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Conversando Sobre As Drogas
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E-book433 páginas5 horas

Conversando Sobre As Drogas

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Sobre este e-book

Este livro trata amplamente do tema drogas e do seu papel dentro de nossa sociedade. Indicado para jovens e adultos, pessoas que usam drogas, dependentes, pessoas em tratamento, profissionais que atuam na área (médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, psicanalistas, advogados, juristas, policiais, etc.), pais, professores, enfim, mesmo o leitor que queira meramente se informar por curiosidade, tenderá a lucrar com a leitura deste livro. Porque as pessoas usam drogas? Qual a estrutura de personalidade do dependente? Qual o melhor tratamento? Qual o significado do alcoolismo? São algumas importantes questões debatidas e analisadas neste trabalho. O leitor terá diante de si informações atuais, não preconceituosas, sobre: o uso do álcool, da maconha, do haxixe, dos inalantes, da cocaína e do crack, do ópio, da morfina, da heroína, do LSD-25, das plantas de poder (alucinógenas), das anfetaminas, do ecstasy, dos barbitúricos, dos tranqüilizantes e, é claro, sobre os medicamentos vendidos nas farmácias e drogarias, os quais também são passíveis de uso abusivo. Trata-se de texto bem documentado, fundamentado, com desenvolvimento histórico, seriedade e em linguagem clara e acessível, bem como didática e direta. Recomendado a qualquer pessoa que estude, ou que, simplesmente, se interesse pelo tema. O uso abusivo das drogas é um dos maiores desafios que a nossa sociedade enfrenta e que terá de solucionar a partir do paradoxo de que o consumo abusivo de drogas se acha financiado e mantido pelo próprio sistema econômico e social. São questões que afligem e põem a nu situações de profundo conflito e sofrimento humano. Este livro apresenta, também, um enfoque jornalístico corajoso, onde o tráfico de drogas, suas rotas, produção e consumo são exaustivamente analisados e onde o leitor poderá se surpreender, a cada página, com a cotidianidade do uso e tráfico de drogas em nossas cidades.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de mar. de 2013
Conversando Sobre As Drogas

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    Conversando Sobre As Drogas - Silvério Da Costa Oliveira

    Silvério da Costa Oliveira

    CONVERSANDO

    SOBRE AS

    DROGAS

    Segunda edição

    Revista e atualizada

    Rio de Janeiro

    2013

    CATALOGAÇÃO NA FONTE

    Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

    O 48 c Oliveira, Silvério da Costa.

    Conversando sobre drogas / Silvério da Costa Oliveira. 2. ed. – Rio de Janeiro : [s.n.], 2013.

    316 p.

    Bibliografia.

    ISBN 978-85-907540-6-0

    Disponível on-line: .

    1. Drogas. 2. Drogas - Abuso. I. Título.

    CDD 362.293

    CDU 613.8

    International Standard Book Number – ISBN

    ISBN 978-85-907540-6-0

    Direitos autorais

    OLIVEIRA, Silvério da Costa. Conversando sobre as drogas. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: [s.n.], 2013. 316 p.

    Disponível em: . Acesso em:

    Segunda edição: 2013

    Formato: 14,8 x 21,0 cm

    Total de páginas: 280 (corpo) + 36 (iniciais) = 316

    Total de 10 capítulos

    Impressões: 1997; 2007/2013.

    2007/2013 é uma só.

    Copyright © by Silvério da Costa Oliveira.

    Todos os direitos reservados.

    Este livro é protegido por Registro nos Direitos Autorais em nome no autor. É permitida a leitura, cópia e citações, desde que citada a autoria, título e fonte.

    Conversando sobre as drogas © janeiro/1997

    Livros de Silvério da Costa Oliveira

    (Nas versões impressa ou eletrônica pelo site www.doutorsilverio.com que encaminhará para a página de compra da editora)

    1- Catálogo bibliográfico sobre sexo

    2- Catálogo bibliográfico sobre drogas

    3- Catálogo bibliográfico sobre o sucesso

    4- Catálogo bibliográfico sobre criatividade

    1- Sexo, sexualidade e sociedade

    2- Conversando sobre as drogas

    3- Reflexões filosóficas: Uma pequena introdução à filosofia

    4- Estudos de psicologia e filosofia

    5- Pensamentos ardentes

    6- Kant e Piaget: Inter-relação entre duas teorias do conhecimento

    7- Vencer é ser feliz: A estrada do sucesso e da felicidade

    8- Falando sobre sexo

    9- Falando sobre drogas

    10- Primavera da prosperidade

    11- Criatividade, inovação e controle nas organizações de trabalho

    12- Sexualidade em foco: Correspondência com os leitores 1

    13- A cama compartilhada (Swing): Correspondência com os leitores 2

    14- Prisioneiro do próprio corpo (Transexualismo): Correspondência com os leitores 3

