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Roubaram minha infância
Roubaram minha infância
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E-book258 páginas3 horas

Roubaram minha infância

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Sobre este e-book

O livro 'Roubaram minha infância' traz a história verídica de um sobrevivente singular da II Guerra Mundial: um menino com alguma sorte e muitos sonhos. Apesar de toda a atrocidade contra os judeus durante o Holocausto, a infância de Freddy Siegfried Glatt é permeada por momentos poéticos, singelos e inesquecíveis. Acontecem enquanto ele aprende a colher uvas em um vinhedo imenso, mesmo quando a guerra atravessava o mundo e sua família tentava fugir. Ou mesmo nos breves minutos em que ele furtava ovos de galinha e os furava com alfinete, sugando-os ainda crus e imaginando a surpresa dos donos do galinheiro. Por entre essas linhas, as palavras do autor passeiam pela diversidade dos espaços percorridos e dos idiomas adquiridos. Seus olhos de menino nos encantam e comovem.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9788556621283
Roubaram minha infância
Autor

Freddy Siegfried Glatt

Freddy Siegfried Glatt é desenhista e modelista, representante industrial, comerciante. Presidente da Sherit Hapleitá/RJ (Associação dos Sobreviventes doHolocausto/RJ). Ex-Presidente da B'nai B'rith/RJ e Ex-Presidente da Loja Herut-B'nai B'rith-RJ. Agraciado com a Moção de Aplausos pela Câmara Municipal de Niterói em 7 de julho de 2016 e com o Título de Cidadão do Estado do Rio de Janeiro em 17 de agosto de 2017. Depoente e palestrante, proferiu centenas de palestras – sendo 22 em 2017 – sempre aclamado por sua emocionada audiência.

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    Roubaram minha infância - Freddy Siegfried Glatt

    1.png

    Créditos

    © Jaguatirica, 2018

    Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida

    ou armazenada, por quaisquer meios, sem a autorização prévia e por escrito da editora e do autor.

    editora Paula Cajaty

    organização Sofia Débora Levy

    colaboração Victor Grinbaum e Carolina Herling

    revisão Márcia Naidin, Hanny Saraiva

    imagem de capa Jana Glatt

    projeto gráfico 54

    d

    esign

    isbn

    978-85-5662-128-3

    Jaguatirica

    rua da Quitanda, 86, 2º andar, Centro

    20091-902 Rio de Janeiro

    rj

    tel. [21] 4141 5145

    jaguatiricadigital@gmail.com

    editorajaguatirica.com.br

    Sumário

    Prefácio

    Apresentação

    Você é Siegfried!

    A fuga da Bélgica: uma viagem com retorno

    Não se deixem pegar!

    Perigo iminente

    Entre os justos no Château de Schaltin

    A liberdade é doce

    Freddy brasileiro

    Posfácio

    Agradecimentos

    À minha filha, Myriam Glatt, por ter iniciado e se dedicado a este projeto. À Carolina Herling e Victor Grinbaum pela ajuda na redação. À Sofia Débora Levy, a organizadora do livro. A meus filhos, Ruth e Norbert Glatt, pela ajuda na leitura e correção do texto. À minha neta Jana Glatt, pelo design da capa. E à minha querida esposa Betty, por me ajudar

    na lembrança de certos fatos.

    Prefácio

    O assunto jamais irá se exaurir. Um novo personagem, teimosamente, haverá de surgir, e sua história nos revelará diferentes roupagens de um mesmo empolgante e doloroso tema vivido por muitos milhões de seres humanos, muitos dos quais tiveram o curso de suas vidas, impiedosamente, interrompido.

    A mim foi concedida a especial distinção de conhecer Freddy Glatt e sua admirável família. A convivência, em circunstâncias das mais diversas, permitiu o florescimento de sólida amizade, alicerçada em afinidade e confiabilidade, com fluente troca de informações, vivências e saber. Muitos fatos que integram sua vibrante história de vida, mormente as narrativas de sua infância e adolescência, relacionadas ao período pré, durante e pós-guerra, relatados com energia, lucidez e riqueza de detalhes, muito me impressionaram e, não raro, produziam um aperto no coração: a infância, os negócios da família, a invasão pelo exército alemão, a convocação dos irmãos para trabalhar na construção do muro Atlântico, – que era uma armadilha e o trem foi direto para o campo de extermínio Auschwitz onde foram assassinados – o drama da perseguição pelos nazistas, as fugas espetaculares que o adolescente realizou com inteligência, intuição e energia para não ser preso por soldados alemães, a fome que reiteradas vezes experimentou, roubando-lhe as forças, a mudança de nome como instrumento de proteção, a morte de familiares, a fuga para o Brasil, a construção de uma nova vida e uma bela e sólida família ao lado de Betty.

