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Titânico
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E-book222 páginas3 horas

Titânico

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Sobre este e-book

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e os titãs reinavam absolutos. Acesse o site oficial: http://aeradostitas.wix.com/titanico Veja o trailer: https://youtu.be/5XZLvA-vGMo Em um mundo deserto, onde os homens vivem atrás de muros altos e bestas dominam a vastidão mar afora, Alek, um jovem pirata, e Matthew, um gerente mal sucedido, embarcam em uma missão para evitar um combate apocalíptico que crescia escondido até então. A questão é que nada é de fato o que parece, e os segredos espreitam por todos os cantos, anunciando uma revelação.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de abr. de 2015
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    Pré-visualização do livro

    Titânico - Mário Teodoro Junior

    Tema o trovão

    O QUE MOVIMENTA UMA HISTÓRIA? O TEMA? AS personagens? O texto? Do que, afinal, é feita uma história? E a que ela serve? A quem ela serve? Ou será que uma história é serva de si mesma? E se, pensando desse modo, sendo verdade que a ficção imita a vida e o vice-versa, a vida em si – as ações reais de pessoas reais no mundo real – é feita de que, serve a que e serve a quem? Qual o sentido de uma vida?

    São muitas questões que figuravam na mente de David naquela noite. Ele estava lá, sozinho, por volta de umas nove horas, sentado no corredor em frente à porta de seu apartamento no segundo andar, com os olhos no movimento da água da piscina bem no meio de toda a área de lazer daquele complexo de apartamentos.

    A vida era banal. No melhor dos sentidos, ainda era banal. Nada de excepcional e a ciência... Ah, a ciência andava rápido, mas tecnologia não fazia da vida algo menos banal. A ciência não conseguiu desvendar seu sentido. E tamanha era a banalidade de tudo, que sem sentido era pensar sobre essas coisas. O que ele queria dizer era que, se a água da piscina forma ondas em sua superfície com o vento leve da noite, é porque algum fenômeno físico acontece, mas a onda por si só não tem funcionalidade, sentido e finalidade. A onda é consequência, logo, manipulada por sua causa e dela dependente até o momento de sua morte.

    O que preocupava David, de fato, era que essa falta de sentido da vida fosse tão banal quanto à falta de sentido da onda. O que o preocupava era a possibilidade da vida humana existir como consequência de fenômenos físicos e ser manipulada por tal causa e dela dependente até o momento de sua morte. Se fosse assim, a angústia esmagaria seu coração com uma pressão desmensurada. O vazio que havia em seu peito, a falta, a ausência, o rompimento repentino que o perseguia há tanto tempo.

    Felizmente, o sentido surgiu naquele instante, como um relâmpago no horizonte. Literalmente, foi um relâmpago, trovões, e uma chuva fina que caía do céu... Ainda que David jurasse que não tinha nuvem alguma ali e a água viesse inexplicavelmente.

    De qualquer forma, era um abalo em toda a atmosfera do complexo. O vento acelerando, a água caindo, o barulho de tempestade, as árvores se dobrando e deixando suas folhas circularem livres, as ondas da piscina transbordando... David pôs-se de pé imediatamente, tapando a cara e evitando a água ventada de lhe atingir a face. Abriu a porta do seu apartamento, mas foi quando as luzes também começaram a agir estranho. Todo o circuito elétrico começou a falhar, oscilar e uma rajada precisa de vento passando pelo corredor atingiu o corpo esguio de David, arrepiando-o, assustando-o até.

    Havia algo ali. Algo que não queria ser visto, que não podia ser visto. David olhava de um lado para outro, olhava para a piscina, para o pátio, para os outros apartamentos do outro lado do pátio, para cima, para cada janela, mas não achava o que devia achar, não achava o que não queria ser achado. Era como se estivesse cego. E sentia algo fisicamente ali. Um estranhamento nas costas, nos ombros, na altura do ouvido, como se algo lhe agarrasse, quase sussurrasse.

