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O Tabuleiro De Sherlock Holmes - Volume I
O Tabuleiro De Sherlock Holmes - Volume I
O Tabuleiro De Sherlock Holmes - Volume I
E-book490 páginas5 horas

O Tabuleiro De Sherlock Holmes - Volume I

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Sobre este e-book

Este primeiro volume apresenta 2 histórias em que Sherlock Holmes, na companhia de seu fiel biógrafo Dr. John Watson, resolve dois complicados problemas de xadrez.... e o leitor torna-se seu parceiro, formando um trio, na busca da verdade. Leitura fascinante, mesclando uma investigação pelo grande detetive e o maravilhoso jogo de xadrez, em tramas emocionantes e desafiadoras.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jun. de 2015
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    O Tabuleiro De Sherlock Holmes - Volume I - Adailton J. Chiaradia

    ADAILTON J. CHIARADIA

    O TABULEIRO

    de

    SHERLOCK HOLMES

    VOLUME I

    3

    Esta obra é dedicada, com um carinho

    especial e um amor bem profundo,

    a três criaturinhas deliciosamente

    encantadoras

    Kimberlly, a netinha

    Nickolas, o netinho

    Carlos Eduardo, o netinho

    ... e eu não preciso dizer mais nada!

    5

    I N D I C E

    Dedicatória.............................................. 3

    Introdução.............................................. 7

    Interlúdio para a anatomia de

    1

    um crime.................................... 25

    2

    Mate esta, Holmes!....................107

    

    7

    I N T R O D U Ç Ã O

    Q

    ual é a função de um livro? Embora as

    definições possam ser, por vezes, aborrecidas, faz-se

    necessário um preâmbulo sobre o tema. De acordo com

    a bela definição do poeta Rabindranath Tagore , " Um

    livro aberto é um cérebro que fala; fechado, um amigo

    que espera; esquecido, uma alma que perdoa;

    destruído, um coração que chora".

    Se didático, é farol, é luz espantando trevas da

    ignorância e ensina, sana dúvidas, abre portas e mostra

    trilhas seguras de caminhadas solitárias; se da realidade,

    relata história do passado e presente, vaticina futuro,

    testemunha fidedigna e imutável no seu depoimento

    com o juramento das letras, relatando com a

    objetividade de seu contexto, no seu cerne, no seu

    coração e alma um pedaço do caminhar da humanidade

    em qualquer época, mostrando o desenvolvimento e

    consequências, por vezes embasado em opiniões

    divergentes, mesmo teimosamente aborrecido e pesada -

    mente

    insólito

    nas

    suas

    argumentações

    e/ou

    interpretações, ora por rasgados elogios, ora por críticas

    8

    ácidas - e caberá ao autor a insana tarefa de explorar

    seu talento na virtuosa tarefa de fazê-lo de uma forma

    no mínimo cativante, especialmente na oposição franca

    da

    argumentação

    contrária

    e

    visando,

    fundamentalmente, o gáudio do leitor.

    Esta é a função do autor, responsável pelo

    nascimento, às vezes por fórceps, numa cesariana de

    urgência, usando o cinzel de sua criatividade

    florescente, deixando o texto saboroso, mistura bem

    temperada de pimenta, sal e açúcar, em dose palatável

    que se derrete na boca, não deixando um gosto amargo

    ferindo as cordas vocais, nem descendo empurrado

    goela abaixo; muito embora não uma receita premiada

    da Cordon Bleu, que não fique excessivamente exposto

    ao fogo, mesmo baixo, nem obrigue à posterior e

    cansativa tarefa de arear panelas - e ainda que com o

    freio ditatorial da realidade, que não impeça voos

    altaneiro da imaginação, mas que traga a sagrada

    liberdade da exposição, deliciosa tarefa de descrições e

    diálogos inteligentes, obrigatoriamente ligados ao

    consumo do estritamente ocorrido.

    Se ficção, aí, sim, impera a liberdade sem

    fronteiras da criação a pleno vapor e borbulhante de

    ideias, com um desfile primando fundamentalmente

    9

    pelo prazer de parte a parte, numa cumplicidade

    explícita e de franca camaradagem de autor/leitor, num

    generoso butim de admiração inconteste e fascinante

    interesse.

    Para descrever um fenômeno meteorológico

    banal, corriqueiro e possivelmente monótono como

    " Começou a chover", um autor russo usou mais de

    1.500 palavras para mostrar todo o simples processo.