    Não há como entender Freddy ter sobrevivido a situações de perigo extremo sem uma proteção superior somada à sua inteligência e força.

    Um dia, em seu apartamento, conheci Sr. Laks, seu amigo, em um costumeiro jantar que os Glatt ofereciam a um grupo de amigos judeus nas noites de sexta-feira, com cumprimento do rito da prévia oração em hebraico. Freddy fala oito idiomas.

    Na época, estava no exercício da presidência do centro de estudos do Instituto de Ginecologia da ufrj e estabeleci que a última terça-feira de cada mês seria dedicada a um tema não-médico. Ilustres convidados participaram da reunião. Um sucesso! Freddy e Sr. Laks (de saudosa memória) atenderam nosso convite para falar sobre o tema Holocausto. Ambos discorreram, cada um a seu modo, sobre as atrocidades da guerra, suas vivências, o extermínio de milhões de judeus nos campos de concentração. Um relato vivo, dramático, com alma. Ao término, todos os que os ouviam estavam chorando. Inesquecível!

    Euderson Kang Tourinho

    Prof. da Faculdade de Medicina da

    ufrj

    ; Chefe da Seção de diagnóstico por imagem do Instituto de Ginecologia de

    ufrj

    ; Membro Titular da Academia de Medicina do Rio de Janeiro; Membro Honorário das Academias de Medicina do Estado do Piauí, do Amazonas e de Rondônia; Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do RJ, da Sociedade de Mastologia do

    rj

    ; Coordenador da Câmara Técnica de Radiologia do

    cremerj

    ;

    ex-presidente da Sociedade Brasileira de Radiologia.

    Apresentação

    BS"D¹

    Há 72 anos se deu o período mais triste e mais doloroso da história do povo de Israel. Durante nossa longa história, passamos por diversos derramamentos de sangue. Porém, em nenhum momento, havia sido de tantas pessoas naquelas condições e em um espaço de tempo tão curto.

    O número oficial de mortos é de seis milhões, mas segundo outros cálculos, o total foi de sete milhões e duzentos mil. Se estas pessoas não tivessem sido eliminadas, o número de judeus no mundo seria de oitenta milhões, e não o que temos hoje, que está em torno de 12 milhões.

    Infelizmente, o mundo não quer lembrar e não quer preservar a memória do que aconteceu com o povo judeu. Infelizmente, também nós já começamos a esquecer. Muitos jovens das novas gerações já não conhecem as histórias do Holocausto ou a conhecem vagamente. Por isso, qualquer testemunho vivo sobre tudo o que aconteceu na época do Holocausto é muito importante, principalmente para mim, já que perdi nos campos de concentração meus irmãos, meus tios, meus avós, todos queimados em Auschwitz.

    Um testemunho se torna ainda mais importante quando estamos falando de um relato feito através do livro do meu grande amigo Sr. Siegfried Glatt, que mesmo com sua idade avançada de 89 anos, tem uma memória fenomenal e não esquece nenhum pequeno detalhe. Como ele é um bom contador de histórias e piadas, tenho certeza de que vai prender o leitor do início até o fim do livro.

    Com a ajuda de D’us, ele foi salvo, chegou ao Brasil, construiu uma linda família aqui e sempre foi, e ainda é, muito ativo na Comunidade.

    Ele é o Presidente da entidade Sherit Hapleitá, que é a organização voltada aos sobreviventes do Holocausto no Rio de Janeiro. Também é grande ativista na B’nai B’rith, cuja missão é batalhar pelos Direitos Humanos da Comunidade Judaica e da Comunidade Maior.

    Quero desejar a ele que, da mesma forma que D’us o salvou, que D’us continue a protegê-lo, e que ele possa assistir com os próprios olhos a reconstrução do Terceiro Templo. E que seja brevemente. Amém.

    Rabino Eliezer Stauber

    1 Besiyata Dishmaya – acrônimo para a frase em aramaico b’syata d’shmaya (com a ajuda dos Céus).

    Você é Siegfried!

    Esta é a história de uma família que um dia foi uma família normal, vivendo em um lar normal de uma cidade normal num país normal. Esta é também a história da infância de um menino normal, irmão de outros dois rapazes normais, que conviveram e brincaram com vizinhos e colegas de escola absolutamente normais. E esta história poderia acabar por aqui mesmo, pois nada indicava que o destino daquela família não seria banal e previsível para sempre. Mas um dia, um homem chamado Adolf Hitler chegou ao poder no país onde eles viviam. E nada mais em suas vidas seria normal. Aquela era minha família. E o que virá a seguir é a minha história de vida: de como minha infância foi roubada pelo nazismo e pela Segunda Guerra Mundial.