    15- Psicologia e outros temas: Correspondência com os leitores 4

    16- Prazer e dor nas drogas: Correspondência com os leitores 5

    17- Em busca do saber: Correspondência com os leitores 6

    18- A arte de viver escrevendo

    19- Reflexões de um lobo solitário

    20- O poder de convencer e motivar

    21- Profetas do sucesso

    22- Uma boa idéia!: Uma grande viagem!

    23- O grande segredo: A história não contada do Brasil

    HP e E-mail

    Convido o leitor a visitar minha home page na Internet, ler meus textos ali disponíveis e encaminhar um e-mail com críticas, sugestões e opiniões. Entre em contato, apresente suas idéias e contribuições. Eu, como autor, fico feliz com cada nova carta ou e-mail que recebo de meus leitores.

    Em minha página na Internet, disponibilizei fotos, artigos, entrevistas, currículo,vídeos e fotos de todos os meus livros e modo de adquiri-los. Também encontrará disponível Catálogos Bibliográficos e outros materiais de pesquisa.

    Estou aguardando sua correspondência, não esqueça de entrar em contato. Espero que você goste da leitura de meus livros, todo o trabalho foi feito pensando em você, na sua leitura e prazer. Desde já lhe desejo muito sucesso, prazer, alegria e felicidade em sua vida.

    O leitor pode comprar todos os meus livros na versão impressa, via Correios, ou eletrônica, via e-mail, por meio de meu site, que o re-direcionará para a página de compra da editora, com links para todos os meus livros.

    http://www.doutorsilverio.com

    E-mail adress: doutorsilveriooliveira@gmail.com

    Sumário

    * Dedicatória . IX

    * Prefácio da primeira edição . XI

    * Introdução . XV

    * Nota Explicativa Sobre as Personagens . XXXIII

    * Trilha sonora . XXXV

    * Capítulo 1

    Os Fármacos, o Café e o Tabaco . 1

    * Capítulo 2

    O Álcool e o Alcoolismo . 45

    * Capítulo 3

    Os Inalantes . 95

    * Capítulo 4

    A Maconha (Cannabis Sativa L.) e o Haxixe . 109

    * Capítulo 5

    A Cocaína (Erythroxylon Coca L.) e o Crack . 131

    * Capítulo 6

    O Ópio (Papaver Somniferum L.) e os Opiáceos . 155

    * Capítulo 7

    Os Ácidos . 173

    * Capítulo 8

    Subindo e Descendo . 189

    * Capítulo 9

    A Legislação e o Aparelho Repressor . 209

    * Capítulo 10

    O Comportamento Social . 229

    * Conclusão . 253

    * Bibliografia . 267

    Dedicatória

    Que o mundo e as pessoas que nele habitam têm os seus problemas e que existe uma grande carga de hipocrisia e sofrimento é parte de nossa realidade, mas aceitar passivamente as injustiças e calar diante da opressão só poderão permitir a destruição da parte boa que ainda nos resta. Acredito no potencial humano e sei que o problema não está nas sombras com as quais temos de conviver e, sim, na luz que temos de gerar.

    Dedico este trabalho aos dependentes em recuperação, aos profissionais de saúde, religiosos e a todos que direta ou indiretamente trabalham na recuperação de dependentes, bem como, também, dedico àquelas pessoas que descobriram o lado sombrio de suas personalidades (Sombra, em Jung) e lutam por alcançar crescimento e equilíbrio, a partir da compreensão de sua totalidade e não com a utilização de agentes químicos externos.

    Prefácio

    Prefácio do livro: Conversando Sobre As Drogas

    Autor do livro: Silvério da Costa Oliveira.

