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Universo de Água
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E-book282 páginas8 horas

Universo de Água

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Sobre este e-book

Você sacrificaria seu sonho por um bem maior depois de lutar tanto por ele e finalmente conquistá-lo? Mergulharia fundo em um destino incerto por amor a pessoas que nem conhece? Negaria a si mesmo? Visões sombrias e obscuras atormentam Suzane Vieira desde pequena e são cada vez mais intensas e reais. Seu mundo fica de escanteio. Só a mística pedra-da-lua a tornará apta a cumprir seu papel na profecia.



Uma mulher de extremos e mil faces, pronta para morrer por aquilo que realmente importa.
IdiomaPortuguês
EditoraBookerang
Data de lançamento29 de set. de 2013
Universo de Água
Autor

Josy Stoque

Josy Stoque is a publicist by profession and author by vocation. She has been writing since discovering poetry as a child. Her debut novel, Marked by Fire, the first book in the Four Elements saga, was nominated for the 2013 Codex de Ouro Annual Literary Prize when published in Brazil in the original Portuguese. The second title in the series has also been published in Portuguese, and the author will release the remaining two books through Amazon’s Kindle Direct Publishing platform in 2014. Marked by Fire is her English-language debut.

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    Universo de Água - Josy Stoque

    inspiração.

    PREFÁCIO

    Eu diria que os quatro elementos primordiais entraram na minha vida quando escrevi o segundo livro da minha série. Entre uma pesquisa e outra, encontrei Josy Stoque e sua série elemental. E claro que de imediato me interessei por sua história. A autora e eu trocamos longas conversas, ideias, e hoje somos amigos de longa data.

    O fogo foi o primeiro elemento a surgir na saga, e Tamires, em busca de sua verdade, foi queimada por ele. Em seguida, da terra surgiu seu filho, Lucca, que descobriu que a sensibilidade pode sim ferir. O ar foi o terceiro elemento, livre e intenso, mas que mostrou a nosso protagonista, Nicolas, que ele pode sufocar. E agora temos o desfecho instável e congelante de Suzane, que nos mostra seu universo de água.

    Todos ligados à Natureza, os quatro protagonistas passam por mudanças em seu corpo, mas que também refletem em quem eles são, o que são e qual destino os aguarda. Os personagens crescem, amadurecem, tomam forma. Intrigas humanas e reais se misturam ao fantástico e sobrenatural.

    E Universo de Água nos envolve ainda mais nesta trama bem construída de Stoque. Suzane é uma pessoa extremamente levada pelas emoções, e tudo que a atinge de alguma forma pode devastá-la. Conhecemos finalmente o Coração da Natureza e as consequências das escolhas feitas pelos protagonistas até aqui e vemos sua intensa humanidade ser tomada por fortes emoções.

    O que eles são: humanos ou elementais? Poderiam ser os dois ou um deverá substituir o outro? Responda a essas e outras questões no último volume de Os Quatro Elementos.

    Elton Moraes,

    autor da série Crônicas de Onyx

    A Lua:

    Sou um pequeno mundo;

    Movo-me, rolo e danço

    Por este céu profundo;

    Por sorte Deus me deu

    Mover-me sem descanso,

    Em torno de outro mundo,

    Que inda é maior do que eu.

    OLAVO BILAC

    símbolo-uda.jpg

    PRÓLOGO

    Toda a dor, desespero e cobranças de uma vida chega ao fim. Nunca aguardei tanto por uma data como a do alinhamento planetário. Trinta anos se passaram, contados a cada novo aniversário como uma promessa de tempos melhores, mas tão distantes que várias vezes desisti de esperar. Nunca pude me libertar dessa sina que me foi predestinada.

    Muitos dariam qualquer coisa para ver o futuro, eu só queria ter uma vida normal. Desejava ter uma família unida, não um carrasco; um marido amoroso, não um protetor; ser amada incondicionalmente, como qualquer mulher, e não ser responsável por evitar tragédias. Tudo isso me foi negado no nascimento, por um homem que dizimou minha família, dividiu os que restaram de meu mundo e nos obrigou a fugir.

    Negar quem sou não resolveu meus problemas no passado. Agora estou disposta a mergulhar de cabeça nessa missão, por mais que pareça suicídio. O culpado por tanta desgraça precisa pagar, e vou usar meu dom para ajudar a encontrar todas as peças necessárias para a batalha final.

