Vidas Suspensas
De Rosa Santos
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Sobre este e-book
Tem um relacionamento muito complicado com Luís Paulo, um médico que a ajuda num período difícil da sua vida — a morte dos seus pais num acidente de viação. É simpático, atencioso, mas de um momento para o outro tudo se desmorona. O carinho demonstrado por ele transforma-se num inferno: agressões verbais, violência física e uma vida de todo indesejada. Quando chega o almejado período de férias, Rosalinda refugia-se na sua casinha da aldeia, uma herança da avó Francisca e o lugar onde passou uma infância muito feliz. As recordações da avó, dos pais, dos tios e primos, que não via há muito tempo, serão constantes.
Restam-lhe a ti' Maria e o ti' Lucas, os pais que a adotam e cuidam com tanto zelo e carinho.
Nessa pacata aldeia riscada do mapa, reencontra o primo Júlio, filho dos pais adotivos. É ali que depois de muitas peripécias encontra, por fim, o amor da sua vida
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Vidas Suspensas - Rosa Santos
Agradecimentos
Ao meu querido marido, pelo incentivo e zelo mostrados incessantemente para que esta obra viesse a público
Aos meus filhos Dany, Gi e Marco, pelo carinho dispensado e pela força que me dispensaram.
Ao José Sepúlveda pelo apoio constante e pelo seu prefácio.
A todos os amigos que direta ou indiretamente contribuíram para que o livro fosse uma realidade.
Prefácio
Quando em 1985 Rosa Maria Santos partiu da cidade de Braga para fixar residência em Sines, por imperativo da atividade profissional do marido, não podia sequer imaginar quanto esse tempo iria marcar a sua vida literária.
Foi então que se confrontou com noites e noites de ausência do marido — a sua atividade obrigava-o a trabalhar em regime de turnos — e, gradualmente, foram surgindo momentos de solidão e uma necessidade crescente de se reencontrar naqueles tempos de insónia. Foi então que se refugiou nas redes sociais, na tentativa de ali encontrar onde e com quem partilhar as suas emoções através da poesia. Era olhando o mar ao longe, através da janela da sala do seu apartamento, que se inspirava ao fim da tarde, quando chegava o pôr do sol.
A sua imaginação fértil e criativa logo se sobressaiu junto daqueles que a liam e não tardou a que as administrações de alguns grupos a convidassem para ajudar na sua promoção e desenvolvimento, através da colaboração como administradora dos espaços, função que sempre desenvolveu de forma marcante e profícua.
Mas, o cuidado dos filhos que foram surgindo, levou-a também a desenvolver a sua criatividade de inventar histórias infantis para os adormecer, com imaginação e espontaneidade, exercitando assim a sua forma de escrever contos e histórias.
Como corolário de tanta intervenção, surge o convite para participar numa coletânea de contos infantis e é com O Menino da Lagoa que consegue a sua primeira distinção.
Quando regressa a Braga, em 2016 (tinham-se passado 31 longos anos), a autora estava já envolvida numa série de atividades que transformaram a sua vida num frenesim constante. É então que decide publicar o seu primeiro livro de poesia, Rosa jasmim.
A partir de então, os convites para participar em coletâneas de poesia ou de contos infantis multiplicaram-se e surgiram outras distinções.
Foi então que a dado momento decidiu direcionar a sua atividade literária para a escrita de histórias infantis, com a criação de figuras temáticas como A Bolachinha ou Maria Laura, a que juntou uma profusão de outras histórias, as quais integram hoje a sua profusa biblioteca de e-books que conta já com dezenas de títulos, obra que vai divulgando através dos mais diversos grupos literários. Possui agora algumas distinções, portuguesas e italianas, por participação em concursos de poesia ou conto.
E eis que surge o convite para participar num concurso literário, escrevendo um romance. Correspondendo ao desafio, em poucos dias surge a ideia de Vidas Suspensas. Logo arquiteta o fio condutor cujo novelo, no decorrer da história, com inimaginável criatividade, vai desenrolando.
Conta-nos a história de um jovem casal de médicos, cada um a trabalhar no seu hospital. A relação, idílica no início, foi-se degradando à medida que o ciúme sem sentido por parte do companheiro ia crescendo, criando no lar um clima de instabilidade crescente que rapidamente assumiu momentos de violência física e psicológica e que gradualmente se tornou insustentável. Não encontrando outra saída para manter essa relação, resolve abandonar em segredo o lar e regressar à terra natal — lugar que nunca dera a conhecer ao companheiro — em busca do carinho da extremosa avó.
Ali, procura agora a companhia dos animais da quinta e vai calcorreando cada espaço, apreciando como nunca antes cada cultura e cada movimento. É então que as lembranças do passado a levam de novo àquele secreto espaço que na sua infância lhe servia de refúgio e onde, com o seu melhor amigo Júlio, partilhava confidências que a acompanhariam durante a sua vida. Quando no seu recato, a dado momento, ouviu um ruído, como que o pisar de folhas secas, assustada, escondeu-se. Num instante, deparou-se frente à frente com Júlio que, como ela, com regularidade, procurava também o aconchego do seu espaço para se reencontrar com a vida. Numa conversa inesperada, mas logo animada, conta-lhe a sua vida de infortúnio, como perdera os pais num acidente. Regressa a antiga amizade e começam a encontrar-se de quando em quando, para partilhar momentos que os ajudavam a esquecer as suas vidas atribuladas.
