pé e Ele ainda segurava minha mão.
Quando largou a sua presa, eu já estava viva, completamente viva.
Tinha a força de quando era moça na casa de meu pai,