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    Freddy, recém-nascido, no colo de sua mãe, Rozalia. Berlim, 1928.

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    Registro de nascimento de Freddy, Siegfried Glatt, em Berlim, 31 de março de 1928.

    Nasci em Berlim, a capital da Alemanha, em 31 de março de 1928. Mas meus pais eram poloneses. Não sei onde e nem como eles se conheceram. Naquele tempo era muito comum que um jovem homem solteiro conhecesse uma jovem moça solteira por intermédio de um shatchen, um casamenteiro profissional. Tanto os homens quanto as mulheres podiam se dedicar a essa hoje estranha profissão, e no caso dos homens era muito fácil identificá-los pelas ruas, pois sempre portavam um guarda-chuva pendurado num dos braços, fosse qual fosse a estação do ano. Acho que foi assim que meus pais se conheceram. Talvez por encomenda de meus avós, talvez por vontade deles mesmos. Mas pode ser que não, que eles tenham sido mais modernos e tenham se conhecido por outras vias. Hoje em dia as pessoas não se conhecem pela internet? Não é tão diferente assim.

    Eram ambos poloneses, mas se casaram em Viena, no ano de 1920. Também não sei dizer por que eles se casaram em Viena, que naquele tempo era a capital da Áustria. Acredito que a Primeira Guerra Mundial possa ter algo a ver com isso. Quando meus pais nasceram, a Polônia não existia como país independente e soberano. Era um território retalhado há séculos entre os austríacos e os russos. Havia tempo que os grandes impérios julgavam a Polônia como o seu quintal e faziam dela o que bem entendessem. Mas ao final da Primeira Guerra, o nacionalismo polonês encontrou uma brecha para se reerguer. Famosos nativos da terra, como o pianista, político e diplomata Ignacy Jan Paderewskie (1860-1941), o General Józef Pilsudski (1867-1935) levantaram a bandeira da independência polonesa e o país ressurgiu no mapa europeu. Até a derrota dos impérios centrais, dependendo da região onde você nascesse, você era nativo deste ou daquele país, conforme o último acerto de fronteiras. No entanto, em alguns casos, o que prevalecia era a nacionalidade de seus pais e não o seu local de nascimento. Por exemplo, eu mesmo! Nasci na Alemanha, mas como sou filho, neto e bisneto de poloneses, eu era considerado um polonês, mesmo sem jamais ter posto meus pés na Polônia.

    C:\Users\Freddy\Desktop\FOTOS ANTIGAS ESCANEADAS\Meu Avo Moses Glatt.jpg

    Meu bisavô materno Zalke Lax, pai do meu avô Salomon Lax.

    C:\Users\Freddy\Desktop\FOTOS ANTIGAS ESCANEADAS\Meu Avo Moses Glatt.jpg

    Meu bisavô materno Naphtali Engländer, pai da minha avó Chawa Lax (née Engländer).

    Voltando à Primeira Guerra, no caso do meu pai, ele acabou incorporado ao exército austríaco e foi enviado para combater no front oriental, contra as forças do Império Russo. Seu nome era Majer, e seu apelido era Max.

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    Da esquerda para a direita, meu pai, Majer, mobilizado pelo Império Austro-húngaro na 1ª Guerra Mundial, 1914-1918; minha tia, Mania Glatt; sua prima – também Mania – e seu futuro marido, Joseph Waldmann.

    O nome do meu pai se escreve com jota no meio, mas se pronuncia Máier. No Brasil isso sempre deu confusão, pois aqui o jota tem som de jota mesmo, e muitas vezes a correspondência para ele vinha em nome de um certo Major Glatt. Mas no Exército Austríaco ele não chegou nem perto de ser major. Era soldado raso, bucha de canhão, destinado a ser moído numa trincheira como milhões de outros rapazes que na idade dele foram, não fosse pela minha avó Lea.

    Uma vez alistado e enviado para o front, o dia do batismo de fogo de Max logo chegou, e meu pai foi mandado para combater em pleno inverno russo, num verdadeiro inferno branco de neve, sob uma temperatura média de 40 graus negativos. Ele praticamente não tocou em sua arma, já que mais importante do que atirar era retirar a neve que invadia as trincheiras. Desde os tempos de Napoleão Bonaparte que dizem que o maior de todos os generais russos seria o célebre General Inverno, pois o clima do país nesta época do ano era inclemente e devastador para os soldados estrangeiros. E naquela guerra o General Inverno lutou como sempre!