    (Primeira edição publicada em 26 de junho de 1997)

    Prefaciador: Dr. José Elias Murad

    Solicita-me o Dr. Silvério da Costa Oliveira para prefaciar o seu livro sobre drogas, intitulado Conversando Sobre as Drogas. Faço isso com o maior prazer, pois essa é uma área à qual venho me dedicando há mais de 30 anos, talvez um pouco menos do que a idade do Dr. Silvério. O livro se apresenta na forma de diálogo, onde o próprio Dr. Silvério atende jovens adolescentes que o procuram para entrevistas onde buscam esclarecer as suas indagações e suas dúvidas sobre tema tão crucial e importante. É muito interessante esta maneira de abordar o assunto, uma vez que, em pesquisa recente realizada no Brasil entre os próprios jovens, houve a pergunta sobre quais temas que mais os preocupam, e a maioria deles respondeu: desemprego, violência e drogas. Aliás, na verdade, os assuntos estão intimamente interligados, pois a ociosidade e a violência quase sempre vêm associadas ao uso dos chamados tóxicos.

    O Dr. Silvério da Costa Oliveira, que é psicólogo, bacharel em Psicologia e Filosofia, aborda bem o assunto, começando com as drogas chamadas legais, como o tabaco e o álcool, passando pelos inalantes (solventes voláteis) e chegando, com profundidade, ao estudo das drogas ilegais, como a maconha, a cocaína, as drogas opióides (heroína etc.), LSD e outras.

    Muitas das dúvidas que a maioria dos jovens tem sobre as drogas e o tema são esclarecidas no diálogo que as adolescentes Débora, Cristiane e Paula travam com o Dr. Silvério, que conduz muito bem o assunto em seu livro, de modo a não deixar sem esclarecer qualquer pergunta.

    Com uma vasta e bem escolhida bibliografia incluindo vários de nossos trabalhos citados, o Dr. Silvério dá embasamento às interrogações dos jovens e, sem dúvida, também, de muitos daqueles que lerão o seu livro.

    Parabéns Dr. Silvério. O seu livro será, sem dúvida, um marco na literatura brasileira nessa área.

    Brasília, junho de 1997

    José Elias Murad

    Deputado Federal – PSDB/MG

    Médico, farmacêutico e químico

    José Elias Murad foi deputado federal constituinte, eleito para o quadriênio 1986-1990 pelo PTB de Minas Gerais, e, também, no primeiro ano de mandato, presidente da Subcomissão de Saúde, Seguridade e Meio Ambiente. Foi reeleito em 1990 e 1994 pelo PSDB.

    É médico, farmacêutico, químico, jornalista. Foi professor cate-drático de farmacodinâmica da Faculdade de Farmácia da UFRJ e seu diretor de 1975 a 1978. Hoje, é professor emérito da referida faculdade. É titular de Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e foi seu diretor de 1973 a 1987. É diretor do Centro de Orientação sobre Drogas José Elias Murad, onde sua equipe atende, em caráter filantrópico e ambulatorial, usuários de drogas e orienta seus familiares. Já publicou mais de 80 trabalhos científicos e pronunciou mais de 1000 palestras sobre drogas no Brasil e no exterior. Foi presidente do COESEN – Conselho Estadual de Entorpecentes de Minas Gerais – criado pelo então governador Tancredo de Almeida Neves, em 1983, e por ele no-meado. Tem curso de especialização sobre Psicotrópicos feito em Paris, e Bioquímica Cerebral, em Dallas, Texas, EUA.

    Por solicitação dos editores do livro Who’s Who in the World (Quem é Quem no Mundo), teve sua biografia publicada na edição do livro, a partir de 1984/85.

    Atualmente, é presidente do GRUPPAD – Grupo Parlamentar para a Prevenção do Abuso de Drogas – , que funciona na Câmara Federal, em Brasília, sendo formado por mais de 100 parlamentares, senadores e deputados. Em 1991, foi eleito presidente da CPI do Narcotráfico, da Câmara Federal.

    É o atual presidente da ABRAÇO – Associação Brasileira Comunitária e de Pais para a Prevenção do Abuso de Drogas –, cuja sede nacional fica na Av. Portugal, 3291, Pampulha, Belo Horizonte. Tel./Fax: (031) 441-9932.

    Introdução

    "Something’s happened, and you don’t Know what it is, isn’t it, Mr. Jones? "*

    Bob Dylan, 1966

    *(Alguma coisa aconteceu, e você não sabe o que é, não é isto, Sr. Jones?)

    De acordo com o GRANDE DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO - PROSÓDICO DA LÍNGUA PORTUGUESA, vols. II e IX, de Francisco da Silveira Bueno, temos que:

    "Droga s.f. Nome de todas as substâncias usadas em farmácia. Coisa que não presta. Hol. drog, seco.

