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Reflexões Filosóficas
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E-book413 páginas5 horas

Reflexões Filosóficas

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Sobre este e-book

Este livro se apresenta como uma introdução à filosofia e psicologia destinada ao público universitário das referidas áreas ou de áreas afins, bem com, a qualquer um que tenha por característica o interesse informativo por filosofia, isto em virtude da linguagem empregada ser acessível e dos conteúdos se apresentarem numa forma crescente de informação, onde procura-se ir de um nível mais introdutório para um mais profundo. Dentre os temas desenvolvidos temos: o pensamento de Sartre e sua relação com a angústia, a ética em Aristóteles e Kant, o desenvolvimento paulatino do pensamento kantiano expresso na Crítica da Razão Pura, o desenvolvimento do pensamento filosófico de Tobias Barreto e sua relação com I. Kant, o filósofo Nietzsche, a psicanálise de Sigmund Freud (apresentada de forma bem introdutória), a lógica moderna, além de textos sobre: liberalismo e educação, a comunicação no Brasil de hoje, estudo teórico sobre o sucesso literário, a morte, o poder, etc.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2013
Reflexões Filosóficas

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    Reflexões Filosóficas - Silvério Da Costa Oliveira

    Silvério da Costa Oliveira

    REFLEXÕES

    FILOSÓFICAS

    Uma Pequena Introdução à Filosofia

    Rio de Janeiro

    2013

    CATALOGAÇÃO NA FONTE

    UERJ /Rede Sirius / Biblioteca CEH/A

    O 48

    Oliveira, Silvério da Costa.

    Reflexões filosóficas: Uma pequena introdução à filosofia / Silvério da Costa Oliveira. 5. ed. – Rio de Janeiro: [s.n.], 2013.

    291 p.

    Bibliografia.

    ISBN 978-85-907540-0-8

    Disponível on-line: .

    1. Filosofia. 2. Psicologia e Filosofia. I. Título.

    CDU 1

    International Standard Book Number – ISBN

    ISBN 978-85-907540-0-8

    Direitos autorais

    OLIVEIRA, Silvério da Costa. Reflexões filosóficas: uma pequena introdução à filosofia. 5. ed. rev. Rio de Janeiro: [s.n.], 2013. 291 p.

    Disponível em: . Acesso em:

    Quinta edição (rev.): 2013

    Formato: 14,8 x 21,0 cm

    Total de páginas: 277 (corpo) + 14 (iniciais) = 291

    Total de 15 capítulos

    Impressões: 1993; 1996; 1997; 2006; 2013.

    Copyright © by Silvério da Costa Oliveira.

    Todos os direitos reservados.

    Este livro é protegido por Registro nos Direitos Autorais em nome no autor. É permitida a leitura, cópia e citações, desde que citada a autoria, título e fonte.

    Reflexões filosóficas © dezembro/1993

    Sartre e a angústia © janeiro/1991

    Comentários sobre o pensamento ético de Aristóteles © janeiro/1991

    Ética e Kant © fevereiro/1991

    Esboço de ética em Kant © janeiro/1991

    Esboço de comentário a Kant, Immanuel (1781) © janeiro/1991

    Kantismo no Brasil: Tobias Barrreto © janeiro/1991

    Esboço: comentários a segunda dissertação de F. Nietzsche na G. da moral © janeiro/1991

    A Psicanálise Sigmund Freud © julho/1989

    Liberalismo e educação © janeiro/1991

    Estudo teórico sobre o sucesso literário © janeiro/1989

    Aspectos gerais da lógica © janeiro/1991

    Livros de Silvério da Costa Oliveira

    (Nas versões impressa ou eletrônica pelo site www.doutorsilverio.com que encaminhará para a página de compra da editora)

    1- Catálogo bibliográfico sobre sexo

    2- Catálogo bibliográfico sobre drogas

    3- Catálogo bibliográfico sobre o sucesso

    4- Catálogo bibliográfico sobre criatividade

    1- Sexo, sexualidade e sociedade

    2- Conversando sobre as drogas

    3- Reflexões filosóficas: Uma pequena introdução à filosofia

    4- Estudos de psicologia e filosofia

    5- Pensamentos ardentes

    6- Kant e Piaget: Inter-relação entre duas teorias do conhecimento

    7- Vencer é ser feliz: A estrada do sucesso e da felicidade

    8- Falando sobre sexo

    9- Falando sobre drogas

    10- Primavera da prosperidade

    11- Criatividade, inovação e controle nas organizações de trabalho

    12- Sexualidade em foco: Correspondência com os leitores 1

    13- A cama compartilhada (Swing): Correspondência com os leitores 2

    14- Prisioneiro do próprio corpo (Transexualismo): Correspondência com os leitores 3

