O Tabuleiro De Sherlock Holmes - Volume I
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Religião e Espiritualidade para você
Odus Nota: 5 de 5 estrelas5/550 Banhos Poderosos Nota: 5 de 5 estrelas5/5As Pombagiras E Seus Segredos Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Livro Mestre De Feitiços & Magias Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos Eróticos Para Mulheres Nota: 5 de 5 estrelas5/5Kamasutra Ilustrado Nota: 2 de 5 estrelas2/5Capa Preta Nota: 4 de 5 estrelas4/5Manhãs com Spurgeon Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mulheres Que Correm Com Os Lobos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntendes o que lês?: um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica Nota: 5 de 5 estrelas5/5Massagem Erótica Nota: 4 de 5 estrelas4/5Lendo a Bíblia livro por livro: Um guia prático de estudo panorâmico da Bíblia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Umbanda para iniciantes Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Chave da Liberdade Emocional: Troque o centro e tudo transforme Nota: 4 de 5 estrelas4/530 minutos para mudar o seu dia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Devocional da Mulher Vitoriosa 4 Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia hebraica) Nota: 4 de 5 estrelas4/5Curso Básico De Violão Nota: 4 de 5 estrelas4/5Tudo que Quiser é Seu Nota: 4 de 5 estrelas4/5Pecadores nas mãos de um Deus irado e outros sermões Nota: 5 de 5 estrelas5/5Bom dia!: Leituras diárias selecionadas por Gary Chapman Nota: 3 de 5 estrelas3/5A sala de espera de Deus: O caminho do desespero para a esperança Nota: 5 de 5 estrelas5/5Lições de liderança de Jesus: Um modelo eterno para os líderes de hoje Nota: 5 de 5 estrelas5/5Apocalipse Explicado Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Livro de Urântia: Revelando os Misterios de Deus, do Universo, de Jesus e Sobre Nos Mesmos Nota: 4 de 5 estrelas4/5As 15 Leis do Crescimento: Viva-as e Realize o seu Potencial Nota: 5 de 5 estrelas5/5A voz do silêncio Nota: 5 de 5 estrelas5/5Estresse, ansiedade e depressão: Como prevenir e tratar através da nutrição Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Deus pródigo: Recuperando a essência da fé cristã Nota: 5 de 5 estrelas5/5Como Liderar Pessoas Difíceis: A Arte de Administrar Conflitos Nota: 5 de 5 estrelas5/5
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O Tabuleiro De Sherlock Holmes - Volume I - Adailton J. Chiaradia
ADAILTON J. CHIARADIA
O TABULEIRO
de
SHERLOCK HOLMES
VOLUME I
3
Esta obra é dedicada, com um carinho
especial e um amor bem profundo,
a três criaturinhas deliciosamente
encantadoras
Kimberlly, a netinha
Nickolas, o netinho
Carlos Eduardo, o netinho
... e eu não preciso dizer mais nada!
5
I N D I C E
Dedicatória.............................................. 3
Introdução.............................................. 7
Interlúdio para a anatomia de
1
um crime.................................... 25
2
Mate esta, Holmes!....................107
7
I N T R O D U Ç Ã O
Q
ual é a função de um livro? Embora as
definições possam ser, por vezes, aborrecidas, faz-se
necessário um preâmbulo sobre o tema. De acordo com
a bela definição do poeta Rabindranath Tagore , " Um
livro aberto é um cérebro que fala; fechado, um amigo
que espera; esquecido, uma alma que perdoa;
destruído, um coração que chora".
Se didático, é farol, é luz espantando trevas da
ignorância e ensina, sana dúvidas, abre portas e mostra
trilhas seguras de caminhadas solitárias; se da realidade,
relata história do passado e presente, vaticina futuro,
testemunha fidedigna e imutável no seu depoimento
com o juramento das letras, relatando com a
objetividade de seu contexto, no seu cerne, no seu
coração e alma um pedaço do caminhar da humanidade
em qualquer época, mostrando o desenvolvimento e
consequências, por vezes embasado em opiniões
divergentes, mesmo teimosamente aborrecido e pesada -
mente
insólito
nas
suas
argumentações
e/ou
interpretações, ora por rasgados elogios, ora por críticas
8
ácidas - e caberá ao autor a insana tarefa de explorar
seu talento na virtuosa tarefa de fazê-lo de uma forma
no mínimo cativante, especialmente na oposição franca
da
argumentação
contrária
e
visando,
fundamentalmente, o gáudio do leitor.
