Em Leão Com Fome Dá Pra Confiar?

De Alfredo Salvador Vieira Coelho

Um pescador distraído. Uma criança sonhadora. Um curumim na chuva. Um menino e um mapa. Um garoto e um leão. Pequenas histórias para ajudar a pensar na força das perguntas, no desejo das respostas, na dúvida sobre as certezas fáceis.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 16 de jun. de 2017

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Alfredo Salvador Vieira Coelho

histórias e roteiros de Filosofia para Crianças

Itupeva, 2017

Prefácio:

o poder

e o fascínio

das histórias

Foi só o sol aparecer e Xerazade se calou, interrompendo a narrativa como fizera por mil e uma noites. Naquela manhã, o rei Xariar se levantou e foi até as janelas do palácio que se abriam para a praça. A multidão já o esperava, como toda manhã, para saber o destino da rainha. Xariar pediu silêncio e comunicou que havia desistido da vingança e da raiva que nutria desde que descobriu a traição de sua primeira esposa. A lei – pela qual inúmeras jovens foram obrigadas a se casar com o rei Xariar para serem mortas na manhã seguinte – ele a tinha revogado.

O clássico árabe As mil e uma noites é um livro que reúne contos de diversas origens, como Índia, Pérsia e outros reinos do mundo árabe. Xerazade, personagem do livro, é quem noite após noite conta uma história, interrompendo-a sempre no ponto mais emocionante; ela é o modelo acabado da contadora de histórias, atividade cuja origem se perde no tempo.

A palavra sempre exerceu um fascínio mágico sobre as pessoas. Ao redor de uma fogueira, compartilhando o alimento e o abrigo de uma caverna ou tenda, alguém toma a palavra e o silêncio se faz. Diante dos olhos da imaginação, o universo. Um deus cospe na terra, faz um boneco de barro e sopra, dando-lhe vida. Uma menina morre, é enterrada na oca e seu corpo se transforma em raiz e alimento. O marido sai pra guerra e, por infortúnios vários, demora anos para voltar; é dado como morto, mas a esposa o espera, tecendo e desmanchando dia após dia uma longa toalha para não ser obrigada a casar com um dos pretendentes que, na realidade, só queria mesmo tomar posse dos bens da família.

A Filosofia ocidental nasceu na cidade de Mileto, uma colônia grega na Ásia Menor, entre o final do século 7º e o início do século 6º antes de Cristo. Sua origem – enquanto tentativa de explicar de forma racional como surgiu o mundo e como as coisas na natureza estão relacionadas – está intimamente ligada aos mitos. A palavra mito, que também é grega, significa a narrativa sobre a origem de