    15- Psicologia e outros temas: Correspondência com os leitores 4

    16- Prazer e dor nas drogas: Correspondência com os leitores 5

    17- Em busca do saber: Correspondência com os leitores 6

    18- A arte de viver escrevendo

    19- Reflexões de um lobo solitário

    20- O poder de convencer e motivar

    21- Profetas do sucesso

    22- Uma boa idéia!: Uma grande viagem!

    23- O grande segredo: A história não contada do Brasil

    HP e E-mail

    Convido o leitor a visitar minha home page na Internet, ler meus textos ali disponíveis e encaminhar um e-mail com críticas, sugestões e opiniões. Entre em contato, apresente suas idéias e contribuições. Eu, como autor, fico feliz com cada nova carta ou e-mail que recebo de meus leitores.

    Em minha página na Internet, disponibilizei fotos, artigos, entrevistas, currículo,vídeos e fotos de todos os meus livros e modo de adquiri-los. Também encontrará disponível Catálogos Bibliográficos e outros materiais de pesquisa.

    Estou aguardando sua correspondência, não esqueça de entrar em contato. Espero que você goste da leitura de meus livros, todo o trabalho foi feito pensando em você, na sua leitura e prazer. Desde já lhe desejo muito sucesso, prazer, alegria e felicidade em sua vida.

    O leitor pode comprar todos os meus livros na versão impressa, via Correios, ou eletrônica, via e-mail, por meio de meu site, que o re-direcionará para a página de compra da editora, com links para todos os meus livros.

    http://www.doutorsilverio.com

    E-mail adress: doutorsilveriooliveira@gmail.com

    SUMÁRIO

    página

    Prefácio . IX

    Prefácio do autor . XIII

    Capítulo 1

    Sartre e a angústia . 1

    Capítulo 2

    Comentários sobre o pensamento ético de Aristóteles . 15

    Capítulo 3

    Ética e Kant . 31

    Capítulo 4

    Esboço de Comentário a Kant . 53

    Capítulo 5

    Kantismo no Brasil: Tobias Barreto . 63

    Capítulo 6

    Comentário a Nietzsche . 89

    Capítulo 7

    A Psicanálise: Sigmund Freud . 97

    Capítulo 8

    Sobre a morte . 125

    Capítulo 9

    Sobre o poder . 139

    Capítulo 10

    Liberalismo e educação . 143

    Capítulo 11

    A comunicação no Brasil de hoje . 151

    Capítulo 12

    Estudo teórico sobre o sucesso literário . 157

    Capítulo 13

    Aspectos gerais da Lógica . 171

    Capítulo 14

    A problemática epistemológica anterior a I. Kant . 189

    Capítulo 15

    Considerações filosóficas . 225

    Bibliografia . 273

    Prefácio

    Considero uma honra e um privilégio o convite para prefaciar o livro de um aluno que, entre outros atributos, gosta e escreve sobre filosofia. Aliás acredito que caiba aqui uma observação, sem que se veja nisto uma manifestação de retórica vazia de sentimentos – uma das mais intensas alegrias do magistério é a de um professor, principalmente aquele que, como eu, se acha em fase final de uma longa carreira, constatar a evolução e a conseqüente superação natural dos mestres pelos seus discípulos. E sem dúvida alguma o Professor Silvério da Costa Oliveira, atualmente em fase conclusiva do seu processo de doutoramento, demonstra através da produção de mais uma obra, como esta, que se encontra em plena trajetória de crescimento, elaboração de identidade e maturidade intelectual.

