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Segredos e Mentiras: Série de Mistérios da Sam Smith
Segredos e Mentiras: Série de Mistérios da Sam Smith
Segredos e Mentiras: Série de Mistérios da Sam Smith
E-book231 páginas2 horas

Segredos e Mentiras: Série de Mistérios da Sam Smith

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Sobre este e-book

Suicídio ou homicídio? A maior parte das pessoas com quem lidei, escondem um segredo e, muitas delas, são peritas a contar mentiras. Porém, como se descobre a verdade sobre alguém que já não se encontra entre nós?

O autor Barclay Quinton escreveu Fabringjay, a história de um homem que levava uma vida dupla durante a Segunda Guerra Mundial, que foi bem recebida pelos críticos, mas ignorada pelos leitores. Também escreveu Luxúria Ilícita, um livro que odiou e o escreveu puramente para satisfazer a sua agente e editora. Luxúria Ilícita tornou-se bestseller, um facto que aborreceu o Barclay. No entanto, o seu sucesso abriu-lhe portas e ele começou por investigar para o seu próximo romance, sobre a história de uma mafioso em envelhecimento. A pesquisa do Barclay levou-o a contactar com muitas pessoas perigosas, incluindo vilões, detetives privados sombrios e dirigentes de clubes noturnos. O relatório oficial sobre a morte do Barclay declarava que ele tinha cometido suicídio. Mas uma amiga próxima dele insistia que o Barclay tinha sido assassinado e eu fui contratada para investigar o caso. 

Entretanto, mais perto de casa, descobri um segredo e uma verdade sobre o meu parceiro de longa data. Era ele o homem dos meus sonhos ou estaria a nossa relação prestes a terminar?

Segredos e Mentiras - uma história sobre o amor, sobre o engano, sobre as muitas caras que todos nós possuímos. A pública, a privada e a profundamente pessoal e secreta.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de abr. de 2020
ISBN9781071541470
Segredos e Mentiras: Série de Mistérios da Sam Smith
Autor

Hannah Howe

Hannah Howe is the bestselling author of the Sam Smith Mystery Series (Sam's Song, book one in the series, has reached number one on the amazon.com private detective chart on seven separate occasions and the number one position in Australia). Hannah lives in the picturesque county of Glamorgan with her partner and their two children. She has a university degree and a background in psychology, which she uses as a basis for her novels.Hannah began her writing career at school when her teacher asked her to write the school play. She has been writing ever since. When not writing or researching Hannah enjoys reading, genealogy, music, chess and classic black and white movies. She has a deep knowledge of nineteenth and twentieth century popular culture and is a keen student of the private detective novel and its history.Hannah's books are available in print, as audio books and eBooks from all major retailers: Amazon, Barnes and Noble, Google Play, Kobo, iBooks, etc. For more details please visit https://hannah-howe.comThe Sam Smith Mystery Series in book order:Sam's SongLove and BulletsThe Big ChillRipperThe Hermit of HisaryaSecrets and LiesFamily HonourSins of the FatherSmoke and MirrorsStardustMind GamesDigging in the DirtA Parcel of RoguesBostonThe Devil and Ms DevlinSnow in AugustLooking for Rosanna MeeStormy WeatherDamagedEve’s War: Heroines of SOEOperation ZigzagOperation LocksmithOperation BroadswordOperation TreasureOperation SherlockOperation CameoOperation RoseOperation WatchmakerOperation OverlordOperation Jedburgh (to follow)Operation Butterfly (to follow)Operation Liberty (to follow)The Golden Age of HollywoodTula: A 1920s Novel (to follow)The Olive Tree: A Spanish Civil War SagaRootsBranchesLeavesFruitFlowersThe Ann's War Mystery Series in book order:BetrayalInvasionBlackmailEscapeVictoryStandalone NovelsSaving Grace: A Victorian MysteryColette: A Schoolteacher’s War (to follow)What readers have been saying about the Sam Smith Mystery Series and Hannah Howe..."Hannah Howe is a very talented writer.""A gem of a read.""Sam Smith is the most interesting female sleuth in detective fiction. She leaves all the others standing.""Hannah Howe's writing style reminds you of the Grandmasters of private detective fiction - Dashiell Hammett, Raymond Chandler and Robert B. Parker.""Sam is an endearing character. Her assessments of some of the people she encounters will make you laugh at her wicked mind. At other times, you'll cry at the pain she's suffered.""Sam is the kind of non-assuming heroine that I couldn't help but love.""Sam's Song was a wonderful find and a thoroughly engaging read. The first book in the Sam Smith mystery series, this book starts off as a winner!""Sam is an interesting and very believable character.""Gripping and believable at the same time, very well written.""Sam is a great heroine who challenges stereotypes.""Hannah Howe is a fabulous writer.""I can't wait to read the next in the series!""The Big Chill is light reading, but packs powerful messages.""This series just gets better and better.""What makes this book stand well above the rest of detective thrillers is the attention to the little details that makes everything so real.""Sam is a rounded and very real character.""Howe is an author to watch, able to change the tone from light hearted to more thoughtful, making this an easy and yet very rewarding read. Cracking!""Fabulous book by a fabulous author-I highly recommended this series!""Howe writes her characters with depth and makes them very engaging.""I loved the easy conversational style the author used throughout. Some of the colourful ways that the main character expressed herself actually made me laugh!""I loved Hannah Howe's writing style -- poignant one moment, terrifying the next, funny the next moment. I would be on the edge of my seat praying Sam wouldn't get hurt, and then she'd say a one-liner or think something funny, and I'd chuckle and catch my breath. Love it!""Sam's Song is no lightweight suspense book. Howe deals with drugs, spousal abuse, child abuse, and more. While the topics she writes about are heavy, Howe does a fantastic job of giving the reader the brutal truth while showing us there is still good in life and hope for better days to come."

