Vigo
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Vigo - Ronaldo Estevam
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Copyright - Ronaldo Estevam, 2023
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão do autor.
Violão e Cia.
Clube de Autores
São Paulo – SP - Brasil
Site: www.ronaldoestevam.com.br
1-Ficção Científica. 2-Romance. 3-Drama. 4-Policial. 5-Política.
6-Ação.
~ 2 ~
O conteúdo desse livro é ficcional. Qualquer semelhança com pessoas ou acontecimentos é mera coincidência.
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Livro 1
Victor
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Image 2~ 5 ~
I
Vigo
É quinta-feira, onze horas da noite, e se realiza o velório dos Macabros Deuses da Escuridão do Mundo. Tudo se queima dentre os restos do terror da guerra. Da neblina e do lodo, surgem os homens do Tempo Divino, como num balé de cores e cristalinos ventos.
Nas ruínas da antiga civilização, as ervas crescem, apesar da luz ainda se encontrar tímida dentre as nuvens cinzas. Uma das ervas é colhida por Vigo, que a sente como se sentisse a própria mão de Deus.
Vigo nunca amou. Era um lutador, que sentia a dor, mas não sentia pena. Marcado pelas sementes do Macabros Deuses, Vigo estava para morrer, pois deveria ser enterrado com eles.
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Ele não veria o Novo Verbo. O Novo Mundo não era para ele, mas sim para as pessoas puras.
Se Deus destruiu tudo que era como ele, para que houvesse um novo princípio, não teria Vigo o direito de estragar o mundo novamente. Enquanto existir uma erva má no planeta, este não será perfeito.
Talvez por pensar assim, o guerreiro não fosse tão mal. Seu azar foi o de ser marcado pelas sementes dos Macabros Deuses.
A Doutrina caía e os corpos se queimavam para dar lugar às flores.
Finalmente, depois de mil anos de escuridão, os seres de nossa espécie podiam ver tal desgraça para uns e tal beleza para outros.
A luz surgia agora, com raios fortes, transmitindo a força mais bela existente no universo, a fonte da vida.
Vigo sentia pela primeira vez a luz verdadeira e o calor do Sol. Seu espanto e surpresa pelo acontecimento, ocorria com todos os humanos.
Era como nascer e viver na solitária e um dia ser solto na luz do dia.
O aspecto aterrorizante das ruínas da Antiga Civilização transformava-se agora num espetáculo
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belo. A luz torna todas as coisas belas e agra-dáveis.
Quando criança, sentimos medo do escuro e nos aliviamos com qualquer pontinho de luz que esteja por perto. Vigo se sentia assim, como um bebê indefeso.
Seus dominadores morriam, mas Vigo teria também que morrer. Se não se matasse, o povo o mataria pelos seus crimes.
Por qual razão teria ele cometido tais crimes?
Dizia a doutrina da época, que os lutadores matavam por prazer, pois foram feitos para matar, e a vida não significava nada para eles. Mas seria isso verdade? Acredita-se que essa doutrina era incutida na mentalidade das pessoas. Na era do Pós-Apocalipse, tudo era válido para se obter o domínio.
Tudo era escuro na era de Vigo. Poderia muito bem ser verdade o que dizia a doutrina, mas nenhum homem mata sem finalidade ou interesse.
Que interesse poderia ter Vigo? Por mais que matasse, nunca possuiu nada.
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A era do Pós-Apocalipse, trouxe muitas histórias e interrogações, como o caso de Vigo, mas para entendê-las, é necessário que voltemos no tempo, no final do século XX, numa antiga civilização, que Vigo nem ao menos conheceu.
~ 9 ~
II
PORTA VOZ: O grupo médico que cuida do Presidente Tancredo Neves informa por meio deste, o segundo boletim médico do dia sobre seu estado de saúde. O boletim diz o seguinte: A situação do Presidente é boa, já são notados bons sinais de melhora. Falou conosco e até pediu um pouco de sopa. Pediu à população que ficasse tranqüila, dando um beijo em D. Risoleta, sua esposa.
Assim informa a junta médica do Instituto do Coração de São Paulo, que cuida do Pres.