    Derivr.: drogaria, droguista

    Droga s.f. Nome geral dos ingredientes que entram na composição de remédios, bebidas, licores, ungüentos, perfumes, etc.

    Na gíria: qualquer coisa que não presta, que não corresponde ao que se esperava: uma droga de espetáculo; dar em droga – não dar resultado satisfatório. Holand. drog, seco, isto é, especiaria já seca, para ser conservada. Fr. drogue; ital. droga; alem. Drooge; ingl. drug. A etimologia de Wartburg, de Battisti e Alessie apresentada pela primeira vez por Kluyver não tem possibilidades nem fonéticas nem semânticas. Nenhum dos arabistas mais competentes citou esta palavra."

    Pela palavra DROGA podemos entender: qualquer elemento de origem mineral, animal ou vegetal que entre na composição de medicamentos ou tinturas; nome genérico dado às substâncias que entram

    como ingredientes em farmácia ou química; coisa de pouco ou nenhum valor.

    "Recentemente, um jovem perguntou a seu pai, um famoso toxicólogo inglês:

    — Papai, o que é uma droga?

    — Uma droga, meu filho, é uma substância, que injetada em um cachorro, produz uma pesquisa." OLMO, Rosa del. A FACE OCULTA DA DROGA, Pág. 21.

    De acordo com Kalina (baseado no Diccionario Critico e Etimológico Castellano e Hispánico, de Joan Coraminas e J. A.

    Pascual, Madri, 1981), em sua origem etimológica, a palavra DROGA significa mentira, embuste.

    O termo DROGA, na sua origem grega PHARMAKON, ou inglesa DRUG, é aplicável tanto para descrever um medicamento como também um veneno. Já o termo TÓXICO, originariamente em grego

    TÓXON, designava a ponta envenenada do dardo ou flecha.

    A OMS conceitua o termo DROGA como: qualquer substância que, uma vez introduzida no organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas funções. Outro termo relacionado ao estudo desta problemática é PSICOTRÓPICO, que etimologicamente se apresenta como de origem grega e se refere a substâncias que ocasionam alterações na percepção, na emotividade e no comportamento; do grego: psico = mente e tropismo = atração. Psicotrópico = atração especial sobre a mente.

    Já o termo FÁRMACO é aplicável para designar o princípio ativo de um medicamento; sua origem etimológica provém do grego, significando medicamento e veneno.

    Também é comum o emprego do termo SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE, para se referir a toda e qualquer substância química capaz de gerar no usuário dependência física ou/e psíquica.

    Para se referir à condição do usuário no contexto do abuso da droga, alguns autores empregam o termo TOXICOMANIA, significando a presença de um estado de intoxicação periódica e crônica, prejudicial ao usuário e à sociedade, ocasionado pelo uso repetitivo de qualquer droga, seja esta lícita ou ilícita, natural ou sintética. No seu significado técnico aqui mais apropriado, o termo MANIA se refere unicamente à excitação motora, mas vários autores apresentam interpretações diferentes para o termo MANIA, como, por exemplo: crise de abstinência psicológica e/ou física, transformação do eixo da vida em um único sentido, repetição. Para evitar esta dubiedade de sentido encontrada no termo TOXICOMANIA, a OMS propõe a substituição deste pelo termo FARMACODEPENDÊNCIA, definido como: estado físico e/ou psíquico causado pela ação recíproca entre um organismo vivo e um fármaco usado de forma contínua ou periódica, a fim de experimentar seus efeitos psíquicos ou para evitar o mal-estar causado por sua privação.

    Também é comum o emprego do termo DROGADICÇÃO (às vezes aportuguesado como: droga adição) significando dependência da droga.

    Drogadicção é uma palavra que encontra sua origem quando a subdividimos em droga, de origem grega, e adicção, de origem no latim ADDICTUM e que era empregado pelos antigos romanos para designar a condição daquele que perdera sua liberdade e direitos de ci-dadania por se entregar como escravo a seus credores, visando saldar suas dívidas.

    "A forma adicto origina-se no particípio passado do verbo addico que significa adjudicar ou designar. Este particípio é addictum e quer dizer o adjudicado ou designado – o oferecido ou oferendado.

    Nos tempos da República romana, o particípio passado addictum, empregado como adjetivo, designava o homem que, para pagar uma dívida, se convertia em escravo por não dispor de outros recursos para cumprir o compromisso contraído.