    Quanto à obra em si, um pequeno comentário inicial. E, talvez, nada melhor do que invocar as palavras de um grande filósofo, como Kant, que com muita prudência e discernimento há muito mencionou: Não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar... O que se pode depreender deste sábio alerta, cremos, é que se iludem aqueles que buscam, no exercício do trabalho filosófico, a posse concreta de um saber. Talvez o que efetivamente se consiga obter é um continuo aperfeiçoamento da capacidade de voltar-se para si mesmo, ou seja, a de se refletir sobre as idéias, a medida que delas se toma conhecimento... Este é, portanto, o verdadeiro aprendizado que a reflexão filosófica propicia. Por isso, a importância e a oportunidade deste livro, intitulado Reflexões Filosóficas. Ajudar e estimular nos iniciantes a prática da reflexão, por intermédio de um conjunto de textos estruturados didaticamente, é um dos seus desafios. Proporcionar aos leitores informações atualizadas sobre os mais diversos temas palpitantes, nem sempre comentados com a devida seriedade e profundidade pela mídia, um outro propósito.

    Aproveitando os novos tempos – o tempo digital – o Professor Silvério disponibiliza para um número incalculável de leitores, gratuitamente, a possibilidade de se familiarizarem com um conjunto significativo de idéias de alguns pensadores, de temas educacionais, políticos, psicológicos, sociológicos, de problemas sociais e, ainda, alguns tabus, mitos e dilemas atuais, tudo isto colocado de uma forma clara, objetiva e simples. Aliás esta parece ter sido uma preocupação da obra – torná-la accessível a um maior número de leitores, em particular aos não especialistas. Desta forma, preenche um dos maiores desafios de um educador, qual seja o de procurar comunicar com o máximo de clareza e precisão, no menor tempo possível, a um maior número de interessados, as suas idéias e experiências. Este é um dos méritos deste livro. Por esta razão felicito ao seu autor pela iniciativa ao mesmo tempo em que desejo, sinceramente, vida longa e de muito sucesso para este livro.

    Rio de Janeiro, 15 de outubro de 2006

    Professor Dr. Wilson Moura

    Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social

    Instituto de Psicologia / UERJ

    CURRICULUM VITAE RESUMIDO

    d e

    Wilson Moura

    ♦ Graduação em Psicologia, Especialização em Ergonomia, Mestrado em Psicologia Social e Doutorado em Psicologia Organizacional;

    ♦ Professor universitário há quarenta (40) anos com experiência em Cursos de Graduação, Especialização, Mestrado e Doutorado, com dedicação ao campo da psicossociologia dos fenômenos organizacionais;

    ♦ Professor de Psicologia Organizacional do Instituto de Psicologia da UERJ;

    ♦ Professor e pesquisador em Psicologia Social do Trabalho da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais;

    ♦ Professor visitante de L’ École des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris;

    ♦ Coordenador e supervisor de pesquisas institucionais direcionadas para a abordagem psicossociológica de problemas organizacionais, em especial o tema do poder e cultura organizacional (gestão participativa, liderança e trabalho em equipe);

    ♦ Consultor de diversos organismos internacionais Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (FLACSO), UNICEF e UNESCO sobre problemas sociais da América Latina e Caribe, destacando-se os relacionados a: gestão e planejamento participativo, violência institucional e controle na dinâmica familiar em condições de pobreza;

    ♦ Coordenação de projetos de consultoria em organizações, públicas e privadas, no campo do comportamento organizacional, notadamente os temas de chefia, liderança, trabalho em equipe, resistência à mudança, cultura organizacional.

    Prefácio do autor

    É intuito deste livro ser uma coletânea de alguns de meus escritos, em particular sobre Filosofia e Psicologia. Procurei apresentar os mesmos numa linguagem clara e objetiva, visando a facilitar a compreensão e gerar interesse sobre certos temas por demais complexos.

    Não é intuito deste livro apresentar teses novas e sim de motivar o interesse do leitor para os temas aqui analisados e discutidos.

    Gostaria de agradecer aos meus avós maternos (Silvério Rodrigues do Fundo e Elza da Costa Silvério) e aos meus pais (Eduardo de Oliveira Peixeiro e Elza da Costa Oliveira) por me permitirem ser hoje quem sou. Gostaria também de agradecer a Márcia Cristina Gomes de Pinho, pelo carinho, apoio, compreensão e ajuda na organização dos manuscritos e esboços iniciais, sem os quais este trabalho não seria possível.

    Silvério da Costa Oliveira.