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    Segredos e Mentiras - Hannah Howe

    Segredos e Mentiras

    Índice

    Capítulo Um

    Capítulo Dois

    Capítulo Três

    Capítulo Quatro

    Capítulo Cinco

    Capítulo Seis

    Capítulo Sete

    Capítulo Oito

    Capítulo Nove

    Capítulo Dez

    Capítulo Onze

    Capítulo Doze

    Capítulo Treze

    Capítulo Catorze

    Capítulo Quinze

    Capítulo Dezasseis

    Capítulo Dezassete

    Capítulo Dezoito

    Capítulo Dezanove

    Capítulo Vinte

    Capítulo Vinte e Um

    Capítulo Vinte e Dois

    Capítulo Vinte e Três

    Capítulo Vinte e Quatro

    Capítulo Vinte e Cinco

    Capítulo Vinte e Seis

    Capítulo Vinte e Sete

    Capítulo Vinte e Oito

    Capítulo Vinte e Nove

    Capítulo Trinta

    Capítulo Trinta e Um

    Capítulo Trinta e Dois

    Capítulo Trinta e Três

    Para a minha família, com amor

    Capítulo Um

    _______________________________________________________

    Estava a sonhar com a praia. Um boneco de neve estava a caminhar pela areia, a atirar pedrinhas para o mar, sobrepondo imagens e situações, como acontece nos sonhos. O boneco de neve pôs-se à procura do telemóvel, que estava a tocar. Então, percebi que o telemóvel estava ao lado da minha cama e a vibrar ao meu ouvido.

    Com um suspiro, mexi-me e alcancei-o. Deixei-o cair e parou de tocar. Depois, começou a tocar novamente. Tirando o cabelo da frente dos olhos – está demasiado grande, preciso de o cortar – atendi, coloquei-o ao meu ouvido e murmurei, com voz rouca, um estou?.

    - Sam... - Disse uma voz masculina.

    - Uh-huh? – Franzi as sobrancelhas e, de seguida, puxei o edredom até ao queixo, para esconder o meu embaraço, embora não estivesse ninguém no quarto ou na cama, para além de mim.

    - Estás acordada?

    - Sim... - Resmunguei. – Não... - Gemi. – Mais ou menos... - Confessei. O relógio digital que estava ao meu lado na mesinha de cabeceira piscava para mim: eram 8h43. Normalmente, já estaria a pé por volta desta hora e a trabalhar. Porém, tinha passado a madrugada à procura de um marido errante antes de passar essa tarefa para a minha companheira de apartamento e colega, Faye Colliester. A Faye não tinha regressado a casa, nem ligado, pelo que possivelmente ainda estaria no seu alcance. O marido errante fora a primeira experiência de campo da Faye – até agora, ela tinha estado ao seu lado como um cão de guarda. Pergunto-me como se estaria a sair.

    - Desculpa pela noite anterior. – Disse o homem.