    Excesso nababesco pecaminoso, num desperdício de

    metáforas hiperbólicas, uso demasiado de tempo,

    energia

    sem

    sentido

    objetivo

    e

    descartável? Não ! Muito pelo contrário! É talento! O

    esforçado faz o que pode; o inteligente faz o que deve;

    o gênio faz o que quer - este último não é, per se, um

    libertário, mas alguém dando vazão à fonte generosa e

    caudalosa de seu poder de criação.

    Um idiota infeliz que, num momento de

    destemperança, numa clara demonstração de sua

    grossura e falta de sensibilidade declara, enfático,

    pensando estar criando uma frase lapidar digna de

    citação, do tipo ler é cansativo e chato (como o disse

    um certo político cachaceiro, idiota e vagabundo...) vai

    descobrir, para seu desencanto (não para sua vergonha

    ou arrependimento, que não fazem parte de seu

    miserável baú de virtudes) que sua verborreia não passa

    de permanente diarreia cerebral e seu palpite azedo

    digno de ser escrito em rolo de papel higiênico; este é

    10

    um analfabeto por merecimento e destino, já que é a

    pior espécie da classe ralé e cretina, que sabe ler e não

    o faz por comodismo, preguiça e incompetência,

    defeito incurável de seus dois neurônios com defeito de

    fabricação, em permanente curto-circuito e falhas

    intermitentes...Aquele que diz, com empáfia, "Nunca li

    um livro na vida" é digno de dó e deveria, sim, esconder

    a vergonha da afirmação, em vez de alardear

    desbragadamente sua deficiência mental...

    A riqueza inesgotável das palavras é a arma

    principal de um autor prolífico, que as tem como armas

    brancas afiadíssimas e mortais para a virulência de um

    ataque homicida ou escudos impenetráveis de defesas

    bem-sucedidas, remédios doces em doses homeopáticas

    que

    curam

    até

    cicatrizes

    da

    alma.

    Isto

    é

    fundamentalmente o que se pode chamar de sacrifício

    do autor, no sentido original genuíno do termo de ser

    um " sacro ofício" em favor da cultura, autor que se

    preza e se respeita, transformando o óbvio e mal vestido

    num nababo vistoso e perdulário, cobrindo-o com uma

    descrição no mínimo majestosa de vestes pomposas e

    joias cintilantes, dignas de frequentar os convescotes

    das melhores bibliotecas, exibindo orgulhosamente sua

    presença marcante, inesquecível, digna de sadia inveja.

    Um livro tem a obrigação de cativar seu leitor,

    fasciná-lo ao máximo, deixá-lo em permanente estado

    de êxtase, mexer com seus sentimentos, torná-lo seu

    11

    súdito e admirador, pois se sua leitura não despertar

    interesse, não terá sentido nem propósito, tornando-se

    mero objeto quando muito de enfeite ou providencial

    calço de mesa bamba, ou protetor de porta da violência

    do vento incômodo, e esgotará quem porventura inicie

    uma viagem pelos caminhos ensolarado ou cheio de

    sombras de páginas ensebadas em trilhas tortuosas. Um

    livro que não mereça ser lido duas vezes, não merece

    sequer a primeira leitura. Dessa maneira, o ideal é

    atrair, como um ímã poderoso, prendendo no

    emaranhado de suas veias em vários graus de hipnose

    contínua - e que glorioso destino ser o objeto de

    consumo antes do sono reparador!...

    Um

    consagrado

    crítico,

    ao

    receber

    os

    volumosos originais de alguns poemas melosos e de um

    falso romantismo intragável, teve o delicioso prazer,

    misto de sadismo e impiedade, de devolvê-los no

    mesmo dia ao futuro editor, não sem antes, vestido de

    prudência e fervoroso zelo, expressar em letras garrafais

    sua satírica recomendação numa mensagem admirável:

    "Queime os originais. Numa segunda tentativa,

    queime o autor!" . E este moderno Torquemada da fé

    literária resumiu, numa frase ferina e radical, a

    sentença de todo o sentimento negativo que a pretensa

    obra lhe inculcou na sensibilidade ferida, ou desafiada e

    posta à prova.