    CAPÍTULO 1

    SARTRE E A ANGÚSTIA

    O tema angústia em Sartre não pode ser visto deslocado do contexto maior de sua obra, em especial o livro "O SER E O NADA", no qual apresenta uma visão filosófica do que entende de fato por angústia. É bem verdade, no entanto, que seus personagens encarnam temas existenciais e desta forma têm presentes a angústia como um denominador comum.

    Talvez possamos questionar até que ponto Sartre expressava por meio de seus personagens a sua própria angústia e não uma angústia universal inerente a espécie humana.

    O que vemos, no entanto, é que os personagens de Sartre são pessoas com profundos problemas existenciais e geralmente cobertos por um forte sentimento de angústia.

    Sartre se baseia em Kierkegaard e Heidegger nas suas formulações sobre a angústia, bem como em Husserl no tocante ao método fenomenológico de sua Filosofia.

    O Existencialismo é uma Filosofia do homem, e para o homem, a qual teve grande repercussão mundial, em parte, talvez, por seus temas irem de encontro a problemáticas existenciais que o humano do meio deste século, de frente para uma guerra monstruosa e de conseqüências alarmantes, se via tendo de enfrentar e compreender, de forma a reerguer um mundo destruído em todos os aspectos e sentidos. Sem dúvida, a guerra e suas conseqüências posteriores, foram elementos que ajudaram de certa forma ao Existencialismo de J. P. Sartre a se irradiar rapidamente por um mundo em crise. Crise existencial ?!?

    O fato de Sartre expressar suas idéias pelo teatro e a própria personalidade de Sartre, também foram, dentre outros, elementos para esta rápida propagação da doutrina existencialista.

    Voltando ao problema da angústia, pensamos que o mesmo não pode ser visto deslocado de outras temáticas sartrianas, como o Ser em si ou o Ser para si, o Ser e o nada, a presença de uma ausência, a consciência, a liberdade. Se bem que tais temas sejam de importância capital quando queremos compreender o que Sartre entende por angústia, não deixa de ser verdade, no entanto, que este trabalho poderia ser resumido em uma única frase para aqueles que já conhecem a doutrina sartriana, a saber: angústia como condição inerente e natural ao Ser humano ante a liberdade e responsabilidade que possui.

    Se bem que possamos reportar o Existencialismo até origens bem remotas na história da Filosofia, dentro da forma e acepção moderna do termo, ele tem início com M. Heidegger (se bem que este não se considere existencialista), ou antes com Kierkegaard, já que alguns argumentam ser o pensamento de Heidegger (1889-1976) uma nota ao pé de página no pensamento de Kierkegaard (1813-1855).

    No entanto, aquele que tornou tal doutrina conhecida mundialmente foi Sartre (1905-1980) e cabe a ele e as suas formulações teóricas a popularização do Existencialismo enquanto Filosofia e forma de vida.

    Sartre é um dos maiores representantes deste movimento e a corrente a que ele faz parte é denominada Existencialismo Ateu em contraposição ao Existencialismo Cristão, o qual teria como principal representante a Gabriel Marcel (1889-1973).

    Devemos lembrar também a contribuição de Karl Jaspers (1883-1969) à Filosofia da Existência.

    O Existencialismo enquanto corrente filosófica, tem como ponto central de reflexões a realidade humana enquanto Ser existente.

    Problemas ditos existenciais são tratados com ênfase e a problemática ontológica passa a ter sua maior preocupação, interesse e problemática no humano enquanto Ser existente e com características próprias que o diferenciam qualitativamente dos outros seres ao seu redor.

    O papel ontológico do humano, a sua possibilidade de liberdade, suas frustrações, emoções e angústia, sua consciência e sua relação e interação com o mundo circundante são alguns temas existencialistas.

    Antes de prosseguirmos em nossa exposição visando achar a origem e manutenção da angústia no Ser humano, de acordo com Jean Paul Sartre, achamos melhor definirmos o que de fato entendemos por angústia e no que esta se diferencia do medo e da ansiedade.

    Muitas pessoas não sabem a diferença terminológica entre estas três palavras e seus usos respectivos, objetivando, portanto, fazer claro tais noções, tentaremos rapidamente exemplificá-las.

