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Só se for um visconde: Para se casar com um patife..., #3
Só se for um visconde: Para se casar com um patife..., #3
Só se for um visconde: Para se casar com um patife..., #3
E-book321 páginas5 horas

Só se for um visconde: Para se casar com um patife..., #3

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Sobre este e-book

Quando essa mulher bem-nascida buscar vingança, ela fará esse cavalheiro ladrão pagar por seus crimes com tudo o que tem, até mesmo seu coração.

Lady Alice Worthingham nunca aceitou as normas da Sociedade. Jamais. Ela ama aventuras, novas experiências, e aproveita a vida com uma atitude atrevida que a Sociedade pode amar, ou deixar. Mas mesmo para alguém como ela, roubos de estrada são extremos.

Lorde Arndel, vizinho de Lady Alice, está fazendo um jogo perigoso – age como o perfeito visconde de dia, e como o Bandido de Surrey à noite. E roubar, descaradamente, da mulher que capturou sua atenção não é tarefa fácil, nem o movimento mais inteligente. Quando Lady Alice desvenda a verdade, o visconde descobre que quando uma mulher bem-nascida quer vingança, ela fará este cavalheiro ladrão pagar por seus crimes com tudo o que tem, até mesmo seu coração.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento30 de nov. de 2019
ISBN9781071515662
Só se for um visconde: Para se casar com um patife..., #3

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    Só se for um visconde - Tamara Gill

    Capítulo Um

    Surrey, dois anos depois

    Alice encontrou os olhos assustados da mãe e depois se virou para olhar pela janela da carruagem. Ninguém dava o ar da graça na estrada entre a casa e Ashford, a pequena aldeia de onde haviam partido. Tony, o condutor, gritava e a carruagem avançava em velocidade crescente. Alice pegou a alça de couro e segurou o melhor que pôde.

    — Não consigo ver ninguém, mamãe. — ela recostou-se e apertou a tira com a mão livre — E mesmo assim consigo ouvir que há alguém nos perseguindo.

    Sua mãe tirou o lenço dos lábios tempo suficiente para responder.

    — Quem você acha...

    — Pare a carruagem! — uma voz profunda e abafada ordenou, seguida por um estalo alto de uma arma que causou arrepios na espinha de Alice.

    Tony foi baleado... os cavalos? Por Deus, o que está acontecendo?

    Mais uma vez, Alice olhou pela janela da carruagem, pulou para o outro banco e abriu o portal para falar com Tony.

    — Você está bem para continuar? Estamos tão perto de casa que não quero parar.

    Tony manteve os olhos na estrada, mas estava agachado.

    — Tá certa, senhorita. Não vou deixar ele nos pegar.

    Outro tiro soou na mesma hora em que tais palavras deixaram a boca de Tony. Alice se engasgou e agarrou a mão da mãe, não estava gostando do tom acinzentado de seu rosto.

    — Abaixe-se, querida. — sua mãe tentou gritar sobre o ruído das rodas na estrada de cascalho.

    A carruagem continuava a seguir pela via a uma velocidade espantosa.

    Alice se sentou no chão e puxou sua mamãe para perto dela antes de se virar e procurar embaixo do assento pela pistola que seu pai costumava manter ali. Ela sentou-se sobre os joelhos, não achava nada além de espaços vazios e teias de aranha.

    Tony xingou e em seguida gritou que não conseguiria continuar sem colocar suas vidas em risco. Um medo nauseante a dominou. Sua mãe ostentava um olhar assustado, os lábios em uma linha fina de medo.

    — Mesmo em tais circunstâncias, não acredito que Tony deva dizer tais palavras, xingar nunca é aceitável.

    Alice segurou a vontade de revirar os olhos. Havia assuntos mais graves que um palavrão. Se ela estivesse à frente da carruagem, e um idiota estivesse atirando nela, ela estava certa de que não seriam apenas um ou dois palavrões que sairiam de sua boca.

    — Tony está diminuindo, mamãe. Se vai se preocupar, que seja com isso.

    — Alice, venha sentar-se perto de mim e não solte a minha mão, aconteça o que acontecer.

    Alice fez o que lhe foi dito e segurou firme nos dedos trêmulos da mãe.