    Max passou o tempo todo com as mãos ocupadas por uma pá. Na sua primeira noite nas trincheiras ele viu um colega de sua cidade ser escolhido como sentinela. E na manhã seguinte, o amigo permanecia de pé em seu posto. Porém estava morto, congelado na mesma posição em que se colocou. Tiveram que bater com uma picareta ao redor de seus pés para quebrar o solo congelado e soltar suas botas. Seus dedos, que ainda agarravam o fuzil, tiveram que ser fraturados. O pobre jovem virou uma estátua de gelo e mais uma vítima do mais competente dos estrategistas militares russos.

    Aquela cena dantesca do soldado congelado chocou profundamente meu pai. Na sua primeira carta para casa, ele descreveu tudinho com absoluta riqueza de detalhes. E minha avó, ao ler aquele relato, tomou uma providência curiosa: fez um bolo.

    Certo dia, ao chegar ao acampamento dos soldados, meu pai encontrou um embrulho que havia chegado pelo correio de guerra mantido pela Cruz Vermelha. Nele havia um lindo bolo amarelo, acompanhado de um bilhete: Jamais ouse dividir este bolo com quem quer que seja! Sua alimentação é muito importante e eu fiz este bolo especialmente para você e só você pode comer dele.

    O quitute estava lindo e cheiroso e meu pai o comeu com muito gosto, sem dividir uma única migalha com ninguém. Na manhã seguinte, quando ele e sua tropa já estavam em formação, o sargento que os passava em revista se deteve diante de Max. Olhou bem fundo nos olhos daquele soldado e ordenou que ele se retirasse da formação para ver o médico. Meu pai caminhou até a enfermaria sem saber por que tinha sido afastado. Apresentou-se ao oficial médico e este o levou até um pequeno cercado que servia de consultório. O doutor levantou suas pálpebras, mandou que Max mostrasse a língua, e lhe disse:

    – Descanse por hoje.

    Meu pai obedeceu sem questionar. Um dia de descanso era a certeza de um dia a mais de vida. E no caminho para o dormitório, por onde passava, era observado pelos outros soldados com cara de espanto. Até chegar à frente de um espelho e perceber o que estava acontecendo: estava com a pele do rosto totalmente amarela, como se tivesse sido pintada. O fundo dos olhos também estava amarelado. Observou suas mãos e debaixo das unhas tudo era amarelo. A impressão que se tinha era que se lhe furassem o braço o sangue escorreria amarelo como gema de ovos.

    Os dias se passavam e Max continuava amarelo. Todos os dias era levado à enfermaria, onde lhe examinavam de todos os jeitos e lhe perguntavam de tudo. Apalpavam seu corpo de todas as formas e lhe davam remédios por todas as vias. A ração especial dos soldados doentes era um pouco menos pior que a comida comum e Max aproveitava aquele tempo longe dos combates. Do front, foi primeiro mandado para um hospital de campanha na retaguarda, onde prosseguiram as sessões de exames. Como não encontravam nada de errado, enviaram-no para um hospital maior e mais distante da zona de combate.

    Comia bem e os bolos de minha avó continuavam chegando toda semana via Cruz Vermelha, os quais ele devorava sem dividir com ninguém. Estava até engordando com tanta comida e nenhum exercício físico, quando o médico de campanha lhe entregou um papel: estava dispensado do serviço militar. Motivo: icterícia, uma doença comum em recém-nascidos. E Max que voltasse para casa para se cuidar por sua própria conta e risco. Mas por um ano ainda teria direito a usar a farda do Exército Austríaco. Deram-lhe um laissez-passer, um passe livre que lhe garantia o direito de viajar livremente pelos territórios conquistados pelos Impérios Centrais, denominação que se dava aos aliados impérios germânico e austro-húngaro durante a Primeira Guerra Mundial. E uma vez fardado, ele não precisaria nem mesmo pagar as passagens nos trens. Era bom demais ter quase metade da Europa transformada em seu país, sem ter que chegar perto de uma trincheira. Nunca um amarelão se deu tão bem na vida!

    Escreveu uma carta para casa comunicando o acontecido para sua mãe, que lhe respondeu aliviadíssima. Mas que desta vez não mandou mais daquele delicioso bolo amarelo. E sem mais comer daquele misterioso quitute, Max se curou milagrosamente de sua icterícia. Muitos e muitos anos depois, quando meu pai me contou esta história, fiquei intrigado em saber que substância haveria naqueles bolos capaz de deixar seu corpo daquele jeito. Perguntei a muitos médicos amigos meus e alguns deles acharam que era um concentrado de betacaroteno, a vitamina presente nas cenouras. Se foi isso mesmo, fico ainda mais intrigado em tentar saber como minha avó Lea obteve a substância em meio à Guerra, quando até os alimentos mais simples eram racionados. Deve ter pago um preço altíssimo para, de longe, salvar a vida de seu filho.

    Max passaria a viver sob os trilhos das linhas entre Berlim e Budapeste. Na

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