Esta é a função do autor, responsável pelo
nascimento, às vezes por fórceps, numa cesariana de
urgência, usando o cinzel de sua criatividade
florescente, deixando o texto saboroso, mistura bem
temperada de pimenta, sal e açúcar, em dose palatável
que se derrete na boca, não deixando um gosto amargo
ferindo as cordas vocais, nem descendo empurrado
goela abaixo; muito embora não uma receita premiada
da Cordon Bleu, que não fique excessivamente exposto
ao fogo, mesmo baixo, nem obrigue à posterior e
cansativa tarefa de arear panelas - e ainda que com o
freio ditatorial da realidade, que não impeça voos
altaneiro da imaginação, mas que traga a sagrada
liberdade da exposição, deliciosa tarefa de descrições e
diálogos inteligentes, obrigatoriamente ligados ao
consumo do estritamente ocorrido.
Se ficção, aí, sim, impera a liberdade sem
fronteiras da criação a pleno vapor e borbulhante de
ideias, com um desfile primando fundamentalmente
9
pelo prazer de parte a parte, numa cumplicidade
explícita e de franca camaradagem de autor/leitor, num
generoso butim de admiração inconteste e fascinante
interesse.
Para descrever um fenômeno meteorológico
banal, corriqueiro e possivelmente monótono como
" Começou a chover", um autor russo usou mais de
1.500 palavras para mostrar todo o simples processo.
Excesso nababesco pecaminoso, num desperdício de
metáforas hiperbólicas, uso demasiado de tempo,
energia
sem
sentido
objetivo
e
descartável? Não ! Muito pelo contrário! É talento! O
esforçado faz o que pode; o inteligente faz o que deve;
o gênio faz o que quer - este último não é, per se, um
libertário, mas alguém dando vazão à fonte generosa e
caudalosa de seu poder de criação.
Um idiota infeliz que, num momento de
destemperança, numa clara demonstração de sua
grossura e falta de sensibilidade declara, enfático,
pensando estar criando uma frase lapidar digna de
citação, do tipo ler é cansativo e chato
(como o disse
um certo político cachaceiro, idiota e vagabundo...) vai
descobrir, para seu desencanto (não para sua vergonha
ou arrependimento, que não fazem parte de seu
miserável baú de virtudes) que sua verborreia não passa
de permanente diarreia cerebral e seu palpite azedo
digno de ser escrito em rolo de papel higiênico; este é
10
um analfabeto por merecimento e destino, já que é a
pior espécie da classe ralé e cretina, que sabe ler e não
o faz por comodismo, preguiça e incompetência,
defeito incurável de seus dois neurônios com defeito de
fabricação, em permanente curto-circuito e falhas
intermitentes...Aquele que diz, com empáfia, "Nunca li
um livro na vida" é digno de dó e deveria, sim, esconder
a vergonha da afirmação, em vez de alardear
desbragadamente sua deficiência mental...
A riqueza inesgotável das palavras é a arma
principal de um autor prolífico, que as tem como armas
brancas afiadíssimas e mortais para a virulência de um
ataque homicida ou escudos impenetráveis de defesas
bem-sucedidas, remédios doces em doses homeopáticas
que
curam
até
cicatrizes
da
alma.
Isto
é
fundamentalmente o que se pode chamar de sacrifício
do autor, no sentido original genuíno do termo de ser
um " sacro ofício" em favor da cultura, autor que se
preza e se respeita, transformando o óbvio e mal vestido
num nababo vistoso e perdulário, cobrindo-o com uma
descrição no mínimo majestosa de vestes pomposas e
joias cintilantes, dignas de frequentar os convescotes
das melhores bibliotecas, exibindo orgulhosamente sua
presença marcante, inesquecível, digna de sadia inveja.
Um livro tem a obrigação de cativar seu leitor,
fasciná-lo ao máximo, deixá-lo em permanente estado
de êxtase, mexer com seus sentimentos, torná-lo seu
11
súdito e admirador, pois se sua leitura não despertar
interesse, não terá sentido nem propósito, tornando-se
mero objeto quando muito de enfeite ou providencial
calço de mesa bamba, ou protetor de porta da violência
do vento incômodo, e esgotará quem porventura inicie
uma viagem pelos caminhos ensolarado ou cheio de
sombras de páginas ensebadas em trilhas tortuosas. Um
livro que não mereça ser lido duas vezes, não merece
sequer a primeira leitura. Dessa maneira, o ideal é
atrair, como um ímã poderoso, prendendo no
emaranhado de suas veias em vários graus de hipnose
contínua - e que glorioso destino ser o objeto de
consumo antes do sono reparador!...