    Cada trovão, com um relâmpago, iluminava tudo em uma luz azul muito fina, e foi então que David viu o que devia. As sombras apareciam apenas à luz dos raios. O rapaz congelou por uns instantes, esperando o próximo relâmpago, com o corpo encostado no parapeito e os olhos fixos na parede para qual estava de costas há pouco. E a próxima luz azul surgiu, segundos apenas foram suficientes para uma das visões mais perturbadoras que ele já teve. Por todo o corredor, em toda parede, contornos, sombras, foram revelados, corpos adultos, vultos borrados, lado a lado, aglomerados... O que quer que lá estivesse, podia fugir do olhar, mas não da luz intensa.

    David, aterrorizado, caiu de costas para o jardim dois andares abaixo, no pátio. Assim que tocou o chão, pensou se devia se mexer e correr ou ficar parado. Correu. Rápido, preciso, sem olhar para trás, conforme outro raio iluminou tudo e ele pode ver no bloco de apartamentos à frente, nos corredores dos cinco andares que se erguiam, sombras, e dessa vez ele as pode ver se mover. Seu medo maior era se as sombras sabiam que ele as havia visto.

    Então, sem perceber, David correu para o lugar errado e se atirou na água da piscina. Era morna, mas ainda assim gelada. Ele tentou correr de volta, mas a água era mole e ele só afundou, mergulhou estranhamente. Outro raio revelou para ele os vultos refletidos na superfície da água, mais borrados dessa vez, pois ele os via por meio da própria água.

    Mas esse não era o começo de uma história, tampouco o que a movimentava, era o fim, o efeito colateral. A história, ela própria, começara muito antes de David e ia muito além de sua angústia.

    A Guerra de Gigantes

    I Prelúdio

    Na costa durante a noite, um navio aproximava-se da cidade de Alker Villa. Do meio da escuridão o casco envelhecido irrompia, era uma armação gigante, não se via o fim nem a altura, apenas o paredão de madeira avançando. Da proa saltou um homem, segurando-se em uma corda, apoiando os pés na embarcação como se descesse uma montanha, parando quase perto da superfície da água. Olhou em frente, sentiu o cheiro da cidade com as narinas bem abertas. Farejava como um cão, um cão de olhos azulados e uma espessa barba arruivada que subia até o cabelo longo preso pelo bandana que trajava.

    —É aqui, Daemhel – gritou o homem ao capitão no alto do convés.

    —Capitão, Alek, já disse para me chamar de capitão... – disse Daemhel, mais baixo, apenas para Alek, num tom rígido – Mas você tem certeza? Não quero perder tempo em outra cidade, já nos bastam os ladrões que encontramos ao norte e levaram quase toda nossa comida.

    —Não se esqueça que eu resolvi o problema da comida, Daemhel... Digo! Capitão – Alek zombou discretamente.

    —Comida não é batata apenas, Alek. Mas diga-me, é aqui ou não?

    —Certeza que é, Capitão. Eu sinto o cheiro da magia dele fluindo, só temos que o encontrar lá dentro.

    —Isso é com você, Alek. Esperaremos até o amanhecer. Depois voltaremos apenas na próxima noite, não podemos arriscar sermos vistos muitas mais vezes.

    —Tudo bem, tudo bem, já entendi. Alguém me jogue minha mochila – pediu Alek, recebendo um saco de couro largo que um marujo jogou lá de cima, amarrou bem sua boca e o pendurou em suas costas, por cima de sua capa verde musgo.

    —Tome cuidado, Alek. Seja discreto... – Daemhel duvidava de suas palavras... Discrição não seria a especialidade do rapaz.

    —Aye, aye, Capitão – disse, saltando e mergulhando na água fria, desaparecendo, assim como o navio que recuava.