    Addictum era aquele que se assumia como marginal; alguém que, fatal ou voluntariamente, fora jogado numa condição inferior à que tivera até então. Em síntese: tratava-se de uma pessoa que não soube ou não pode preservar aquilo que lhe conferia identidade. O adicto aparece, assim, como despojado: é aquele que perdeu sua identidade, e, simultaneamente, adotou uma identidade imprópria como única maneira possível de saldar sua dívida. Através da renúncia à sua identidade verdadeira mas insustentável, o adicto restabelece o equilíbrio social perdido em virtude da sua inadimplência. Adicto era aquele que eludia a dissolução total de sua existência apelando para a aceitação em público de sua falta de direito a uma identidade pessoal. Para ser alguma coisa, devia aceitar que não era ninguém. Não deve surpreender, em conseqüência, que Cícero chamasse o escravo de instrumentum vocale: a ferramenta que fala." KALINA, Eduardo. DROGADICÇÃO: O INDIVÍDUO, A FAMÍLIA E SOCIEDADE, pág. 24.

    Várias tentativas foram feitas visando classificar os usuários em relação as drogas, destas a mais aceita hoje é a fornecida pelo DSM-III - Manual de Diagnóstico e Estatística dos Distúrbios Mentais da American Psychiatric Association, mas cabe mencionar também a classificação de Jellinek para o uso abusivo de álcool (que também pode ser transposta para o uso abusivo de outras drogas); a classificação de Louria (1-Experimentadores por rebeldia e curiosidade; 2- consumidores por motivos recreativos; 3- consumidores regulares, devido a turbulência emocional da adolescência, busca de identidade própria, definição de papéis sexuais e sociais; 4- consumidores regulares, em virtude da incapacidade em enfrentar o ambiente hostil em que vivem; 5- consumidores com graves problemas de personalidade; 6- consumidores para os quais as drogas são seu principal problema); a classificação de Nowlis (1- usuários que fazem experiências passageiras; 2- usuários ocasionais; 3- usuários regulares; 4- usuários compulsivos). As classificações de Jellinek, Louria e Nowlis são muito semelhantes entre si, havendo clara correspondência entre os tipos de relação usuário-droga assinalados.

    Já que por vezes nos referimos ao uso abusivo de drogas como um comportamento doentio, penso ser interessante apresentar, em contraposição, uma definição adequada para SAÚDE. Neste contexto, citamos a OMS – Organização Mundial de Saúde, quando afirma que: a saúde é um completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Nesta ampla definição de saúde, a mesma não é vista isoladamente ou presa unicamente ao combate às doenças e, sim, englobando várias esferas das relações humanas, no contexto familiar e social, econômico e ambiental.

    Kalina, se baseando em Julio Aray, chama o dependente de O ELEITO; também o poderíamos chamar de O BODE EXPIATÓRIOO BOBO DA CORTE, ou, se quisermos seguir a par com Olievenstein, de O IDIOTA DA FAMÍLIA, tomando este conceito emprestado da obra de Jean-Paul Sartre, referindo-se ao escritor Flaubert.

    Durante o trabalho de pesquisa, tive algumas surpresas agradáveis e gratificantes. Um destes momentos foi, por exemplo, a tese brasileira, apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1883, por Caetano Antônio de Azevedo, que define o alcoolismo como uma moléstia de evolução lenta e progressiva, antecipando em dois anos a conceituação oficial do alcoolismo enquanto doença/moléstia (Benjamim Rush, 1885, e Thomas Troter, 1888).

    A preocupação com o uso de drogas desde longa data está presente em solo nacional, vide como exemplo as várias teses de medicina defendidas no século XIX e início do XX sobre o tabagismo e o alcoolismo. Em 27/12/1915, durante o Segundo Congresso Científico Pan-Americano, em Washington D.C., EUA (Em 1914 era promulgado o Harrison Act, que fiscalizava o uso de drogas de origem vegetal no território dos EUA), o brasileiro Dr. Rodrigues Dória apresentava um trabalho sobre a maconha ("Os fumadores de maconha: efeitos e males do vício) que marcaria por várias décadas a literatura nacional sobre o tema. Citemos também outro brasileiro, Francisco de Assis Iglésias (Sobre o vício da Diamba", 1918).

    Didaticamente, no transcorrer deste livro, optei por falar de uma droga de cada vez, com seus respectivos efeitos sobre o organismo humano, no entanto, devo salientar a importância do fenômeno da Polidroga ou Poliusuário, pelo qual o sujeito faz uso não de uma, mas, sim, de várias drogas em conjunto, equilibrando os efeitos de uma com os efeitos de outra. Devo também citar a Dependência Cruzada, quando o usuário de uma droga cria alterações em seu organismo de modo a permitir que este reaja significativamente também com outras drogas, podendo delas também se tornar dependente.