    Deixei-me cair na almofada e relaxei, permitindo que o edredom deslizasse para o lado. A voz masculina pertencia a Alan, o meu noivo.

    -Uh-huh.

    - Uma pessoa ligou-me. Uma urgência.

    - Uh-huh. – Depois da minha mente, de forma lenta, começar a trabalhar, acrescentei: - Normalmente não atendes clientes depois das horas.

    - Eu sei, mas como te disse, foi uma urgência. Uma tentativa de suicídio.

    O Alan era psicólogo e um dos grandes na sua área. A sua reputação assegurou que os seus serviços fossem muito requisitados. No entanto, ele sempre tinha encontrado tempo para mim, até ao jantar da noite passada, onde ele, pela primeira vez, me tinha deixado pendurada. Tinha de haver uma explicação lógica para o ocorrido e, apesar de já vir um pouco tarde, aceitei a sua explicação sem pensar duas vezes.

    Inclinei-me para a frente, levantando os meus joelhos até ao queixo, franzi as sobrancelhas e perguntei: - Mas ela está bem?

    - Ele. – Corrigiu-me o Alan. – Sim, mais calmo agora, a crise passou.

    Uma mecha do cabelo caiu-me no meio da cara, por isso, franzi os lábios e soprei-o para longe.

    - Estás livre esta noite? – Perguntei, com a minha voz a denotar uma pitada de ansiedade.

    - A Alis quer que eu conheça um amigo dela.

    A Alis era a filha única e adolescente do Alan e a imagem viva da sua falecida esposa, Elin. Ela morreu num acidente durante uma escalada, há oito anos, e ele ainda sentia a dor dessa tragédia.

    - A Alis tem um novo namorado? – Perguntei.

    - Yap.

    - E é sério?

    - Tu sabes como é que ela é... - O humor adornou a voz de Alan e eu consegui sentir o seu sorriso. – Quanto mais se aproxima dos dezoito e da realização que está à procura de um parceiro para a vida, mais seletiva se torna.

    - A Alis é linda. – Disse, de forma sincera. – Ela pode escolher praticamente quem ela quiser.

    - Talvez. – Disse, com voz rouca e, se fosse a adivinhar, com uma careta a acompanhar. – Mas tenho pena pelos namorados fugazes dela.

    - Isso é porque és um homem. Deverias era de estar do lado da tua filha.

    - E estou. Mas eles vêm cá com olhos de cachorrinho, tão nitidamente apaixonados, para depois ela passar algum tempo a meditar sobre a relação e os deitar fora de seguida.

    - Melhor para ela. É como disseste, ela está a escolher um parceiro para a vida.

    - Bem... - Resmungou Alan. – Eu só queria que ela se decidisse mais.

    Eu sorri para o telemóvel.

    - Como diz a canção, não se pode apressar o amor.

    Após colocar os meus pés no tapete fofo que está ao lado da cama, saí dela e fui à procura do meu robe. Já metida dentro dele, perguntei:

    - Então e amanhã à noite?

    - Temos a nossa reunião anual, do clube de râguebi.

    Fiz uma careta para o telemóvel. Depois, com humor na minha voz, reclamei:

    - Então preferes falar com um grupo de dezasseis desportistas feitos de pedra que têm orelhas em couve-flor do que comigo?

    Sem resposta. O silêncio era ensurdecedor. Franzi as sobrancelhas para o telemóvel.

    - Ainda estás aí? – Perguntei enquanto passava a mão pelo cabelo, retirando as madeixas ruivas da frente dos meus olhos.

    - Estou constipado. Estava apenas a limpar o nariz. – O Alan tossiu para realçar o facto de que estava a sofrer das alergias sazonais. – Vamos fazer assim... - Disse ele, quando o seu ataque de tosse terminou. – Eu ligo-te quando estiver livre e faremos qualquer coisa.

    Isso não parecia ter vindo do Alan. Normalmente, não conseguia esperar para me ver.

    - Está tudo bem? – Perguntei, com a voz a trair-me e a mostrar a minha preocupação.

    - É apenas esta constipação. – Tossiu.

    - Eu amo-te. – Disse, com as minhas palavras cheias de doce sinceridade.

    - Falamos em breve. Cuida-te. – E então, desligou.