Um
consagrado
crítico,
ao
receber
os
volumosos originais de alguns poemas melosos e de um
falso romantismo intragável, teve o delicioso prazer,
misto de sadismo e impiedade, de devolvê-los no
mesmo dia ao futuro editor, não sem antes, vestido de
prudência e fervoroso zelo, expressar em letras garrafais
sua satírica recomendação numa mensagem admirável:
"Queime os originais. Numa segunda tentativa,
queime o autor!" . E este moderno Torquemada da fé
literária resumiu, numa frase ferina e radical, a
sentença de todo o sentimento negativo que a pretensa
obra lhe inculcou na sensibilidade ferida, ou desafiada e
posta à prova.
12
Assim sendo, cabe-me a obrigação inalienável
de dizer que o único objetivo deste livro de ficção é o de
entreter - e se entretiver a todos, melhor ainda. Entreter
e nada mais do que isso e o faço com muito respeito ao
leitor e redobrado esforço, apesar do elitismo do tema
que, compreensivelmente é indigesto e exageradamente
salgado a muitos. Para aqueles, porém, afetos à matéria,
ele vai se constituir num prato saboroso. A que
grau,desconheço. Foge de minha competência e alçada
a capacidade da avaliação correta. É meu imperioso
dever fazer o melhor e a responsabilidade declara que
melhor do que isto eu não consigo, embora o esforço e
mérito da tentativa; não consigo primordialmente tendo
em vista a delicadeza (ou complexidade ) da matéria,
destinada a um público seleto, elitista e justificadamente
exigente. Trata-se de xadrez - e é oportuno lembrar a
definição maravilhosa de Assiac de que " Entre todas as
drogas do mundo, xadrez é a que me dá maior
prazer".
O leitor deve ser, sim, exigente ao extremo,
necessidade sine qua non em seu benefício - tal como eu
o sou na mesma posição, haja vista que a matéria, ora
sob o microscópio do tratamento, exige uma alta dose
de competência , quer por parte do criador, quer por
parte do autor e do leitor, já que não se trata de
banalidades descartáveis e insossas, pois não é algo
13
comum, especialmente de autor nacional, mas filha
dileta da arte humana. Disse alguém, judiciosamente,
que deve ter havido uma época em que o homem era
semideus - foi quando ele inventou o xadrez.
Pelo título da obra já se pode ter uma pálida de
ideia de seu conteúdo, que de princípio pode até mesmo
causar certo espanto ou rejeição, ou mesmo enjoo de
uma navegação nada confortável pelo oceano de vagas
indomáveis,
um
temor
precavido,
sentimentos
perfeitamente assimilados pelo autor, embora eu
costume dizer que o homem se diferencia dos animais
por que compra livros - e a inserção de livros de xadrez
torna a distinção inconfundível. Siegbert Tarrasch,
grande jogador alemão, foi muito feliz ao definir que o
xadrez, tal como a música e o amor, tem a capacidade
de tornar os homens felizes. E se a vida é curta demais
para o jogo, isso não é culpa do xadrez, mas da vida...
Entendo a rejeição do leitor; claro que não a
aplaudo aqui (e deveria?), nem a incentivo, mas devo
aceitá-la. O que seria do amarelo se não fosse por Van
Gogh? Quando eu me deparo com um livro que não
seja de meu interesse e compreensão, tenho o bom-
senso e a prudência de não seguir em frente, e, embora o
saiba útil e oportuno a tantos, saio de mansinho, sem
me fazer notar; simples assim, eu o esqueço no minuto
seguinte, não perdendo meu tempo com algo em que
não tenho nenhum interesse, por não ver uma utilidade
14
em meu benefício. Imagine, en passant, um livro sobre
Física Quântica... que faria eu com tal obra? Calço de
mesa bamba ou enfeite de uma prateleira da estante de
minha biblioteca...
