Do Mundo Virtual ao Espaço Potencial
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Do Mundo Virtual ao Espaço Potencial - Juliana de Oliveira Rodrigues
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES
AGRADECIMENTOS
À Faperj e ao Departamento de Psicologia da PUC-Rio, pelos auxílios concedidos, sem os quais não seria possível a realização da dissertação que deu origem a este livro.
Ao professor Carlos Augusto Peixoto Jr., meu orientador, pela paciência e orientação durante todo o processo de construção da dissertação.
À Daniela Romão, pela inspiração e escuta atenciosa e cuidadosa, sem as quais seria impossível prosseguir com o mestrado.
À Carla Leitão, pela paciência e pelos ensinamentos, tanto profissionais quanto pessoais.
À minha mãe, por se desdobrar em muitas para nunca me deixar faltar um ambiente acolhedor.
À Rosa Cabral, minha analista, por me ajudar a ressurgir tantas vezes das cinzas e por nunca ter duvidado que eu iria sobreviver.
A Liliane Passos e Carlos Costa, pela parceria de sempre e pelo carinho e cuidado diários comigo.
À Paula Melgaço, por dividir comigo momentos bons e ruins ao longo dessa trajetória e por ter me inspirado diariamente.
Sumário
1
INTRODUÇÃO 9
2
O ESPAÇO VIRTUAL E A SUBJETIVIDADE 13
2.1 A INTERNET: SURGIMENTO E CARACTERÍSTICAS DE UM NOVO ESPAÇO 15
2.1.1 A Web 2.0, ou Web colaborativa, e o fenômeno das redes sociais on-line 19
2.2 O ESPAÇO VIRTUAL E SUAS PARTICULARIDADES 23
2.3 O ESPAÇO VIRTUAL E A INTERNET EM FOCO: UM CONVITE ÀS CIÊNCIAS HUMANAS 27
2.3.1 O espaço virtual e a internet em foco: um convite à Psicanálise 32
3
O ESPAÇO POTENCIAL NA PERSPECTIVA WINNICOTTIANA 37
3.1 A CONSTRUÇÃO DE UM AMBIENTE SUFICIENTEMENTE BOM:
A PREOCUPAÇÃO MATERNA PRIMÁRIA E A DEPENDÊNCIA ABSOLUTA 39
3.1.1 As funções maternas e o desenvolvimento emocional primitivo 45
3.2 A TRANSICIONALIDADE: O ESPAÇO POTENCIAL E SEUS FENÔMENOS 52
3.2.1 O espaço potencial e os fenômenos e objetos transicionais 53
3.2.2 O brincar 58
3.2.3 A localização da experiência cultural 60
4
O ESPAÇO VIRTUAL E O ESPAÇO POTENCIAL: UMA POSSÍVEL APROXIMAÇÃO 63
4.1 ESPAÇO VIRTUAL E ESPAÇO POTENCIAL: AMBIENTES DE SOBREPOSIÇÃO ENTRE MUNDO INTERNO E MUNDO EXTERNO 67
4.1.1 A desterritorialização e o aspecto físico no ambiente virtual e no espaço potencial 69
4.1.2 O compartilhamento da intimidade no ciberespaço: ambientes virtuais na fronteira entre o público e o privado 78
4.2 O CIBERESPAÇO E O CONVITE AO BRINCAR 83
4.2.1 Explorações das possibilidades de si no ambiente virtual e o brincar 84
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS 89
6
REFERÊNCIAS 93
ÍNDICE REMISSIVO 99
1
INTRODUÇÃO
Desde sua chegada, as tecnologias digitais apresentaram grande penetrabilidade na sociedade e, por conseguinte, no cotidiano individual do homem. Atualmente, a sociedade está tão inserida em um sistema em rede que, para muitas pessoas, fica difícil imaginar como seria o dia a dia sem smartphones, tablets, computadores, dentre outros aparatos. O trabalho, a vida social, os relacionamentos amorosos, a organização pessoal e até mesmo a saúde: para quase todos os âmbitos da vida parece existir um aplicativo de smartphone ou um website que a pessoa pode utilizar. No caso das relações humanas tal utilização parece estar mais ainda em evidência, já que desde seu início, a internet possui um caráter relacional que permite o contato entre conhecidos e estranhos que estão por toda parte do mundo. Dessa maneira, é possível afirmar que graças a diversas transformações sociais, econômicas e tecnológicas, entre elas o surgimento da internet, houve uma flexibilização de fronteiras e o mundo se tornou globalizado (SILVEIRA, 2004).
