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Roteiros De Investigação Científica
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E-book394 páginas4 horas

Roteiros De Investigação Científica

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Sobre este e-book

Esta obra apresenta informações para a elaboração de trabalhos científicos, desde a concepção de ciência e método, passando pela elaboração do projeto de pesquisa, pelos desenhos bibliográfico, quantitativo e qualitativo, até a redação, a apresentação e a publicação.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de mai. de 2018
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    Roteiros De Investigação Científica - Fábio Rauen

    CIÊNCIA E MÉTODO

    Este capítulo apresenta noções essenciais sobre ciência e método. Nas três primeiras seções, abordam-se os tipos de conhecimento, o conceito de ciência e as noções de fatos, leis e teorias. A quarta seção destaca três métodos de abordagem: o método indutivo, o método dedutivo e o método dialético, além de fornecer uma primeira aproximação sobre métodos de procedimento.

    Conhecimento

    definição

    Por conhecimento define-se o conjunto de competências e habilidades obtidas pela experiência ou pela educação e decorrentes de processos complexos de percepção, aprendizagem, comunicação, associação e raciocínio, que permite ao sujeito a compreensão teórica ou prática de seres, objetos, fatos ou fenômenos e a ação reflexiva com finalidade específica diante de demandas ou problemas da realidade.

    O ato de conhecer implica três elementos: o cognoscente ou sujeito do conhecimento, o cognoscível ou objeto do conhecimento e a relação necessária do cognoscente com o cognoscível. O cognoscente é o indivíduo que possui a capacidade intelectiva e racional de conhecer. O cognoscível é aquilo que pode ser conhecido e desafia a inteligência e a racionalidade do sujeito. A relação entre ambos é a condição que permite o conhecimento do objeto pelo sujeito.

    Observe-se um bebê que percebe sua imagem em um espelho pela primeira vez. Neste momento singular em que o espelho se tornou conhecido para o bebê, pelo menos em sua função básica de refletir sua imagem, houve uma transformação da realidade. Neste processo, o bebê, sujeito cognoscente, modificou sua realidade, estabelecendo uma relação cognitiva com o espelho, objeto cognoscível.

    tipos de conhecimento

    Weil, D’Ambrósio e Crema (1993, p. 17-19) argumentam que a dissociação sujeito/objeto rompeu com uma suposta fase predisciplinar, caracterizada por um equilíbrio entre as funções de sensação, sentimento, razão e intuição, tais como descritas por Jung (1991). Para eles, esta dissociação fez com que o conhecimento se fragmentasse em quatro ramos disciplinares: arte, religião, filosofia e ciência.

    A figura a seguir apresenta a matriz de fragmentação dos autores, tomando-se a liberdade de colocar no seu centro, em vez do conhecimento predisciplinar proposto por eles, o conhecimento popular ou de senso comum, uma vez que, neste tipo de conhecimento, o sujeito apreende o objeto de modo espontâneo e integrado. Veja-se:

    Figura 1 – Matriz da fragmentação de conhecimentos

    1

    Fonte: Adaptado de Weil, D’Ambrósio e Crema, 1993, p. 17

    Conforme a figura, a arte posiciona-se entre a sensação e o sentimento. Esta figuração quer indicar que prevalece na arte a atribuição de sentimentos (gosto ou prazer estético) a artefatos culturais que afetam os sentidos (a visão, como na pintura; a audição, como na música; a cinestesia, como na dança; entre outros). Isto não implica que se ignorem na produção artística aspectos intuitivos (a inspiração que move a obra de arte) ou aspectos racionais (por exemplo, o rigor de métrica e rima na poesia parnasiana).

    A religião posiciona-se entre a intuição e o sentimento. Neste tipo de conhecimento, prevalecem a inspiração e a intuição (os dogmas religiosos são supostamente inspirados pelo contato de alguns indivíduos com as divindades), e o conhecimento é validado pelo sentimento de fé. Também não se nega aqui o papel dos fundamentos racionais da existência divina (a teologia cristã é um conhecimento sistemático, por exemplo) nem a necessidade de manifestações sensíveis (imagens, templos, ritos, entre outras).