Corro milhas de obras assim, pois seria uma
lamentável perda de tempo e a tristeza do
reconhecimento de minha ignorância. Evidentemente
que sequer tenho ideia do que se trata - se é algo sobre a
famosa teoria da relatividade de Albert Einstein, por
exemplo, não quero nem saber dos meandros, da luta
formidável até conseguir o esplendor da vitória suada,
mas que nada me dizem e a superfície já é por demais
profunda para que eu mergulhe de cabeça. A Física é
grego para mim. E o mesmo deve ocorrer aqui, a quem
desconheça a beleza do jogo e saiba de Holmes apenas
por ouvir dizer.
E neste livro, à frente do maravilhoso tabuleiro
(que eu merecidamente chamo de Templo de Caíssa - e
é esta a deusa do xadrez) ninguém menos do que a
figura lendária de Sherlock Holmes, a imortal criação
do genial Sir Arthur Ignatius Conan Doyle (1859/1930),
na infatigável companhia de seu biógrafo e fiel
companheiro Dr. John Watson. Não que seu famoso
personagem fosse um consagrado expert na matéria,
para tantos intragável e assustadora, mas sim pelo fato
elementar de ser a matéria que se reveste, que exige,
acima de tudo e aquém de qualquer suspeita mesquinha,
15
um raciocínio de frio glacial, arquitetado nas minúcias e
no todo, não se prendendo no complicado labirinto de
Creta de emoções dispersas; concentrando o uso
aprimorado da inteligência nas primorosas soluções de
mistérios intrincados O morador da mundialmente
famosa 221B Baker Street, no coração nervoso da
centenária Londres, ele conjuga com excepcional magia
tais virtudes raras, provando a definição de Goethe de
que o xadrez é a pedra de toque da inteligência humana.
Em 1996 eu estava em Londres e, como estava
livre até às 22 horas, horário do voo de regresso ao
Brasil, tinha o último dia livre e duas opções se me
apresentavam: visitar o famoso Museu de Cera da
Madame Tussauds ou visitar o relicário de Sherlock
Holmes. Decisão facílima, entrei, em estado inebriante,
na Baker Street com o coração aos pulos e parei,
extasiado, diante do número 221B...e ali voltei no tempo
e na saudade de meus 12 anos quando, ainda
seminarista, li Doyle pela primeira vez,a partir de UM
ESTUDO EM VERMELHO, e foi amor à primeira
vista. Paguei as 7 libras da entrada e subi a escada
degrau por degrau, sofrendo um repentino ataque de
taquicardia necessária e sadia, entrando no ambiente do
Século XIX, remodelado à exaustão. Talvez eu tenha
cometido um pecado mortal, pois deveria tê-lo feito de
joelhos...
16
Assim, pois, leitor, repito a advertência : se
você não entende, não gosta, nem quer saber, está com
o livro errado. Infelizmente, aliás, e será mais útil e
agradável consumir outra droga viciante. Se você,
porém, se identifica com ele, a felicidade é dupla, pois
terá pela frente uma matéria formidável para momentos
inolvidáveis de emoção.
Aqui, Holmes encontra-se diante de desafios
que
são
tarefas
gigantescas
e
aparentemente
intransponíveis, pois que o vasto campo que tem que
enfrentar não é coisa pequena. Numa avaliação
primária e fria, pelos exemplos vividos e conquistas
alcançadas, produtos da pena profícua e generosa de seu
criador, eu o coloco merecidamente na 3a. categoria. E,
mais importante ainda, com o poder por vezes
inimaginável da criação livre, seu talento é o repasto do
mérito sem dissabor da sobremesa do fracasso. Holmes
há de ser, para sempre, a figura carismática - estranha
definição em se tratado de personagem fictício de uma
literatura de primeira grandeza, rica e específica - e nada
mais do que isso. Aqui o trago ao proscênio
estonteantemente fértil de um tabuleiro de xadrez,
matéria-prima excelente para o uso in totum de sua
fenomenal capacidade lendária na surpreendente e
complicada arte que o tornou imortal - a dedução.
17
Neste livro, embora com o prosaico e nada
original título de " O TABULEIRO DE SHERLOCK
HOLMES"
(e,
pergunto,
haveria
outro
que
expressasse, de forma mais cândida e direta, o cerne da
questão?) ei-lo enfrentando enigmas (e o quê mais
esperar dele?), seu prato predileto na atuação literária,
sob o comando profícuo da blandícia da pena fecunda
do autor, numa atuação impecável de permanentes
desafios e constante delícia dos fieis leitores.