    O medo é uma reação orgânica e biológica, que tem como função preparar o organismo do indivíduo para enfrentar dada situação, a qual poderá exigir o máximo deste indivíduo, desta forma há uma modificação orgânica e biológica que prepara o indivíduo para enfrentar um ataque ou para a fuga. Tal comportamento tem suas origens nos primórdios da espécie e foi um dos grandes responsáveis pela sobrevivência da mesma. Podemos definir o medo como uma resposta R dada em presença de um estímulo S. Tal resposta inclui alterações no organismo, como por exemplo a descarga de adrenalina, a qual visa a preparar o organismo para uma dada ação diante do perigo. Este estímulo S que motivou o medo tende a estar presente na sua concretude e dentro da informação armazenada e captada pelo indivíduo que identifica tal estímulo S como algo presente e perigoso. Exemplo 1: um indivíduo sozinho numa floresta se vê de repente surpreendido por um urso. Exemplo 2: ao passar por uma rua deserta um homem aparece repentinamente e com uma arma ameaça de morte caso haja reação.

    Já na ansiedade, o estímulo S não está presente em concretude, sendo a resposta R eliciada por um somatório de outros estímulos, os quais, em si, não causariam medo ou ansiedade. Exemplo 1: o indivíduo sozinho na floresta ao se lembrar da possibilidade de encontrar algum animal feroz, sente ansiedade ante tal possibilidade. Exemplo 2: o indivíduo que foi assaltado a mão armada em uma determinada rua escura, em outra ocasião, ao passar pela mesma rua e mesmo não vendo nenhum indício de perigo, sente ansiedade ante a possibilidade de ser novamente molestado.

    Como vemos, há no comportamento de medo a presença de um estímulo S nocivo/perigoso, o qual é identificável pelo indivíduo, enquanto na ansiedade este estímulo S é uma possibilidade oriunda de temores do indivíduo, não estando presente em sua concretude no momento da resposta R.

    Já a angústia é um sentimento não voltado diretamente para o mundo externo, como o medo ou a ansiedade, mas sim de caráter bem mais subjetivo, denota e conota uma instabilidade ou insegurança difícil de ser descrita e cujos estímulos S não são facilmente identificáveis.

    No caso do medo, se retirássemos o estímulo S não haveria mais a necessidade da resposta R e no caso da ansiedade, a mesma poderia ser eliminada se não colocássemos o indivíduo diante de uma condição externa que o levasse a possibilidade de ser molestado.

    Mas no caso da angústia, esta não se dá em virtude de fatores meramente externos e sim em relação ao humano diante de si mesmo, por meio de sua consciência reflexiva.

    Sartre, na esteira de outros pensadores, como por exemplo Kierkegaard, irá desenvolver o tema da angústia, procurando mostrar as suas origens e causas, o que passaremos agora paulatinamente a tentar expor, sendo que para atingirmos tal intento, será necessário explicar alguns outros fatores dentro da teoria de Sartre, como por exemplo, o Ser em si e o Ser para si.

    Ao se voltar para a temática ontológica, e tendo em vista o pensamento de Heidegger, Sartre diferencia o Ser em si do para si.

    Chama Sartre de Ser em si aos objetos ou mesmo animais, os quais são e não poderão por si próprios virem a Ser algo outro do que são.

    Uma jarra é uma jarra e continuará por toda a sua existência a Ser uma jarra e mesmo o seu uso é padronizado e estipulado pelos humanos que a utilizam, não cabendo à jarra liberdade ou escolha quanto ao que ela é, foi e será ou mesmo para que serve ou possa vir a servir.

    O Ser de uma jarra, como o de qualquer outro objeto, é um Ser aí, um Ser em si mesmo e no qual não cabem mudanças próprias ou alterações intencionais.

    O Ser em si é isto, no sentido de algo acabado e pronto. É o que é e nada que provenha dele, de seu interior, poderá alterar tal circunstância.

    Já o Ser para si é o humano, o qual dotado de uma consciência reflexiva é capaz de alterar o seu lugar no mundo e o próprio mundo ao seu redor.

    Enquanto no Ser em si já está tudo dito, no Ser para si está tudo por dizer, pois cabe a este decidir o que é e o que será. O humano por meio de sua consciência é sempre um Ser para si.

    O pensamento de Sartre sobre a consciência, bem como o método fenomenológico são dívidas deste para com Edmund Husserl (1859-1938).