    — Vai ficar tudo bem, mamãe. Tenho certeza de que só querem nos roubar, e logo depois vão embora.

    Pelo menos é o que Alice esperava, mas como saber o que esperar de um ladrão de estrada? Tudo era possível.

    A mãe assentiu, mas apertou sua mão com força quando a carruagem parou. Alice ouviu sons do lado de fora da carruagem quando Tony pulou. Ele parou na porta, com a cabeça virando para todas as direções, sem dúvida tentando descobrir o paradeiro do criminoso.

    Esperaram como uma mosca na teia de uma aranha, mas o silêncio reinava.

    — E quem você acha que é? — sua mãe perguntou.

    Alice franziu a testa, imaginando o mesmo.

    — Talvez seja o ladrão que vem aterrorizando Surrey há mais de um ano.

    As peripécias dele deixaram Londres em dúvida sobre as joias roubadas, as riquezas subtraídas dos ricos. Ao que parecia, chegara a hora de elas figurarem a lista de vítimas.

    Ela respirou com força, não querendo acreditar em suas próprias palavras. Achava engraçado que o cavalheiro roubasse dos ricos, mas deixasse os pobres em paz. Mas agora, como uma das infelizes vítimas de suas ações raivosas, ela não estava mais rindo.

    — O que você quer? — Tony gritou para as árvores.

    Um arrepio de desconforto percorreu sua pele quando a pergunta foi recebida com uma profunda risada masculina. Uma risada arrogante e condescendente ao mesmo tempo.

    — Traga as mulheres para fora. Agora!

    Alice silenciou o gemido de sua mãe e gesticulou para Tony abrir a porta quando ele olhou para trás em busca de aprovação. Ele ajudou-as a descer, depois ficou parado na frente delas, como um cavaleiro salvador. Alice sorriu por dentro pela devoção que o cocheiro de sua mãe demonstrava pela família, em especial porque ele era mais velho que a própria Inglaterra.

    Ela olhou para a estrada, cercada por densas árvores grossas que lançavam sombras em movimento por toda parte. Os olhos de sua mãe estavam arregalados e cheios de medo quando a aparição fantasmagórica surgiu: um cavalo negro e um cavaleiro imponente saíram das sombras. A respiração entrecortada e irregular do cavalo fazia com que parecesse perigosa, como se não fosse desse mundo.

    Alice teve certeza de que iriam morrer. Nada que parecia tão mau poderia fazer algum bem neste mundo.

    — Ora, ora, ora. Olha quem nós temos.

    O cavaleiro fez a montaria parar, o olhar do cavalo se arregalando com a dor da puxada.

    — Não é da tua conta. Pega o que quer e vai embora. — disse Tony, lançando um olhar preocupado por cima do ombro para as mulheres.

    Os olhos de Alice se estreitaram ante o "tsc, tsc, tsc" vindo do bandido.

    Ela olhou para o cavalo e se perguntou como um ladrão poderia possuir tal animal. Talvez roubo seria a melhor explicação. Ela estudou o homem, as calças bem ajustadas às pernas torneadas. Sua casaca e a camisa embora não fossem da melhor qualidade, estavam limpas e passadas. Quanto ao seu rosto, ela não conseguiu distinguir, por conta de lenço preto que cobria o nariz e a boca. Mas seus olhos, escuros como a noite, eram inteligentes, calculistas e naquele momento, as estudavam. Com fervor.

    O bandido se inclinou sobre o cavalo.

    — Acredito que a duquesa de Penworth será a felizarda de hoje. E esse lindo broche que você ostenta será meu prêmio. Entregue-o e nada de mal acontecerá a vocês.

    Alice consolou a mãe que soluçava e tentava em vão esconder o broche que fazia os olhos do ladrão brilharem com ganância doentia.

    — Quem deu permissão para pegasse o que não lhe pertence, senhor?

    Alice levantou o queixo em desafio. Pensar em sua mãe renunciando a uma joia de família tão querida, fazia seu sangue ferver.

    Ela parou quando percebeu a atenção do homem se direcionar a ela, o movimento das sobrancelhas deixando claro que não a havia visto ainda ou a estava ignorando. Alice afastou o nervosismo que ameaçava tomar conta dela ao vê-lo desmontar do cavalo, e caminhar em direção a eles com arrogância e confiança.