    Fiquei a olhar para o telemóvel, lutando para conferir sentido à conversa. Eu amo-te mais, era o que ele devia de ter dito, mas não disse. Talvez estivesse a ser demasiado sensível, consequência da minha repreensão emocional. Quando se tratava de assuntos do coração, conseguia ser melindrosa de vez em quando, talvez até demasiado. O Alan não estava bem. Estava a sofrer de uma grave constipação. Talvez não devesse pensar mais no assunto e deixasse as coisas por aí.

    Acendi o aquecimento central, verifiquei que a Faye não estava no seu quarto e, depois, fui aproveitar um belo duche de água quente. Depois de vestida, com umas calças cinzentas, um top de alças justo e uma blusa de lã branca por cima, contemplei a rua pela janela da sala de estar. Vi as crianças a andar nas suas bicicletas novas, presentes do Pai Natal, vi os idosos a agarrarem-se aos seus parceiros desta vida, enquanto caminhavam cuidadosamente pela neve e o gelo, vi a própria neve, a derreter agora, desaparecendo para o esquecimento. Olhei para a cena invernal e pensei que janeiro era um mês estranho para se começar um novo ano. Tudo e todos pareciam cansados e aborrecidos, a neve persistia, mas também ela estava esgotada e a conversa ocasional das pessoas não trazia nada mais do que reclamações. Até mesmo o meu amor parecia estranho.

    Avidamente, comi o meu pequeno-almoço – o típico sumo de fruta e muesli, acompanhados com a essencial caneca de café. Depois dirigi-me até ao meu escritório, saindo de Grangetown para Butetown, cruzando o rio Taff através da ponte de Clarence. A ponte original fora uma construção da época Vitoriana e continha um segmento central que se abria, através de um disco, permitindo a passagem de navios que passavam pelo rio. A ponte foi desmontada em 1976, sete anos antes de ter nascido, mas tenho fotografias antigas às quais posso agradecer pelos meus conhecimentos. A ponte atual e moderna, apesar de funcional, não tem o charme da sua predecessora. Lá se vai o progresso.

    No meu escritório, encontro Marlowe, o gato da empresa, à espera no peitoril da janela. Abri-a, embarrando com a sua estrutura forte no meu braço, para depois a voltar a fechar rapidamente, não permitindo a entrada do frio de Inverno.

    Encontrei uma lata de comida para gato debaixo da pia que havia no escritório e dei-a ao Marlowe para ele comer. Depois verifiquei as minhas mensagens, mas não havia nenhuma. Nem sequer uma daquelas chamadas falsas para o gozo ou um convite para comprar vidros duplos. Este ano novo teve um arranque demorado e não estávamos a crescer muito, apesar de não estarmos propriamente a debater-nos com a empresa também. Eu conseguia sustentar-me a mim própria, financeiramente. No entanto, tinha aceitado empregar a Faye como minha secretária, durante o período de experiência apenas, apesar dos constantes incómodos dela a tentar estabilizar o emprego com a passagem para tempo inteiro.

    Estava sentada na minha mesa, afagando um Marlowe satisfeito, a ponderar sobre a Faye, quando ela própria cambaleou para dentro do escritório. Esteve fora a noite toda e isso estava à vista. As suas calças estavam cobertas de lama e o seu casaco de couro tinha rasgões recentes. As maçãs do rosto tinham manchas de lama, também, tão sujas como o seu cabelo emaranhado. A Faye tinha cachos naturais loiros, apesar de os ter pintado de um tom gritante de vermelho para o Natal. Tentei explicar que os potenciais clientes poderiam não gostar, mas ela não era menos do que rebelde e teimosa, qualidades que, confesso, também partilho.

    - O que é que te aconteceu? – Perguntei. – Parece que foste arrastada de costas para um precipício.

    - O precipício não é nem metade da história. – Queixou-se Faye. Ela deixou-se cair na sua cadeira, ao lado da sua mesa, que estava colocada estrategicamente, formando um ângulo reto com a minha mesa, a noventa graus da única luz natural disponível: a janela do Marlowe. – Preciso de um café. Preciso de comprimidos. Preciso de açúcar. Estou exausta.

    Eu sorri.

    - Já não aguentas o ritmo, não é?

    - Quando era jovem, podia festejar a noite toda. – Ela abriu a gaveta e tirou de lá uma lata de coca-cola, juntamente com um chupa com sabor a cevada. A Faye era incrivelmente gulosa, apesar de ter uma figura esbelta deslumbrante. Bebeu um gole da coca-cola e depois chupou o doce. – Já não posso ficar acordada após as 2 da manhã.