    Husserl, seguindo a Brentano (1838-1917) vê a consciência sempre como consciência de algo. Aqui cabe um aparte, para mencionarmos que tal noção pode ser reportada em sua origem já a Aristóteles e que os escolásticos da Idade Média, dentro de uma terminologia própria, falavam da intencionalidade da consciência, noção que será resgatada por Brentano, que argumentará que a consciência é sempre voltada para um dado objeto, sendo, portanto, sempre consciência de algo.

    Seu aluno, E. Husserl, desenvolverá esta noção da consciência intencional, consciência sempre de algo, de algum objeto, como base da sua Fenomenologia.

    Sartre busca aqui a noção de consciência como consciência sempre de alguma coisa.

    Quando analisamos as noções de em si e para si e falamos da diferença qualitativa entre tais noções, pensamos na presença da consciência intencional no para si e na sua ausência no Ser em si. De fato, o que torna o Ser em si e o para si qualitativamente diferentes, é a ausência desta consciência no primeiro e a presença da mesma no segundo.

    Não fosse tal consciência, o humano se assemelharia aos objetos ou animais, pois os objetos não possuem tal consciência e, se bem que seja discutível se os animais possuem ou não uma consciência, mesmo se respondêssemos afirmativamente, teríamos de afirmar também que esta se daria num nível qualitativamente bem abaixo da do Ser humano, sendo esta diferença de cunho capital e que distinguiria, de fato, o Ser humano e suas potencialidades dos demais animais.

    O Ser e o Nada, título de uma das mais famosas obras de Sartre, são também dois conceitos fundamentais ao Existencialismo, em especial a doutrina de J. P. Sartre.

    Será, como veremos adiante, a existência da possibilidade do nada que permitirá a liberdade humana e esta por sua vez, que originará a angústia.

    O nada se contrapõe ao Ser como a negação da presença deste Ser.

    Como vimos antes, o Ser pode, dentro da argumentação ontológica de Sartre, ser tanto o Ser em si como o para si e que há uma diferença qualitativa entre estas duas existências.

    O Ser em si possui uma essência que se iguala a sua existência, sendo aquilo que é e nada mais, já não nos é possível afirmar o mesmo do Ser para si, o qual não é o que é na medida em que sua existência precede a sua essência, podendo este criar e modificar a si mesmo, não tendo uma essência fixa e imutável.

    O nada é aplicável ao Ser, seja este um Ser em si ou um Ser para si, ambos podem Ser nadificados, a diferença está em que o Ser em si não pode nadificar outro Ser, só pode Ser nadificado, enquanto o Ser para si teria como característica poder nadificar um Ser outro.

    Esta capacidade do Ser para si poder nadificar a outros seres é oriunda de sua consciência, a qual como já vimos, é consciência intencional para um objeto, consciência sempre de algo ou de alguma coisa e consciência esta não presente no Ser em si, sendo esta ausência ou presença, o elo demarcador entre o Ser em si e o para si.

    Ora, a consciência intencional de um objeto, a consciência de algo, presente no Ser para si, pode ser consciência de um outro Ser (em si ou para si) em um dado lugar e momento, o qual, não correspondendo a presença que esta consciência suscita, ou seja, estando o objeto da consciência ausente de onde esta imagina encontrá-lo, quando esta consciência se apercebe desta ausência ela a capta como a presença de uma ausência.

    Quando espero encontrar uma amiga em um dado lugar e para lá me dirijo, não a encontrando, não vejo meramente o dito lugar e as pessoas e objetos que lá estão e sim a ausência da amiga que desejava ali encontrar, no entanto, tal ausência é vista por mim como uma presença, pois ao me dirigir ao local em busca da amiga e não a encontrando ali, o que vejo é a presença de sua ausência e não meramente a sua ausência.

    Várias outras pessoas, uma infinidade de fato, ou mesmo uma infinidade de objetos poderiam ali estar ausentes, mas não percebo tais ausências, pois as mesmas não eram anteriormente esperadas por mim em minha consciência, o que percebo é a ausência de uma dada pessoa em particular, a qual estava anteriormente presente em minha consciência na expectativa e desejo que tinha de ali encontrá-la. Capto, portanto, uma presença, a presença de uma dada ausência. Pela consciência consigo nadificar esta pessoa, o nada é condição inerente ao para si, à sua consciência.

