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A Vênus Negra
A Vênus Negra
A Vênus Negra
E-book90 páginas1 hora

A Vênus Negra

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Sobre este e-book

Quanto tempo uma mulher leva para descobrir que sempre foi um objeto explorado por um homem sem escrúpulos? E o que fazer quando descobre essa terrível verdade? Como lidar com isso? Como não se sentir humilhada e rebaixada? Onde encontrar coragem para desmascarar a farsa e recuperar sua dignidade de mulher e artista? Clair Burning teve de enfrentar tudo isso!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2022
ISBN9781526055804
A Vênus Negra

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    A Vênus Negra - L P Baçan

    Capítulo 1

         Algum bendito americano, rompendo com o preconceito, fizera surgir  Clair Burning no corpo ardente de uma negra do Harlem.

         A garota crescera num ambiente pesado. Os becos perigosos foram seus parques de diversão. A violência e a tensão temperaram seu caráter. O sangue negro a fizera bela.

         Clair cantava... Não, a palavra era pequena demais para descrever o que ela fazia diante de um microfone. A voz dela não tinha adjetivos, assim como sua beleza mista que lhe dera aquela cor de bronze tentadora.

         Joe Allyson, o famoso Big Joe dos meios artísticos do país, olhou mais uma vez o enorme cartaz na parede diante dele, depois se reclinou em sua poltrona e acendeu um charuto.

         Descobrira Clair por acaso. Ela encantava numa boate de terceira, uma verdadeira espelunca. A voz era natural, sem disciplina, mas sensual, rouca como a voz dos amantes, sussurrante e arrepiante.

         Joe lhe oferecera um contrato de experiência e cuidara dela. Joe a mandara estudar música. Joe fazia tudo na vida dela, menos tê-la.

         Isso era algo que entrara lentamente em seu sangue, como um vicio perigoso que ameaçasse consumi-lo. Joe a desejava perdida e apaixonadamente.

         Para complicar a situação, descobrira que Clair, em segredo, também o amava. Ela, uma garota do Harlem. Ele, um descendente da aristocracia derrotada do Sul.

         Toda a sua família era da Virgínia. Aquele rancor natural contra os negros ainda fazia parte do dia-a-dia da família.     Joe era o filho caçula. Atingira uma posição elevada nos meios artísticos porque nunca se importava com prejuízos.

         Podia se dar ao luxo de lançar um cantorzinho sem nome num grande show, apenas porque depositava toda a sua confiança nele.

         Se falhasse, o prejuízo nem de perto abalaria a fortuna da família. Por outro lado, essa dependência financeira contra a qual lutava, agora mostrava seu outro lado, exigindo dele algo acima de suas forças.

         Joe talvez amasse Clair, mas isso nunca poderia ser dito abertamente. Seu pai sempre fora um homem rigoroso. Toda a fortuna da família era dele. Só sua morte libertaria os filhos daquela dependência.

         Joe sabia que fizera um nome que impunha respeito, que obtinha sucesso, mas sabia também que sem o dinheiro de seu pai logo tudo o que fizera estaria esquecido e mal conseguiria um emprego de zelador de teatro.

         Assim, amar Clair era um perigo que, longe de assustá-lo e intimidá-lo, mais o tentava pelo desafio, pelo risco e pelo perigo.

         Esperando-a agora, Joe tinha medo, mas tinha coragem também. Essa contradição que o punha trêmulo fora um desafio que resolvera enfrentar. Um homem de trinta anos não podia mais viver em função daquilo que sua família era.

         Joe queria liberdade. Talvez fosse um pouco tarde para isso, mas agora tinha seu motivo. Um motivo forte, imenso, chamado Clair Burning, que lotava teatros, que esgotava capacidade de estádios e que vendia dois milhões de discos em poucas semanas.

         Clair era uma recordista em todos os aspectos. Saber que aquela mulher maravilhosa o amava e estava disposta a enfrentar tudo e todos por ele, fazia-o se orgulhar dela e desejar lutar para merecê-la.

         Tinha tanta coisa a dizer a ela, mas reconhecia que, talvez, ela já lera tudo isso nos olhos dele. Estar perto dela, acompanhá-la, tudo isso ia se tornando um suplício. Já não sabia mais como disfarçar.

         Naquela manhã, finalmente, deixara romper aquele dique de sentimentos que tinha dentro de si e se declarara. Clair o olhara profundamente, depois sorrira.

         — Temos um dia cheio hoje, Big Joe. Falaremos disso à noite, em seu apartamento.

         — Só me diga que não sou um louco por amá-la tanto, Clair.

         — Como posso fazer isso, se o amo da mesma forma? Seriamos dois loucos.

         Aquele diálogo gravara-se em sua mente. A voz da mulher desejada por milhões de homem em todo o país e, com toda certeza, já no mundo todo, dissera clara e abertamente que o amava.

         Rouca, sensual, murmurante, arrepiante, aquela voz revelara seu amor por ele e Joe se sentia, agora, explodir de medo e contentamento.

         Medo pelo que poderia ser feito de suas vidas. Contentamento porque era tudo o que ele poderia desejar.

         Consultou o relógio mais uma vez. Dentro de cinco minutos ela chegaria. Estabeleceram isso e Joe sabia que ela nunca se atrasava.

         Os shows de Clair Burning eram pontuais. Seus compromissos eram seguidos à risca. Seu senso profissional a fizera uma artista completa a toda prova.

         Joe se levantou e foi até seu estúdio de som. Ligou um aparelho. A voz penetrante de Clair parecia vir de todas as partes do aposento.

         Aquela música parecia falar deles, do amor desesperado e puro, da luta pelos sentimentos, do desejo que os atraía. Poderia ouvi-la toda a noite. Ouvir Clair era descobrir novos detalhes a cada nova audição. Sua voz era cheia de surpresas, cheia de nuances e tons que a faziam inconfundível e inimitável.

         Desligou tudo, procurando controlar seu nervosismo. Foi para a sala de estar, olhou a porta, e contou regressivamente.

         Apesar de esperá-lo, o toque da campainha o sobressaltou. Joe sabia que, ao abrir aquela porta, abriria sua vida a uma série de encrencas como sua família.

         Seria impossível esconder tudo aquilo, depois daquele encontro. Jornalistas indiscretos perceberiam, fotógrafos apanhariam detalhes, comentários maldosos circulariam por toda a cidade e por todo o país.

         Mesmo assim, Joe sabia que não poderia recuar mais. De qualquer modo, sua vida se tornaria um inferno. Tendo a força de Clair ao seu lado, porém, tudo seria mais fácil de ser encarado.

         Caminhou para a porta apressadamente. Abriu-a. Olhos negros, grandes e expressivos olharam-no com ternura e suspense.

         Uma nuvem sutil

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