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Catálogo De Vidas
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E-book357 páginas3 horas

Catálogo De Vidas

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Sobre este e-book

Sugada por desmedido e indecifrável imbróglio, que transformou radicalmente sua vida, Ana Elisa se descobriu completamente sem rumo na vida. Após perder tragicamente toda sua família; ainda despreparada para qualquer tipo de trabalho que pudesse custear a própria subsistência, passou a visualizar na carreira de modelo profissional o seu eldorado secretamente almejado; a panaceia que seria capaz de resolver de vez todos os seus problemas. Contudo, o desenfreado desejo de um dia brilhar nas passarelas não lhe permitiu perceber as armadilhas espalhadas em seu caminho e por ele se perdeu. Decepcionada com os recorrentes maus resultados colecionados, ousou considerar que a mesma quimera poderia ser realizada na pessoa de uma descendente sua e, sem ponderar a possibilidade de colher resultados tão desastrosos quanto os anteriores, não se absteve de eleger a ciência como sua possível aliada para conquistar um futurista e insensato objetivo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de ago. de 2021
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    Catálogo De Vidas - Adão Pedro Defanti

    CATÁLOGO DE VIDAS

    Ciência, ou Loucura?

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    __________________________________________________

    Defanti, Adão Pedro

    Catálogo de vidas [livro eletrônico] : Ciência, ou Loucura?!

    Adão Pedro Defanti. -- Limeira, SP : Ed. do Autor, 2020.

    PDF

    ISBN 978-65-00-12570-2

    20-49472                                                      CDD-B69.3

    _________________________________________________         

    1. Ficção brasileira I. Título.

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Ficção : Literatura brasileira B869.3

    Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

    Plausível razão haveria para um simples mortal se atrever à elaboração de um ser humano?

    Adão Pedro Defanti

    Nota:

    Esta é uma obra ficcional e sem nenhum compromisso com a realidade. Portanto, personagens, incidentes, locais e nomes aqui retratados são inteiramente fictícios. Assim sendo, qualquer semelhança com localização, nome, personagem, história de pessoas, produtos e/ou de entidades se constitui pura e simples coincidência.

    Sinopse

    Sugada por desmedido e indecifrável imbróglio, que transformou radicalmente sua vida, Ana Elisa se descobriu completamente sem rumo na vida.

    Após perder tragicamente toda sua família; ainda despreparada para qualquer tipo de trabalho que pudesse custear a própria subsistência, passou a visualizar na carreira de modelo profissional o seu eldorado secretamente almejado; a panaceia que seria capaz de resolver de vez todos os seus problemas.

    Contudo, o desenfreado desejo de um dia brilhar nas passarelas não lhe permitiu perceber as armadilhas espalhadas em seu caminho e por ele se perdeu.

    Decepcionada com os recorrentes maus resultados colecionados, ousou considerar que a mesma quimera poderia ser realizada na pessoa de uma descendente sua e, sem ponderar a possibilidade de colher resultados tão desastrosos quanto os anteriores, não se absteve de eleger a ciência como sua possível aliada para conquistar um futurista e insensato objetivo.

    Sumário

    Capítulos Páginas

    1 – Cárcere Privado

    2 – Origem Familiar

    3 – Vida Social

    4 – A Preferida

    5 – Incidente

    6 – Sucesso Meteórico

    7 – Randevu

    8 – Estranha Doença

    9 – Deformação Física

    10 – Atendimento Hospitalar

    11 – Visita Inusitada

    12 – Junta Médica

    13 – Reaproximação

    14 – Estupro

    15 – Paternidade Duvidosa

    16 – Eunuco

    17 – Alta Hospitalar

    18 – Conteúdo Confidencial

    19 – Revelações

    20 – Prisioneira no Oriente

    21 – Vídeos Antigos

    22 – Falsa Retirante

    23 – Comparsa

    24 – Denunciado

    25 – Mixoscopia

    26 – Bastardo

    27 – Espancamento

    28 – Voyeurismo

    29 – Guia de Turismo

    30 – Metamorfose

    31 – Cilada

    32 – Terceira Vítima

    33 – Invasão

    34 – Vestes Rasgadas

    35 – Reféns

    36 – Psicopata

    37 – Incesto

    38 – Alvejado

    39 – Doador Genético

    40 – Projétil de Chumbo

    41 – Detidos

    42 – Videoconferência

    43 – Ortotanásia

    44 – Intimação Judicial

    45 – Catálogo

    46 – Funeral

    47 – Projeto

    48 – Revide

    49 – Doce Vingança

    50 – Instrução Criminal

    51 – Cicatrizes

    52 – Depoimento de Ana Elisa

    53 – Glândulas Inócuas

    54 – Depoimento de Marcos

    55 – Sentença Judicial

    Agradecimento:

                  Agradeço a quem, de uma forma ou de outra, me estimulou à concretização desta obra. Especialmente à minha esposa, Zenaide que, pacientemente, me aturou durante todo o tempo em que me dediquei a este trabalho.

    Julho de 2021

    CAPÍTULO

    1 – Cárcere Privado

    Meses após sua primogênita ter se mudado para o Oriente Médio, Ana Elisa percebeu que sua vida tinha voltado a caminhar para trás; uma vez mais se encontrava imersa em avassalador estado de melancolia.

    Lamentavelmente, tinha retornado à vida de uma eremita assumida, alheia a tudo que se passava além dos limites de sua propriedade, reclusa na própria casa.

    Havia já um ano que a filha fora assumir seu primeiro emprego formal naquela distante terra, mas em nenhuma das cartas que lhe enviara houvera mencionado o caso de abuso sexual que sofrera.

    Quanto à descendente derradeira, distando cerca de nove anos da primeira, essa caíra no esquecimento do público e das imprensas falada, escrita e televisada.

    Infortunadamente, vinha em contínuo processo de envelhecimento precoce. Tão acelerada era essa mutação que, num ligeiro espaço de tempo, tinha se transformado em um ser completamente dependente de outrem.

    Como consequência, o diuturno acompanhamento da evolução dessa impiedosa metamorfose era um fardo pesado demais para a mãe suportar sozinha. E era em ocasiões de agonia sem limites que se arrependia amargamente de ter sido tão egoísta; egocêntrica o suficiente para ignorar todas as regras precursoras de uma maternidade responsável e se aventurar por caminhos ainda por ninguém percorridos.

    Todavia, não haveria como fugir da realidade; o doloroso resultado de suas insensatas aspirações ali estava, bem diante de seus olhos; ainda que em silêncio, sempre haveria de cobrar severas e cruéis explicações.

    Por duas encantadoras décadas a pretensa visionária mãe vivera em perfeita harmonia com a vida; felicíssima com sua espetacular realização, convicta de estar plenamente realizada. Superando quaisquer expectativas, teria feito se concretizar a maior proeza que uma desenfreada vaidade humana poderia pretender alcançar.

    No entanto, o destino havia se rebelado contra ela, punindo-a severamente. Embora jamais tivesse levantado a hipótese de admissão de seus desacertos, obviamente, teria incorrido no maior pecado que um reles mortal poderia cometer. Ignorando todas as limitações inerentes a qualquer criatura humana, ousara pretender se passar pelo Criador Onipotente.

    ♦♦

    Fora numa segunda-feira de meados de agosto que Ana Elisa sobrevivera a uma das piores fases de sua vida. O repentino agravamento da saúde de sua filha preferida não havia lhe permitido sequer um minuto de tranquilidade.

    Em razão de a febre ter se mantido muito próxima aos quarenta graus, tivera de providenciar ininterruptas aplicações de compressas frias: o último recurso do qual a genitora dispunha para fazer baixar a temperatura, já que o uso dos antitérmicos costumeiros não mais estava surtindo o efeito necessário.

    Mas, havia outro agravante: todo o procedimento requeria redobrada cautela na lida com a acamada, o menor descuido poderia acarretar-lhe sérias e irreversíveis consequências.

    Felizmente, depois de horas e horas de enfrentamento aos desafios que pareciam nunca ter fim, havia chegado o tempo de calmaria. Com a persistência da mãe, a febre fora debelada e a doente aquietou-se.

    Ufa!. – Suspirou longamente a genitora.

    Uma vez de espírito suavizado, mas ainda muito cansada e emocionalmente esgotada, não se fez de rogada e se permitiu a oportunidade de deixar desabar, pesadamente, seu fatigado corpo sobre uma poltrona posta ao lado da cama da filha, chegando a cochilar por alguns minutos.

    Depois, aos poucos foi descerrando os olhos, permitindo-lhe a distinção de alguns objetos pelos arredores.