Assim, pois, a honestidade da advertência: o
tema é xadrez,..e se o eventual leitor não sabe sequer
como se movimenta um Cavalo, ou mesmo a simples
colocação das 16 peças no tabuleiro de 64 casas, que
não saiba que a casa branca obrigatoriamente tem que
ficar à direita do jogador, que após o primeiro lance das
Brancas e o primeiro lance das Pretas é possível
conseguir 400 posições diferentes no tabuleiro... estará
perdendo seu precioso tempo, que lhe seria muito mais
útil no consumo do vício de outra droga...
É uma advertência importante e necessária no
prelúdio da leitura, pois se você não gosta, não admira,
nãoentende, se pertence à fila longa, sombria e tortuosa
dos não-iniciados, se desconhece o criador, nada sabe
do ator, se infelizmente nunca o leu... não siga em
frente! Não perca seu tempo, pois a leitura será
cansativa e infrutífera e a mim não me interessam os
neófitos. Quero apenas aqueles que possam curtir as
18
histórias, entendê-las, apreciá-las (e tentar resolvê-las,
por que não?) e que estejam interessados no seu enredo
e roteiro.
Neste livro Holmes enfrenta um adversário
diferente que, embora estático, tem vida borbulhante,
efervescente de emoções e pleno de desafios, exigindo o
máximo de sua fantástica capacidade dedutiva. São
apenas 64 casas... mas de um infinito de combinações
surpreendentes e maravilhosas. Aqui não há a mínima
possibilidade de erro ou de interpretação esdrúxula,
duvidas atrozes, frustradas tentativas de laboratório na
experimentação amadora e frustrada em dosagens
erradas - a menor falha desmonta a delicada construção
como um castelo de cartas, transformando em pó todo
um laborioso processo de investigação numa cadeia
bem concatenada de ideias.
Vide a Muralha da China, laboriosa construção
de 7 mil quilômetros, erguida pedra por pedra, passo a
passo. O mesmo se dá no xadrez, pois tudo é feito lance
a lance, com a exatidão de um pedreiro competente. É
preciso que haja uma sequência de raciocínio rígido e
inquestionável, não admitindo a mera especulação ou
possibilidade de duplicidade de respostas...há apenas
uma via que leva com segurança à única solução
possível.
19
E ele a consegue, arrancando-a a fórceps de
suas análises precisas, de maneira sempre exemplar,
para a alegria inaudível de registro biográfico de seu
amigo Dr. Watson, cuja pena talentosa mergulha na
fonte plácida de um tinteiro e deixa um rastro luminoso
de luz diáfana à posteridade.
Ficamos nós na expectativa angustiante das
soluções e nãos somos decepcionados ou frustrados no
desejo, pois ele no-las fornece não com a arrogância de
conquistador implacável e impiedoso, mas com a
prodigalidade esclarecedora do vencedor generoso.
Aqui, seu velho e zelosamente conservado
tabuleiro se inunda de luzes é o morgue posto em
silêncio na dissecação da verdade, levando à resposta
ansiada, trazendo a verdade das sombras do mistério e
do insondável.
Aqui, Holmes usa o tabuleiro com peças que
ganham vida e expressam emoções e, com a lupa do
escrutínio severo, seu raciocínio arranca a resposta que
a prodigalidade da posição que o desafio lhe apresenta,
como régia recompensa numa bandeja de prata
maciça.
20
É tudo o que ele persegue e precisa para a
aplicação da justiça, justiça que a magnanimidade do
xadrez o presenteia com a recompensa régia do esforço
concentrado.
Como autor, confesso, num misto de variadas
emoções, que me diverti, e muito, na composição.
Agora, é a sua vez...
Seja bem-vindo e bom divertimento!
ADAILTON J. CHIARADIA
ITAJUBÁ MG
MAIO DE 2015
21
Para que o leitor se acostume com o que vai
ver, daqui por diante, apresento uma historinha policial.
Uma história de crime, de mistério, com a clássica
pergunta final "Quem foi? ". O leitor, competentemente
dedicado à faina de sua investigação, deverá seguir
todas as pistas, que sempre existem, de maneira velada
(e não fornecê-las seria desonestidade do autor), e
descobrir, passo a passo, o que de fato aconteceu, até o
clímax do caso, ou seja, até chegar ao misterioso
desconhecido personagem - a peça que deu o golpe
final, o doloroso mate no Rei inimigo. Com isto, o
leitor não apenas soluciona o problema de xadrez, mas
também elucida a chacina e aponta o verdadeiro
culpado...ou então que prossiga a leitura e veja solução
pelo grande detetive Sherlock Holmes.