    A filosofia posiciona-se entre a intuição e a razão. A filosofia sustenta-se sobre argumentos racionais, cuja origem não é atribuída a divindades, mas à própria inteligência humana. Este tipo de conhecimento não é verificável (visto que não se pauta pela experiência sensorial), e o uso da razão minimiza a intervenção dos sentimentos.

    Por fim, a ciência posiciona-se entre a razão e a sensação. Prevalece no conhecimento científico a busca racional de explicações explícitas, objetivas e formadoras de uma teoria orgânica, além da comparação constante destas explicações com dados sensórios (retorno constante à experiência empírica). A intuição e o sentimento, sempre contingentes, são colocados em segundo plano ou negados.

    Reconhecidos os tipos de conhecimento, é fundamental fazer duas distinções: entre os conhecimentos científico, filosófico e popular; e entre os conhecimentos científico e tecnológico.

    do popular ao científico e ao tecnológico

    O conhecimento popular, acidental, comum, empírico, espontâneo, ordinário, tácito, vulgar ou de senso comum é aquele que provém da experiência de vida e não decorre de um estudo sistemático da realidade a partir de um método específico.

    No exemplo do espelho, a criança não está interessada se há leis físicas envolvidas no processo de reflexão de imagens, qual a natureza da luz, por exemplo. Ela pouco sabe como se produz um espelho ou por que ele reflete imagens. Por experiência direta, ela simplesmente conhece a sua função básica, refletir imagens, e se contenta com isto.

    Para Ander-Egg (1978, p. 13-14), o conhecimento popular se caracteriza pela superficialidade, pois a experiência do sujeito ou o relato da experiência de outrem é suficiente como critério de verdade; sensitividade, pois decorre de estados mentais do indivíduo; subjetividade, pois as explicações são frutos da experiência individual; assistematicidade, pois não há preocupação com uma teoria que organize o conhecimento; e acriticidade, pois não é sua preocupação o exercício da crítica intersubjetiva (crítica de outros pesquisadores).

    Conforme Laville e Dionne (1999, p. 17-22), as fontes do conhecimento popular são a intuição e a tradição. Por intuição define-se a percepção imediata que dispensa o uso da razão. Por tradição define-se o conjunto de saberes acumulados pela experiência coletiva de uma comunidade. Embora úteis para as necessidades do dia-a-dia, intuição e tradição fundamentam preconceitos e, como são conhecimento lacunares, constroem obstáculos para o saber científico.

    No ocidente, a origem da ciência se confunde com a origem da filosofia que, em essência, surge da desconfiança da validade das explicações mágicas e supersticiosas da tradição e da religião. Ainda que racional, a filosofia é uma forma especulativa de compreender a realidade fundamentada exclusivamente no exercício do pensamento, cujos resultados não estão comprometidos com a verificação. Somente no renascimento surge uma nova forma de pensar a realidade, a ciência. esta nova forma de conhecer, que se consolidaria apenas no século XVII, preocupava-se com a observação, experimentação e mensuração de fatos, para depois lidar com a sua interpretação.

    Por conhecimento científico define-se, segundo Köche (1984, p. 17), o conjunto de competências e habilidades que, fruto da investigação científica, surge não apenas da necessidade de encontrar soluções para os problemas de ordem prática da vida diária, característica esta do conhecimento ordinário, mas do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas através de provas empíricas. Para a ciência, não basta que espelhos reflitam imagens; é fundamental explicar por que isto ocorre.

    O desenvolvimento da ciência torna-se impressionante no século XIX, quando ganha o mundo pelos resultados tecnológicos. Por conhecimento tecnológico define-se o conjunto de competências e habilidades com as quais o ser humano visa ao domínio da natureza através da aplicação prática e da operacionalização do conhecimento científico. Assim, a pesquisa fundamental, voltada para o próprio conhecimento, passa a andar, lado a lado, com a pesquisa aplicada, voltada para a resolução de problemas concretos da humanidade.