    Renegarei tudo que quero para que isso enfim acabe: trabalho, amor, vida! Nada importa mais! Só os quatro elementos, as chaves e o portal. Nem que seja meu último feito, eu ficarei cara a cara com o mago negro, o assassino de meus pais e meus avós.

    símbolo-uda.jpg

    PEIXES

    Há um ano, Suzane Vieira se rebelou contra o controle de sua mãe adotiva, Margarida, e de seu irmão superprotetor, Marcel. Saiu da casa da família, comprou seu próprio imóvel e passou a morar sozinha, em frente ao Oceano Atlântico de Fernando de Noronha. Aquele cenário paradisíaco lhe inspirava a pintar quadros magníficos, que contrastavam terrivelmente com os depressivos versos que escrevia em seus momentos de total solidão.

    A verdade é que Su — como é chamada pela família — não gostava de ficar sozinha. E a tristeza só fez crescer na casa enorme, lotada de quadros por todos os lados. Para ela era como se as cores ocupassem espaços vazios, as pinceladas cantassem sob suas mãos, e as telas fossem pessoas, e não objetos inanimados, frutos de sua compulsão pela esperança, pelo belo, pelo amor.

    Aquele era o pior dia de sua vida, como todo o ano. Suzane odiava fazer aniversário. Não era para menos, a data marcava a morte de seus avós e de sua mãe. Toda vez que completava um ano de vida, sabia que era um a menos para se encontrar com o culpado por este crime hediondo. A General — como gostava de chamar dona Margarida — tentou ensiná-la a expandir seus dons como vidente, assim como a magia de controlar os quatro elementos. Estava tão farta e exausta que brigara com a mãe de criação, e isso culminou em sua mudança.

    Suzane não tinha direito a uma vida normal e decidiu que, já que só faltava apenas um ano para o alinhamento planetário — evento que marcava o momento de voltar para o lugar onde nasceu e terminar com essa guerra mística —, viveria como se não fosse uma protetora da natureza, capaz de ter visões do futuro e predestinada a dar cabo nas forças negras que congelaram sua terra natal. Faria o que mais ama: trabalharia como veterinária marinha, principalmente com golfinhos, apoiaria o projeto Tamar, que preservava as tartarugas-verdes da extinção, e faria uma exposição com sua arte.

    Nada disso tinha o apoio de Margarida, nem mesmo de Marcel, seu irmão biólogo, que trabalhava na profissão, mas não concordava que Su colocasse sua vida em perigo. Como se cuidar de animais fosse uma profissão de risco!

    — Suzane, você precisa focar em seu destino, foi para isso que nasceu, o resto não importa! — salientava tia Margarida.

    Importava sim! Já vivia enfiada naquela vila, escondida do mundo inteiro, como se fosse uma preciosidade rara! Fora outra discussão medonha para que ela fizesse faculdade em Recife, já que em Fernando de Noronha não havia universidades, e conseguir convencê-los de que ela iria sim morar no continente por cinco anos, até se formar. Amava o arquipélago e tudo o que ele significava neste e no outro mundo, mas não curtia viver como prisioneira!

    O curso de medicina veterinária não abriu sua mente apenas para o universo animal, também expandiu seus conhecimentos de mundo, relacionamentos, vida! Suzane conheceu pessoas, foi a festas, riu, brincou, beijou, transou... viveu! Foram anos libertadores, nos quais foi apenas uma jovem adolescente, entrando na fase adulta e se descobrindo mulher, profissional e responsável. Foi por causa desse último aprendizado que voltou para casa arrependida de sua rebeldia. Depois de um pedido choroso de desculpas, estava pronta para voltar ao seu treinamento.

    Anos e anos de prática e não percebia muitas melhorias em suas habilidades. Tudo bem que agora, em vez de só receber as visões em momentos inoportunos, ela podia controlá-las e acessá-las quando quisesse. Bastava procurar ver. O único momento em que elas invadiam sua mente de maneira incontrolável era durante seu sono.