    Alice ergueu o queixo e recusou-se a desviar o olhar mesmo que sua mente estivesse paralisada de medo. Ele era alto, forte e podia quebrar as duas ao meio se quisesse, ao menos era o que o tamanho de seus braços indicava.

    Ó Deus, por favor, não nos machuque. Me desculpe, eu falei.

    Ela engoliu em seco quando ele se aproximou dela, perto demais para seu gosto.

    — Você é bela, minha pequena deusa loira. Talvez eu devesse roubar você, em vez de ornamentos feitos pelo homem.

    Ele estendeu a mão e mexeu no broche de sua mãe, descartando-o como algo sem valor. Alice ficou boquiaberta e depois fechou a boca ante ao gesto descarado do homem. Com certeza ele não dissera aquilo mesmo, dissera? Mas pelo brilho de seus olhos, Alice percebeu que ele falava sério.

    — Você senhor, vai deixar minha filha em paz.

    Sua mãe se moveu para frente dela, o que tirou Alice do transe em que ela parecia ter caído enquanto olhava para ele. Ele sorriu e então caminhou até Tony, e tão rápido quanto um raio, empurrou o homem para o chão, amarrou as mãos do velho com uma habilidade que só se adquire com experiência e que, sob diferentes circunstâncias, teria sido impressionante. Desanimada, Alice observou sua única proteção se mexer no chão, sem serventia alguma. O ladrão voltou-se para elas, o olhar varrendo o local.

    — Esta não é a hora de dar ordens, Sua Graça.

    Ele caminhou até elas e desabotoou o broche de esmeralda. Alice apertou a mão da mãe quando os olhos dela se encheram de água. Olhou de volta para o ladrão que deslizava o broche para dentro de um bolso sem nem olhar com atenção para a joia.

    — Sua Graça, se puder voltar para a carruagem, eu ficaria muito agradecido. Eu tenho algo a dizer para sua filha... em particular.

    — Você não tem nada a dizer para mim, senhor. Pegou o que queria, agora precisa nos deixar em paz.

    Alice segurou a mãe, não querendo ouvir nada que esse bruto tivesse a dizer. Medo de que ele fosse molestá-la subiu por sua coluna. Talvez não fosse o ladrão que assediava Surrey, pois ela nunca soube dele atacando mulheres após roubar suas posses mundanas.

    Ele riu e abriu a porta da carruagem. Então, com um puxão, separou-as e acompanhou a mãe até a porta. A pistola apareceu novamente e quando a mãe hesitou, ele a colocou em suas costas. Sua mãe se recusou a se mexer, e Alice viu sua postura desafiadora, mas a última coisa que desejava era que sua mãe se machucasse. Ela havia perdido um dos pais, não estava pronta para perder outro.

    — Espere na carruagem, mamãe. Eu ficarei bem. Eu prometo.

    Sua mãe enfim concordou, e Alice encolheu os ombros quando a porta da carruagem se fechou. O demônio caminhou de volta para ela, embora talvez espreitar fosse uma palavra melhor, depois a puxou para trás da carruagem e para fora da vista de sua mãe, mesmo que ela se inclinasse para fora da janela, determinada a manter a filha à vista.

    Ele observou Alice por um momento.

    Seus olhos, que ela pensara serem pretos, eram de fato, azuis com reflexos cinzentos. Em qualquer outro momento, Alice os chamaria de atraentes, mas hoje eles eram uma janela para o inferno. Ela se assustou quando ele se inclinou para ela:

    — Você é muito bela, lady Alice.

    As palavras sussurradas em seu ouvido espalharam um calor peculiar por seus ossos. Alice atribuiu isso ao medo e ao fato de que ela não sabia quem era esse homem, nem do que era capaz. Ficou parada e esperou, recusando-se a dizer ou reagir de qualquer maneira, para não o estimular a fazer algo pior.

    — É uma vergonha que uma mulher como você ceda a um casamento de conveniência. Esse corpo delicioso deveria ser amado e reverenciado.