Tancredo Neves. São Paulo, 30 de março de 1985.
Saía então da sala, acompanhado por algumas pessoas, o jornalista Antônio Britto, que estava no momento, como porta-voz do Presidente da República.
Lá fora, em frente ao hospital, parte da população de São Paulo, acompanhava o drama do Presidente, rezando, pensando positivamente.
O povo brasileiro amava Tancredo, era como um pai, um herói, uma esperança de ter de volta a
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tão distante democracia. Este homem que fora um grande político e símbolo da abertura, estava agora em sua hora derradeira. O povo acreditava em sua cura, pois estava nas mãos dos melhores médicos do país, além de contar com a ajuda de Deus, pelas orações que tantas pessoas faziam.
Esse fato fez com que as religiões se unissem. Umbandistas, católicos, protestantes, ortodoxos, judeus, muçulmanos, espíritas, budistas, enfim. Também uniu raças, negros, brancos, amarelos, índios, mestiços, e uniu gerações.
Conseguiu até mesmo unir partidos políticos, da esquerda e da direita.
O resultado do boletim foi agradável, e trouxe esperanças para muita gente, um alívio para todos os brasileiros que mesmo assim faziam suas preces.
Em frente ao hospital uma senhora idosa dizia baixinho: Ele vai sarar, graças a Deus!
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Era assim, com todas as pessoas que faziam plantão na calçada, donde se via estampada em seus rostos a alegria de poder ter um Brasil melhor, bastando para isso apenas a cura daquele homem, como se as soluções estivessem apenas em suas mãos e de mais ninguém, como se uma nação não fosse constituída por todos eles. O homem era
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apenas um líder, a mudança estava nas mãos do próprio povo, desse povo que naquele dia, chorava de alegria.
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III
No Instituto do Coração, trabalhavam muitos médicos e enfermeiros, mas para cuidar do caso de Tancredo, havia apenas uma junta especial.
O quarto do Presidente ficava numa ala do hospital na qual só era permitida a entrada de pessoas da junta médica e familiares.
Dentre os enfermeiros do hospital, se encontrava Victor, que não fazia parte da junta especial. Ele era uma pessoa pacata, mas possuía um brilho nos olhos, como de um líder. Seu jeito esquisito, meio fechado, afastava dele os colegas, portanto, não tinha amigos. Morava sozinho e não tinha família. Perdera seus pais num acidente de carro quando ainda era jovem, e sem irmãos, teve que seguir seu rumo sem ajuda. Formou-se na faculdade de Enfermagem da USP. Agora com seus 27 anos de idade, começava a apresentar seus primeiros fios brancos em seu cabelo preto, que contrastava com sua pele branca como a de um vampiro, que enfatizavam suas olheiras em função das noites mal dormidas em plantões
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freqüentes que fazia para ganhar mais dinheiro e manter seu bom padrão de vida de rapaz solteiro.
Nesse mesmo dia 30 de março, uma de suas colegas, que fazia parte da junta especial, pediu-lhe ajuda com uns pacotes de remédios. Victor aliviou o fardo da enfermeira, que se encaminhava para a ala proibida.
Por estar junto dela, os guardas não obstruí-ram sua passagem, contudo a moça pediu-lhe para que esperasse enquanto ela entrou num quarto.
A moça demorava, e Victor carregado de pacotes, começava a ficar impaciente. Avançou um pouco, e pela fresta da porta do quarto em que ela entrara, pôde ver o que foi para ele um choque.
Naquele quarto estava Tancredo Neves, muito mal, em pele e osso, cheio de tubos e aparelhos, apresentando ferimentos de bala.
Nesse instante, um soldado enorme baixou-lhe a mão sobre o ombro e apertou-lhe o braço, dizendo: Siga-me!
O soldado da Polícia do Exército o levou até o estacionamento sem dizer nada, e lá encostando-o na parede, disse:
- Esqueça o que viu lá em cima, enfermeiro, pois caso contrário, seremos obrigados a tomar medidas drásticas contra você. Entendido?
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- Sim, claro, mas... - respondeu Victor, sendo interrompido pelo vozeirão do soldado:
- Esqueça isso enfermeiro, se tem amor à vida!