    Em termos do desenvolvimento tecnológico, a história viveu duas fases distintas: uma fase arcaica e uma fase científica. A fase arcaica, de origem remota, caracteriza pela construção de objetos tecnológicos a partir do senso comum. O domínio do fogo, dos animais domesticáveis, a elaboração de ferramentas agrícolas, a produção de instrumentos bélicos, entre outros, são exemplos desta fase. Após o surgimento da ciência, tal como conhecemos, a fase arcaica foi substituída pela fase científica. Nesta fase, a tecnologia passou a receber da ciência as informações essenciais para o desenvolvimento de novas técnicas, e os avanços tecnológicos passaram a ser coadjuvantes para novas descobertas científicas. É justamente este processo de retroalimentação que explica o desenvolvimento exponencial de ambas e nossa dificuldade em separá-las.

    Ciência

    definição

    Por ciência define-se um conjunto organizado e racional de conhecimentos certos ou provavelmente certos de objetos formais ou materiais delimitados (dimensão epistemológica) criados ou obtidos metodicamente e passíveis de demonstração ou de verificação (dimensão metodológica).

    Para compreender esta definição de ciência, é preciso observar que há duas dimensões essenciais de estudo, a dimensão epistemológica e a dimensão metodológica, e dois tipos básicos de objetos científicos, os objetos formais e os objetos materiais.

    Por dimensão epistemológica ou compreensiva definem-se os aspectos contextuais e de conteúdo que permitem à ciência descrever e explicar o mundo. O objetivo da ciência é determinar as leis gerais que regem os eventos. O cientista acredita que, para cada fato ou fenômeno, há uma lei subjacente e é sua tarefa determiná-la. À ciência cabe desvendar uma espécie de ordem oculta que se manifesta pelas características comuns dos eventos.

    Por dimensão metodológica definem-se os aspectos de operacionalização, isto é, como a ciência deve chegar à dimensão epistemológica ou compreensiva.

    As ciências formais lidam com objetos ideais que se restringem à mente humana em nível conceitual, e não fisiológico. Trata-se dos objetos da lógica e da matemática, por exemplo.

    As ciências materiais ou ciências factuais lidam com seres, coisas, fatos ou fenômenos e podem ser divididas em naturais e sociais. As ciências materiais naturais lidam com eventos ligados à natureza e supostamente independentes do homem. As ciências materiais sociais lidam com eventos nos quais se apresenta o trabalho social humano. Destacam-se, no primeiro caso, a física, a química, a biologia, por exemplo; e, no segundo, o direito, a sociologia, a história, a educação, a economia, a linguística, por exemplo.

    Retomando-se a definição de ciência, o conhecimento científico pode ser certo ou provavelmente certo. Nas ciências formais, prevalece a construção de modelos certos, passíveis de validação ou de demonstração dedutiva. Nas ciências materiais ou factuais, prevalece a proposição de modelos de descrição e de explicação provavelmente certos, passíveis de verificação ou de comprovação indutiva ou dedutiva por outros pesquisadores (crítica intersubjetiva).

    O conhecimento científico organiza-se racionalmente em sistemas logicamente encadeados de representação de objetos homogeneamente caracterizados, as teorias, a tal ponto que a refutação de uma única hipótese pode invalidar integralmente o sistema. O conhecimento científico orienta-se por metodologias que prescrevem normas e técnicas e definem o planejamento da investigação. Nas ciências formais, o cientista parte de teses ou hipóteses universais que são sistematicamente analisadas. Nas ciências materiais ou factuais, o cientista decompõe os fenômenos, método de análise, para depois integrá-los em sistemas de representações conceituais de hipóteses e leis, através de conceitos, juízos e raciocínios, método de síntese.

    Fatos, leis e teorias

    Antes de falar em fatos, é preciso definir o que é realidade empírica. Realidade é um termo de que nos servimos para indicar tudo que existe. Neste aspecto, não se pode considerar realidade aquilo que surge da ilusão, da imaginação ou da idealização pura e simples. Empírico e empirismo são termos que traduzem todo o conhecimento que é adquirido pelos sentidos e/ou pela consciência. Assim, realidade empírica é tudo que existe e pode ser conhecido através da experiência.