    Mesmo com a visão ainda meio fora de foco, percorreu toda a extensão da parede oposta e foi se deter nos ponteiros de um antigo relógio movido à corda (herança de seus saudosos pais) pendurado lá no alto.

    Um simples cálculo mental fê-la concluir que logo a esperada aurora deveria romper a soturna escuridão e despedir as malquistas trevas que, lá de fora, a haviam espreitado durante a noite toda.

    Também se certificou de que havia trinta e seis horas que vinha encerrada naquele limitado espaço físico; mal tivera tempo para se alimentar, ou mesmo para satisfazer outras necessidades fisiológicas básicas.

    O período de trabalho da enfermeira, que lhe dava suporte com os cuidados à sua infeliz criatura, era contado de segunda à sexta-feira. E fora ao anoitecer do sábado que o estado de saúde da caçula começara a se agravar.

    Mau sinal. Temo que esteja caminhando para o seu final. – Diversas vezes, a mãe chegara a pensar.

    Tendo sobrevivido à essa fase de maior preocupação e ainda pressupondo a aproximação de seu tempo de descanso, acomodou melhor o dolorido corpo na poltrona e entregou-se aos reincidentes devaneios que fartamente vertiam na fatigada mente.

    Torrentes de imagens fluíam livremente em sua imaginação, vindo reavivar numerosas lembranças que quase haviam se perdido no tempo; algumas lhe proporcionando grata satisfação e outras, no entanto, causando-lhe terríveis sensações de fracasso.

    Por mais que se esforçasse, a óbvia protagonista da enleada toda não seria capaz de se desvencilhar da cruel realidade que chegara para fazer parte de sua vida cotidiana.

    Em retorno ao tempo presente, voltou a conferir o ambiente todo à sua volta, esquadrinhando cada elemento do aposento, de uma parede a outra. Só então se deu conta do quanto tudo havia se modificado. Em outras épocas fora alegre e bem iluminado, prenunciando sucesso e felicidade; agora, porém, havia se tornado triste e sombrio, parecendo estar sempre sinalizando mau agouro. Entretanto, tudo estava calmo; apenas o efeito sonoro do respirar sereno de sua protegida chegava aos seus ouvidos.

    Um café quente agora me fará bem – pensou, inadvertidamente.

    Incontinente, levantou-se para ir à cozinha e um baque jamais experimentado fez soar o alarme de uma realidade até então ignorada. De pronto, seu amarfanhado corpo protestou contra o brusco e quase involuntário movimento.

    Esforçou-se para endireitar a coluna vertebral, mas o peso da idade, que até então estivera desapercebido, se prontificou a castigá-la com uma forte dor lombar, denotando a percepção do quanto envelhecera naqueles últimos cinco anos.

    Aguardou a dor se acalmar e foi verificar a temperatura da enferma. Felizmente, febre não havia retornado.

    Enfim, uma boa notícia – concluiu.

    Embora a espiadela, através dos vidros da janela, revelasse que os tímidos raios de sol ainda não haviam dissipado toda a bruma que cobria a cidade, lá no alto da parede, o relógio a informava que a cuidadora diurna da enferma estaria prestes a chegar.

    Seguindo em direção à cozinha para preparar o café que tomaria com a enfermeira, se entusiasmava com a aproximação de seu merecido período de descanso. Ele estaria chegando em boa hora: já trazia os pés dormentes e as pernas intumescidas.

    Seu rosto se iluminou quando ouviu o som musical da campainha do interfone.

    Imediatamente, em sua mente se formou a imagem amigável de uma extrovertida quarentona magra, de estatura média e pele clara, adentrando a sala e pronunciando um estimulante e sonoro bom dia.

    Como nas demais ocasiões, viria toda vestida de branco; com seus volumosos cabelos louros bem penteados e aparados à altura do pescoço.

    Convicta de que a pessoa mais esperada havia acabado de chegar, Elisa acionou o botão de abertura do portão que dava acesso à rua.

    Tinha excelentes motivos para assim reagir. Cinco dias por semana, assim que a enfermeira cruzava a divisa entre a calçada externa e o portão de entrada, o grande vazio de sua imponente moradia começava a ser preenchido pelo agradabilíssimo cantarolar da recém-chegada.