    12

    Assim sendo, cabe-me a obrigação inalienável

    de dizer que o único objetivo deste livro de ficção é o de

    entreter - e se entretiver a todos, melhor ainda. Entreter

    e nada mais do que isso e o faço com muito respeito ao

    leitor e redobrado esforço, apesar do elitismo do tema

    que, compreensivelmente é indigesto e exageradamente

    salgado a muitos. Para aqueles, porém, afetos à matéria,

    ele vai se constituir num prato saboroso. A que

    grau,desconheço. Foge de minha competência e alçada

    a capacidade da avaliação correta. É meu imperioso

    dever fazer o melhor e a responsabilidade declara que

    melhor do que isto eu não consigo, embora o esforço e

    mérito da tentativa; não consigo primordialmente tendo

    em vista a delicadeza (ou complexidade ) da matéria,

    destinada a um público seleto, elitista e justificadamente

    exigente. Trata-se de xadrez - e é oportuno lembrar a

    definição maravilhosa de Assiac de que " Entre todas as

    drogas do mundo, xadrez é a que me dá maior

    prazer".

    O leitor deve ser, sim, exigente ao extremo,

    necessidade sine qua non em seu benefício - tal como eu

    o sou na mesma posição, haja vista que a matéria, ora

    sob o microscópio do tratamento, exige uma alta dose

    de competência , quer por parte do criador, quer por

    parte do autor e do leitor, já que não se trata de

    banalidades descartáveis e insossas, pois não é algo

    13

    comum, especialmente de autor nacional, mas filha

    dileta da arte humana. Disse alguém, judiciosamente,

    que deve ter havido uma época em que o homem era

    semideus - foi quando ele inventou o xadrez.

    Pelo título da obra já se pode ter uma pálida de

    ideia de seu conteúdo, que de princípio pode até mesmo

    causar certo espanto ou rejeição, ou mesmo enjoo de

    uma navegação nada confortável pelo oceano de vagas

    indomáveis,

    um

    temor

    precavido,

    sentimentos

    perfeitamente assimilados pelo autor, embora eu

    costume dizer que o homem se diferencia dos animais

    por que compra livros - e a inserção de livros de xadrez

    torna a distinção inconfundível. Siegbert Tarrasch,

    grande jogador alemão, foi muito feliz ao definir que o

    xadrez, tal como a música e o amor, tem a capacidade

    de tornar os homens felizes. E se a vida é curta demais

    para o jogo, isso não é culpa do xadrez, mas da vida...

    Entendo a rejeição do leitor; claro que não a

    aplaudo aqui (e deveria?), nem a incentivo, mas devo

    aceitá-la. O que seria do amarelo se não fosse por Van

    Gogh? Quando eu me deparo com um livro que não

    seja de meu interesse e compreensão, tenho o bom-

    senso e a prudência de não seguir em frente, e, embora o

    saiba útil e oportuno a tantos, saio de mansinho, sem

    me fazer notar; simples assim, eu o esqueço no minuto

    seguinte, não perdendo meu tempo com algo em que

    não tenho nenhum interesse, por não ver uma utilidade

    14

    em meu benefício. Imagine, en passant, um livro sobre

    Física Quântica... que faria eu com tal obra? Calço de

    mesa bamba ou enfeite de uma prateleira da estante de

    minha biblioteca...

    Corro milhas de obras assim, pois seria uma

    lamentável perda de tempo e a tristeza do

    reconhecimento de minha ignorância. Evidentemente

    que sequer tenho ideia do que se trata - se é algo sobre a

    famosa teoria da relatividade de Albert Einstein, por

    exemplo, não quero nem saber dos meandros, da luta

    formidável até conseguir o esplendor da vitória suada,

    mas que nada me dizem e a superfície já é por demais

    profunda para que eu mergulhe de cabeça. A Física é

    grego para mim. E o mesmo deve ocorrer aqui, a quem

    desconheça a beleza do jogo e saiba de Holmes apenas

    por ouvir dizer.

    E neste livro, à frente do maravilhoso tabuleiro

    (que eu merecidamente chamo de Templo de Caíssa - e

    é esta a deusa do xadrez) ninguém menos do que a

    figura lendária de Sherlock Holmes, a imortal criação

    do genial Sir Arthur Ignatius Conan Doyle (1859/1930),

    na infatigável companhia de seu biógrafo e fiel

    companheiro Dr. John Watson. Não que seu famoso

    personagem fosse um consagrado expert na matéria,

    para tantos intragável e assustadora, mas sim pelo fato

    elementar de ser a matéria que se reveste, que exige,

    acima de tudo e aquém de qualquer suspeita mesquinha,

    15

    um raciocínio de frio glacial, arquitetado nas minúcias e

    no todo, não se prendendo no complicado labirinto de

    Creta de emoções dispersas; concentrando o uso

    aprimorado da inteligência nas primorosas soluções de

    mistérios intrincados O morador da mundialmente

    famosa 221B Baker Street, no coração nervoso da

    centenária Londres, ele conjuga com excepcional magia

    tais virtudes raras, provando a definição de Goethe de

    que o xadrez é a pedra de toque da inteligência humana.

