As Crônicas De Ravok
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As Crônicas De Ravok - Sidney Ferreira
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
FERREIRA, Sidney.
As Crônicas de Ravok/ Autor: FERREIRA, Sidney.
Rio de Janeiro/RJ: Clube dos Autores. 2013
Romance - Brasil I. Título
Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, reprográficos, fotográficos, fonográfico, videográfico.
Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafo do Código Penal) com pena de prisão e multa busca e apreensão e indenizações diversas (artigos 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
Para Valéria, Aleks e Rick: as pessoas que fizeram a diferença.
Valéria, minha esposa, que critica meus textos com amor e lápis na mão.
Agradecimentos ao amigo Wilson Freitas, por suas ideias e conselhos.
ÍNDICE
AS CRONICAS DE RAVOK
O início
Segunda crônica: Árdega
Terceira crônica: O Mercador de Almas
Quarta crônica: Esperança
Quinta crônica: O Anjo Perdido
Sexta crônica: Descendência
Sétima crônica: A Queda
Oitava crônica: A Última história de Ravok
Ravok Apócrifo
OUTRAS SÉRIES
Os Cínicos
As Seguidoras de Eva
Frusto
Raça de Assassinos
Every Me, Every You
A Vila
Ninrode
POEMAS
Amor I
Amor II
LETRAS DE MÚSICA
Salve a igreja
A prisão
Árvore da vida
Jesus não foi banqueiro
O destino dos homens
CONTOS
Descoberta
A soberana das fadas
A Flor de Shelley
O Início
Góticos: Movimento cultural com raízes ideológicas de 200 anos atrás, influenciado pela arquitetura gótica, por histórias de crimes e horrores, sobretudo ingleses. Reverenciam Edgard Alan Poe, Charles Baudelaire e outros.
Caracteriza-se pelo niilismo e uma atitude platônica em relação à vida.
Niilismo = redução ao nada; descrença completa. Ideologia que prega que as sociedades humanas só vão se tornar justas se forem extintas.
Atitude platônica: o gótico despreza o materialismo e valoriza os sentimentos, principalmente a tristeza. Góticos são mórbidos (gostam de cemitérios, cadáveres e de passar as noites acordados).
Amam os mistérios (principalmente a morte), o que leva muitos a se tornarem ocultistas.
Muitos góticos são homossexuais, pois os grupos que gostam de heavy metal
não toleram homos.
Góticos desprezam emoções superficiais, se emocionando com histórias sombrias que envolvem criaturas das trevas atormentadas.
Por serem sensíveis e mais cultos muitos são artistas.
A década de 1980 foi o ápice do movimento gótico, surgido na Inglaterra filho do movimento punk. Na década de 90, surgiu o doom metal
estilo que usa: cantores de voz cavernosa, o peso do heavy metal
, muitas vezes mulheres com voz de soprano para contrastar com os vocais guturais dos homens, criando um inte-ressante efeito céu-inferno
.
No ano de 1987, com os shows do The Cure e do Echo and Bunnymen, marcou o início do movimento gótico brasileiro.
No século XXI, o Tristânia, o After Forever, etc. inspiraram uma nova geração de góticos. Hoje há uma mescla de rock com música eletrônica.
Góticos preferem roupas pretas, como se estivessem de luto pelo mundo.
No Rio de Janeiro, surgiram dois movimentos-filhos dos góticos: Os Vampiros e os Brasilogóticos (ou góticos latinos).
Vampiros ─ Copiam um movimento surgido em Nova Iorque nos anos 90. Eles afiam os dentes caninos no dentista, usam agulhas especiais para sugarem o sangue dos amantes e curtem sadomasoquismo. No Rio, o nome do seu líder é NATAS (SATAN escrito ao contrário).
Os Latinogóticos usam branco para se diferenciarem de outros góticos. A banda preferida deles é a Ártemis.
Banda Ártemis ─ Tem esse nome em homenagem à deusa grega das caçadas. Toca em estilo doom metal
, gotic metal
, etc.
Seus integrantes são:
1 ─ Selma Cristina Pereira
Tem 19 anos, cabelos castanhos e olhos verdes. Na banda é a vocalista, compositora e tecladista. Cursa o 1° período de filosofia na UFRJ. Dá aulas de teclado e de informática. Fuma. Gosta de promis-cuidade, mas sempre sexo seguro. É arrogante, egoísta, grosseira e debochada.
Mora com os pais em Copacabana. Dirige. É asmática e filha única. Vai aos cemitérios em busca de inspiração para suas músicas. Atualmente, sai com dois caras: Carlos e Jorge.
2 ─ Renato Santos, o Renato do Mal
Idade: 27 anos. Olhos azuis. Cabelos azuis e compridos.
Funções na Banda: Tecladista, arranjador, guitarrista.
Outras Funções: É DJ, professor de música (guitarra) e professor de inglês.