    A mão dele apertou seu ombro e a empurrou contra as diversas malas amarradas na parte de trás da carruagem. Ele se inclinou mais perto do que ela jamais permitiria que um homem fizesse

    — Faz muito tempo desde a última vez que tive uma mulher como você embaixo de mim. Ah, como eu adoraria me envolver em um prazer mútuo que a arruinaria para qualquer pessoa.

    Alice engoliu em seco, odiando o fato de que, no fundo, seu corpo estava reagindo àquelas palavras absurdas e escandalosas. Ela não deveria permitir que ele dissesse tais absurdos. Deveria bater na cabeça dele, mas neste momento não havia nada que pudesse servir de arma ao seu alcance, não havia sentido em motinar.

    — Como me conhece, senhor? — ela conseguiu perguntar, a respiração presa, nervos à flor da pele ante a ideia deste homem em cima dela, dando prazer como suas palavras prometiam. Havia algo seriamente errado, já que tais pensamentos, em vez de serem vis, a deixaram imaginando como seria.

    Além de sua ocupação como fora da lei, ele parecia saudável, o branco de seus olhos era claro, e não injetado de sangue ou de cor amarela como dos bandidos comuns. Mas, provavelmente, o mais curioso de tudo era que, embora a estivesse roubando, já tivesse roubado um broche e atirado em seu criado, ele não a assustava.

    Nem um pouquinho.

    Ele riu, o olhar devorando o corpo dela.

    — Sempre estudo as pessoas a quem irei subtrair algo. Você não está com raiva de mim, espero — ele indagou.

    Alice levantou a sobrancelha, sabendo pelo brilho nos olhos dele que ele sorria por baixo do lenço, talvez risse.

    — Talvez você me dê uma recompensa se eu não roubar estes lindos brincos que está usando.

    — Se eu te der os brincos, devolve o broche?

    — Que tal — começou ele —, você me dá um beijo e eu penso na oferta?

    Alice engoliu em seco pela milésima vez só aquela tarde quando a mão do ladrão apertou seu quadril, os dedos firmes em seu corpo. Os olhos deles se encontraram e ela ficou surpresa ao ver o olhar dele escurecer com uma emoção que ela não queria desvendar de verdade.

    Quem é ele?

    E como ela sabia, não importava as palavras dele, que ele não a forçaria a nada do que ela não desejasse participar? Era muito desconcertante.

    — Você não vai me beijar, minha senhora? — ele zombou, desafiando-a.

    Alice passou as mãos sobre os ombros e os cabelos escuros na nuca dele. Seu cabelo era macio e emanava um aroma de limão. Que bizarro, para um homem como esse, ser tão limpo e cheiroso. Ela entrou na brincadeira dele e lançou o melhor olhar atrevido que poderia interpretar.

    — Senhor, você não sabe o tempo que esperei para conhecer o famoso Ladrão de Surrey, se é quem você é. E se seus lábios são tão tentadores quanto sua voz, eu ficaria honrada em conceder um favor ao senhor, mas você terá que remover o lenço para que eu o faça.

    Alice avançou nele com todo o suposto desejo que ela conseguia forjar. Suprimiu o medo que subia por dentro por estar brincando com o tipo errado de homem. Pois apesar dos olhos desejáveis e corpo e roupas limpas, ele era um ladrão de estrada. Impiedoso e certamente mais perigoso do que se supunha. Ela rezou para que sua intuição não estivesse errada e que estivesse, portanto, indo por um caminho sem volta.

    O corpo esbelto e musculoso tocou toda a extensão de seu corpo, e Alice culpou o receio pelo que poderia acontecer pela falta de ar em seus pulmões, e não o que ele a fazia sentir mesmo que o conhecesse a apenas alguns minutos. Um ladrão, não menos. As mãos dela desceram pelo pescoço dele e se acomodaram nos ombros. Ela se inclinou para frente, de modo que a respiração do homem através do lenço aquecia seus lábios.

    Sua atenção se concentrou nos lábios dele quando ele levantou o tecido para permitir que se beijassem. A boca dela ficou seca ao ver lábios feitos para o pecado. Eram perfeitos para dar prazer ao sexo oposto.

    Como ela queria ter lábios tão cheios como os dele, talvez um pouco mais vermelhos, ser uma tentação ao sexo oposto, o que infelizmente não era a verdade. E agora, parecia que seu primeiro beijo seria com um homem que estava a roubando.

