Toca Do Jaú
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Toca Do Jaú - Danilo Soares Marques
TOCA DO JAÚ
Uma Aventura na Terra de São Luiz de Cáceres
Danilo Soares Marques
ISBN: 978-65-000-3891-0
Número de Registro: 312239166 - 11330133
Introdução
A história narrada neste livro é uma obra de ficção. A localidade, as personagens, e as situações são apenas imaginação do autor.
Lugares e acontecimentos históricos são reais e transcritos de sites, livros e obras.
Em cidades do interior onde predominam três poderes distintos: político, religioso e social, interligados entre si, situações às vezes incômodas acontecem.
Era o caso da Diocese, da delegacia e da sociedade da pequena cidade de Cáceres, situada às margens do Rio Paraguai no grandioso estado do Mato Grosso.
Contando com pouco mais de 85.000 habitantes, a cidade possuía uma rara beleza, misto de moderno e tradicional, selvagem e romântica.
A Catedral
O sol pálido da manhã de quase primavera banhava a fachada da Catedral da cidade.
A catedral São Luiz foi fundada no final dos anos 70 e é conhecida como um importante monumento religioso que se ergue na Praça Barão do Rio Branco. Foi uma obra realizada pelos padres franciscanos da Ordem Terceira, com ajuda dos amigos da Congregação, da Europa e do povo cacerense.
Um monumento em estilo gótico erguido às margens do Rio Paraguai que simboliza fé e devoção de um povo espirituoso.
A sua arquitetura, resultante das transformações pelas quais foi obrigada a passar, é um misto de tendências artísticas.
No seu exterior predomina o estilo gótico, com fachada majestosa e as duas torres ainda truncadas. Em seu interior, descortina-se um imenso e amplo santuário que leva, necessariamente, à oração. O coro é amplo com o altar em uma só peça de madeira. Duas grandes estátuas de madeira esculpida e pintada: São Luis, rei da França, e São Francisco, ambos padroeiros da Diocese, formam um conjunto sóbrio e digno do culto a Deus.
A inauguração da igreja deu-se no dia 25 de agosto de 1965, Festa de São Luiz, após quase 50 anos de esforços, paciência e coragem. Durante a construção dos alicerces da igreja, aconteceu a morte súbita do engenheiro Lamounier que, além de idealizador da obra, assumiu o compromisso de uma parte financeira dela. Em 1949, em decorrência de insuficiência nas bases, causada pelas modificações no projeto original, a construção ruiu após a colocação da cobertura. Por 47 anos a igreja ficou em ruínas.
Conta-se que certa vez apareceu nas águas do rio Paraguai uma serpente gigante e muitos animais começaram a desaparecer na região próxima à usina de açúcar e álcool.
Galinhas, porcos, bezerros e cachorros eram encontrados mortos depois, estraçalhados totalmente.
O dono da usina já não sabia mais o que fazer e chamou um padre para ajudá-lo. Toda a região foi benzida. A serpente respingada por um pouco daquela água benta mergulhou no rio Paraguai e fugiu até um esconderijo em frente ao local no qual a igreja estava sendo construída. Porém não pode ficar muito tempo por lá já que muitas mulheres vinham até o rio para lavar suas roupas e tomar banho.
A serpente foi rastejando embaixo da terra e se acomodou justamente na área em que a igreja seria construída.
Quando a obra ficou pronta houve uma missa em comemoração. Ao perceber os passos e vozes em cima dela, a serpente se mexeu e tremeu tanto que a obra começou a desabar. Primeiro foi o teto que caiu ferindo os fiéis e depois as paredes. Algumas pessoas pensaram que era um terremoto.
Sem saber o que fazer, o povoado começou a rezar.
Nossa Senhora ficou com pena dos pobres fiéis e decidiu ajudá-los.
Mesmo que eles conseguissem construir a igreja de novo, a santa sabia que o problema não estaria resolvido, já que a serpente poderia voltar a se mexer a qualquer momento e todos estariam em risco.
Resolveu, então, amarrar a enorme cobra. Pegou três fios do seu próprio cabelo e deu um nó em cada parte da cobra.
Só depois de dezesseis anos que a catedral pode ser reconstruída e até hoje o povo acredita que a cobra ainda está lá embaixo, mas que não há perigo, pois ela está presa pelo fio de ouro do cabelo de Nossa Senhora.