    Em 1996 eu estava em Londres e, como estava

    livre até às 22 horas, horário do voo de regresso ao

    Brasil, tinha o último dia livre e duas opções se me

    apresentavam: visitar o famoso Museu de Cera da

    Madame Tussauds ou visitar o relicário de Sherlock

    Holmes. Decisão facílima, entrei, em estado inebriante,

    na Baker Street com o coração aos pulos e parei,

    extasiado, diante do número 221B...e ali voltei no tempo

    e na saudade de meus 12 anos quando, ainda

    seminarista, li Doyle pela primeira vez,a partir de UM

    ESTUDO EM VERMELHO, e foi amor à primeira

    vista. Paguei as 7 libras da entrada e subi a escada

    degrau por degrau, sofrendo um repentino ataque de

    taquicardia necessária e sadia, entrando no ambiente do

    Século XIX, remodelado à exaustão. Talvez eu tenha

    cometido um pecado mortal, pois deveria tê-lo feito de

    joelhos...

    16

    Assim, pois, leitor, repito a advertência : se

    você não entende, não gosta, nem quer saber, está com

    o livro errado. Infelizmente, aliás, e será mais útil e

    agradável consumir outra droga viciante. Se você,

    porém, se identifica com ele, a felicidade é dupla, pois

    terá pela frente uma matéria formidável para momentos

    inolvidáveis de emoção.

    Aqui, Holmes encontra-se diante de desafios

    que

    são

    tarefas

    gigantescas

    e

    aparentemente

    intransponíveis, pois que o vasto campo que tem que

    enfrentar não é coisa pequena. Numa avaliação

    primária e fria, pelos exemplos vividos e conquistas

    alcançadas, produtos da pena profícua e generosa de seu

    criador, eu o coloco merecidamente na 3a. categoria. E,

    mais importante ainda, com o poder por vezes

    inimaginável da criação livre, seu talento é o repasto do

    mérito sem dissabor da sobremesa do fracasso. Holmes

    há de ser, para sempre, a figura carismática - estranha

    definição em se tratado de personagem fictício de uma

    literatura de primeira grandeza, rica e específica - e nada

    mais do que isso. Aqui o trago ao proscênio

    estonteantemente fértil de um tabuleiro de xadrez,

    matéria-prima excelente para o uso in totum de sua

    fenomenal capacidade lendária na surpreendente e

    complicada arte que o tornou imortal - a dedução.

    17

    Neste livro, embora com o prosaico e nada

    original título de " O TABULEIRO DE SHERLOCK

    HOLMES"

    (e,

    pergunto,

    haveria

    outro

    que

    expressasse, de forma mais cândida e direta, o cerne da

    questão?) ei-lo enfrentando enigmas (e o quê mais

    esperar dele?), seu prato predileto na atuação literária,

    sob o comando profícuo da blandícia da pena fecunda

    do autor, numa atuação impecável de permanentes

    desafios e constante delícia dos fieis leitores.

    Assim, pois, a honestidade da advertência: o

    tema é xadrez,..e se o eventual leitor não sabe sequer

    como se movimenta um Cavalo, ou mesmo a simples

    colocação das 16 peças no tabuleiro de 64 casas, que

    não saiba que a casa branca obrigatoriamente tem que

    ficar à direita do jogador, que após o primeiro lance das

    Brancas e o primeiro lance das Pretas é possível

    conseguir 400 posições diferentes no tabuleiro... estará

    perdendo seu precioso tempo, que lhe seria muito mais

    útil no consumo do vício de outra droga...

    É uma advertência importante e necessária no

    prelúdio da leitura, pois se você não gosta, não admira,

    nãoentende, se pertence à fila longa, sombria e tortuosa

    dos não-iniciados, se desconhece o criador, nada sabe

    do ator, se infelizmente nunca o leu... não siga em

    frente! Não perca seu tempo, pois a leitura será

    cansativa e infrutífera e a mim não me interessam os

    neófitos. Quero apenas aqueles que possam curtir as

    18

    histórias, entendê-las, apreciá-las (e tentar resolvê-las,

    por que não?) e que estejam interessados no seu enredo

    e roteiro.