    Devemos ficar atentos que, em vários momentos no transcorrer desta obra, quando falei dos efeitos desta ou daquela outra droga, fiz uso de expressões, tais como: pode ocasionar; pois se bem que, embasado em sólida pesquisa, muitos estudos consultados foram feitos com base no efeito de dada droga em cobaias (ratos, cães, gatos, macacos, etc.) ou na observação e no acompanhamento da vida pregressa de indivíduos usuários de drogas. Por uma questão ética, estudos diretamente com humanos, no tocante à aplicação e aos efeitos de dada droga específica, nem sempre são possíveis, se bem que devo salientar que todas as drogas que hoje são proibidas já o foram permitidas algum dia e comercializadas livremente com propaganda de seus efeitos terapêuticos; houve, portanto, em alguns casos, a oportunidade de acompanhar diretamente usuários, quando do uso específico de certas drogas.

    A maconha, a cocaína, o ópio, os opiáceos (morfina, heroína), os opióides, o LSD-25, os barbitúricos e as anfetaminas, etc., já foram comercializadas livremente, com propaganda alardeando seus inúmeros efeitos terapêuticos, até serem finalmente proibidas, cada uma a sua época, e terem seu uso restrito. Já o álcool e o tabaco, hoje comercializados e anunciados livremente em boa parte do mundo, já foram proibidos no passado, sendo ilegais e estando os infratores sujeitos a punições legais.

    Evitei propositalmente, no transcurso desta obra, o uso de discursos ou palavras de cunho moral, poisentendo que não compete a mim, enquanto profissional de saúde, este tipo de abordagem ao problema; aliás, é minha opinião profissional que tal abordagem moral é contraproducente, devendo ser evitada pelos especialistas da área.

    A toxicomania deve ser vista dentro da seguinte fórmula:

    A questão do uso abusivo de drogas também deve ser vista dentro da tríade: agente (substância química utilizada), hospedeiro (o usuário ou dependente) e o ambiente sociocultural.

    Há autores que argumentam contra a tríade agente, hospedeiro, ambiente, alegando que se trata de um modelo médico e não aplicável ao uso abusivo de drogas, e citam a experiência norte-americana da lei seca como prova da ineficácia da tríade, pois, segundo estes autores, foi pela lei retirado o agente álcool e continuou havendo consumo e abuso do mesmo. Ora, só me resta argumentar que tais autores são muito inocentes, pois a toxicomania e dependência caracterizam um comportamento doentio, donde o modelo clínico apresentado na tríade agente – hospedeiro – ambiente se encaixa perfeitamente e, em segundo, no caso da lei seca, apesar da lei, o agente continuou existindo, pois o submundo do crime organizado se encarregava de fornecer álcool, logo, ao invés de refutar, tal argumentação só vem a confirmar que sem a presença de um destes três elementos não seria possível o caso clínico do usuário abusivo de drogas, dependente. Um bom exemplo temos nos grupos de A.A. e N.A. que obtém sua sanidade e sobriedade excluindo o agente droga de suas vidas. Tal tríade implica numa responsabilidade, também, do indivíduo, seu organismo e personalidade, enquanto hospedeiro, pois é necessário que o hospedeiro apresente determinadas condições favoráveis ao desenvolvimento do agente, se não este não servirá como hospedeiro. Geralmente ocorre, mesmo nas epidemias, que alguns indivíduos se mostrem imunes ao agente, pois seu organismo não se mostra favorável ao desenvolvimento do agente. O terceiro ponto é o ambiente, é sabido que alguns ambientes são mais propícios para o desenvolvimento de certas doenças, enquanto outros ambientes não o são.