    Alice lambeu os lábios e percebeu seu erro quando os olhos azuis dele escureceram com desejo. Sua respiração acelerou e ela tentou acalmar o coração feroz que ameaçava pular de seu peito. Ela não deveria querer o beijo dele, mas uma parte escandalosa dela queria o beijo mais do que qualquer outra coisa em sua vida.

    — Beije-me, linda.

    Se fosse possível, ela teria derretido ali mesmo, como neve sob o sol.

    Por Deus, aquela voz profunda e masculina era a tentação encarnada. Acordou algo selvagem dentro dela, iria beijá-lo e dane-se as boas maneiras e expectativas que recaiam sobre ela por sua linhagem. Alice nunca saberia como ela tirou o olhar dos lábios dele.

    Em vez de se inclinar e fazer o que ambos ansiavam tanto, ela se sacudiu mentalmente. Ela não queria beijá-lo. Era o sangue correndo em suas veias que a fazia se sentir tonta... e o que mais fluía por todo o corpo dela. Não o homem ou o prazer que ele prometia.

    Alice se preparou para fazer o que precisava e assim, pouco antes de seus lábios se encontrarem, e com todo a força que ela poderia reunir, levantou a perna e deu uma joelhada firme na virilha. Ele caiu no chão, com gritos de dor reverberando na floresta silenciosa. Alice observou-o por um segundo antes de se virar e correr para a frente da carruagem, feliz ao ver Tony cambaleando.

    — Tony, suba no coche. Eu guio.

    — Mas, minha senhora. — ele gaguejou.

    — Sem mas. Faça o que pedi, agora.

    Alice subiu depressa na parte da frente e pegou as rédeas. O ladrão ainda estava no chão, segurando-se, e Tony ainda estava imóvel e com os olhos arregalados.

    — Nós não temos muito tempo. Mexa-se agora, homem! — ela gritou.

    Ele fez o que ela pediu, e assim que a porta da carruagem se fechou, ela incitou os cavalos em um galope imediato. Com uma nuvem de poeira, ela deixou o demônio bem onde ele pertencia, no chão e sozinho. Estalou o chicote perto das orelhas do cavalo e franziu a testa quando a percepção do que acabara de fazer a atingiu com tanta força quanto ela o atingira.

    O joelho na virilha dele foi um golpe duro, talvez um pouco mais forte do que deveria, e uma pequena parte dela esperava que não o tivesse machucado muito, apesar de toda a raiva por ele tê-las roubado. Ele poderia ser um ladrão, mas cheirava bem demais, como frutas de verão ou algo parecido. E o hálito dele ao falar não cheirava a cerveja velha ou refeições de ontem, mas a menta, fresco e tentador.

    Se ele fosse um cavalheiro em um baile de máscaras, ele teria recebido o beijo que ele queria de bom grado. E, sem dúvida, teria sido agradável e gostoso por alguns minutos. Sua irmã Beth contara sobre receber o beijo de um homem, e Alice desejava beijar, mas beijar um bandido estava fora dos limites. Ela não o faria, não importa o quanto quisesse ceder às expectativas e viver o momento. Canalhas e libertinos, como o demônio deixado para trás na estrada, sempre foram bons em sedução, mas não eram confiáveis ou amigáveis. Nunca.

    Ela suspirou por dentro.

    Sua vida parecia trazer um drama após o outro nos últimos meses. Talvez ela devesse fazer o que sua mãe queria e encontrar um marido adequado.

    Checou a velocidade dos cavalos enquanto seu corpo se rebelava ante a ideia de se casar. Se ela se casasse, seria esperado que ela atendesse a todos os caprichos de seu marido, desse a ele bebês e o fizesse feliz. Não que ela se opusesse a ser feliz, mas apenas o amor mais profundo a atrairia para o casamento, e todos os homens que ela conhecera até então, desde sua primeira temporada, não se mostraram nada inspiradores.

    Claro, eram ricos, alguns até títulos possuíam, eram donos de propriedades que agradariam até a realeza, mas tão enfadonhos quanto assistir gotas de água secarem na grama. E decerto nenhum deles inspirava curiosidade ou atração. A primeira vez que ela experimentou algo assim havia sido hoje.

