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Novelas Policiais 7: Coletânea
Novelas Policiais 7: Coletânea
Novelas Policiais 7: Coletânea
E-book322 páginas4 horas

Novelas Policiais 7: Coletânea

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Sobre este e-book

Novelas Policiais de L P Baçan, o Mago das Letras, com todos os ingredientes tradicionais que fazem do gênero um dos preferidos da maioria dos leitores.Trama NegraTerra do SilêncioVítima de Suspeita;
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2022
ISBN9781526053381
Novelas Policiais 7: Coletânea

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    Novelas Policiais 7 - L P Baçan

    Trama Negra

    D:\- EBOOKS\MY BOOKS\NOVELAS POLICIAIS\TRAMA NEGRA\001.jpg

    O sol surgia lenta e inexoravelmente, iluminando todo o vale, refletindo-se nos telhados das mansões e nas telhas comuns dos casebres na periferia da cidade.

    Um clima de tensão pairava sobre as ruas, de modo velado, oculto nos rostos sonolentos que olhavam as janelas, enquanto espreguiçavam-se.

    As primeiras crianças ganhavam as ruas, recolhendo seus brinquedos, deixando ali na noite anterior, quando a brincadeira terminara.

    Homens vestindo roupão e pijamas saíam de suas casas para apanhar o jornal, atirado no alpendre ou no jardim. Cumprimentavam-se, depois voltavam a sumir dentro de suas casas.

    Aquela tensão parecia flutuar sobre as ruas, como uma neblina invisível, carregada de miasmas e venenos. Lentamente ela contaminava tudo e todos.

    O calor tornou o ar irrespirável. Dick Morris sentia isso, olhando a rua, pela janela. Ficou ali por algum tempo, apenas observando os detalhes da vizinhança, que despertava para um dia especial.

    Finalmente ele recuou e foi até o espelho, terminar o nó da gravata.

    As enormes cortinas brancas e transparentes deixavam a luminosidade penetrar generosamente no aposento. Pelo espelho, Dick olhou o corpo de Sara, enrodilhado nos lençóis.

    Os longos cabelos louros estavam espalhados sobre o travesseiro, emoldurando com uma graça natural o rosto claro, de uma beleza irretocável e serena.

    Ela protegeu os olhos com o braço, resmungando alguma coisa que ele não entendeu. Dick limitou-se a rir e a olhar o relógio em seguida.

    Quando pensou no que teria de enfrentar naquele dia, um arrepio inesperado percorreu sua espinha. Sim, aquela vez a pequena cidade de Natocha iria pegar fogo de verdade.

    Ele teria preferido não estar no centro daquela agitação toda, mas não havia como fugir. O juiz federal o nomeara para o caso.

    Dick sabia que poderia ter negado, alegando algum compromisso. Livre daquilo, poderia ter ido pescar no final de semana ou tirado as férias que vinha adiando sempre e que Sara vivia cobrando dele.

    Havia muita coisa que ele desejava fazer junto com ela. Havia lugares que gostaria de visitar juntos, detalhes que precisavam compartilhar, com liberdade, sem que os olhos cruéis da cidade estivessem sobre eles, vigiando-os constantemente.

    Isso aborrecia Dick. Aquele moralismo velado era terrível, principalmente num local como aqueles.

    Natocha, no sul do Alabama, era uma cidade pacata, como a maioria das pequenas cidades daquele Estado, com suas ruas principais, suas mansões sulistas e seus guetos onde os negros eram segregados.

    Quando recebera seu diploma, Dick tivera boas ofertas de emprego e excelentes oportunidades de construir uma carreira na área jurídica.

    Poderia ter ido para Washington, assessorar um deputado, para São Francisco, trabalhar com uma exportadora com contratos no Oriente ou até mesmo para Nova Iorque, num importante escritório onde em pouco tempo seria sócio.

    O Alabama, no entanto, sempre fascinara e desafiara seu espírito. Havia ali uma permanente falta de justiça, algo que, em seu idealismo de recém-formado, julgara poder combater com sua atuação e seus conhecimentos.

