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Das coisas anteriores às palavras
Das coisas anteriores às palavras
Das coisas anteriores às palavras
E-book173 páginas38 minutos

Das coisas anteriores às palavras

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Sobre este e-book

Transformar as coisas em palavras, descobrir a forma de as tornar imortais. Que expludam todas as linguagens escondidas nos corpos e se derramem, em brasa. E que o poeta solitário, atento aos sinais da noite, à ânsia da folha de papel, comece a escrever.
Um poema não se cria, surge quando quer, e rasga as palavras, corrói, amansa, salta verde, como um potro, que nasceu de madrugada.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de jan. de 2023
ISBN9791222079639
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    Das coisas anteriores às palavras - Helena de Figueiredo

    Agradecimentos

    Para todos aqueles que, como eu, acreditam, que o impossível não existe.

    "Antes de estarem nos livros, nos quadros, nos filmes, 

    as palavras estiveram alojadas no nosso corpo,

    circularam ocultas em outras dimensões e linguagens."

    José Tolentino Mendonça

    PARTE I

    DO SILÊNCIO

    E DA LUZ

    A HORA

    Hoje, que o ócio me possui

    Abro o caderno

    Sou um espinho 

    Uma lâmina afiada

    Um pulso decepado

    E nada impedirá que a tinta jorre

    E se derrame livre 

    Entre as linhas claras.

    E não sou eu quem dita.

    Sobre mim desce 

    Um raio fulminante

    A hora prenhe

    E as palavras ardem

    Em tons prata

    Golfadas, que de outro modo

    Seriam sangue apenas

    Sem que dele conhecêssemos a cor.

    O poema é assim

    Este ato tresloucado

    Acontecendo 

    Ao tocar de um sino

    Num simples beijo

    Ou quando um nó cego

    Nos esgana a garganta.

    PESADELO

    Sonhei que a deusa de branco

    Essa figura sinistra que me persegue

    Carregada de versos singulares

    Ironicamente os pendurou

    Na árvore madura 

    No centro da aldeia

    Onde as mulheres dormitam.

    As palavras gritaram alto

    Iluminadas

    E eu desesperada

    Abri o peito de par em par

    E a esmeralda vermelha 

    Que sempre me pertencera

    Deixei-a fugir.

    MOMENTO

    Se hoje bater na tua porta

    Não perguntes nada

    Deixa-me entrar. 

    Não ouses falar em sexo, carência, desejos. 

    Cala e olha-me a boca.

    Acordei despida, fria, demasiado sozinha. 

    Talvez precise de alguém para partilhar

    O sabor do vinho

    O crepitar do fogo

    As palavras contidas

    Nada mais.

    Há dias assim

    Quando a neve cai

    E das minhas mãos

    Uma pomba voou. 

    A LOUCA

    Chamavam-na louca

    Porque apanhava no regaço

    Os pingos de luz caídos do telhado

    E na varanda, gritava: estou feliz!

    Nessa noite porta rangera

    A cama gemera

    Havia fumo branco na chaminé

    E o amante, que teimava esconder

    Saíra um pouco antes do galo cantar.

    Que nunca escrevas à flor da pele.

    Deixa que passe a madrugada

    O sangue esfrie

    A janela abra

    E entre essa luz branda que faltava.

    O Lugar do Céu

    Ergue-te, olha os céus, dizia minha mãe

    E eu fiz-lhe a vontade

    Busquei no firmamento

    A luz da eternidade.

    Mas agora, ao vê-la assim velhinha

    Curvada, rente ao chão

    Ofereço essa certeza

    A um bando de pardais

    Sinto sagrada a terra escura

    A amarga sepultura

    Onde seremos pó

    E nada mais.

    Nos rostos que já fui e me deixaram

    Não me reconheço em nenhum.

    Será que fui eu esta menina

    Será que fui alguma vez tão pequenina

    Será que este sorriso já foi meu.

    Talvez eu já perdesse a memória

    E não me encontre

    Na minha própria história

    Talvez o que me falta, seja eu.

    PRINCÍPIO VITAL

    Apaga a luz

    Gritava a voz da razão do quarto ao lado.

    Porque não nascera morcego

    Dono do mundo das sombras

    Mágico peculiar, atravessando o sono dos outros.

    Apagava contrariado o candeeiro

    Deixava cair o enredo no tapete

    Enquanto a majestosa folha castanha

    Apanhada a caminho da escola

    Enchia de canela, o suspense da espera.

    E de olhos já fechados

    Havia um assalto às páginas por ler

    A história faiscava num reino dourado

    Onde o impensável iria acontecer.

    Da mãe, recorda tudo

    Da folha, guardou o

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