    Quando os sentidos corpóreos externos são acionados, diz-se haver uma experiência externa. Quando a consciência é acionada, diz-se haver uma experiência interna. Nestes últimos casos, trata-se de processos interiores ou introspectivos.

    fatos e fenômenos

    Segundo Rudio (1992, p. 10), a realidade empírica se revela por meio de fatos. Para ele, fatos indicam qualquer coisa que existe na realidade. Um livro é um fato. Sua leitura é outro fato. As palavras ali escritas são fatos, mas não as ideias que elas contêm, pois elas não existem na realidade, embora a ação mental de compreendê-las seja um fato. O livro, as palavras contidas nele, seu leitor são fatos percebidos pela experiência externa; o processamento mental, onde palavras tornam-se ideias, é um fato perceptível pela experiência interna.

    A ciência não se preocupa em estabelecer como verdadeiros ou falsos os fatos que estão sendo estudados. Em si mesmo, um fato não é falso ou verdadeiro. Todavia, pode haver interpretações falsas de fatos. Por exemplo, dias e noites são fatos que foram interpretados falsamente no teocentrismo como o resultado do deslocamento do sol e dos astros numa abóboda celeste.

    Os fatos podem ser divididos em humanos, produzidos socialmente em determinado tempo, portanto, sócio-históricos, e naturais, ou seja, independentes da intervenção humana. Daí a divisão das ciências materiais ou factuais em sociais e naturais.

    A ciência não visa a somente descrever fenômenos isolados, mas a estabelecer princípios gerais capazes de explicar e prever fenômenos empíricos. Segundo Rudio (1992, p. 11), fenômeno é um fato tal como é percebido por alguém. Assim, um meteorito, ao cair no lado invisível da lua, é um fato, porque fatos ocorrem independentemente de haver alguém capaz de percebê-los, mas não é um fenômeno, porque a percepção do observador é o elemento essencial para fatos serem considerados como fenômenos.

    Além disso, um fato pode converter-se em diferentes fenômenos. Veja-se o caso de um acidente de trânsito. Um médico olha o acidente sob a óptica de sua especialidade, os feridos, os traumas, as necessidades de socorro. Um advogado de uma seguradora percebe os dados jurídicos. Eles constroem diferentes versões para o caso.

    leis e teorias

    Define-se por lei uma hipótese que, passando por muitas verificações intersubjetivas, explica e permite prever grande quantidade de fatos. Veja-se, por exemplo, a lei de gravidade. Ela não apenas explica todos os fenômenos de queda de objetos e/ou seres no passado, mas também todas as quedas futuras.

    A ciência, entretanto, não é um mero aglomerado de leis. Para isto, ela organiza teorias que as relacionam. Elaborar conceitos é um primeiro passo para isto. Conceitos são representações mentais de um conjunto de realidades, em função de suas características comuns essenciais (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 91).

    Teoria se refere a um modo de organização dos fatos, explicando-os, estabelecendo relações e dando oportunidade de serem utilizados para previsão e prognóstico da realidade. Ou, como dizem Lakatos e Marconi (1986, p. 86), a teoria diz respeito à relação entre fatos ou, em outros termos, à ordenação significativa destes fatos, consistindo em conceitos, classificações, correlações, generalizações, princípios, leis, regras, teoremas, axiomas, entre outros.

    Mesmo que encontremos, em várias áreas do conhecimento, teorias simultâneas, qualquer teoria é válida, desde que não surja outra que a contradiga ou a invalide. Segundo Laville e Dionne (1999, p. 93), o valor de uma teoria é explicativo, porque fornece explicações concordantes, obtidas dos fatos que foram estudados para sua construção, além de fornecer ao pesquisador elementos para o estudo e a análise de fatos similares.