    ALEK:

    A água era gelada, muito gelada. O ar me faltou um pouco e logo tive que reemergir para recuperá-lo, mas logo cheguei à praia. A areia era seca e ácida, com um pó cinza misturado. À frente, um enorme muro rondava a cidade. Abri minha mochila e tirei minha lâmina improvisada, que cravei nas falhas do muro, encaixando a ponta de meus pés onde podia, escalando pouco a pouco. Em cima, rasguei a ponta de minha capa em uma estaca dentre as várias encrustadas para evitar a entrada de intrusos como eu. Bom, não contavam com um intruso como eu, certamente, ninguém com as minhas habilidades de infiltração e espionagem... Detive meu pé antes que, distraído, caísse do outro lado. Não fosse a escuridão absoluta, os guardas ao pé do muro me veriam no alto, mas apenas eu pude ver a cidade ilumina à frente.

    Seguindo do grande portão que dava no cais, uma estrada ia por poucos quilômetros de deserto de gramíneas até onde começava uma ala com grandes prédios e galpões, circulando um muro interno que, aparentemente, isolava uma área tripartida de habitações pessoais. Um primeiro meio-círculo mais baixo, com casas simples e luzes mais escassas, alguns prédios comerciais, ao que me parecia, e então a terra elevava-se a um segundo meio-círculo, onde havia uma imensa represa e casas menos numerosas, com jardins um pouco maiores. E, finalmente, o último meio-círculo que se apoiava na encosta montanhosa e era, sem dúvidas, reservado aos mais ricos do lugar.

    Com o auxílio de uma corda, fiz a descida de um lado menos vigiado. Ao pisar em terra, afundei um pouco em um lamaçal que se formou por chuvas anteriores... Sinceramente, nem um longo tempo em alto mar estragava tanto meu visual como aquele mísero percurso.

    ———

    No centro da cidade, num apartamento do primeiro círculo, Matthew entrava e jogava sua pasta em cima do sofá, enquanto arrancava os sapatos dos pés. Estava cansado, estressado, exausto. Sorria apenas para seu cão, que estava alvoroçado com a sua chegada.

    MATTHEW:

    O pior dia, definitivamente.

    Um trabalho ridículo, sem perspectiva. Phill era um imbecil, babaca. Quando eu fui promovido alguns meses atrás, ele começou com essa atitude ignorante pra cima de mim, apontando erros em meu trabalho a cada oportunidade, complicando a minha vida com uma insubordinação proposital. Um babaca, um babaca.

    —Kyle! – disse, abrindo uma lata de comida para o cão na bancada da cozinha e colocando a refeição de seu amigo no chão.

    E de tanto tentar, Phill conseguiu. Amanhã ele e eu seremos entrevistados a respeito de um rearranjo de pessoal, porque a minha gerência tem se mostrado um pouco aquém das expectativas. Injusto ou não, eu também não ligo. Não mais. É difícil tentar manter tudo sobre controle, e, talvez, seja melhor as coisas acabarem de uma vez. Se eu for demitido por causa da insistência de Phill para fazer meu trabalho parecer e se tornar ruim, ok, eu encontro outra coisa pra fazer. Se eu for rebaixado de cargo, não vou reclamar e tampouco me vingar. O que me incomoda é que Phill era tão amigo meu antes da empresa. Nossa entrevista lá foi junta, começamos juntos na área administrativa, até que conseguimos juntos a trabalhar na publicidade... Isso sem contar nosso tempo de faculdade... Juntos. Mas, incomodado ou não, meus problemas eram meus e eu escolho a atenção que dou pra eles, e esses eu quero esconder, com certeza.

    Eu ia me mudar mesmo. Não tem mais como me manter nesse apartamento, o dinheiro está curto, e tem lugares muito bons por muito menos – ou era uma mentira que eu me contava pra acreditar estar fazendo a coisa certa. De qualquer forma, não tinha muita escolha. Quem sabe com uma casa nova, num bairro mais distante – muito distante, quase perto dos muros, na verdade – eu poderia encontrar até um emprego novo, em eu não tivesse que lidar com tanta pressão, uma vez demitido na reunião de amanhã. Qualquer coisa serviria, contanto que tirasse minha mente desse cenário de guerra.