    O tempo, porém, encarregara-se de provar-lhe o engano cometido. Só que agora não podia mais voltar atrás. Agora conhecera Sara Henderson, aquela desprotegida e fogosa viúva que um dia o olhara de frente e dissera:

    — Quero você, moço!

    Numa cidade como aquelas, aquela cantada balançou as estruturas dele. Sara era tão decidida e, ao mesmo tempo, tão carente e desprotegida que logo uma paixão arrebatadora os uniu, fazendo Sara esquecer-se da infelicidade do primeiro casamento e Dick conhecer uma mulher de verdade.

    — Por que está levantando tão cedo hoje? — indagou ela, girando graciosamente o corpo para olhá-lo ainda diante do espelho, olhando-a.

    Ele esboçou um sorriso, enquanto deslizava os olhos pelos ombros elegantes e nus de Sara, depois para o tronco que se afunilava em direção à cintura esbelta e delgada.

    Os quadris roliços estavam ocultos pelo lençol, mas Dick podia adivinhá-los em toda a plenitude de suas formas. Suas mãos guardavam ainda a maciez e a tentação daqueles contornos provocantes.

    Ele deixou o espelho e aproximou-se da cama, vestindo seu paletó. Sentou-se ao lado dela, passou um dos braços sobre o corpo morno de Sara, depois se inclinou e beijou inesperadamente a nuca perfumada.

    Ela encolheu-se toda e sua pele arrepiou-se deliciosamente. Ela riu, soltando gritinhos de prazer.

    — Tenho de estar hoje no tribunal às nove horas — lembrou-a ele.

    Por momentos Sara ficou em silêncio, sem olhá-lo. Depois, lentamente, foi se voltando. Seus grandes olhos azuis fitaram-no entre assustada e apaixonada, revelando a mescla de sentimentos que tomava seu peito de assalto.

    — Não pode fugir desse maldito caso, Dick? Diga que pode, por favor! — suplicou ela.

    — Você sabe que não posso fugir disso, Sara. Aceitei o caso e vou levá-lo até o fim.

    — Querido, será que você compreende claramente em que está se metendo?

    — Claro, Sara, não nasci ontem e conheço esta cidade e sua gente. Só que é preciso pôr um fim nisso, senão a Guerra da Secessão terá sido inútil.

    Ela segurou as mãos dele de encontro ao rosto. Tremia visivelmente.

    — Acha que conseguirá?

    — Eu não sei, Sara, mas um bom exemplo dado aqui poderá fazer muita gente mudar de ideia.

    — Eu não quero que você vá — disse ela, emocionada e assustada, abraçando-o com força.

    Dick sentia todo o corpo dela tremendo. Apertou-a com delicadeza e carinho.

    — Eih, calma! Está tudo sob controle, eu prometo.

    — Mas eu tenho medo, Dick. Muito medo, querido. Conheço essa gente melhor que você, sei no que vai dar tudo isso...

    Ele a beijou ternamente, calando-se e tentando transmitir-lhe uma segurança que, absolutamente, ele não tinha. Conhecia a gravidade da situação em que estava metido.

    Não seria uma luta para a condenação simples de um homem, mas de toda uma ideia, de uma estrutura que já criara raízes como uma árvore amaldiçoada que fazia brotar dez galhos para cada um que lhe era cortado.

    Era cultural, solidamente enraizado entre aquela gente e isso tornava tudo tão difícil.

    — Vou descer tomar o café. Espere lá embaixo.

    — Antes prometa que será cauteloso — pediu ela.

    Com esforço ele a fez afastar-se dele para olhá-la nos olhos.

    — Serei cauteloso, querida, não se preocupe.

    — Promete?

    — Prometo! — afirmou ele, sabendo o quanto aquilo significava para ela.

    D:\- EBOOKS\MY BOOKS\NOVELAS POLICIAIS\TRAMA NEGRA\inter.jpg

    As pessoas que passavam na rua, diante da cadeia, faziam comentários em voz baixa. Algumas apontavam na direção de uma das celas, marcadas por grades no prédio de cinco andares, nos arredores da cidade.