    À medida que caminhava através do jardim, suas melodias iam se espalhando e impregnando com novo alento os ares do tristonho casarão. Parecia que até mesmo os pássaros silvestres lhe davam as boas-vindas, exibindo seus mais belos pipilares.

    Por dez minutos, Elisa aguardou a percepção das canções matinais, mas o efeito sonoro não veio acariciar seus ouvidos.

    Um mau pressentimento a abateu. Urgia saber o motivo da estranha demora.

    Talvez, tenha sido só minha imaginação. – Pensou.

    Mas, se não foi a enfermeira que chegou, com o portão escancarado, qualquer um pôde ter entrado. – Concluiu, ainda mais preocupada.

    Abandonou a ideia do café e, apressadamente, foi conferir o acesso para a rua.

    A um passo do portal da sala, quando já projetava a mão direita para agarrar a maçaneta, a porta se escancarou à sua frente. Abruptamente, as duas folhas de madeira entalhada se abriram ao meio.

    Sua instintiva reação de auto proteção seria a de dar um passo atrás. Seria, mas não houve tempo para executar o imaginável.

    Tal como já vira em filmes que retratam o habitat natural de animais pré-históricos, teve a impressão de que um gigantesco pterossauro alçou voo em sua direção e foi chocar-se contra seu corpo. O impacto fez com que ela caísse para trás.

    Estirada de costas ao chão, ficou sem possibilidade alguma de reação, com um grande volume flácido pesando sobre seu peito e algo parecido com um denso espanador de fiapos amarelos a lhe cobrir os olhos.

    Com muita dificuldade conseguiu liberar uma das mãos, possibilitando-lhe a desobstrução da visão; mas sua situação não evoluiu para melhor. Logo descobriu que aquela aparente esfera recoberta por fios de seda não seria um estático objeto qualquer.

    Numa atitude que lhe parecia mais lógica e imprimindo máximo esforço nos braços, fez rolar para um lado a grande massa inerte que quase a sufocava. Estremeceu ao pressupor a cruel realidade.

    Uma vez liberta do peso frouxo, se deparou com dois pares de pernas se erigindo em torno de si, um de cada lado. Cada uma delas parecia ser um poste visto de baixo para cima, se afunilando em direção ao topo.

    Piscou várias vezes os cansados e vermelhos olhos baços, reabrindo-os o mais que podia, mas nada mudou.

    Por uns instantes continuou imóvel, paralisada; com as costas grudadas ao piso duro e aguardando algo que não saberia definir bem o quê… calada e de olhos arregalados.

    Uma das grotescas figuras lhe pareceu familiar, mas foi a desconhecida quem primeiro resolveu se pronunciar:

    – A senhora está lembrada de mim, não está, dona Elisa? – Inquiriu a voz não identificável e medonha, parecendo pretender ser mais intimidadora do que na verdade seria, embora o postulante a carrasco não precisasse se esforçar tanto para amedrontá-la: para ela, tudo já era horripilante.

    – Co… como? – Gaguejou.

    – Aposto que nosso pai nada lhe falou a meu respeito, falou? – Vociferou o estranho. – Eu queria que agora ele estivesse aqui…

    – E… eu!

    – …Quando soubesse o que reservamos para vocês, iria implorar o meu perdão – ele esbravejou.

    A subjugada apoiou os cotovelos ao chão e ensaiou um vigoroso impulso com os braços, imaginando que seria possível se levantar.

    Porém, tudo foi inútil. Um enorme pé do outro sujeito já pressionava o seu peito, comprimindo-a contra o assoalho de madeira.

    Sem nada poder fazer para se libertar, virou a cabeça para a direita e reconheceu o inânime corpo da mulher trajada de branco ao seu lado.

    Enquanto comprimia a vítima, o grandalhão foi se curvando para frente e, aos poucos, seu tronco e face foram se alargando diante dos olhos dela, parecendo que aumentavam de volume à medida que deles se aproximavam.

    Para que ficasse patenteado aquilo que já havia interpretado, a oprimida sentiu a conhecida voz gutural rosnar perto de sua boca, provocando-lhe intensa náusea:

    – Ela ainda não chegou…! Mas vai chegar; eu sei que vai. – Ele berrou, elevando a voz para pronunciar as últimas quatro palavras.

    – Hein? – Gemeu Ana Elisa, sem nada entender.