    Neste livro Holmes enfrenta um adversário

    diferente que, embora estático, tem vida borbulhante,

    efervescente de emoções e pleno de desafios, exigindo o

    máximo de sua fantástica capacidade dedutiva. São

    apenas 64 casas... mas de um infinito de combinações

    surpreendentes e maravilhosas. Aqui não há a mínima

    possibilidade de erro ou de interpretação esdrúxula,

    duvidas atrozes, frustradas tentativas de laboratório na

    experimentação amadora e frustrada em dosagens

    erradas - a menor falha desmonta a delicada construção

    como um castelo de cartas, transformando em pó todo

    um laborioso processo de investigação numa cadeia

    bem concatenada de ideias.

    Vide a Muralha da China, laboriosa construção

    de 7 mil quilômetros, erguida pedra por pedra, passo a

    passo. O mesmo se dá no xadrez, pois tudo é feito lance

    a lance, com a exatidão de um pedreiro competente. É

    preciso que haja uma sequência de raciocínio rígido e

    inquestionável, não admitindo a mera especulação ou

    possibilidade de duplicidade de respostas...há apenas

    uma via que leva com segurança à única solução

    possível.

    19

    E ele a consegue, arrancando-a a fórceps de

    suas análises precisas, de maneira sempre exemplar,

    para a alegria inaudível de registro biográfico de seu

    amigo Dr. Watson, cuja pena talentosa mergulha na

    fonte plácida de um tinteiro e deixa um rastro luminoso

    de luz diáfana à posteridade.

    Ficamos nós na expectativa angustiante das

    soluções e nãos somos decepcionados ou frustrados no

    desejo, pois ele no-las fornece não com a arrogância de

    conquistador implacável e impiedoso, mas com a

    prodigalidade esclarecedora do vencedor generoso.

    Aqui, seu velho e zelosamente conservado

    tabuleiro se inunda de luzes é o morgue posto em

    silêncio na dissecação da verdade, levando à resposta

    ansiada, trazendo a verdade das sombras do mistério e

    do insondável.

    Aqui, Holmes usa o tabuleiro com peças que

    ganham vida e expressam emoções e, com a lupa do

    escrutínio severo, seu raciocínio arranca a resposta que

    a prodigalidade da posição que o desafio lhe apresenta,

    como régia recompensa numa bandeja de prata

    maciça.

    20

    É tudo o que ele persegue e precisa para a

    aplicação da justiça, justiça que a magnanimidade do

    xadrez o presenteia com a recompensa régia do esforço

    concentrado.

    Como autor, confesso, num misto de variadas

    emoções, que me diverti, e muito, na composição.

    Agora, é a sua vez...

    Seja bem-vindo e bom divertimento!

    ADAILTON J. CHIARADIA

    ITAJUBÁ MG

    MAIO DE 2015

    

    21

    Para que o leitor se acostume com o que vai

    ver, daqui por diante, apresento uma historinha policial.

    Uma história de crime, de mistério, com a clássica

    pergunta final "Quem foi? ". O leitor, competentemente

    dedicado à faina de sua investigação, deverá seguir

    todas as pistas, que sempre existem, de maneira velada

    (e não fornecê-las seria desonestidade do autor), e

    descobrir, passo a passo, o que de fato aconteceu, até o

    clímax do caso, ou seja, até chegar ao misterioso

    desconhecido personagem - a peça que deu o golpe

    final, o doloroso mate no Rei inimigo. Com isto, o

    leitor não apenas soluciona o problema de xadrez, mas

    também elucida a chacina e aponta o verdadeiro

    culpado...ou então que prossiga a leitura e veja solução

    pelo grande detetive Sherlock Holmes.