    Adicione-se, aqui, a questão da especialização do conhecimento. Com a construção das teorias, houve a tendência de demarcarem-se limites disciplinares. Frente a esta realidade, desenvolvem-se pesquisas multidisciplinares, cuja característica é, sem negar o valor de cada especialidade, romper com suas divisões, para observar um problema complexo de forma mais abrangente e completa.

    teorias e fatos

    Antes de tudo, é fundamental compreender que teorias e fatos não se opõem. Teorias e fatos estão interligados de tal forma que não é possível concebê-los dissociados. Não há teoria que não se baseie em fatos, e a compilação de fatos ao acaso não produz ciência. Além disso, é fundamental não conceber teoria como especulação. A teoria é um conjunto de princípios que orienta a pesquisa e a explicação dos fatos. Os fatos são importantes, porque iniciam, reformulam, rejeitam, redefinem, esclarecem e clarificam a teoria.

    Por que se deve ter em mente uma teoria numa pesquisa? Porque a teoria oferece um sistema de conceitos. Ao organizar o conhecimento, ela delimita o tamanho do trabalho, fixando-o em limites seguros. Além disto, ela resume largas extensões de conhecimento, prevendo fatos ou fenômenos a serem levados em conta. Por fim, se não houvesse um caminho já trilhado, não se teria noção das lacunas do conhecimento, aquilo que precisa ser descoberto ou observado.

    Segundo Asti Vera (1989, p. 146), há dois meios de construção teórica: pela observação e por intermédio de axiomas. Partindo-se da observação, têm-se os procedimentos indutivos. Via axiomática, têm-se os procedimentos dedutivos. Todavia, as ciências sociais necessitam, muitas vezes, de abordagens alternativas, tais como as fornecidas pela dialética e pela fenomenologia, por exemplo.

    Método

    Segundo Lakatos e Marconi (1986, p. 41-42), a finalidade da atividade científica é a obtenção da verdade, através da comprovação de hipóteses, que, por sua vez, são pontes entre a observação da realidade e a teoria científica que explica a realidade. Para que isto ocorra adequadamente, é necessário um método de trabalho, ou seja, um conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.

    Neste livro, apresenta-se primeiramente o que as autoras (1986, p. 79) chamam de método de abordagem. Um método de abordagem consiste na forma como se encaminham os raciocínios da pesquisa, sem os quais não se poderia construir um trabalho científico.

    Há dois métodos de abordagem básicos: o método indutivo e o método dedutivo. No método indutivo, a abordagem dos fenômenos ocorre pela observação de dados particulares, com vistas a se chegar a uma conclusão universal. No método dedutivo, a abordagem da realidade ocorre a partir de postulados universais, leis, teorias, para a observação de fenômenos particulares. Além destes métodos, pode-se considerar a dialética como método de abordagem especialmente aplicável para as ciências humanas.

    Método indutivo

    Conforme Lakatos e Marconi (1986, p. 46), indução é um processo mental, por intermédio do qual, partindo de dados particulares suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas.

    Figura 2 – Princípio do raciocínio indutivo

    Fonte: Rauen, 2015, p. 93

    A essência de um raciocínio indutivo é chegar-se a uma lei, a partir da observação de vários fatos para os quais se descobre uma nota comum. A indução consiste de dois passos. Primeiro, verificam-se casos particulares: x1, x2, ..., xn são y. Em seguida, conclui-se uma afirmação geral baseada nestes casos: (Todos os) x são y. Veja-se:

    A barra de ferro1 dilata com o calor.

    A barra de ferro2 dilata com o calor.

    A barra de ferro3 dilata com o calor.

    [...]

    A barra de ferron dilata com o calor.

    (Todas) as barras de ferro dilatam com o calor.

    A classificação analógica é outra forma de raciocínio indutivo. Primeiramente, dividem-se os elementos em classes. Em seguida, determinam-se propriedades comuns a cada classe. Por fim, diante de um novo elemento, ele é classificado por analogia em determinada classe, se contiver uma das propriedades indicadoras.

    Por exemplo, a classe dos mamíferos se caracteriza pela presença de glândulas mamárias em fêmeas. Encontrando-se uma nova espécie e verificando-se que as fêmeas possuem glândulas mamárias, por analogia, esta nova espécie é classificada como mamífera.

