Heroico Suicídio
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Heroico Suicídio - Carlos Dignez Aguilera
"A ideia do suicídio
é uma grande
consolação: ajuda
a suportar
muitas noites más".
Friedrich Nietzsche
"Matarmo-nos é um
desafio a Deus".
Julien Green
Para
Emanoel Mariano
Carvalho
... pelo precioso apoio a tão humildes
verbos, na insólita caminhada
do escrevinhador.
Capítulo I
A vida em férreo desespero
A pick-up negra, imponente, de linhas clássicas, deixa lentamente a movimentada avenida e desliza com suavidade para dentro do estacionamento do Hospital Imperador. Pelas ruelas, demarcadas a tinta no chão do imenso pátio, a maioria das baias reservadas para os veículos estão ocupadas. Algumas pessoas caminham e conversam, enquanto uma ambulância avança em alta velocidade, sirene ligada, em direção ao prédio principal, em clara situação de emergência. Um segurança se desmancha em atenção dando informações para uma jovem de roupas muito justas. Um gari empunha uma vassoura enorme e empurra um carrinho de formas arredondadas, parecendo deslocado, dispensável naquele lugar quase que perfeitamente limpo. Um dia como outro qualquer.
Lentamente, a pick-up avança. Depois de alguma procura, surge o espaço ideal, não muito longe do bloco principal do hospital. O veículo se encaixa com facilidade; faz poucas manobras e para. O motor continua funcionando, suave, mas imponente.
Por alguns segundos o tempo parece congelar. Nenhum sinal de movimento. Enfim o vidro da porta do motorista desce com uma lentidão quase sofrida, demonstrando que alguns componentes da caminhonete já acusam o desgaste causado pelo tempo. Fazem-se mais alguns segundos de completa paralisia. O motorista, olhar perdido no espaço, mãos ainda postas sobre o volante, como se estivesse preso a ele, sente entrar o sopro quente do vento, contrastando com o ar gelado do interior da pick-up. Respira profundamente, relaxa, solta o volante, leva a mão direita às chaves e o motor finalmente cala o seu ronco potente. A porta se abre e, quase solenemente, o homem desce.
De pé diante do veículo, com o mesmo olhar perdido no nada, o homem parece meditar por um breve espaço de tempo. Então bate a porta, aciona o alarme e o vidro começa a subir, ainda com maior dificuldade do que apresentara na sofrida descida. Quando o vidro vai subindo, mais ou menos pelo meio do seu percurso desafiador, com algum desdém, ele atira as chaves da pick-up para dentro da sua cabine e fica observando o vão se fechar, como se fosse um poderoso portão aprisionando um grande mistério, encerrando um ciclo. No vidro, espelhado pelo insulfilm, o reflexo do seu rosto sereno, demonstrando algum alheamento, parece um carinho da sua velha companheira, o compreender do adeus. Para o homem o gesto simboliza um tipo libertação, como um velho vaqueiro numa cena clássica de faroeste, quando retira o arreio e devolve o seu garanhão para a liberdade das pradarias.
O homem começa a caminhar. O sol muito forte arde nos olhos, quase cega. Ele para e vira o corpo para a pick-up ao se lembrar de que os óculos escuros ficaram sobre o banco do carona. Tarde demais; as chaves já estão fora do seu alcance. Olha para o bloco principal do hospital e chega a ensaiar um sorriso seco ao pensar que já não importa, que dentro em pouco os óculos serão absolutamente desnecessários.
Retoma o caminhar. O castigo do sol nos olhos piora com os reflexos da lataria dos carros que, dada a excessiva luminosidade, parecem ficar todos da mesma cor; amarelo esbranquiçado.
A mulher de roupas agressivamente justas, senhora do encantamento do segurança, agora está parada na entrada da marquise do prédio, em pé, ao lado de uma pequena lixeira, brigando com a embalagem de um picolé que insiste em derreter muito depressa, escorrendo e lambuzando as suas mãos. Ao perceber que fora notada, se desmancha num sorriso sem graça, quase uma justificativa pela desajeitada cena.
Indiferente, o homem segue. Sente que ao dar o primeiro passo sob a proteção da marquise a sombra proporciona a sensação de um bálsamo aplicado sobre a pele, até então violentada pelo sol escaldante.
O piso claro, brilhante e muito liso o faz pensar no risco para os enfermos.
– Que bobagem – pensa ele – Afinal é um hospital.
Nota algumas marcas de pneus, provavelmente das ambulâncias, e gotas de sangue. Avalia que aquele local poderia estar mais limpo, afinal é um hospital.
A porta de vidro, automática, se abre com a sua aproximação, numa espécie de reverência, como se a sua presença fosse eminente. Entra pelo imenso saguão. Há muita gente com aparência triste e consternada, provavelmente familiares e amigos de pacientes internados, à espera de notícias ou de uma oportunidade para visitação. Por um instante, tenta adivinhar o drama expresso no semblante de cada um e se põe a imaginar um ato heroico que resolvesse as suas dores e colocasse sorrisos em suas faces. O barulho dos seus próprios passos o resgata do devaneio.
Ele chega à recepção, ao fundo do saguão. Detrás de um imenso balcão de mármore, mulheres bonitas e elegantes desfilam os seus sorrisos formais em meio a grande agitação. Uma delas, de corpo mais cheiinho, pele exageradamente branca e óculos de lentes grossas, parece não dar a mínima importância para formalidades, transpirando mau humor por todos os poros. Na parede, ao fundo, dezenas de placas com os nomes de especialidades médicas e de cada especialista que ali atua. Os olhos correm automaticamente em busca de uma placa em especial: Dr. Alberto Souza Albuquerque, Cardiologista. Imediatamente, uma sensação de conforto e segurança inunda o seu corpo e o seu espírito, como se a placa tivesse poderes mágicos.