    Hoje não há como discutir o problema do uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas sem discutir conjuntamente os mecanismos psicológicos e sociais que interagem no usuário; o meio sociocultural que favorece e incentiva o abuso de drogas; a evolução histórica da humanidade, que fez com que o problema do uso abusivo de drogas não seja algo que simplesmente surgiu do nada para o século atual, na verdade, tal qual uma criança, houve primeiro o ato fecundante (o que já implica e demonstra a capacidade dos pais em gerarem um filho), depois a gestação, o nascimento, o desenvolvimento e crescimento, ora, no caso das drogas, devemos nos reportar aos primórdios de nossa civilização, quando o humano ainda andava em pequenos grupos coletores e caçadores, há cerca de 6000 a 8000 anos A.C. (ver cap. 2, álcool). Também está hoje presente ao problema das drogas a questão econômica, pois tanto nas drogas lícitas como nas ilícitas se multiplicam quantias realmente fantásticas na manutenção de verdadeiros impérios que chegam ao ponto de ditarem normas sociais e exercerem poder decisório sobre as ações dos governos, dentro de uma conjuntura internacional onde, por vezes, crime e corrupção se encontram.

    Quanto à legalização ou não das drogas hoje ilícitas, eu me posiciono favorável à descriminalização do uso de drogas, de forma que o usuário seja visto como alguém que requer informação e tratamento e não polícia e cadeia. Já com relação aos traficantes, sou plenamente favorável a um maior rigor na luta contra o tráfico internacional de drogas. Posiciono-me, também, no sentido de um maior esclarecimento a partir de informações de boa qualidade sobre não só as drogas ilícitas bem como as lícitas, as quais recomendo maior controle e uso mais restrito.

    O que leva uma pessoa a usar drogas? Os motivos que levam alguém ao uso abusivo de drogas são inumeráveis, mas podemos citar: o estresse; mudanças bruscas nos rumos da vida; abalos na esfera emocional; prescrições médicas inadequadas; auto-medicação; curiosidade; pressão social; modismo; crise de identidade; indefinição dos papéis sociais e sexuais; disponibilidade; etc.

    O adolescente é mais vulnerável às drogas, pois o mesmo se encontra em um limbo artificial criado pela nossa sociedade e cultura, na qual ele não é mais criança, mas, também, ainda não é adulto. O adolescente se vê às voltas com escolhas que irão marcá-lo para o resto da vida, daí a presença constante da ansiedade. A ansiedade decorrente da tomada de decisões diante de um futuro incerto e de situações novas é normal nos seres humanos; nesta fase, cabe ao adolescente optar pela sua preferência sexual, obter sua emancipação social e familiar e identificar sua vocação profissional. As drogas podem aparecer neste contexto como uma solução mágica e tentadora.

    É marcante no uso abusivo de drogas os fenômenos de: dependência física e/ou psíquica; tolerância; síndrome de abstinência; overdose fatal; suicídio; etc.

    E, já que estamos falando no uso abusivo das drogas, deixe-me lembrar que o dia 26 de junho é simbolicamente o Dia Internacional de Combate às Drogas, por sugestão da ONU – Organização das Nações Unidas.

    Uma vez presentes ao organismo, as drogas são gradualmente eliminadas pela excreção (urina, fezes e sudorese) e pelo metabolismo (processo pelo qual uma droga é transformada por enzimas em subprodutos chamados metabólitos).

    Espero que o leitor compreenda, no decorrer das linhas cujo somatório cria este livro, que, no caso específico do tratamento da drogadicção, vários métodos podem ser somados na busca de uma terapêutica eficaz, mas alguns são mais indicados para determinados casos. Na minha postura profissional, entendo que a Psicanálise não é o método mais indicado de tratamento nas disfunções sexuais e na drogadicção, sendo, no entanto, instrumento útil na aproximação do problema por um discurso explicativo de sua gênese. Alguns métodos terapêuticos, como, por exemplo, a Psicanálise, podem não somente se apresentar como ineficazes, como, também, contra-indicados, na medida em que seu emprego por um profissional não especialista no problema da drogadicção pode resultar em agravamento do quadro e prejuízo para o paciente.

    Neste campo, tem papel de destaque o educador e cabe aos profissionais da área de saúde prestar de forma clara e compreensível o máximo de informações disponíveis sobre o uso, abuso e efeitos das drogas. De posse de boa informação, as pessoas podem traçar rumos, estratégias e planos de ação. Cabe lembrar que exortações morais e religiosas, ameaças e atemorizações, tem se mostrado completamente ineficientes no campo da drogadicção. Os profissionais da área de saúde, devem evitar os achismos e as opiniões pré-concebidas e se dedicar com seriedade aos fatos expostos pelo comportamento social caracterizado pela drogadicção.