Eis que a dado momento chega a notícia que um desconhecido fora visto no café da aldeia e que procurava encontrá-la. O seu coração estremeceu e temeu pela vida. Depois de alguns medos e hesitações, acaba por aceitar encontrar-se com ele que logo tenta convencê-la a regressar ao lar. Perante a sua recusa, regressa, mas promete voltar mais tarde.
Sobre o desfecho da história, se culminou em tragédia ou reencontro feliz, não irei falar. Antes, cabe ao leitor a incumbência de a descobrir, deixando aqui a certeza de que não se vai arrepender. Aceite o desafio.
No corolário de tudo isto, adivinha-se que Vidas Suspensas não vai ser tão somente o seu primeiro romance, mas antes, vai ser o trampolim para um desbravar de novas histórias cuja imaginação fértil não deixará certamente de nos levar a mergulhar em novas aventuras, cheias de enredos e surpresas. Vamos conhecê-la melhor, lendo o seu livro e visitando a sua biblioteca virtual.
Boa leitura.
José Sepúlveda
Rosalinda era uma bela mulher, magra, de cabelo marrom, olhos cor de azeitona, estatura média e exercia a profissão de médica de medicina interna no Hospital Santa Maria da Fé. Vivia uma relação conturbada com Luís Paulo, um médico por si obcecado. Rosalinda bem que tentava livrar-se daquela relação, libertar-se daquele fardo que só lhe trazia sofrimento e dor. Vivia entre o receio e o medo, não podia continuar com aquele relacionamento. Luís Paulo era demasiado possessivo, tinha ciúmes de tudo e de todos. Viviam juntos há pouco mais de um ano, metade do qual muito tenebroso para ela.
Depois de muito pensar, chegara o momento de tomar uma decisão: o melhor que tinha a fazer era ausentar-se por uns dias. As férias estavam próximas e era uma boa ocasião para tomar tempo para si e ponderar sobre a decisão que há muito pensava tomar. Decisão delicada, mas não podia continuar com este tipo de relação com Luís Paulo. Tinha consciência de que não seria fácil, mas era um problema que tinha para resolver e quanto mais afastada estivesse dele, melhor podia ser tomada essa decisão.
Ela amara-o ou confundira esse amor com uma espécie de gratidão. Agora, o controlo desmedido de Luís Paulo, aquele ciúme doentio, tinha matado a relação, todo o sentimento que tinha nutrido por ele.
Era a sua última noite de trabalho antes de rumar às suas almejadas férias, mais que merecidas. Havia que acautelar-se para que Luís Paulo não desconfiasse por um segundo que fosse que se ia ausentar de casa por uns dias e então pensar muito bem sobre aquele tipo de relacionamento, cada dia mais complicado. Não dava para prolongar por mais tempo aquela relação que se transformara em medo do homem que a protegeu, a acarinhou e a ajudou num tempo difícil da sua vida e que, de um momento para o outro, o transformou numa espécie de carrasco. Repentinamente, o seu conto de fadas desmoronara-se.
Planeou tudo ao pormenor. Saiu do hospital, entrou na sua viatura, desligou os telemóveis e rumou à casa que possuía no meio do nada, lá nos confins de uma aldeia riscada do mapa havia muito tempo. Por sorte, nunca falara desse esconderijo a Luís Paulo, nem a nenhum amigo chegado. Assim, ninguém a incomodaria, poderia usufruir da sua paz naquele lugar remoto onde fora já muito feliz.
Respirou fundo e partiu. Enfim, incomunicável para Luís Paulo e para o mundo. Sossego merecido, era ela e a pequena aldeia que a vira nascer num belo dia de primavera, quando os pais a levaram a conhecer a casinha da avó Francisca. «Oh, a avó Francisca!» Ao pensar na avó Francisca, uma grande paz invadiu o seu coração, essa paz que ela há muito almejava e garantidamente iria encontrar naquele seu refúgio.
Um pouco antes, ligara à ti’ Maria para a informar que iria passar uns dias lá na aldeia. Como ficou feliz com aquela agradável surpresa! Sempre que Rosalinda estava ausente, era ela que cuidava da casinha: arejava-a, contratava o pessoal para cuidar das fruteiras, do jardim e de tudo o que fosse necessário. Agora, era arejar a casa, retirar os tecidos que resguardavam os móveis e preparar a cama com os lençóis de linho que com zelo e carinho se mantinham sempre prontos para ocasiões como esta.
Rosalinda tinha ainda duas longas horas de viagem pela frente. Quantas lembranças lhe vieram ao pensamento: o convívio com os seus quatro primos, que o tempo quase lhe apagava da memória, o porte elegante da ti’ Carlota, as risadas do ti’ Esménio, as