Por alguns instantes, permanece ali, paralisado, com o olhar vago, como se estivesse numa espécie de onda zen.
– Boa tarde, senhor Rodrigo de Vivar – o nome imponente fora escolhido pelo pai, encantado com o personagem central do filme El Cid, que narra a história de um herói espanhol – Achei que tivesse terminado a sua pesquisa.
A voz da recepcionista, um pouco arrastada e dengosa, algo próprio das pessoas mais íntimas, porém demonstrando alguma surpresa pela presença do homem, soa como o estalar de dedos de um hipnotizador resgatando o seu partner de um transe.
– Olá, Mariana. O doutor Alberto está no hospital? – pergunta, de maneira impessoal.
– Ah, o doutor Alberto... Que porre! Achei que você estivesse aqui por minha causa – responde a recepcionista, um tanto insinuante.
O homem suspira e diz:
– Ah, Mariana, é sempre bom vê-la. Você sabe. Mas, hoje, estou aqui por minha causa.
– Por sua causa? – retruca ela – Mas, você já não acabou a tal da pesquisa?
Mariana se refere a uma pesquisa extensa realizada pelo homem, Rodrigo de Vivar, um jornalista que durante mais de nove meses ouviu médicos e acompanhou o tratamento de pacientes daquele hospital, especialmente os casos de transplantes.
– Nem sei ao certo se acabei – responde Rodrigo, demonstrado alguma desorientação e insistindo – O doutor Alberto está no hospital?
– Está – diz a moça, abaixando o olhar e correndo o dedo pela agenda do médico – Mas não o espera. Você marcou com ele?
– Não, não marquei – diz Rodrigo, quase balbuciando, como se respondesse para si. Com um ar alheio, começa a se afastar do balcão e conclui a resposta, apenas em pensamento – O destino marcou.
A recepcionista, sem entender muito bem aquela reação, fica observando o homem a se afastar, com o olhar meio perdido, como se adivinhasse que algo estranho está para acontecer. De repente, a campainha do telefone, tocando insistentemente, atrai a sua atenção.
– Hospital Imperador, boa tarde – diz Mariana, num tom áspero, de poucos amigos, como que reprovando a pessoa por ter escolhido exatamente aquele momento para ligar.
Rodrigo caminha lentamente da recepção até o toalete. O local está vazio, limpo e muito perfumado. Diante de um lavatório, abre a torneira, com as mãos em concha apara grande quantidade de água e lava suavemente o rosto, sentindo o líquido, deliciosamente fresco, escorrer pelo pescoço e molhar parte do peito da sua camisa.
Ainda com os olhos fechados, o homem respira profundamente, chegando a perceber um leve cheiro de cloro na água. Fica sentindo o frescor em sua face, parecendo garimpar algum prazer naquele ato tão comum.
A porta se abre, de repente, e entra um sujeito baixo, atarracado que, demonstrando grande aflição, desaparece num dos reservados do toalete, batendo a porta.
Rodrigo permanece parado, diante do lavatório, observando a cena pelo espelho. Apanha um chumaço de toalhas de papel, seca um pouco o rosto, o peito e as mãos, atira o papel na lixeira e deixa o local, sem, no entanto, deixar de ouvir os sons escatológicos do tal sujeito atarracado.
De volta ao saguão, caminha devagar, observando as pessoas na área de espera, nos sofás e poltronas distribuídos pelo recinto, formando pequenos ambientes, aqui e ali. Num canto, sozinha, a mulher de roupas exageradamente justas fala ao celular, gesticulando de forma intensa, como se tentasse explicar algo inexplicável. Ao lado, num sofá muito baixo e de aparência desconfortável, três homens conversam em tom grave, tristes, como que compartilhando algum tipo de dor. Um pouco à frente, um rapaz muito magro, de cabelos negros e bastante oleosos, exibe quase orgulhosamente um enorme gesso na perna esquerda, todo tomado por datas e rabiscos de diferentes cores. Ao lado, numa poltrona marrom e sóbria, estranha por destoar dos demais móveis do local, todos claros e modernos, uma adolescente se desdobra para conter um garotinho cheio de energia que insiste em fazer gracinhas para chamar a atenção. Um casal de idosos chora em silêncio, encostados um no ombro do outro. Uma gestante folheia uma revista de fofocas. Um sujeito mal encarado, apoiado em um par de muletas, insiste em ficar em pé diante de uma poltrona vazia, como se não se sentar pudesse ser alguma espécie de subversão.
Rodrigo caminha e se acomoda numa poltrona, um tanto isolada num dos extremos do saguão. Ao seu lado, sofás e outras poltronas vazias. Ao centro, uma mesa quadrada, baixíssima, cheia de revistas dispostas de forma desordenada, indicando que o ambiente já fora utilizado naquela tarde. Ergue os olhos e pode ver, no fundo do saguão, atrás do balcão de mármore, a figura atraente de Mariana, assoberbada, escrevendo num papel preso a uma prancheta em suas mãos, enquanto segura o telefone pressionando o aparelho com cabeça contra o ombro.
– A vida é muito estranha – balbucia o jornalista, perdido em pensamentos, imaginando que poderia ter sido feliz com aquela bela mulher. Nos últimos meses, desde que a conhecera, por conta da pesquisa no hospital, Mariana sempre o assediara, com classe,