    As viaturas paradas diante do presídio municipal estavam sendo lavadas e polidas. Homens uniformizados chegavam a todo momento, como se aquele fosse apenas mais um dia de trabalho.

    Aquela era uma região violenta. Além dos conflitos raciais que se repetiam com absurda frequência, havia a miséria das favelas, gerando ocorrências constantes.

    Ali era a sede da policia local. Lá dentro, numa das celas, Tom Darkman olhava sem preocupação e claridade que penetrava pela janela, iluminando a parede a sua frente. Com os braços atrás da cabeça, Tom examinava os desenhos das barras contra a parede fria, mas em momento algum ele se sentia preso ali.

    Seus olhos miúdos e sagazes, naquele momento, espelhavam a calma de um homem consciente de seu destino, como se soubesse claramente que todo aquele transtorno era apenas uma questão de tempo e logo iria se acabar.

    Seus amigos lá fora estavam tomando todas as providências necessárias para resolver o caso. Não era ele o primeiro que se metia naquele tipo de complicação nem aquela era sua primeira vez.

    Reconhecia que, daquela vez, exagera um pouco, esquecendo-se das precauções necessárias. Mas que diabos! De quem era a cidade, afinal de contas?

    Exagerara um pouquinho. E daí? Isso não chegava a preocupá-lo. Conhecia a cidade. Conhecia cada uma das pessoas que seriam escolhidas para compor o júri. O que poderia temer delas, seus vizinhos e amigos?

    Muitos deles haviam enfrentado situação semelhante. Tom sabia que sairia dali ileso e como uma espécie de herói. Nas vezes anteriores e com os outros fora da mesma forma. Por que seria diferente desta vez e com ele?

    O ruído metálico de ferro deslizando fez com que ele voltasse a cabeça. Um policial avançou pelo corredor. Tom o conhecia bem e, quando o outro parou diante da sela, levantou-se e cumprimentou-o.

    — E a artrite da esposa, Rip?

    — Melhor, Sr. Darkman — respondeu o policial, com um sorriso camarada nos lábios, enquanto destravava a porta e acionava um dispositivo eletrônico.

    A porta de grades deslizou suavemente com um leve zumbido. O policial fez um sinal na direção do corredor, convidando-o a sair.

    — Tem visitas! — informou.

    — Visitas? Quem é desta vez, Rip?

    — Mark Goldman e o advogado.

    — Ah, ótimo! — respondeu Tom, passando pelo policial e caminhando pelo corredor, enquanto recompunha suas roupas. — O que teremos para o café da manhã, Rip?

    — O de sempre, Sr. Darkman — rio o policial, conduzindo-o até a sala de visitas, daquela ala do presídio.

    Ali, dois homens esperavam pelo prisioneiro. Um deles levantou-se logo que o viu, sorriu e foi cumprimentá-lo.

    — Tudo bem? Como passou a noite? — quis saber Mark Goldman.

    — Já passei piores, mas estava bêbado — riu Tom, sentando-se diante do outro homem, seu advogado.

    Ficaram sozinhos na sal. Rip deixou-os ali, sem maiores preocupações, e foi tratar de outras coisas. Ninguém pensaria em vigiá-los. Afinal, eram todos homens conceituados na cidade Rip conhecia todos eles.

    Fora, no entender do policial, uma fatalidade o Sr. Darkman ter-se envolvido daquela forma, mas, ainda assim, não tinha o que temer. Afinal, o que ele fizera já fora feito antes dezenas de vezes.

    — Em que pé estão as coisas? — indagou ele ao advogado, que parecia preocupado.

    — O juiz nomeou Dick Morris para ser o promotor no caso — disse de imediato o advogado e a expressão do rosto de Tom demonstrou desagrado.

    — Logo esse?