    Encarou-se no espelho do quarto, tentando se preparar para aquele dia. Por que não podia ser pulado no calendário? Adoraria dormir até o dia seguinte! Seus olhos azuis, claros como piscinas translúcidas, estavam sombreados por olheiras profundas e roxas. Também não dormira bem na noite anterior. Passou os dedos pelos cabelos negros e curtos para penteá-los e cobriu a pele do rosto pálido com protetor solar e creme hidratante. Ajeitou a camiseta baby look branca e o short jeans que cobria seu corpo franzino. Estava pronta para um domingo em casa.

    Sozinha. Não havia muitas pessoas... Quer dizer, ela não conhecia tanta gente assim, então, é claro que não haveria festa. Os íntimos sabiam muito bem que essa data era de luto, não de comemoração. Também se lembravam o quanto ela tentava ser forte, mas por dentro estava triste, precisando de colo. Margarida e Marcel, chateados com a saída tempestiva dela de casa, nunca a visitaram. Não seria naquele dia que o fariam, por mais que ela precisasse tanto deles.

    Seu irmão adotivo era um chato, mas fazia tanta falta! Ele sabia muito sobre ela, a entendia, a amparava, a protegia. Até demais! Suspirou pesado, afastando aqueles pensamentos invasivos que não se permitia mais ter. Abandonou o quarto, disposta a se entreter com suas pinturas. Um pouco de alegria para seu dia triste. Seu celular começou a tocar, e seu coração quase saltou pela boca de susto. Quem seria? Olhou o visor e sorriu antes de atender.

    — Feliz aniversário, Su, minha linda! Tem um presente tocando em sua porta agora.

    Antes que pudesse responder, a campainha tocou e correu à sala da frente para abrir. A ligação já havia sido encerrada sem que ela dissesse uma só palavra ao amigo. Lá estava ele. Bem mais alto do que ela — baixinha demais, qualquer um era maior! —, cabelo liso caindo sobre os olhos, um sorriso enorme no rosto e uma fita vermelha em torno do corpo, formando um laço em seu peito. Suzane caiu na gargalhada.

    — Desculpe por não te dar algo melhor, mas é de coração — disse Guilherme com a maior cara de piada, abrindo os braços.

    — Obrigada por vir, Gui — respondeu, se perdendo no calor do abraço.

    Ele passou a mão por seu cabelo curto, bagunçando-o, e riu, sacudindo-a ao ritmo. O laço farfalhou.

    — Sempre venho, não precisa agradecer — sussurrou.

    Guilherme Rocha, o amigo biomédico que se formou na mesma época que ela em Recife, sabia o suficiente sobre sua história para apoiá-la naquele momento. Foi preciso editar a versão original para que ele não a achasse louca de pedra por ter visões do futuro e ir parar ali depois de cruzar um portal místico, fugindo de um mago poderoso que a queria morta. Não, seu amigo não precisava saber dos detalhes, só estar presente, afagando-a e afastando um pouco sua solidão.

    Era a primeira vez que alguém a visitava na casa nova. Estava doida para mostrá-la, apesar de ser enorme e pouco mobiliada, mas era sua, e só isso importava. Ele adorou a bagunça organizada dela, com tintas e telas espalhadas por todos os cômodos. Voltaram à sala e se esparramaram no sofá. Guilherme não fazia o tipo folgado, mas também não era formal com ela.

    — Sua casa é show, Su, e a vista que você tem da varanda é formidável!

    — Obrigada, Gui! Tenho muito orgulho desta casa! Foi um achado!

    Estendeu a mão e apertou a dela, sorrindo de maneira provocante. Suzane já conhecia aquele sorrisinho, aí vinha coisa. Ergueu uma sobrancelha, desconfiada.

    — Adorei tudo, mas vim te levar daqui!

    — Como assim?

    — Quero que passe o dia comigo, tenho uma surpresa para você!

    Guilherme tomou a mão dela e fez levantar, puxando-a para fora da casa.

    — Aonde vamos? Você está me deixando nervosa.

    — Calma, pequena — disse carinhosamente, parando diante dela e acariciando seu rosto. — Só quero te proporcionar bons momentos no dia de hoje e fazê-la se esquecer da morte de seus pais.

    A história contada como oficial era que seus pais morreram no dia de seu nascimento, em uma acidente de carro, simplificava as coisas. Suzane não evitou a expressão de dor, que tomou seu coração, se estampar em seu rosto. Guilherme se debruçou sobre ela, beijando seu lábios, primeiro com delicadeza, depois com ardor, enfiando sua língua fundo na boca da moça.