    O problema das drogas é mais amplo que geralmente imaginamos, pois não só as mesmas fazem parte do nosso dia-a-dia, como, de fato, vivemos na sociedade das drogas, as quais são constante e freqüentemente anunciadas em suas virtudes maravilhosas por todos os meios de comunicação. Desta forma, não bebemos água pura ou suco de frutas naturais e, sim, refrigerantes e sucos artificiais; para uma dor de cabeça há toda uma farmacopéia disponível nas farmácias/drogarias, em casa e anunciada na TV, rádios e jornais. Desde os produtos usados no banho diário, aos perfumes, desodorantes e outros produtos usados sob e no corpo para o seu embelezamento, até a comida que comemos e a bebida que bebemos, cada vez mais nos embrenhamos em inumeráveis drogas que são cegamente consumidas sem a menor reflexão. Ingerimos agrotóxicos em frutas e legumes e quando fazemos uso das inúmeras conservas disponíveis nos expomos a substâncias cancerígenas. A fu-maça e poeira tóxica impregnam amplamente os grandes centros urbanos, oriundas das fábricas e dos motores a combustão de nossos carros. Só um lento, persistente e gradativo processo contínuo de educação e conscientização pode propiciar que no futuro possamos alterar em parte esta trágica realidade que vivenciamos, e, dentro deste conceito, o drogadicto não passa da ponta do iceberg que pode ser visto por cima das águas deste mar frio e escuro. O pior e maior problema é aquele que geralmente é ignorado quando focamos nossa atenção exclusivamente naquilo que podemos ver sem maiores esforços.

    Podemos classificar o conjunto das drogas psicoativas em quatro grupos, deixando de fora os anti-histamínicos e esteróides, dentre outras. Os quatro grupos seriam: 1- Estimulantes 2- Depressores 3- Alucinógenos 4- Inalantes. Por sua vez, as drogas podem ser administradas ao organismo por seis vias, a saber: 1- via oral, 2- por contato (absorção direta pela pele ou pelo uso de supositórios), 3- inalação, 4- sublingual (absorção pelas membranas mucosas da boca), 5- aspiração (drogas fumadas), e 6- injeção (endovenosa, na corrente sangüínea; intramuscular, no músculo; subcutânea, sob a pele). Uma vez administradas, não im-portando a via, a droga chega à corrente sangüínea e dali é levada a todo o corpo.

    No estudo dos efeitos das drogas se faz constante referência ao Sistema Nervoso, uma vez que as drogas psicoativas tem a capacidade de agir sobre o mesmo, alterando o funcionamento normal do cérebro e do organismo como um todo. O Sistema Nervoso se divide em três partes: 1- O Sistema Nervoso Autônomo (controla as funções automaticamente: circulação sangüínea, digestão, respiração e reprodução), 2- O Sistema Nervoso Periférico/Vegetativo (transmite mensagens sensoriais entre o meio circundante e o SNC, permitindo que o organismo reaja a estímulos provindos do meio), 3- SNC – Sistema Nervoso Central (recebe e analisa as mensagens provenientes do Sistema Nervoso Autônomo e Periférico).

    Já quanto à tolerância, outro importante conceito no estudo da drogadicção, podemos dividi-la de acordo com o modo em que se apresenta, assim temos: 1- Tolerância Disposicional (álcool e barbitúricos – Há uma aceleração da destruição da droga, da rapidez com a qual a mesma é metabolizada pelo organismo), 2- Tolerância Farmacodinâmica (as células nervosas do organismo se apresentam menos sensíveis aos efeitos da droga, havendo produção de um antagonista ou antídoto por parte do organismo, como no caso do ópio e dos opiáceos), 3- Tolerância Comportamental (álcool – Há uma compensação dos efeitos da droga a partir de partes não afetadas do cérebro), 4- Tolerância Inversa (maconha, cocaína – Há uma gradativa mudança química no organismo que faz com que o usuário se torne mais sensível, podendo obter uma reação intensa com uma dose mínima), 5- Tolerância Reversa (álcool – Caracterizada por dois estágios: no primeiro, o indivíduo se torna menos sensível à droga, mas, com o tempo e os efeitos adversos e destrutivos da mesma, este perde a capacidade de metabolizar a droga, tornando a pessoa altamente sensível aos efeitos da mesma, mesmo em pequenas doses), 6- Tolerância Aguda (hipno-sedativos, tabaco – Há uma adaptação aparentemente instantânea aos efeitos da droga, mesmo em altas doses), 7- Tolerância Seletiva (visando a obter efeitos prazerosos e superar a tolerância, o usuário aumenta gradativamente a dose, desta forma, a tolerância aos efeitos colaterais também aumenta

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