Custe o que custar vou vencer
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Custe o que custar vou vencer - Mauricio A. Moreira
Minha infância
Diz que pobre não tem direito nem de sonhar. Quando sonha, o resultado é sempre pesadelo. Nasci em Aguanil, na época distrito de Campo Belo. Minha família era humilde e muito pobre, onde a arroz e o feijão eram a ração diária na maior parte do tempo. De vez em quando, mamãe fazia uma mistura, como a cambuquira, milho-cozido e, aos domingos, um franguinho no macarrão. Apesar disso, mamãe não enxergava a pobreza como um obstáculo, para criar seus três filhos. Papai, sem profissão, trabalhava na lavoura, para não deixar faltar pelo menos o arroz e o feijão. Apesar de tudo o pessoal do pequeno povoado não considerava a gente como pobres, porque meu avô paterno possuía uma pequena fazenda de 90 hectares de terra.
Na década de 50 do século passado, a vida no interior era muito difícil. Na minha casa, por exemplo, os colchões eram de palha de milho, não existia geladeira, a casa era de chão batido. Todos alimentos que necessitavam ser guardado por mais tempo, como carne, tinha que ser cozida e guardada emerso na banha de porco.
Na naquela época, Aguanil, contava com pouco mais de mil habitantes, a vida era muito parecida com a nossa lá no sítio, isto é, muito pacata. Por ser um vilarejo muito pequeno, não existia eletricidade. A energia era gerada através de um motor a diesel, que trabalhava das 18h00 às 22h00. Diante dessa situação é fácil concluir que na vila não existia geladeira e o conforto era muito precário. A diferença era que lá existia um time de futebol, festas religiosas e os bailinhos aos sábados.
A educação precária, pois existia só uma escola municipal de estudo primário. O capelão (Padre) era considerado um santo que veio direto do céu. Era tão importante que todo mundo tinha que beijar as mãos dele. La havia também uma pequena bandinha retreta
que era o xodó nas procissões, que era com frequência.
Fora isto, a alegria era quando íamos na cidade de Campo Belo, somente para passear num ônibus desses antigos, batizado por nós de Jardineira
. Era tão lenta que se gastava 2h30 min para percorrer uma distância de 15 km. Além dessa façanha em Campo Belo, a cidade já tinha energia elétrica, logo, toda economia que a gente dispunha era consumida com picolés. Que maravilha chupar um picolé naquela época. Papai ou mamãe passava na padaria para comprar pão. Realmente era uma festa.
Os costumes daquela época eram tão estranhos que ao falar nisto hoje, fico pensando... será que era isto mesmo? Por exemplo, se você tomasse um copo de leite não podia chupar uma manga naquele dia. Ficar resfriado era a pior coisa que Deus fazia com um pobre homem. Era repouso num quarto fechado, tomando chá de alho ou de limão. Nadar! Nem pensar. Quando mamãe pegava eu e os outros dois irmãos nadando, a varada era certa. Além de ter que ir pelado até em casa. O ovo era inimigo de tudo. Comeu ovo, era só ovo e pronto. Na minha casa não havia fogão a gás, imagina você depois que chegava da escola, almoçava e mamãe estava de plantão para buscar a lenha. Realmente era um martírio.
Como a comunicação era coisa do outro mundo, mesmo assim sinto saudades. Deficiente, ou até mesmo inexistente, quando uma notícia chegava já lá era ciosa do passado. Interessante que naquela época não existia proibição ou restrição de porte de arma. Era comum uma pessoa chegar na sua casa usando um cinto largo, chamado guaiaca
que continha uma algibeira, onde se colocava dinheiro, e um locar específico para carregar um revolve ou garrucha. Interessante é que não se falava em roubo. Será que não estamos indo para o lado oposto? Chego à conclusão de que naquela época, a figura humana era muito respeitada. Isto não quer dizer que não se matava ou não se roubava. Mas era bem menos evidente.
Não se martirize pelo que ficou no passado, já aconteceu e não há como voltar atrás, a única solução está em arranjar formas de ultrapassá-lo, e não permanecendo no sofrimento. Não acontecerá nada de positivo se continuar pensando através do pessimismo e da negatividade. Deixe a fraqueza de lado e seja otimista, pois o mínimo que pode acontecer são os bons sentimentos começarem a fazer parte da sua vida.
(Autor Desconhecido)
A luta de mamãe
Conforme discutido no item anterior, a vida era muito dura, mas mamãe sabia que se ela deixasse a vida como era, nunca poderia dar uma educação para seus três rebentos e, ao mesmo tempo, não queria, para nós, o triste destino dela e de papai. Por conta disso, o advérbio não
nunca existiu no seu vocabulário, principalmente, quando o negócio era relacionado a educação dos seus filhos.
Certa vez, o diretor de um colégio em Campo Belo-MG disse-me, para sua mãe não existe o "não. Se nego o pedido dela, ela senta à mesa de jantar, junto conosco, e só sai dali quando eu me rendo e digo sim, seu filho vai ter bolsa de estudo para este ano. Sinceramente, não consigo entender aonde ela buscou esta visão de que o melhor caminho para seus filhos era o estudo. Uma mulher que mal assinava o nome e, mesmo assim, enxergava o
estudo" como o caminho para sair da maldita pobreza. Ela realmente veio para desmitificar o que disse no início, ou seja, o pobre pode sonhar.
Isto que acabo de dizer acima, me vem em mente um diálogo, de uma criancinha com Deus (autor desconhecido), quando ela estava para vir para Terra. O diálogo é longo, mas todo ele gira em torno do medo da criancinha em vir para um lugar totalmente desconhecido, ou seja, à Terra. Porém Deus incentiva-o a vir, porque sabia ser inevitável esta viagem. A criancinha lutava a todo custo para que Deus cancelasse esta viagem. Ela, a todo momento, tentava comover Deus de que não era uma boa coisa ela viajar. O final do diálogo foi assim:
A Criancinha: senhor quando for para Terra vou ficar muito triste porque não te verei mais
Deus: "você será recebida por um par de anjos, mas um deles