    A amizade deles era assim, colorida e descomplicada. Sabiam que não dava para ter mais do que momentos um com o outro. Ele até namoraria com ela, mas para isso Su precisaria se mudar para Recife, o que ela jamais faria. Seu lugar era ali, no arquipélago. Por outro lado, ela sabia que seu coração já tinha dono. Por mais que fosse um amor sem esperança, não conseguia esquecê-lo.

    — Vamos — murmurou em seus lábios antes de se afastar, segurando firme sua mão.

    Guilherme a guiou até o porto, sem responder nenhuma das perguntas curiosas de Suzane. Era perto, por isso iam a pé mesmo. Ela sabia que ele não costumava andar de carro, até porque a quantidade de veículos eram controlada, assim como a visita de pessoas do continente. O cais estava cheio de gente, mas, abrindo caminho por eles, pararam diante de um barco com dois andares, luxuoso, bonito e novinho em folha.

    — Caramba! — exclamou Suzane, incapaz de encontrar palavras mais adequadas.

    — Venha comigo — convidou em uma voz sorridente.

    Fizeram um pequeno tour pelo barco antes que Guilherme pegasse o leme e os guiasse para longe da costa, ganhando o mar. Suzane gostava do oceano; era bonito, mas também possuía um toque de solidão que os tornava companheiros. Seus quadros retratavam várias visões que ela tinha desse gigante! Aproveitou o sol fraco da manhã para se deitar no convés em uma espreguiçadeira e contemplar o cenário incansavelmente. Sua pele aqueceu como em um abraço.

    Após ancorar o barco, Gui se juntou a ela, estendendo sobre uma mesa entre eles um verdadeiro banquete. Eles deram comida um para o outro até lamberem os dedos. À tarde, com o sol mais forte, Su reclamou de calor e de não ter trazido seu biquíni. O amigo, com um sorriso travesso no rosto, resolveu a questão muito depressa. A tomou nos braços e pulou no mar. Riram e brincaram até cansar os braços e as pernas.

    Tiraram as roupas para se secarem no convés e ficaram só com as peças íntimas. Era impossível estarem seminus e não se devorarem com os olhos. Saciaram a vontade que as mãos tinham de se tocarem, deslizando facilmente na pele molhada um do outro. Suzane arquejou, entreabrindo os lábios, e Guilherme atendeu ao pedido silente, selando sua boca com um beijo.

    Su se permitiu não pensar, apenas sentir a língua do amigo desbravando seu corpo, como se nunca o tivesse feito antes. Era disso que precisava: esquecer. Quanto mais longe ficasse do precipício de suas lembranças, mais perto estaria de seu paraíso particular, nem que fosse ali, em meio aos braços sedutores de Gui.

    Ela se enroscou nele, buscando mais e mais do que podia lhe oferecer. E ele a tomou para si como se tivesse direito, uma, duas, três vezes, até não ter mais forças de recomeçar. O barco era pequeno para caber tanto desejo. Um dia era pouco para devorarem um ao outro. Já que nada era como esperavam, receberam aquele momento como um presente.

    ∆∆∆

    A Enseada do Carreiro de Pedra era mais conhecida como Baía dos Golfinhos. O arquipélago fazia parte do PANAMAR — Parque Nacional Marinho —, e o acesso pelo mar era proibido e limitado por boias e cordas. Por terra era impossível entrar na baía devido a um paredão com cerca de sessenta metros de altura., porém um mirante natural permitia a observação dos golfinhos-rotadores.

    Eram cerca de seis da manhã da segunda, o dia seguinte ao meu aniversário de vinte e nove anos, quando cheguei ao local no barco do IBAMA com mais duas pessoas da equipe. Robson, o oceanólogo que também era voluntário no projeto, me acordara. O centro de pesquisa mantinha constante vigilância sobre a espécie, e naquela manhã o rapaz estava de plantão.

    Entramos na baía com os motores desligados para não espantar os golfinhos. Desembarcamos assim que o barco atracou. Nadamos alguns metros até a praia estreita, onde Robson nos aguardava. A emergência que havia me tirado da cama antes do raiar do sol jazia inerte aos pés do oceanólogo. Meus olhos encheram de água.