    É preciso ter sempre em mente que a colocação

    de uma peça, numa determinada casa do tabuleiro,

    nunca é um fato aleatório, inconsequente e

    22

    despreocupado, ao acaso, só para embelezar uma

    determinada posição. Sempre existirá uma razão

    fundamental para sua existência ali e somente ali, pois

    ela é componente importantíssimo de uma reação em

    cadeia, ou seja, um fato conduzindo a outro, num elo

    bem concatenado e indispensável - e assim por

    diante. Se houver uma falha, uma interrupção, por

    menor que seja, causa o corte de energia e põe a perder

    toda a sequência. É uma pagina musical imaculada, em

    que a leitura deve ser fácil e clara, direta e lógica e o

    desfile das notas impressas deve ser lido corretamente,

    sem prejuízos que destoem ou desafinem a melodia de

    ritmo permanente.

    Numa posição, quer seja de problemas ou de

    finais, não existem peças supérfluas, só como um

    enfeite irracional e exageradamente ridículo. Cada peça

    ali colocada tem sua função determinada, sempre de

    importância capital em toda a trama - quer seja uma

    peça poderosa, com o ímpeto de seus avanços e recuos

    cartesianos, quer seja um modesto e pacato Peão, que

    por vezes nem chega a fazer um único lance, mas cuja

    presença estática representa um perigo em potencial,

    mesmo que seja na atenta missão de inibir o poderoso

    exército inimigo de uma invasão devastadora. Do mais

    humilde e apagado Peão, até o porte majestoso do Rei,

    ou o poder devastador da vistosa Dama, todas as peças

    fazem arte da engrenagem que põe em movimento, em

    moto perpétuo, o desempenho da máquina em sua

    23

    engrenagens azeitadas, na inexorabilidade de lances

    cadenciados, calculados e únicos, em ritmo crescente.

    Para solucionar o enigma, o leitor deverá ter um

    tabuleiro e as peças prontas para entrarem em ação. São

    suas únicas armas físicas, letais, que bastam, por sinal,

    no tocante ao "hardware" da busca da resposta.Quanto

    ao delicado "software", no entanto, ele deverá colocar

    em pleno funcionamento sua inteligência, sua

    perspicácia, capacidade de perceber as sutilezas das

    manobras e extrair informações fundamentais que levem

    ao caminho certo, análise competente, dedução sem

    falha e a prova final irrefutável, valendo-se,

    evidentemente, de sua experiência e conhecimento,

    além do espírito atento a detalhes que, em outros casos,

    poderiam

    passar

    despercebidos.

    Xadrez

    é

    essencialmente empírico. Se o leitor não for

    suficientemente esperto, jamais vai resolver o caso e,

    pior ainda, pode vir a tornar-se casual vítima futura...

    Felizmente é minha plena convicção que todo

    jogador de xadrez é, acima de tudo, uma pessoa

    inteligente. Negá-lo é não fazer justiça, é desdenhar o

    óbvio. Pertenço à elite, sem a falsidade do cabotinismo

    arrogante, e embora isto possa eventualmente

    desagradara quem não goste de mim (e são muitos,

    devo orgulhosamente reconhecer, o que na verdade não

    me causa a mínima preocupação, nem chega a me tirar a

    delícia de uma noite bem dormida ou o apetite diante de

    24

    um bife bem acebolado e com generosa porção de

    alho...e se todos me admirassem, que monotonia

    insuportável!...) e seria uma idiotice incompreensível a

    toda prova me apresentar com a falsa humildade por

    uma questão de modéstia inexistente...

    O resto do trabalho nada mais é do que a pura

    competência investigativa. O título do trabalho poderia

    ser o tradicional " Quem foi?", que os americanos

    tratam de " Who done it?" - ou da cinematográfica

    Hollywood com a famosa frase "...and the winner

    is...", do cobiçado Oscar, quando aqui a substituição

    seria com " ... and the guilty is...."

    Preferi,

    no

    entanto,

    a

    opção

    por

    "INTERLÚDIO PARA A ANATOMIA DE UM

    CRIME" (e inadvertidamente juntando dois títulos de

    filmes) para dar uma ideia perfeita do processo de

    investigação e consequente solução, segura e provada,

    de um culpado. No final, apresento a solução e a

    maneira da investigação para que o leitor tenha uma

    noção completa de como deverá se orientar, em casos

    futuros.

    Agora, pois, munido de sua lupa de

    investigação, sua observação, sagacidade e capacidade,

    da análise arguta, faro de perdigueiro na caçada

    implacável, siga em frente...

    

    25

    1

    INTERLÚDIO PARA A

    ANATOMIA DE UM CRIME

    - Senhores - disse o Inspetor Noyce a seus

    dois

    assistentes,

    com

    um

    caderno

    de

    capa

    exageradamente amarelada numa das mãos e o eterno

    cigarro na outra - aconteceu aqui um crime violento.

