Dignezidade 150 Fragmentos De Vida
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Dignezidade 150 Fragmentos De Vida - Carlos Dignez Aguilera
DIGNEZIDADE trata-se de uma coletânea composta por 150 poemas escolhidos dentre os publicados pelo autor, Carlos Dignez Aguilera, nos livros Missa Negra, Estação Segredo, Insólito Carma, Púrpuro Prazer, Áugure e Delicioso Desespero.
O critério foi a simples escolha dos textos mais visitados pelos leitores durante os anos em que estiveram expostos no site do poeta.
Para
Pedro Geraldo
O Pedrão que me ensinou a ser poesia.
e
Roseli Sousa
Senhora absoluta da solidez e da inteireza derramadas tão generosamente na frágil existência do homem e do poeta.
O poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos.
Arthur Rimbaud
Minha arte feita mulher
Bebo algo que
Me embace um pouco
Trago fundo
Um cigarro alquebrado
E mal aceso
Desnudo o corpo
Dos trajes ásperos
Da realidade
Deito com a poesia
Nos olhos, na boca
Na minha neurose
Em verdade
Sinto febre de amor
Pelas palavras
Que me habitam
Sinto que elas
Tocam e percorrem
O meu corpo
Deliro em tentar
Imaginar minha arte
Feita mulher
E consigo
E encontro uma deusa
De beleza reluzente
Fecho os olhos
E ela está ao meu lado
Seu corpo
Entrelaçado ao meu
Agita o meu universo interior
Penetro o seu corpo
Com a minha imaginação
E o delírio me faz
Tremer de prazer
Respiro o ar tímido
Que envolve o momento
A minha tara
A minha fantasia
Sou um senhor
E caço, capturo
E domino amores
Que esmago
No seio da minha poesia
Que faço tatuar
Em nuvens coloridas
Posso sentir
Minha deusa
Sussurrar desejo
Em versos que fazem
A sua boca, os seus olhos
E o seu corpo
E assim
Alcanço um momento
Transcendental de amor
Pássaros, flores e estrelas
Fazem amor
Com a minha história
E talvez
Gerem um poeta
Vida calada
Seca, a folha desenha um voo
Caprichoso, em curvas suaves
Órbita serena e sensual
Em torno do meu olhar inerte
O tempo ilude a percepção
E devora a minha história
Obstinado, resisto e me agarro
Aos ponteiros do relógio
Numa batalha silenciosa
Eternizando cada átimo
Cada porção de vida
Alimentada pela paixão
Atormentada pela razão
Abro o álbum de retratos
Da estranha trama
dos meus dias
Empunho com
coragem a poesia
E reconstruo os momentos
Sutilmente ocultos
pelo tempo
Sangro todas as lágrimas
Sorvo cada gota de prazer
Entre devaneios
e dores selvagens
Rasgando o meu pudor
— Em silêncio!
Obsceno
A adrenalina subverte
Invade e excita
Cada recanto do meu corpo
Extasiado com tua presença
Hormônios desesperados
Furor denunciado
Pela aflição das mãos trêmulas
Dos olhos ávidos e confusos
Da enchente de desejo
Se derramando, rompendo
As comportas da sanidade
Fantasias torturam limites
Teu sorriso largo e provocante
Explode sensualidade
Inflama o meu
coração entorpecido
Teu cheiro de fêmea
Profana as fronteiras
da virtude
Invade e alucina os sentidos
Teu corpo travesso
Desliza manso e malicioso
Insinuando puro delírio
Tua voz inebriante
Cântico doce e tirano
Invade o espírito inerte
Seduz e destrói a honra
Do guerreiro combalido
Obsceno, lambuzo de prazer
Teus sonhos e tua história
Teus seios e tuas crateras
Cavalgo pelas montanhas
Incendiadas do
teu dorso suado
Marco meu território
Nas profundezas
da tua carne
Finco as garras
No urro lascivo
do teu gozo desmedido
Abro ferimentos no solo
Impune do teu corpo em deleite
Planto uma deliciosa cicatriz
Derramo ternura e promessas
No teu olhar confuso
E morro
Aprisionado em nossa loucura
Prazer
Bebe poeta
O cigarro acabou
E a inspiração
Fumante inveterada
Precisa ser embriagada
Para não te abandonar
Bebe poeta
Tua musa já desperta
E aquela paixão
Flamejante, exagerada
Será largada
Nos braços da ausência
Paciência poeta
Aves migram no inverno
E o teu verão
Ardente e ensolarado
Estará terminado
Logo ao amanhecer
Bebe poeta
A saúde do anoitecer
Pequeno vampiro
Perseguindo palavras
Numa louca orgia
Sangrando poesia
Bebe poeta
O sabor de saber
Que bebes mesmo
É por puro prazer
Mais esta vez
Bebe poeta
Não é chegada a hora
Do verso feliz
Poesia reluz, reluzirá
Toda luz que
Arrancares das pedras
A vida é um show
Alguns lugares vendidos
Outros esquecidos
Reservados ao silêncio
Bebe poeta
Cortinas estão por cair
Desabando desastres
Na tua inteireza
Não há tempo para fugas
Bebe poeta
Já que a luta te inquieta
Ceder não é tua tônica
Não te incomodes
Medalhas não culpam
Embriaguez
Só mais esta vez
Bebe poeta
Estrela morena
Brilha estrela morena
Brilho avesso
A sóis travessos
Omissos
Na negritude das
Tempestades
Brilha
Estrela morena
Negras luas
Incrustadas
Nos teus olhos
Deglutindo deuses e poetas
Brilha
Teu brilho ébano
Feito louco escravo
Chicoteando senhores
Brilha
Estrela morena
Ilumina a rua
Por onde
Feito monges embriagados
Tropeçam corações
Em busca do teu
Querença
Quero me dar
Como se dá a flor
Aos olhos ávidos
De quem vê
Cor, beleza...
Quero vestir os versos
Com palavras brilhantes
Com luas melhores
Quero sentir o aroma
De todo um mar
Longe da vida
Junto do amor
Quero a noite
Num rio caudaloso
Em águas límpidas
Nadando para mim
Quero ver o céu
Cair pouco a pouco
Nos braços da luz
De tua esperança
Quero que as estrelas
Caminhem teus anseios
Para os meus
E tocar os teus cabelos
E beijar o teu corpo
Na nudez de um momento
Sem máscaras
Sem pudores
Sem medos
No espetáculo doce
Do gosto carnal
Do teu desejo
Determinação
Não quero viver
Das palavras
Quero as palavras
Vivendo de mim
Quero poder transbordar
As águas rasas e fúteis
Do meu mar interior
E mergulhar
Em profundidade
A minha poesia
E fazê-la bela
E fazê-la rica
E fazê-la banhada
Em versos francos
Em canção romântica
Em lágrimas coloridas
Em sorrisos brancos
Quero assim viver
A arte que brota
E me direciona
E crer nos meus passos
E crer nos meus versos
E ir deixando uma trilha
De se achar e se seguir
E