    — Parece que foi escolhido a dedo, pois o juiz federal está particularmente empenhado em coibir certos abusos que andam acontecendo por aqui. Isso nos põe numa situação muito delicada pois...

    — Espere aí, homem! — cortou-o Tom. — De que está falando? Só porque me diverti um pouco com uma negrinha já estão querendo me crucificar? Isso já foi feito antes por uma porção de gente, inclusive por você. Não é isso mesmo, Mark?

    Mark Goldman respondeu com um sorriso maroto e muita malícia no olhar.

    — Acontece que está é uma negrinha de quatorze anos que foi dar queixa a um juiz federal, que enquadrou o caso como de racismo, acima de qualquer outra coisa. Com isso, abriu um precedente do tamanho deste Estado, podem compreender isso? Os dias de farras com negrinhas estão para terminar, seus imbecis! — desabafou o advogado, raivosamente, fazendo com que os dois homens se calassem e trocassem olhares de preocupação.

    — É tão sério assim agora — indagou Tom, timidamente.

    — O pior é que é — confirmou o advogado.

    — Diabos! Que enrascada! Muito esperta essa menina. Esperta mesmo, mas não vamos deixar isso barato, não é mesmo, Goldman? — indagou o prisioneiro, olhando seu amigo como se pretendesse dar-lhe uma ordem.

    — Eu não sei, Tom. O advogado aí está cheio de razão. O que acha que pode ser feito agora?

    — Pois eu acho que alguém deveria ir falar com essa menina e convencê-la de que está fazendo as coisas de forma errada. Um punhado de dólares calará a boca da família dela. Afinal, eles não têm onde caírem mortos...

    — Nem tente nada, parceiro — alertou-o o advogado, interrompendo-o.

    — E por que não?

    — Simplesmente porque ela está sob proteção de um juiz federal. Não estamos lidando com o xerife local, nosso amigo e vizinho, com quem podemos acertar as coisas. Falo de um homem que tem poderes para convocar a Guarda Nacional para impor lei marcial na cidade, se for preciso. Sem falar nos agentes federais que já estão entre nós.

    Darkman ficou sério pela primeira vez. Até então, tudo parecia muito fácil. As notícias que o advogado trazia não eram das melhores. Ficou apreensivo.

    Goldman olhava-o como se tudo o que o advogado dissera não fosse importante. Isso o tranquilizou. De repente, achou que tinha percebido tudo, olhando o rosto de seu advogado.

    Conhecia aquela velha raposa dinheirista e deduziu qual era o jogo dele, só podia ser aquilo. Um homem decente não podia se sentir ameaçado só por divertir-se com uma garota negra. Aquele advogado estava se aproveitando da situação.

    Sim, era isso mesmo. Era muito esperto aquele advogado. Sim senhor! Muito esperto, mas não o bastante para enganar Tom Darkman. Tudo aquilo não passava de uma encenação, parte da tática para elevar o preço de seus honorários.

    Não havia outra explicação. Resolveu fazer o jogo do outro.

    — Muito bem, advogado, conseguiu me assustar. Quais são as minhas chances, então?

    — É cedo para fazer qualquer prognóstico. Agora pela manhã a garota será submetida ao exame pericial. O resultado poderá determinar o rumo que deveremos tomar para embasar sua defesa, Darkman.

    — Como assim?

    — Sei que estava bêbado feito um gambá, mas precisa fazer um esforço para se lembrar. A garota era virgem ou não? Pode afirmar isso com convicção?

    Tom ficou indeciso diante da pergunta. Simplesmente não se lembrava desse detalhe. Podia lembrar-se de tudo que aconteceu, mas como imaginar isso agora.

    — Ora, demônios! Sei que foi divertido, que foi bom, mas como eu poderia saber?

    — Então torça para que aquela garota, de alguma forma, não seja mais virgem e que estava assim quando você a pegou.

    Tom não gostou do tom de voz do advogado nem do rumo que as coisas estavam tomando. Havia alguma coisa errada em tudo aquilo. Ele podia sentir em seus ossos. Seu faro jamais o enganara.