Segundo o levantamento realizado pela CGI.br em 2017, há 120,7 milhões de usuários da rede apenas no Brasil, esse número equivale a 67% da população brasileira. Tal amostra refere-se apenas a usuários domiciliares, ou seja, que acessam a internet a partir de suas casas. Se incluíssem os acessos feitos a partir dos ambientes de trabalho, educacional ou outros locais que oferecem acesso à rede, tal número seria relativamente maior. Dentre os resultados apresentados pelo levantamento, é possível apontar também o crescimento da utilização da rede por parte das classes D/E, que aumentou em 7% entre 2016 e 2017. O acesso de zonas rurais à rede igualmente aumentou, apresentando um crescimento de 8%. Esses números indicam que o uso da internet está cada vez mais democratizado.
Diante da grande importância que a internet e, com ela, o espaço virtual, passaram a ter na sociedade, torna-se relevante pensar seus impactos na subjetividade humana. Lévy (2010) aponta que a internet está constantemente transformando os modos de ser e agir dos indivíduos, ao mesmo tempo em que é continuamente transformada por eles. Dessa maneira, investigar os tipos de uso feitos da internet pode ajudar na compreensão dos vários tipos de relações que os indivíduos podem estabelecer com o espaço virtual.
Do ponto de vista teórico, é igualmente importante discutir novas formas de articulação entre conceitos já existentes na Psicanálise. Apesar das transformações tecnológicas se processarem de maneira veloz, os modelos de subjetividade demandam um pouco mais de tempo para serem elaborados e transformados. É possível, portanto, o emprego de um mesmo conceito, como por exemplo, o espaço potencial, com uma roupagem mais contemporânea. É o que ocorre com a possibilidade de consideração do espaço virtual como uma zona intermediária de subjetivação para alguns usuários.
A presente obra dispõe-se a pensar na aplicabilidade dos conceitos de Winnicott nos ambientes virtuais, ampliando o conhecimento já existente acerca do tema. Ela tem como objetivo geral investigar a aproximação entre espaço virtual e espaço potencial a partir do tipo de uso feito dos ambientes virtuais por alguns usuários. Seus objetivos específicos são: a conceituação de espaço virtual; o estudo do conceito de espaço potencial na obra de D. W. Winnicott, ressaltando sua importância para uma vida saudável; e a análise das semelhanças entre espaço virtual e espaço potencial.
Para possibilitar que tais objetivos fossem atingidos, foi feita uma pesquisa na literatura existente acerca do espaço virtual e da teoria winiccotiana juntamente com a apresentação de uma postagem retirada de uma rede social on-line. Como tal postagem encontra-se em uma página on-line que está definida como pública, e, portanto, não requer uma autorização direta para seu acesso, o termo de consentimento livre e esclarecido pode ser dispensado (MATOS-SILVA, 2013; FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011). A lei 13.709/18 acerca da proteção de dados on-line igualmente dispensa a necessidade de autorização direta do usuário para a utilização de dados, para fins acadêmicos, que se encontram livres para o acesso público.
No primeiro capítulo, visando atingir o primeiro objetivo específico, são consideradas as postulações de alguns autores que enfatizam a importância da internet na sociedade contemporânea, ressaltando a importância dos mesmos para a subjetividade e para as relações estabelecidas com o mundo. São, portanto, utilizadas obras tanto de autores que adotam um olhar menos patologizante acerca das novas tecnologias, como Nicolaci-da-Costa (2006a; 2006b), Turkle (1995) e Lévy (2010, 2011), quanto aqueles que se mostram menos favoráveis ao seu uso, como Birman (2012) e Kallas (2016).
No segundo capítulo, para atingir o segundo objetivo específico, é realizado um estudo teórico do conceito de espaço potencial a partir de obras do próprio Winnicott, em especial o livro O brincar e a realidade (1975). Também foi utilizado o material existente sobre o assunto a partir de alguns de seus comentadores como Dias (2012), Davis e Wallbridge (1982) e Ogden (2015). É enfatizada a importância do espaço potencial como uma área de relaxamento que torna possível o brincar e a criatividade.
Por fim, no último capítulo, exemplos extraídos de pesquisas qualitativas (GREGÓRIO, 2014; ROMÃO-DIAS, 2007; SEGATA, 2009) sobre o ciberespaço, um estudo de caso (CARVALHO, 2015), uma campanha on-line (MYGAMEMYNAME, 2018) e uma postagem realizada na rede social Twitter são analisados. Busca-se ressaltar aspectos na fala dos sujeitos e na sua forma de utilização que indiquem que o espaço virtual, para eles, pode se constituir como uma zona de relaxamento e experimentação.
Dessa forma, a partir do material encontrado nas pesquisas qualitativas, no estudo de caso, na campanha on-line feita pela ONG e na postagem do Twitter, o enfoque adotado será a vivência do usuário on-line: como ele diz se sentir e perceber o espaço virtual. Se parece sentir-se mais confortável no espaço virtual do que em outros ambientes off-line, se expressa aspectos de sua intimidade, se experimentam atitudes e personalidades diferentes das já manifestadas no mundo off-line, por exemplo. Tais sensações e usos relatados serão aproximados do conceito de espaço potencial segundo Winnicott e