É preciso ter sempre em mente que a colocação
de uma peça, numa determinada casa do tabuleiro,
nunca é um fato aleatório, inconsequente e
22
despreocupado, ao acaso, só para embelezar uma
determinada posição. Sempre existirá uma razão
fundamental para sua existência ali e somente ali, pois
ela é componente importantíssimo de uma reação em
cadeia, ou seja, um fato conduzindo a outro, num elo
bem concatenado e indispensável - e assim por
diante. Se houver uma falha, uma interrupção, por
menor que seja, causa o corte de energia e põe a perder
toda a sequência. É uma pagina musical imaculada, em
que a leitura deve ser fácil e clara, direta e lógica e o
desfile das notas impressas deve ser lido corretamente,
sem prejuízos que destoem ou desafinem a melodia de
ritmo permanente.
Numa posição, quer seja de problemas ou de
finais, não existem peças supérfluas, só como um
enfeite irracional e exageradamente ridículo. Cada peça
ali colocada tem sua função determinada, sempre de
importância capital em toda a trama - quer seja uma
peça poderosa, com o ímpeto de seus avanços e recuos
cartesianos, quer seja um modesto e pacato Peão, que
por vezes nem chega a fazer um único lance, mas cuja
presença estática representa um perigo em potencial,
mesmo que seja na atenta missão de inibir o poderoso
exército inimigo de uma invasão devastadora. Do mais
humilde e apagado Peão, até o porte majestoso do Rei,
ou o poder devastador da vistosa Dama, todas as peças
fazem arte da engrenagem que põe em movimento, em
moto perpétuo, o desempenho da máquina em sua
23
engrenagens azeitadas, na inexorabilidade de lances
cadenciados, calculados e únicos, em ritmo crescente.
Para solucionar o enigma, o leitor deverá ter um
tabuleiro e as peças prontas para entrarem em ação. São
suas únicas armas físicas, letais, que bastam, por sinal,
no tocante ao "hardware" da busca da resposta.Quanto
ao delicado "software", no entanto, ele deverá colocar
em pleno funcionamento sua inteligência, sua
perspicácia, capacidade de perceber as sutilezas das
manobras e extrair informações fundamentais que levem
ao caminho certo, análise competente, dedução sem
falha e a prova final irrefutável, valendo-se,
evidentemente, de sua experiência e conhecimento,
além do espírito atento a detalhes que, em outros casos,
poderiam
passar
despercebidos.
Xadrez
é
essencialmente empírico. Se o leitor não for
suficientemente esperto, jamais vai resolver o caso e,
pior ainda, pode vir a tornar-se casual vítima futura...
Felizmente é minha plena convicção que todo
jogador de xadrez é, acima de tudo, uma pessoa
inteligente. Negá-lo é não fazer justiça, é desdenhar o
óbvio. Pertenço à elite, sem a falsidade do cabotinismo
arrogante, e embora isto possa eventualmente
desagradara quem não goste de mim (e são muitos,
devo orgulhosamente reconhecer, o que na verdade não
me causa a mínima preocupação, nem chega a me tirar a
delícia de uma noite bem dormida ou o apetite diante de
24
um bife bem acebolado e com generosa porção de
alho...e se todos me admirassem, que monotonia
insuportável!...) e seria uma idiotice incompreensível a
toda prova me apresentar com a falsa humildade por
uma questão de modéstia inexistente...
O resto do trabalho nada mais é do que a pura
competência investigativa. O título do trabalho poderia
ser o tradicional " Quem foi?", que os americanos
tratam de " Who done it?" - ou da cinematográfica
Hollywood com a famosa frase "...and the winner
is...", do cobiçado Oscar, quando aqui a substituição
seria com " ... and the guilty is...."
Preferi,
no
entanto,
a
opção
por
"INTERLÚDIO PARA A ANATOMIA DE UM
CRIME" (e inadvertidamente juntando dois títulos de
filmes) para dar uma ideia perfeita do processo de
investigação e consequente solução, segura e provada,
de um culpado. No final, apresento a solução e a
maneira da investigação para que o leitor tenha uma
noção completa de como deverá se orientar, em casos
futuros.
Agora, pois, munido de sua lupa de
investigação, sua observação, sagacidade e capacidade,
da análise arguta, faro de perdigueiro na caçada
implacável, siga em frente...