    Primeiro era um juiz federal metido na história toda e transformando aquilo numa novela. Depois vinha Dick Morris, o defensor dos negros. Para completar, a idade da garota e o fato de ser virgem. Demônios! As coisas estavam começando fugir ao seu controle e Tom não gostava nada disso.

    — Faça a sua parte, advogado! Eu farei a minha — afirmou Tom, com seriedade e decisão na voz.

    O advogado abriu a maleta, colheu a assinatura de Tom em alguns papéis, depois os guardou e levantou-se. Seu olhar revelava expectativa e preocupação.

    — Tenho de me apressar agora. Quero estar presente ao exame da garota, para evitar surpresa depois.

    — Mark vai ficar por algum tempo comigo. Tenho algumas instruções a dar-lhe a respeito de meus negócios. Eu não imaginava que amanheceria o dia preso — disse Tom, tentando ser convincente.

    Assim que o advogado retirou-se, Mark Goldman olhou interrogativamente para o amigo.

    — Não estou gostando nada dessa conversa do advogado, Tom. A coisa parece séria desta vez. Falo que senti, ele não exagerou nem um pouco.

    — Fique frio, Mark, tudo acabará bem, estou certo disso. Se esse advogado estúpido não puder dar um jeito no caso, sempre poderemos contar com a ajuda dos Cavaleiros, não? Afinal, foi para isso que nós unimos, não?

    O rosto de Mark não se alterou.

    — Tem razão, sempre podemos contar com eles. Se é assim, por que continua preocupado?

    — Vamos com calma, parceiro. Primeiro vamos aguardar a palavra do meu advogado. Tenho quase certeza de que a garota não é virgem. Eles nunca são. De qualquer maneira, tenho certeza de que escaparei ileso do tribunal. Que júri ousaria ma condenar? São todos nossos amigos e vizinhos, muitos deles membros da nossa fraternidade...

    — Isso é um fato, Tom, mas não gosto, não gosto mesmo da presença de um juiz federal e daquele Dick Morris no caso. Aquele promotor é meio fanático com esse negocio de justiça e igualdade entre os homens. Além disso, é um sujeito danado de esperto e cheio de truques...

    — Dane-se ele! — murmurou Tom, dando um murro na mesa. — ele não conhece as coisas daqui, não sabe como a cidade funciona. Podemos dar um aperto nele, assim como naquela garota. Penso que uma visita social dos Cavaleiros aplainará todas essas arestas e eliminará o problema.

    — Pode até ser, mas não acho que devamos apelar para isso no momento. Vamos ver o que acontece no exame da garota. Depois vamos ver a situação desse Dick Morris. Esse tipo já está se tornando inconveniente por aqui. Se ele continuar assim, vamos encontrar um meio de acabar com a carreira dele...

    — Até sei como fazer isso — cortou-o Tom.

    — Sabe? Como?

    — Isso não vai ser difícil. O caso dele com a viúva Henderson já está dando o que falar. A cidade faz de conta que não vê, mas todos estão ansiosos, esperando que um escândalo estoure e que tudo venha à tona.

    — Isso não será difícil de providenciar.

    — Vamos esperar, parceiro. As coisas não estão tão pretas como parecem — disse Tom, começando a rir.

    Mark começou a rir, satisfeito por ver seu amigo relaxando e recuperando a tranquilidade. As coisas não estavam, afinal, tão ruins assim.

    No fim das contas, poderia ser até muito divertido tudo aquilo que os preocupava no momento.

    D:\- EBOOKS\MY BOOKS\NOVELAS POLICIAIS\TRAMA NEGRA\002.jpg

    As pessoas olhavam-no com curiosidade e certo temor, enquanto ele passava pelos corredores, na direção de sua sala. Todos, no fundo, deveriam admirar a sua coragem, embora, exteriormente, concordassem que ele estava sendo mesmo um louco.

    Quando chegou ao seu gabinete, indagou a secretária sobre seu assistente.