Escolaridade: Tem curso superior de música.
Hábitos: Maconha e cerveja.
Personalidade: Egoísta, arrogante, brigão, intrigante, mani-pulador, mentiroso.
Coleciona CD’s (tem mais de dois mil). Dirige carro e moto. Mora sozinho na Barra da Tijuca. Vai aos cemitérios para brigar com a gangue dos Vampiros e desrespeitar os mortos. Tem uma namorada, Amanda.
3 ─ Alexandre Marque (Drê
)
Idade: 22 anos. Olhos castanhos. Cabelos pretos curtos.
Funções na Banda: Baixista, arranjador.
Outras funções: funcionário público, desenha histórias em quadrinhos.
Escolaridade: ensino médio
Hábitos: Coleciona histórias em quadrinhos, pirateia filmes para sua videoteca, fuma, bebe, compra CD’s
É gordo, de dentes mal cuidados. Namorada Mirtes. Mora com a mãe e dois irmãos no Méier. Tem um carro velho e é bom mecânico. Tem dois irmãos, Alex e Rick.
4 ─ Moacir Correa
Idade: 21 anos. Olhos castanhos. Cabelos negros e curtos.
Funções na banda: letrista e baterista.
Outras funções: É skatista profissional, 58° do ranking
nacional e 73° do ranking
no surf. Vende skates e pranchas.
Escolaridade: Tem o ensino médio.
Hábitos: É um esportista. Adora qualquer esporte com bola.
É fã da extinta banda carioca Asterlot. Mora com a esposa no Flamengo. Está aprendendo a dirigir. Briga com Renato por causa da maconha, hábito que abandonou há anos.
Outros personagens:
Samara Germano ─ Gótica que está se iniciando na bruxaria moderna, a Wicca. Está escrevendo um livro, Fryga
.
Milene – Uma roqueira muito atraente, mas lésbica.
CAMILLA
O dia chegava à metade e, enquanto o sol se posicionava no centro do céu sem nuvens, a terra se aquecia. O burburinho das vozes e o ruído dos carros na Rua Conde de Bonfim abafavam o ar mais que o calor intenso.
Saindo do paraíso gelado do ar condicionado central de uma loja de grife famosa, Camilla foi recebida na rua com o bafo quente e barulhento da realidade da Praça Saens Peña. Havia se despedido de sua mãe no interior da loja e, pela primeira vez, tomara o metrô sozinha para chegar à estação Botafogo, onde seu pai a esperava.
Numa sexta-feira sem aulas, Camilla estava na expectativa de ir ao cinema com seu pai, com quem só passava fins de semana alternados, desde o divórcio. Sua mochila pesada fazia suas costas suarem e sua blusa branca colar-se nelas enquanto descia as escadas da estação do metrô.
Estava eufórica, alegre. Sua vida estava atribulada (do jeito que a vida de uma garota de doze anos de idade, com pais recém-separados pode ser), mas mesmo assim se sentia alegre e tinha certeza que, no resto de sua vida, ela se sentiria tão bem quanto se sentia naquele momento.
Ela estava certa.
Sua vida terminou poucos segundos depois, quando um projétil atingiu sua cabeça, matando-a instantaneamente.
A BANDA QUE COMEÇOU COM UMA TRANSA
Final do século XX.
Colégio Prodígio de Copacabana, no ensino médio.
─ Evanescence é uma merda!
Olhares surpresos se voltam para Selma. Sem se incomodar, ela continua :
─ Bandinha gótica de boutique não tem vez aqui!
A menina que tentava se enturmar no grupo de Selma sai furiosa, segurando as lágrimas para que não desçam dos seus olhos.
Renato, o maior malandro do colégio (por isso, carinhosamente apelidado de Do Mal
, pelos amigos) encara a desconhecida :
─ O que rolou aqui? A mina é maneira...
─ Maneira de cu é rola, amigo. Não me dou com Patrícia
que ouve Rádio Rock
.
Outro garoto provoca:
─ Não esquenta, Do Mal
. Ela não quer concorrência com a macharada
...
─ Eu não daria para você nem que...
Outro tenta ser o deixa disso
.
─ Ah, esqueçam. Cês leram sobre a garota que foi baleada no metrô?
─ Foi num tiroteio entre um policial e um ladrão que tentou fugir ...
Renato se afasta discretamente, esse tipo de assunto não o interessa. Selma aproveita para ir atrás dele e puxar conversa. Renato, formado há anos, visita amigos.
Eles saem naquela noite. Selma consegue o seu objetivo: ficando com o criador da banda Miasma ela consegue uma vaga como tecladista.
Logo, ela muda o nome da banda para Ártemis, bem de baixo do nariz de Renato. Ela lhe apresenta Amanda, que se torna namorada dele e passa a sair com dois manés
: Carlos e Jorge.
A GÓTICA E A COVARDIA DOS VAMPIROS
Samara Germano rabisca seu livro numa mesa de bar onde acontecem shows de rock de estilos variados.