    Com um ladrão.

    Embora não fosse verdade, já que ela havia reagido a um homem antes, ninguém menos que seu vizinho Callum Edwards, o visconde de Arndel. Alice olhou para a estrada, sem realmente ver nada além dos cavalos galopando. Talvez sua mãe estivesse certa, e ela precisasse deixar de ser tão exigente e encarar os ricos como idiotas privilegiados, porque se ela reagia aos bandidos, havia algo de errado com ela.

    Os penetrantes olhos azuis do homem que ela havia deixado se contorcendo na estrada passaram por sua mente e ela sorriu, esperando outra vez que não o tivesse machucado muito. O porquê ela não conseguia entender. Ele havia puxado uma arma para elas. Mereceu tudo o que recebeu. No entanto, nunca em sua vida ela havia ficado tão alegre e temerosa ao mesmo tempo.

    Era uma reação absurda.

    O homem era um canalha, nada digno da atenção dela. Ele merecia ir parar em Newgate por seus crimes, e ainda assim ele acordara um espírito diabólico nela que estava sempre tentando se libertar. Um espírito que ansiava por um casamento amoroso e um homem que despertasse seu desejo, todos os dias de sua vida. Não alguém que se casasse com ela por sua riqueza e pelo rosto bonito que sua mãe sempre fazia questão de exaltar. Alice não queria ser o enfeite de ninguém. Uma peça de decoração em uma enorme casa, para ser admirada e ganhar sorrisos, mas fora isso, ignorada. Ela desacelerou os cavalos quando passou pelos portões de Dunsleigh e suspirou.

    Sem dúvida, o demônio da estrada vivia uma vida mundana que não era prejudicada pela sociedade nem pelas obrigações familiares. Como ela desejava poder ser tão livre como ele. Bem, até que ele fosse capturado e enforcado por seus crimes. Esse não era o tipo de final que ela queria.

    Mas então, o que seria a vida se não se podia sonhar com possibilidades?

    Sem dúvida, não importava o que ela desejava e ansiava, no fim, ela se estabeleceria e viveria a vida que era esperada da filha do duque de Penworth. Embora, não importava a educação e linhagem que pairava sobre sua cabeça, nada a impediria de sonhar.

    Callum Edwards, o visconde Arndel, sentou-se na estrada de terra e apoiou-se nos joelhos enquanto observava a carruagem partir na estrada e deixá-lo perdido numa nuvem de poeira. Ele balançou a cabeça e franziu a testa, imaginando o que diabos havia dado nele para agir de forma tão imprudente. Ele se encolheu e ergueu-se para ficar de pé, espanou os calções de pele de gamo e assobiou para o cavalo.

    Enquanto seu fiel garanhão, Bandit, trotava, Callum tirou a preciosa joia do bolso e sorriu para a gema verde. A peça era a última joia necessária para resolver a dívida com o agiota, assim que ele fosse para Londres para se livrar desse fardo.

    A rica esmeralda verde-escura adornava um broche de ouro que brilhava para ele, os diamantes ao redor da pedra retangular a complementavam com perfeição, e qualquer um poderia dizer que valia uma fortuna. Ele a guardou no bolso e apertou as rédeas do cavalo, tentando pôr a perna no estribo sem sucesso por causa da dor que percorreu sua virilha. Ele xingou, massageou o pênis e se ajeitou antes de tentar subir de novo.

    Depois de algum tempo, ele conseguiu e proferiu mais alguns xingamentos. Lady Alice Worthingham possuía uma força surpreendente para uma perna tão delicada, muito mais força do que imaginara. Callum se mexeu na sela, esmagando suas próprias joias e causando dor. Guiou seu cavalo para casa, precisava de uma compressa fria e de um conhaque envelhecido, talvez da cama, tudo por causa da boa pontaria do joelho de lady Alice.

    Observando para ver se alguém estava por perto, ele atravessou os campos em direção a sua casa, a propriedade Kester, e balançou a cabeça pelas palavras ditas para uma mulher bem acima dele na hierarquia social, mas muito jovem, ou inocente demais para entender qual era sua intenção.

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