Au Te Amo
De M.v.dutra
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Au Te Amo - M.v.dutra
Au Te Amo
O Amor não entra em Quarentena
Uma linda lição triangular de Amor entre uma enfermeira, um cozinheiro e uma cadelinha em tempos de pandemia
M.V.Dutra
Au Te Amo
O Amor não entra
Em
Quarentena
Dedico este livro ao meu pai, Alceu Cordeiro Dutra, que partiu desta vida junto de milhares de pessoas no meio desta pandemia.
A todos que perderam um ente querido neste momento ímpar da humanidade. Que Deus conforte nossas almas com Força e Esperança.
A todos que perderam suas empresas ou empregos. Um luto e perda inestimáveis, mas com saúde e vida, tudo pode ser recuperado. Fé!
À minha filha Ísis, amante dos animais. Au Te Amo!
PRÓLOGO
Escrever ficção requer uma imaginação além da capacidade criativa do autor. É ter uma chave no túnel do tempo, algo quase profético, futurista, que por vezes, desafia a compreensão humana em seu tempo, mas basta avançar nas décadas, que aquela estória esdrúxula, passa a ser uma rotina no futuro. Vejamos o clássico Júlio Verne ou até mesmo um desenho animado dos anos 70, Os Jetsons
, onde os personagens conversavam através de uma tela de vídeo, algo inconcebível na época, e hoje, realidade indispensável.
Nesse gênero, os temas apocalípticos recebem uma atenção especial dos autores literários e cinematográficos, tendo como asteroides e pandemias, os principais carrascos da hecatombe mundial. Se houvesse escrito esta mesma estória há seis meses, seria enquadrada nesse gênero futurista. Em dezembro de 2019, o mundo escutava sobre uma gripe lá nos confins da China. Em fevereiro de 2020, a gripezinha por lá, tinha infectado mais pessoas, um surto viral como tantos outros que houveram, nada demais. Pulamos alegremente o Carnaval. Em março, fomos banidos para nossas próprias casas, enclausurados em nosso mundo digital, ideias superficiais, crises existenciais, falácias políticas, interesses contraditórios. De repente, a vida em sua maestria, deu um forte golpe na humanidade. Mas é isso que a faz bela e misteriosa: a incerteza. Ela traz dores, leva amores, revive a Esperança, resgata valores, liberta ou nos aprisiona nas gaiolas do grande inquisidor; chacoalha nossas convicções. Leva-nos a pensar além da caixa, do domo terraplanista, de dogmas e Jardins do Éden ou Campos Elíseos. Mas a mesma vida é o velho Odin, que espera de cada um de nós, morrer com honra em batalha, não mais com escudos e espadas, mas com a inabalável vontade de lutar por um mundo melhor, nos desafios que cada um enfrenta em suas histórias pessoais. Assim, ao final, ele esperará com um banquete no mágico Castelo de Valhala.
Nossa estória fala de tudo que vivemos inesperadamente nesses tempos singulares, hábitos modificados, economia parada, discussões ideológicas, medos, mortes... Perdi meu pai em 16 de abril de 2020 por insuficiência respiratória, minha quase irmã, que me ajudou na infância, um tio e um amigo, assim como vi também sete empresas fecharem e morrerem sem oxigênio. Sim! Senti a morte diretamente nesta pandemia, além de ter sentido também seus sintomas, a falta de ar, dores, medo... Mas, como muitos, lutei para aprender algo e tornar-me melhor. Vi amigos doando-se aos outros, arrecadando mantimentos, empresas ajudando. Muitas pessoas repensaram suas formas de viver. Vencemos algumas batalhas, mas a guerra continua. Se não nos matou, sinal que ficamos mais fortes para enfrentar o furacão.
Mas no meio deste turbilhão de eventos, aparece o tal Amor. Aquele rebelde, que não respeita lockdown
, nem usa máscara. Saí pelo vento buscando oxigenar as almas, ressuscitar os mortos de Esperança, pois o Amor não entra em quarentena!
Conteúdo
CAPÍTULO 1
Os Fios do Destino
CAPÍTULO 2
La Dolce Vita
CAPÍTULO 3
O Dia em Que a Terra Parou
CAPÍTULO 4
Romeu e Julieta ou Queijo com Goiabada?