    Reconheci os sinais assim que o vi. O golfinho-rotador havia sido arrastado pela maré até a praia, enrolado em uma rede de cerco para pescar atum. Esse tipo de acidente acontecia com frequência, já que os peixes mantinham uma correlação de caça com os golfinhos. Ainda não havia sido removido da água, mas restos da rede que outrora o ferira jaziam ao seu redor.

    Estendi a mão para Robson automaticamente, respondendo ao cumprimento sem tirar os olhos marejados do mamífero. Era adulto, media quase dois metros e pesava cerca de setenta quilos. Seu dorso era cinza-escuro; os flancos, cinza-claro; e o ventre, branco. Mas havia vários pontos abertos por feridas, barbatanas cortadas — quase decepadas —, cauda machucada e focinho sangrando. Lutara bravamente.

    — Tudo bem, amiguinho, vamos salvar você — murmurei para o animal que estava de olhos fechados enquanto repousava minhas mãos sobre seu corpo ferido.

    Seus batimentos cardíacos constantes me garantiram que ainda estava vivo. O respiradouro — orifício respiratório — estava intacto e se abria com um pouco mais de frequência que o necessário, no dorso próximo à cabeça. Eu me preocupei que tivesse inalado água. Seria impossível levar um animal daquele tamanho imediatamente até o centro, a distância seria muito para que suportasse. Os primeiros socorros seriam feitos ali mesmo. Auxiliada pelos estagiários e Robson, dei início ao meu trabalho. Comecei estancando as feridas para que o animal não perdesse mais sangue.

    — Desculpe te acordar tão cedo, Su — puxou conversa Robson. — Sabia que era a melhor para um caso tão grave.

    Sem erguer os olhos, respondi em tom seco.

    — Não tem problema.

    Estava concentrada em salvar aquele golfinho, mas meu colega não queria manter silêncio. Era tagarela demais para aguentar ficar quieto mesmo em um momento tão tenso.

    — Tinha que acontecer bem no meu plantão — lamentou-se. — Mas estou feliz por você estar aqui. Até consigo ficar aliviado. — Não parei o que estava fazendo para olhar para ele. — Como de costume, cheguei por volta das cinco e meia da manhã e me sentei na cadeira de observação com meu binóculo. Procurei algum sinal ao longe dos primeiros golfinhos e depois me voltei para a costa a fim de conferir a baía. Foi quando o avistei.

    Continuei imersa em minha tarefa, porém Robson não se intimidou e narrou todo o resgate.

    — Vi o golfinho envolto na rede de emalhar muito ferido e quieto, mas ainda estava vivo. Liguei o mais rápido que pude para você, depois para o centro a fim de providenciarem o seu transporte com a equipe. — Bufou. — Provavelmente foi arrastado até a praia pela maré. Pela tranquilidade dessas águas, ele pode ter se ferido à noite, e isso me preocupa.

    Eu já o conhecia suficiente para imaginar sua expressão somente pelo tom de sua voz. Para um homem, Robson era extremamente tagarela, expressando sua opinião sobre tudo e todos mesmo quando não era consultado. Eu realmente achava que ele amava o som da própria voz.

    — O canalha tirou os peixes e devolveu o golfinho com rede e tudo para o mar — extravasei minha revolta.

    — Sim, e isso piorou o estado de nosso amiguinho, já que não podia nadar.

    Finalmente encarei Robson. Por que ele não ficava quieto? Não precisava de aulas, já havia visto o suficiente. Queria apenas espaço e silêncio para que pudesse me concentrar em salvar aquele golfinho. Por que ele queria tanto chamar minha atenção? Foi nesse momento que notei o quanto ele estava sexy em uma bermuda e regata, mas ele era muito complicado. E de complicada bastava eu mesma.

    — Foi a mesma conclusão a que cheguei — respondi, contraindo meu cenho, visivelmente irritada.

    Meu tom firme fez o sorriso estampado no rosto de Robson desaparecer. Foquei novamente no trabalho, sentindo o olhar do colega sobre mim, como se me analisasse. Fiquei incomodada, mas preferi não lhe lançar uma careta de desaprovação. Ignoraria a sensação desagradável. Era fácil, quando queria, mergulhar em meu mundo

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