    — Jack foi ao hospital, como ordenou, acompanhar o exame pericial da garota — respondeu a jovem.

    — E o juiz? Já chegou?

    — Sim, há poucos minutos. Mandou avisar que o espera na sala dele.

    — Obrigado, Helen! Pode apanhar-me um café, enquanto isso? — pediu ele, indo até sua escrivaninha.

    Deixou sua pasta ali, depois apanhou alguns papeis que estavam num escaninho sobre a mesa. Helen trouxe-lhe uma caneca fumegante. Ele foi tomando-a, enquanto caminhava pelo longo corredor, até uma porta dupla, de madeira maciça e trabalhada.

    Empurrou-a com familiaridade, cumprimentou a secretária de óculos, que levantou o rosto a sua passagem, e caminhou na direção do gabinete do juiz.

    — Ele está a sua espera — disse ela, voltando ao seu trabalho.

    Dick abriu a porta e entrou, sem bater. O juiz terminava de folhear o jornal do dia. Levantou os olhos para o promotor que entrava.

    — Viu as notícias? — indagou o juiz, um homem de meia-idade, cabelos grisalhos, olhos brilhantes e perspicazes, expressão severa no rosto vincado de rugas precoces.

    — Não, mas posso adivinhar o conteúdo de cada uma delas. Tom está sendo considerado como um homem injustiçado, pego em flagrante numa traquinagem de adolescentes e nada mais. O delito não foi assim tão grave, Tom é um homem influente, a lei está exagerando, a garota provocou tudo e coisas assim, não?

    — Exatamente isso, meu caro promotor — disse o juiz, dobrando o jornal e atirando-o para o lado, com ar divertido e cansado. — O que tem para mim?

    — Algumas investigações antigas, que fui juntando pedaços daqui e dali, até montar um dossiê sobre Tom Darkman. Há indícios de suas atividades como chefe e membro dos Cavaleiros. Houve algumas acusações leves contra ele, mas conseguiu se safar direitinho de todas elas, graças à conivência do júri, normalmente formado por vizinhos e amigos — explicou Dick, passando os papeis ao juiz e retendo outros.

    — E isso aí, o que é? — indagou o juiz, curioso a respeito dos documentos que ele havia retido.

    — Este é o resultado de outra investigação que fiz, nos arquivos da policia. Listei aqui uma série enorme de crimes insolúveis, cujas vítimas foram membros da comunidade negra. Alguns dos crimes apresentam requintes de sadismo que fogem à compreensão de um ser humano normal. — explicou Dick, demonstrando no tom de voz, o quanto aquilo o aborrecia.

    O juiz estendeu uma das mãos. Dick passou-lhe os papéis. O magistrado procurou ser rápido em seu exame, inclinando-se ligeiramente sobre os documentos depositados na mesa.

    A expressão de seu rosto demonstrou repugnância, com certeza a mesma sensação que Dick tivera ao colecionar aqueles fatos aterradores.

    O juiz terminou logo. Levantou os olhos para Dick e ficou olhando-o com uma expressão chocada no rosto. O promotor sentou-se diante dele, encarando-o.

    — Talvez a garota tenha feito um favor ao país ao apresentar sua denúncia a um juiz federal — comentou Dick. — Você está tendo trabalho, teve de se deslocar da capital para cá, mas vai ser protagonista de um dos mais importantes julgamentos da história deste país, se conseguirmos levá-lo a efeito.

    — Tentaremos, Dick. Este problema é sério. É um vespeiro, um enorme vespeiro que toma a forma de todo o Estado. É difícil entrar nisso sem se correr riscos, mas você tem razão. É hora de alguém dar um basta em tudo isso. O modo como eles agem é irracional, selvagem, desumano.

    — Concordo plenamente — ajuntou Dick, percebendo o quanto o assunto contagiara o juiz.

    — Este é um mal que se alastra, que parece desaparecer às vezes para surgir em seguida mais forte do que antes. Não é uma luta contra acontecimentos presentes. É uma luta contra nosso próprio passado, contra algo

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