    Em dois dias eu saio dessa casa, está tudo quase empacotado... Só falta uma caixa, na qual eu não queria mexer muito, queria esquecê-la. Era sobre Sara. Agora fica mais claro todo meu incomodo. Não bastasse toda a situação, toda ruína financeira e profissional que me espreitava, acabei de terminar com a minha namorada de tantos anos... Foi há dois dias, na verdade, e foi ela quem terminou. A caixa eram coisas minhas que eu dei pra ela, e coisas dela que eu tinha, fotos e outras lembranças. Só faltava uma pra pôr lá dentro. Tirei do meu bolso da calça uma última foto, do dia em que nos conhecemos. Eu a estava abraçando enquanto sorríamos pra câmera, e nem sabia que eu a amaria tanto. Saímos com amigos juntos naquela noite. Era ela, um amigo, Phill, meu irmão... E eu, todos na foto, que enfiei na caixa, de forma mal dobrada, afundando-a entre todas as coisas lá. Fechei e a coloquei em cima de caixas maiores no canto da sala. Outras coisas desagradáveis sobraram para eu me preocupar, mas com elas não queria nem conversa, essas eu queria fingir que não aconteceram...

    Feito isso, apenas peguei uma cerveja na geladeira, me sentei no sofá, liguei a TV e fiquei com Kyle do meu lado até que eu caísse no sono.

    E acordei com o despertador e TV ironicamente passando uma cena de uma sala de reunião e um chefe passivo-agressivo prestes a fazer seus funcionários terem um ataque de pânico. Logo, eu me vesti e fui para a cozinha preparar o café. Acho que eu cantarolava alguma coisa quando ouvi da TV um âncora anunciando a constante diminuição da taxa de crimes na cidade.

    Em mais alguns minutos, eu desci e peguei meu carro, que num impulso se ergueu e, com sua propulsão, voou rente ao chão. Nas ruas, o tráfego era controlado por várias ruas paralelas: as de cima iam, as de baixo, voltavam. Ruas erguidas acima do chão, sustentadas por pilares largos ornamentados com plantas aos seus pés. Isso fazia com que o solo fosse quase que completamente uma praça, florestado, suavizado, longe do calor das máquinas, que, emanado, subia ao céu marrom avermelhado que nos cobria há anos. Fiz uma curva e entrei num túnel e, em alguns minutos, cheguei à garagem da empresa. Estacionei, desci e fui até o elevador, que abriu assim que eu me identifiquei com o meu cartão. Entrei nele, sendo invadido pela luz branca em oposição àquela esverdeada que pontuava a garagem subterrânea ampla.

    Os andares, então, passaram correndo por mim, até chegar a um dos mais elevados, onde, de um corredor, entrei na sala onde trabalhava, lado a lado com vários outros publicitários. Com sorrisos, fui bem recebido, e, numa boa atmosfera, a manhã transcorreu muito bem. Mas era uma atmosfera frágil, arrebentável. Nela não havia sustentação suficiente para mim, não mais... Certamente sorrisos falsos, apenas esperando a reunião acontecer em alguns minutos.

    E aconteceu. Não queria pensar em nada conforme entrava com Phill, sem cumprimentá-lo. Sentamo-nos, apenas nós dois frente a frente com o chefe. A mesa longa parecia mais longa, e as janelas grandes pareciam maiores... Ele começou a falar, e eu não conseguia entender direito. Na verdade, ele falava de como a minha gerência tinha começado promissora, e os avanços que eu pude trazer à empresa...

    —Mas, Matthew, não me leve a mal. Nos últimos meses você tem se mostrado mais cansado. Eu entendo, a pressão do cargo não é fácil, e você era tão mais produtivo onde você estava antes. A questão é, assim como você melhorou e foi promovido, Phill está certamente muito apto a esse rearranjo. O que eu proponho é: deixá-lo assumir a gerência e ver do que ele é capaz. Enquanto isso, você volta às suas antigas atividades. Phill, de você eu espero resultados, e que você não se convença, porque assim como eu estou mudando as coisas agora, posso mudá-las de novo. Eu acho, assim como

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