    Silogismo indutivo

    Um silogismo indutivo é um argumento com três proposições, de tal modo que a primeira proposição dá conta de uma observação, a segunda proposição dá conta de uma relação e a terceira proposição dá conta de uma generalização. Veja-se o exemplo a seguir:

    Neônio, Argônio e Criptônio são elementos de difícil ligação química;

    Neônio, Argônio e Criptônio são elementos com configuração eletrônica estável;

    Elementos com configuração eletrônica estável são de difícil ligação química.

    No exemplo, observou-se que Neônio, Argônio e Criptônio são elementos de difícil ligação química. Em seguida, descobriu-se um aspecto que permite relacioná-los a uma classe comum: a estabilidade de sua configuração eletrônica. Isto permitiu generalizar que elementos estáveis eletronicamente são de difícil ligação química.

    Cada proposição deste argumento possui dois termos: um sujeito, representando algum assunto a ser comentado, e um predicado, representando o que se comenta deste sujeito ou assunto. Veja-se:

    Sujeito: Neônio Argônio e Criptônio

    Predicado: são elementos de difícil ligação química.

    Os dois primeiros argumentos da indução, que dão conta das etapas de observação e de relação, são chamados de premissas. O terceiro argumento, que dá conta da etapa de generalização e onde ocorre o salto indutivo, é chamado de conclusão.

    Além disso, há três variáveis num silogismo (x, y e z) a serem substituídas por dados da realidade. No exemplo, x foi substituído por: Neônio, Argônio e Criptônio; y foi substituído por: tem configuração eletrônica estável; e z foi substituído por: são de difícil ligação química.

    Reveja-se o exemplo, em seu aspecto formal:

    Premissa1 ou Observação: Veja-se x, y

    Premissa2 ou Relação: Ora, x, z

    Conclusão ou Generalização: Então, z, y

    O objetivo de uma indução é chegar-se a uma conclusão de conteúdo mais amplo do que as premissas que serviram de suporte. Todavia, o que há de meritório no salto indutivo, a generalização, é o seu ponto crítico. A indução passa do observado para o inobservado, dos indícios para uma realidade desconhecida. Assim, toda conclusão indutiva só pode ser considerada como provavelmente verdadeira, porque a asserção, em princípio, nunca poderá ser confirmada.

    A indução pode ser classificada em dois grupos: a indução estatística e a indução naturalística. A indução estatística consiste na observação de um corpus profundamente estudado e na generalização estatística deste estudo à população de casos semelhantes. A indução naturalística consiste no estudo aprofundado de um caso sem a intenção de generalização. Esta ocorre pelos leitores do trabalho que acreditam na pertinência dos casos analisados a outros casos similares.

    INDUÇÃO ESTATÍSTICA

    Por indução estatística define-se o método com o qual o pesquisador observa uma amostra probabilística de casos e, fundamentado nos recursos da estatística inferencial, induz os resultados obtidos para a população de casos. Veja-se o esquema:

    Figura 3 – Método indutivo estatístico

    Fonte: Rauen, 2015, p. 98

    Neste processo, deve-se cuidar da correta amostragem da população e da correta escolha do teste estatístico inferencial.

    No que tange à amostragem, a pesquisa deve evitar duas falácias: a da amostra insuficiente e a da amostra tendenciosa. Há falácia de amostragem insuficiente quando a indução decorre de dados insuficientes; há falácia de amostragem tendenciosa quando a indução decorre de uma amostra que não representa a população.

    No que tange ao teste, o pesquisador deve conhecer que tipos de teste são adequados para a generalização. Destaque-se que há diversos graus de probabilidade de uma relação evidência/conclusão ser verdadeira. Este grau de incerteza pode ser mensurado por cálculos específicos modelados pela Estatística.

    Numa pesquisa eleitoral, por exemplo, o levantamento de intenções de voto de todos os eleitores não é possível. A solução é recorrer a uma amostra: um subconjunto

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