Imaginário desejo do Outro

De Anna Barton

Imaginário desejo do Outro é o primeiro livro de poemas de Anna Barton, que é mais do que um pseudônimo, é uma persona literária. E, como tal, transmuta-se nesse Outro, que imagina e é imaginado, que deseja e é desejado. O princípio da alteridade eleva-se a um nível de percepção que só pode ser compreendido dentro do universo onírico, onde a consciência do corpo tátil, da memória e da solidão ganha outros contornos e pronuncia-se como uma nova realidade. O sonho é a matéria principal desses versos que parecem buscar a solidez do impalpável ou a intangibilidade do real. Seriam os pesadelos desejos inadmitidos? A autora não explicita respostas exatas. Sua poesia estende-se e entende-se dentro do pensamento mítico e filosófico, passando por esferas psicanalíticas que, transformando sonhos em palavras, permite que o leitor encontre novas formas de aprendizado e expressão a partir de si mesmo, embora caminhe também pelos olhos do outro.
  
SOBRE A AUTORA
Anna Barton é o pseudônimo de Marina dos Reis, que escreve desde os 9 anos de idade, quando a mãe lhe repassou um livro de sonetos de autores portugueses. Arriscou redação, ganhando um concurso no colégio municipal, que era uma casinhola de madeira cuja sala de aula dividia com a 3ª série. Em 2021, mestra e doutoranda em Educação – Linha de Pesquisa Filosofias da Diferença-Educação (UFRGS) – Marina é criadora do método sonhográfico.

• Idioma: Português
• Editora: Absurtos Editora
• Data de lançamento: 25 de fev. de 2021
• ISBN: 9786586410112

Pré-visualização do livro

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Paz e lentidão

dentro da luz ausente do olhar

porque assim as palavras falarão

Falarão de quê?

De trejeitos insubmissos

um suspiro, e o poeta vai ao fim da poesia

os espaços, só os vê o poeta e,

como um milagre, tudo

se transforma num instante

O vazio respirando

lenços silenciam tudo ao longe

e se parecem comigo

esses espaços, entre a cara e a tradução,

palpitam tão profundamente

que se tornam a-traduzir

Um momento desaba sob a sombra do não-ver

há uns nodos, suaves, marcando notas

quase como um clique das pestanas

que redescobrem um dia

Nossa hora, tudo, enfim, calados.

–

Cela

que encerra LetrAs

Diapasões cujas vibrações

amolecem as paredes da solidão

Solidão concreta, densa,

que lambe as bordas das páginas amareladas

Gastura de cela, borrada

Mas essa escuridão monádica, 

muito anterior à concepção,

não é ela mesma o tal círculo (de Cusa)

cujo centro está em todas as coisas?

–

Move-te solto, teu olho apreende-me

lábios vagos, brilho sfumato

uma seta teu corpo 

rompe o espaço e vem

até o lugar onde estou, suspende-me e ouço

teus lábios nos meus doerem,

no ínfimo instante do beijo

teu rastro, corpo que flana

deixa-me o sinthoma de tremor real,

desmanchas-me

tipo miragem táctil e intocada

em desgastadas cores, éramos eu e tu

também a luz já se perdia

nunca as palavras foram ditas

na tua língua inarticulada

repousa tudo