25
1
INTERLÚDIO PARA A
ANATOMIA DE UM CRIME
- Senhores - disse o Inspetor Noyce a seus
dois
assistentes,
com
um
caderno
de
capa
exageradamente amarelada numa das mãos e o eterno
cigarro na outra - aconteceu aqui um crime violento.
Exatamente neste tabuleiro à nossa frente deu-se uma
tragédia enorme, embora se trate de uma crônica de
morte anunciada. Temos a obrigação de elucidar esta
carnificina, o mais rapidamente possível...
26
- Quando foi isso? - perguntou o detetive
Tallin, um sujeito com cara de fuínha no cio e com uma
franja rebelde e ridícula, fora de moda, descendo pela
testa longa, deixando aparecer um tufo de cabelo
rebelde e despenteado tapando-lhe o olho esquerdo,
dando-lhe um aspecto de roqueiro drogado, tudo
parecendo de uma irritação permanente, numa peça fora
do quadro.
- Numa partida jogada ontem. Só ficamos
sabendo do desenlace quando conferimos a tabela de
classificação.
- Não ficaria mais fácil consultar a planilha?
- Foi a primeira ideia que tivemos, na verdade...
mas ela foi rasgada, destruindo a prova.
- Conte-nos os detalhes, Inspetor -pediu o outro
assistente, um camaradinha de cara amarrada e de
poucos amigos, dentes grandes e irregulares, com uma
cicatriz avermelhada em forma de um número 6,
enrugada, descendo pelo queixo quadrado e invadindo o
pescoço taurino, o que o tornava um bom modelo para
caricatura.
- Pois bem, conforme fiquei sabendo, a luta que
se desenrolou aqui foi de forma equilibrada, numa
partida longa e difícil. Haia um leve favoritismo para as
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Brancas, que tinham uma peça a mais, o mínimo
possível, além do fato elementar de elas estarem em
pleno ataque.
- E quantas peças ainda estavam em jogo,
quando a tragédia se abateu aqui? - perguntou o de
franjinha que, entre os dois, parecia o mais esperto, ou
menos obtuso, para colocar de maneira mais correta.
- Não sei exatamente, mas me disseram que elas
podiam ser contadas nos dedos das mãos - e elas foram
suficientes para administrar um mate exemplar no
inimigo.
- Poucas peças... bem, melhor assim, pois
teremos menos suspeitos.
- A quantidade não importa muito, jamais, neste
jogo. O que realmente conta é a qualidade da posição.
- E qual delas praticou o crime?
- Todas.
- Todas??
- Oh, sim, todas contribuíram, de uma forma ou
de outra, para o trágico desfecho.
- Quer dizer então que se trata de um crime de
uma organização?
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- Pode ser colocado assim. Numa partida, todas
as peças se unem para um fim específico. A nós, porém,
cabe a tarefa de determinar qual delas desferiu o golpe
final - ela será o criminoso que procuramos.
- Sim, sim, claro.
- Aí é que entra nossa investigação. Nossa
função é exatamente esta: apontar o criminoso. Não
sabemos quem é ele, por enquanto, e temos que nos
basear pura e simplesmente nas informações que nos
foram prestadas pelos dirigentes do torneio.
- Quais são elas?
- Várias, na verdade.
- Hummm....isso não é bom...
- Não, não, é melhor. Mais subsídios para nós.
Sabemos que as Pretas fizeram os melhores lances na
tentativa desesperada e infrutífera de evitar o destino
implacável.
- E onde estavam todas as peças em jogo?
- Pelo que fui informado, as peças brancas
estavam no território inimigo, sedentas por uma chance
impiedosa. Havia apenas uma peça branca ainda no seu
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próprio campo, afastada do epicentro da batalha -mas
que naturalmente desempenhou um papel inicial
surpreendente na trama.
- Opa! Essa peça me parece suspeita...
- Calma, calma! Não se apresse! Não fique com
uma ideia fixa, desde o começo, que poderá induzi-lo a
um caminho falso. Aqui todas as peças são suspeitas,
em potencial. Se você for apressado, a pista falsa pode
deixá-lo cego para outros detalhes, talvez até mesmo
mais importante. Jamais pense pequeno - sinta o todo.
Muito cuidado com suposições, embora elas devam
existir, naturalmente -mas devem ser investigadas a
fundo. Lembre-se que muita luz