    Exatamente neste tabuleiro à nossa frente deu-se uma

    tragédia enorme, embora se trate de uma crônica de

    morte anunciada. Temos a obrigação de elucidar esta

    carnificina, o mais rapidamente possível...

    26

    - Quando foi isso? - perguntou o detetive

    Tallin, um sujeito com cara de fuínha no cio e com uma

    franja rebelde e ridícula, fora de moda, descendo pela

    testa longa, deixando aparecer um tufo de cabelo

    rebelde e despenteado tapando-lhe o olho esquerdo,

    dando-lhe um aspecto de roqueiro drogado, tudo

    parecendo de uma irritação permanente, numa peça fora

    do quadro.

    - Numa partida jogada ontem. Só ficamos

    sabendo do desenlace quando conferimos a tabela de

    classificação.

    - Não ficaria mais fácil consultar a planilha?

    - Foi a primeira ideia que tivemos, na verdade...

    mas ela foi rasgada, destruindo a prova.

    - Conte-nos os detalhes, Inspetor -pediu o outro

    assistente, um camaradinha de cara amarrada e de

    poucos amigos, dentes grandes e irregulares, com uma

    cicatriz avermelhada em forma de um número 6,

    enrugada, descendo pelo queixo quadrado e invadindo o

    pescoço taurino, o que o tornava um bom modelo para

    caricatura.

    - Pois bem, conforme fiquei sabendo, a luta que

    se desenrolou aqui foi de forma equilibrada, numa

    partida longa e difícil. Haia um leve favoritismo para as

    27

    Brancas, que tinham uma peça a mais, o mínimo

    possível, além do fato elementar de elas estarem em

    pleno ataque.

    - E quantas peças ainda estavam em jogo,

    quando a tragédia se abateu aqui? - perguntou o de

    franjinha que, entre os dois, parecia o mais esperto, ou

    menos obtuso, para colocar de maneira mais correta.

    - Não sei exatamente, mas me disseram que elas

    podiam ser contadas nos dedos das mãos - e elas foram

    suficientes para administrar um mate exemplar no

    inimigo.

    - Poucas peças... bem, melhor assim, pois

    teremos menos suspeitos.

    - A quantidade não importa muito, jamais, neste

    jogo. O que realmente conta é a qualidade da posição.

    - E qual delas praticou o crime?

    - Todas.

    - Todas??

    - Oh, sim, todas contribuíram, de uma forma ou

    de outra, para o trágico desfecho.

    - Quer dizer então que se trata de um crime de

    uma organização?

    28

    - Pode ser colocado assim. Numa partida, todas

    as peças se unem para um fim específico. A nós, porém,

    cabe a tarefa de determinar qual delas desferiu o golpe

    final - ela será o criminoso que procuramos.

    - Sim, sim, claro.

    - Aí é que entra nossa investigação. Nossa

    função é exatamente esta: apontar o criminoso. Não

    sabemos quem é ele, por enquanto, e temos que nos

    basear pura e simplesmente nas informações que nos

    foram prestadas pelos dirigentes do torneio.

    - Quais são elas?

    - Várias, na verdade.

    - Hummm....isso não é bom...

    - Não, não, é melhor. Mais subsídios para nós.

    Sabemos que as Pretas fizeram os melhores lances na

    tentativa desesperada e infrutífera de evitar o destino

    implacável.

    - E onde estavam todas as peças em jogo?

    - Pelo que fui informado, as peças brancas

    estavam no território inimigo, sedentas por uma chance

    impiedosa. Havia apenas uma peça branca ainda no seu

    29

    próprio campo, afastada do epicentro da batalha -mas

    que naturalmente desempenhou um papel inicial

    surpreendente na trama.

    - Opa! Essa peça me parece suspeita...

    - Calma, calma! Não se apresse! Não fique com

    uma ideia fixa, desde o começo, que poderá induzi-lo a

    um caminho falso. Aqui todas as peças são suspeitas,

    em potencial. Se você for apressado, a pista falsa pode

    deixá-lo cego para outros detalhes, talvez até mesmo

    mais importante. Jamais pense pequeno - sinta o todo.

    Muito cuidado com suposições, embora elas devam

    existir, naturalmente -mas devem ser investigadas a

    fundo. Lembre-se que muita luz

    Está gostando da amostra?
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