    - Quando eras jovem... estás a meio dos teus vinte, Faye. Não és propriamente idosa.

    Ela sorriu, mostrando os seus dentes brancos e perfeito como pérolas. O açúcar parecia não ter qualquer efeito nela, no entanto, apesar da beleza e da inteligência, a Faye levou sempre uma vida atribulada. Fisicamente, isso refletia-se em inúmeras aftas e hoje, estavam bastante evidentes no seu queixo e no lábio superior. Psicologicamente, ela era propensa a ter ataques de introspeção profunda e de organização excessiva – era capaz de fazer grandes alaridos por causa de um documento desorganizado em cima da mesa, ajustando-o de forma pormenorizada e ao milímetro.

    - Então, mas como é que correu? – Perguntei, referindo-me à sua primeira experiência em ação enquanto detetive privada, a sua noite ao alcance do suspeito Romeu.

    A Faye desembrulhou o papel de uma pastilha elástica e colocou-a na boca, mascando vigorosamente.

    - Bem, segui-o, como disseste. O meu carro pifou quando estava a voltar e foi por isso que cheguei tão tarde.

    - Precisas de comprar um carro novo, algo em que possas confiar.

    - Dá-me o guito... - disse a Faye. – ... e eu compro um, esta tarde. Mas pronto, voltando a Leckwith Lothario... Ele vive perto de Cock Hill, sabias?

    Eu assenti e sorri, pacientemente.

    - Ele anda a brincar aos médicos... Com duas pacientes.

    - Duas? – Arquei a sobrancelha esquerda.

    - Yup. Tipo, passa um par de horas com uma, para depois regressar, fazer quilómetros e quilómetros pela floresta adentro, para repetir o processo. – A Faye sentou-se. Com a sua mão direita, apontou para as manchas de lama da sua cara e calças. – Mas aqui a Miss Marple rastejou atrás deles, confirmei que eles andavam nas marotices, para depois rastejar de volta e fazer tudo de novo. – Ela sorriu, de forma atrevida. – Estava uma noite gelada, por isso, temos de admirar, no mínimo, o seu entusiasmo e força de vontade.

    - Tudo bem. – Concedi, não querendo ser arrastada para uma das conversas da Faye que envolvem piscares de olhos e cotoveladas. Ela não era bem obcecada pelo sexo, mas quando se falava de brincadeiras eróticas a fronteira dela era muito ténue. – Vai para casa. – Instrui. – Dorme um pouco e depois escreve um relatório detalhado. Nada demasiado florido, não queremos uma obra da Jane Austen, apenas os factos.

    - Sim, chefe. – Ela levantou-se, sorriu e fez uma saudação irónica. Já na porta, parou para olhar para mim através dos seus cachos vermelhos. – Isso significa que fico a tempo inteiro? – Perguntou, com os olhos a brilhar de expectativa.

    - Não sei. – Respondi, curvando a cabeça. Estava, literalmente, a tentar esquivar-me ao assunto, a adiar o inevitável, o dia em que teria de decidir entre concretizar ou destruir o mais apreciado sonho da Faye. – Tenho de estudar os cadernos, verificar as contas. A sério, Faye... - Arrisquei uma olhadela rápida, para ver a sua reação. – Eu não sei. Detesto estar a reter-te aqui. Eu quero dar-te uma posição a tempo inteiro, mas isso tem de ser financeiramente praticável.

    A Faye assentiu. Ofereceu-me um sorriso tenso e a sua cara escureceu. Então, assustou-se com o som repentino de uma confusão entre alguém que embateu contra um contentor de entulho, estacionado lá fora. Dirigiu-se para a janela e, de seguida, olhou para baixo, para a nossa rua de estilo Vitoriana congelada.

    - Oh, mas que raio... - Resmungou. – É o Rato, na sua bicicleta. – Ela tirou a pastilha elástica da boca e atirou-a contra a lixeira. – Vou-me embora. Esta é a terceira vez que ele anda a cheirar por estas bandas desde o Natal. Ele está a tornar-se uma praga, Sam, é esquisito.

    - É inofensivo. – Disse, enquanto reunia um molho de papéis com conteúdo jurídico e os colocava dentro de um arquivo.

    - Estou-te a dizer, é um esquisito!

    Coloquei os documentos dentro de uma pequena pasta porta-documentos e pousei-a em cima da minha mesa, ao lado de um Marlowe adormecido.

    - O Rato ajudou-nos a encontrar

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