CAPÍTULO 5
A Partida dos Bons
CAPÍTULO 6
A Morte Jurídica
CAPÍTULO 7
O Amor Sublime
CAPÍTULO 1
Os Fios do Destino
O despertador tocara 6h e Romeu acordara cheio de ânimo em uma segunda-feira ensolarada na capital Alencarina. Amava o sol e o calor de Fortaleza, sua cidade natal, a tal Fortitudine. O nome inspirava força, garra, vontade de crescer. E assim, ele era. Determinado e com uma Fé inabalável de que o universo conspirava para aqueles que trabalham e acreditam. Sempre trabalhara na área administrativa executiva, mas, após algumas decepções e desilusões, resolvera mudar radicalmente. Adorava cozinhar para os amigos e seu sonho sempre fora ter um restaurante. Falava em abrir, mas ano após ano, o tempo passava e ao final de cada um, era absorvido por um trabalho que já não iluminava mais sua alma. Até que chegou um dia, que resolveu agir, sentir a incerteza, o vazio do voo, sem medo, sair da gaiola dos Irmãos Karamazov. Pegou sua rescisão e abriu seu restaurante. Pulou. Deu certo.
Inaugurara há poucos meses o seu bistrô, um sonho que alimentara por tanto tempo, agora era concreto e ele degustava cada dia a sua realização. O Casa Bartô era uma cozinha eclética, ora contemporânea, ora regional, mas uma coisa ali era unânime: o sabor e a atmosfera. Era da premissa de que seu restaurante deveria provocar sensações, uma experiência gastronômica aliada a todos os sentidos: apresentação, perfume, harmonização e sabor. Sua equipe também era focada e comprometida com as regras da casa, mas algo os fazia unir e transcender os conceitos de organização laboral: todos amavam o que faziam. E esse amor era sentido nos detalhes, desde a arrumação das mesas até a degustação dos alimentos. Eles sorriam ao que faziam. Estavam abertos há pouco tempo, mas já haviam conquistado o gosto dos fortalezenses. Sonhava agora dentro do próprio sonho realizado: uma estrela Michelin! O reconhecimento que todo chef almeja. Naquela manhã, Romeu preparava-se para correr na avenida Beira-Mar e depois, comprar os insumos da semana para o restaurante. Estava feliz...
O som do despertador de Romeu reverberou pelo éter das ruas, bairros, até tocar sutilmente na pele de Giulia. O leite de sua face sentia o toque suave da manhã convidando-a a despertar. Além dos raios do sol, ela era acordada religiosamente pela língua melada e agitada de Mel, sua cadelinha, uma bulldog francês
. Após muito tempo morando sozinha, resolvera comprar uma cadelinha. Seria uma amiga, cúmplice quem dividiria sua vida. Desde que perdera sua cachorrinha Cristal na adolescência, não queria mais passar pelo sofrimento da partida. Mas não seria assim a vida? Chegadas e partidas? E as boas lembranças ainda eram melhores do que não ter lembrança nenhuma. Já era tempo de superar aquele trauma. Ao chegar ao Pet Shop, logo na entrada, fora surpreendida por uma cadelinha bebê, bulldog, agitada, hiperativa, implicante com todos os filhotes, mas com um olhar profundo que congelou ao encontrar o dela. Parecia aquela cena do filme Crepúsculo, quando um lobo descobre seu imprinting
, ou seja, um amor à primeira vista e os envolvidos não conseguem mais sair de perto um do outro, têm um destino juntos. Não teve dúvida, levou-a de imediato para casa e desde aquele dia, eram uma família.
Giulia preparava-se para ajudar seus pacientes no Hospital Público São Patrício. Enfermeira na emergência, coordenava uma equipe de enfermagem e auxiliares, naquela zona de guerra. Servir era o verbo que melhor a definia. Sua mãe dizia que desde pequenina cuidava dos bichos, das bonecas e dos dodóis
de seus amiguinhos. Gostava do cuidar, tratar, sentir a evolução do tratamento e a vitória da cura. Sonhava um dia ter um Centro de Terapias Holísticas para curar não somente as doenças do corpo, mas as da alma também. Tinha uma atração pelo transcendental, esotérico, uma sintonia mediúnica, que convivia desde criança, quando seus amiguinhos imaginários contavam tantas histórias de épocas remotas. Levava a sério o estudo do mais além. Ariana com ascendente em Leão, pele branca, cabelos negros, olhos de amêndoas com mirada profunda, beleza clássica, símbolo de Áries tatuado lindamente na cervical e uma Triskle celta de proteção no pulso. Era fogo mesmo. Sol e Marte. Então, dá para entender a personalidade: impulsiva, líder nata, criativa, não levava