Milene dispensa todas as cantadas dos homens e garotos, porque está de olho na garota de preto que escreve freneticamente o seguinte texto:
Você acredita que só há um Deus?
─ Sim, respondo sem desviar o olhar.
─ Eu também, retruca o demônio, mas não é o mesmo Deus para o qual você reza. Está na hora de você mudar.
Eu choro e me curvo.
─ Eu quero ouvir você dizer as palavras para que eu te poupe a alma. Você vai me servir de hoje até a eternidade?
Eu hesito. Meus soluços são motivos de riso para ele.
─ Vamos, não vai doer. Diga.
─ Foda-se!
Nesse instante, os prisioneiros param de gemer e nos olham, surpresos.
Meu blefe acabou. Me levanto e, a medida que falo, meu corpo começa a mudar.
─ Não sirvo a você, nem ao Deus do bem. Vocês, deuses e demônios, se dizem criadores do Universo, mas eu sei a verdade: nós, os homens, criamos vocês! Vocês são nossos arquétipos, nossas visões e devaneios! Me mate se puder!
Samara não sabe, mas tais idéias, no futuro, vão atrair Ravok até ela.
Milene se aproxima e começa a puxar conversa com Samara, que se recusa a sair com ela. Um rapaz sombrio passa por elas e manda que falem baixo.
Elas obedecem na hora. Afinal, todos conhecem Natas (Satan escrito o contrário), líder dos jovens que se autodenominam Os Vampiros.
Os únicos que estão no bar, que não tem medo dele, são a Elite, motoqueiros que exibem suas armas em coldres nas pernas e peito, sem receio da polícia.
Em determinada hora da noite, o telefone de Natas toca. Ao desligar o celular, ele e alguns conhecidos entram num carro e vão até Jacarepaguá, num terreno baldio.
Ao chegarem lá, outros vampiros lhe entregam um garoto com cerca de dezoito anos, amarrado e amordaçado. Seus cabelos estão tingidos de azul e suas roupas são diferentes.
Passam algum tempo ameaçando o rapaz ou tentando amedrontá-lo, mostrando facas, cabos de vassoura, armas.
Natas decide começar a diversão. Aproxima-se dele e diz:
─ Seus amigos clubbers
vão aprender a não se meterem conosco.
O rapaz é torturado, humilhado e espancado por eles.
* * *
Selma está ouvindo a banda 3nd Imortal
no MP3 quando alguém vem lhe trazer a notícia: seu amigo Da Silva foi espancado pelos Vampiros. A banda Ártemis já tem seis anos de existência, sendo que os Brasilogóticos e outros amigos de lá tem sofrido muito nas mãos desses playboys pervertidos, que sugam o sangue uns dos outros.
Ela chama o Jorge para ir com ela ao hospital, depois, oferece à família de Da Silva, seu testemunho contra Natas num processo judicial.
* * *
O assunto da semana: a réplica da Estátua da Liberdade no Shopping New York City Center, foi pixada com os dizeres: Yankees, go home (estadunidenses, vão para casa)
, O Brasil é nosso!
, Bushitler
, Bill Pinton
, Neonazismo é no Pentágono
.
Reações diversas no Rio de Janeiro:
Os punks e os skinheads aplaudem ( os carecas só não gostam do Neonazismo ser criticado), os góticos, como sempre apáticos, os comunistas aplaudem.
A TV diz que foram traficantes os responsáveis pelo vandalismo e faz com que donas de casa e as vovós voltem a ter medo da própria sombra.
Os playboys
da Barra ficam indignados: Os favelados invadem o nosso shopping, o nosso bairro, o nosso espaço ...
Os trabalhadores estão ocupados demais para pensar no assunto, trabalhando cento e quarenta e cinco dias no ano só para pagar imposto...
Engraçado que todos pixadores do Rio gritam: Fui eu!
* * *
Samara escreve:
"Estava o grande general Gerven a frente de sua deusa no palanque. Era o momento certo para matar a exploradora do povo.
A primeira flecha que disparamos erra o alvo e se aloja no pescoço do guarda à direita da rainha Fryga.
A segunda flecha é cortada em duas pela espada do general, numa prova de sua destreza.
Avistados, tentamos fugir.
Menos de um quilômetro depois, somos cercados. Meus companheiros são mortos. Eu, sendo mulher, não vou permitir que me estuprem, antes de me matarem. Luto com toda a minha habilidade. Chega uma hora em que o próprio general manda todos se afastarem, para que lute comigo pessoalmente.
Vejo, pelos seus olhos, que o impressionei com o manejo da espada. Para meu espanto, ele me oferece a minha vida em troca da rendição e uma vaga em seu exército.
─ A rainha Fryga é um demônio disfarçado! Não é humana! Não vou...
A próxima coisa que vejo é o chão. Ele não vai me