    Por mais alguns instantes, o opressor permaneceu na mesma posição, com a cara retangular praticamente colada à dela. Depois, elevou um pouco o corpanzil, permitindo que a mesma o visse melhor.

    – Vamos esperar por ela; nós não temos pressa…, hoje, não! – Ululou novamente e com o corpo ainda meio arquejado sobre a abatida, dando espaço suficiente para a mesma perceber o quanto ele estava mudado.

    – Você está louco! Eu preciso ver minha filha… – tentou dizer alguma coisa que parecesse lógica, embora ainda confusa.

    No piso superior, sua dileta criatura carecia da atenção que somente ela poderia lhe oferecer.

    Reunindo forças sem saber de onde, agarrou, com as duas mãos, o gigante pé que a obstringia e tentou forçá-lo para cima. Mais uma vez, a tentativa foi em vão, a força contrária era muito maior. Ao invés de se livrar da opressão, sentiu-a pesar ainda mais sobre o tórax; novamente foi espremida contra o piso duro.

    A grotesca cara voltou a descer…, a descer e crescer diante dos olhos dela, quase chegando a tocar nariz com nariz.

    Por algum tempo, o seviciador permaneceu naquela posição. Depois, içando um pouco a caricata cabeça para melhor observar os olhos dela, ele berrou estrondosamente:

    – Eu sei que ela vai chegar!

    A nauseante erupção de gases estomacais, fedendo a cigarro e a álcool, inundou suas narinas e boca.

    Mesmo sem nada ter ingerido pela manhã, a martirizada sentiu uma fortíssima contração no estômago. Devido à reação involuntária do órgão tentando expulsar algo que não existia, se contraiu toda, ficando arquejada de dor.

    Sem o menor sinal de piedade, os dois homens agarraram-na pelos braços e a ergueram do chão. Pendurada pelo tronco, foi retirada da sala e arrastada escadaria acima. Com certeza, saberiam exatamente para onde a estariam levando.

    Durante o percurso, ela conseguiu detectar algo que jamais houvera sentido: um cheiro adocicado e enjoativo, um odor de perfume barato que emanava de um deles.

    No quarto, foi atirada de volta sobre a poltrona, ao lado do leito de sua decadente criatura. Imediatamente quis se levantar e ir cercá-la de cuidados maternais.

    – Afaste-se dela. – Ordenou o grandalhão, agora revestido da autoridade que nunca tivera.

    A primeira intenção de Elisa foi ignorar a ordem; porém, lembrou-se das duras palavras que o mesmo verdugo costumava proferir à sua meiga primogênita:

    Vou acabar com vocês, mas não já. Quando isso acontecer, tem de ser diante dela, sob o olhar de sua adorável mãezinha e… bem devagar.

    CAPÍTULO

    2 – Origem Familiar

    Da reduzida prole gerada por seus pais, Ana Elisa era a segunda em idade, distando apenas quinze meses de seu único irmão, Lineu.

    Todavia, de forma trágica, ela o perdera. Durante um passeio à praia com os amigos da faculdade, aos dezoito anos, ele sucumbira a um afogamento.

    A perda do irmão deixou Elisa profundamente abalada.

    Mas, isso não fora tudo. Ela ainda cursava o primeiro ano do ensino superior, quando seus pais viajaram ao leste europeu. Por sua insistência e em comemoração ao aniversário de casamento, eles tinham aceitado fazer o longo e duradouro passeio.

    Menos de um mês depois, vários noticiários de tv informaram a ocorrência de um pavoroso acidente aéreo. Uma das turbinas da aeronave, que decolava de Budapeste com destino a Paris, sugara uma ave de médio porte e entrara em pane.

    Com somente uma turbina em funcionamento, o avião, ainda em processo de decolagem, não conseguira fazer a manobra completa para retornar ao solo com segurança e caíra. Entre as vítimas fatais, havia um casal de brasileiros.

    Sobre Ana Elisa a nova tragédia despencara feito uma devastadora bomba que, sem piedade, destruíra todos os seus sonhos.

    O choque fora o mais cruel presente que poderia ter recebido pelos dezenove anos completados no início daquele mesmo ano. Fora o pungente revés da melhor fase de sua vida, sepultando seus genitores e com eles as promessas de seu futuro altamente promissor.

    Emocionalmente, ficara arrasada, aniquilada.

    Completamente sem rumo com a perda de toda sua família em

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