    A presença de uma ausência é diversa qualitativamente de uma mera ausência. Todos poderiam não estar no lugar e hora marcados e isto não faria diferença alguma, mas a ausência de uma dada pessoa esperada, por mim, minha consciência, expectativa e desejo, torna-se crucial e passa a ser vista pela consciência deste para si como a presença de uma ausência e neste momento dá-se um processo de nadificação, no qual uma consciência apresenta a presença do nada em dado lugar e hora específicos. Esta presença do nada, este processo de nadificação de um objeto ou pessoa ocorre por meio unicamente de um Ser para si.

    Esta capacidade, potencialidade, de nadificar, de apresentar a presença do nada, é a condição de liberdade de consciência e do Ser para si.

    É pela possibilidade do nada que a consciência do Ser para si cria os meios para a sua liberdade.

    O nada se apresenta como condição da liberdade.

    O humano, Ser para si, dotado de uma consciência intencional, de uma consciência reflexiva, detentor da possibilidade de nadificar, de impor ao mundo a presença do nada, é livre e justamente por sua inteira liberdade não possui uma essência, pois esta será criada e recriada a partir da existência livre do Ser humano.

    Como a liberdade é oriunda da consciência, o humano, mesmo preso e sob tortura é livre, pois cabe a ele e a mais ninguém tomar as suas próprias decisões e escolher seus caminhos.

    O humano não pode recusar sua condição de Ser livre, enquanto Ser para si.

    A liberdade implica em responsabilidades, pois sendo o humano livre, é ele responsável perante si mesmo por cada ato por ele executado ou não executado.

    É responsável pelo que faz e pelo que deixa de fazer, responsabilidade esta da qual a sua condição de liberdade não o deixa eximir-se.

    Como decorrência desta liberdade temos a angústia. Por ser o humano, como já vimos, inteiramente livre, sua liberdade lhe traz uma total responsabilidade por tudo o que faz ou deixa de fazer, desta forma se vê em tal condição na qual não pode culpar outras pessoas ou as circunstâncias por decisões tomadas e atos executados.

    Se faz isto e não aquilo, se trabalha neste emprego e não em outro, se vive nesta sociedade, se mora com estas e não com outras pessoas, se tem uma personalidade, modos ou hábitos X e não Y a decisão e responsabilidade pela mesma parte do indivíduo e da liberdade que o mesmo tem para fazer de sua existência aquilo que quiser.

    Só os mortos não podem alterar suas vidas, pois já viveram e findaram suas existências.

    Aqueles que findaram sua existência ainda em vida, não reconhecendo sua própria liberdade para Ser o que quiserem Ser, são mortos vivos, zumbis que andam pela terra, mas que a morte já abateu seu espírito, restando somente um corpo, o qual, enquanto corpo unicamente é um em si e não um para si.

    Um garçom, psicólogo, filósofo, professor, fotógrafo, ladrão, assassino, herói, patriota, engenheiro, escritor, prostituta, lixeiro é o que é em virtude de uma decisão interior oriunda de sua liberdade e que o faz se identificar ou não com dado papel ou personagens que quiser no grande palco do mundo e mesmo que contingências o obriguem a um dado papel social, nada o obriga a se identificar com o personagem.

    O humano pode fingir ou se iludir sobre a existência da liberdade, mas suas decisões são um processo reflexivo, consciente, no qual assume a sua liberdade de Ser isto e não aquilo outro, pois tal liberdade não está em seu corpo e sim na condição de seu Ser enquanto Ser para si, na sua consciência reflexiva, consciência intencional, consciência de algo, consciência capaz de nadificar, de apresentar a presença do nada no mundo.

    A conseqüência desta liberdade absoluta, a partir de uma reflexão consciente sobre a mesma, é a angústia.

    A angústia surge ante às decisões, tomadas de decisões, e à responsabilidade sobre as mesmas.

    A angústia está no próprio processo decisório e na liberdade que o pré-supõe e independe de valores como certo ou errado ou bem e mal, bem como independe da decisão tomada dar certo ou errado, atingindo ou não os seus objetivos.

    A angústia está presente independente do sucesso ou fracasso trazido pela decisão tomada, bem como também é independente dos valores em questão, por ser a avaliação dos resultados da decisão (sucesso, fracasso) ou os valores em jogo

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