A construção da Catedral de São Luiz compreende vários contextos, considerando que na data do lançamento da pedra fundamental (1919) em virtude das comemorações do bicentenário de Cuiabá, a capital de MT, a proposta de construir réplicas da Notre Dame de Paris em Cuiabá e em Cáceres, nos indica o prestígio econômico e político da cidade neste momento. No ano de inauguração da Catedral (1965) a cidade de Cáceres apresentava outros contextos, em virtude da sua condição de fronteira durante a ditadura militar e a expansão oeste.
As suas principais características são: verticalismo dos edifícios substitui o horizontalismo do Românico, paredes mais leves e finas, janelas predominantes, torres ornadas por rosáceas, utilização do arco de volta quebrada. Nas torres (principalmente nas torres sineiras) os telhados são em forma de pirâmide. Consolidação dos arcos feita por abóbadas de arcos cruzados ou de ogivas.
O Centro Histórico de Cáceres foi tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2012, por reconhecer a importância e relevância do conjunto arquitetônico existente na cidade, como também o conjunto paisagístico da Baía do Malheiros, Rio Paraguai e Pantanal.
Em 31/07/2010 este tombamento tornou-se Nacional reservando uma área poligonal de Cáceres, preservando assim as ruas, praças e imóveis em seu interior. Qualquer intervenção tem que ser feita a partir da aprovação da Prefeitura, Governo do Estado e IPHAN.
Dados de acordo com https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1ceres_(Mato_Grosso)
01-Padre Sebastião
Padre Sebastião Ferreira, filho de família influente da capital, provinha de uma formação religiosa e tradicional.
Sebastião dizia desde criança que seria padre. Mesmo assim, na adolescência e no início da fase adulta relutou e chegou a ser auxiliar administrativo de uma grande multinacional por mais de cinco anos. Morou em diferentes cidades em razão das transferências do trabalho, passou por muitas experiências e conheceu muitas pessoas.
De pé, em frente ao altar da Virgem Maria, repassava lembranças de seu tempo de seminário, tentando compreender os motivos que o levaram a esta situação nada cômoda para a vida de um religioso, que havia prometido dedicar toda sua vida a serviço de Deus e da Igreja, para governar, ensinar e zelar pela santificação de seu povo.
Suas lembranças levaram-no ao início dos anos setenta, quando seguindo um impulso próprio e influência de sua família, ingressou no seminário de Filosofia em Várzea Grande na primeira das quatro etapas do processo formativo.
Venceu todas as quatro com determinação e fé inabalável. A primeira era chamada de GOV (Grupo de Orientação Vocacional) onde foi acompanhado no período do ensino médio. A segunda foi o Ano Propedêutico, instalado junto à Paróquia de Nova Horizonte, após ter concluído os estudos de ensino médio, sendo esta etapa obrigatória para todos. Esta etapa da formação destinava-se a uma intensa experiência de vida comunitária, à suplência dos estudos, ao aprimoramento integral, a um maior discernimento vocacional e a um conhecimento da realidade sócio-econômico-religiosa da Arquidiocese, a partir das suas cinco regiões pastorais. A terceira etapa foi a da Filosofia, com duração de três anos e a quarta, a da Teologia, com duração de quatro anos, ambas em comunidades distintas.
A sua vida, agora, na cidade de Cáceres, dividia-se entre alguns tempos de oração, sobretudo de manhã, a missa diária, as aulas, os serviços comuns, os tempos de convívio, de estudo e de preparação de atividades pastorais.
Foram necessários oito anos de formação teórica para se tornar padre, mas a dedicação à comunidade seria para toda a vida.
Foram oito anos dedicados a Filosofia e Teologia. Uma vida de reclusão e renúncias. Uma das mais importantes: o sexo.
No refeitório, os horários eram rígidos. Café as oito, almoço meio dia e jantar as seis da tarde. Sem gula que é pecado. Na sala de TV, a diversão era liberada principalmente com as discussões de futebol.
Depois de vestir a túnica, começava a rotina sacerdotal.
Eram duas missas diárias, uma média de 18 casamentos e 20 batizados por mês. Além de muitas confissões. Folga no domingo nem pensar. Férias? Só dez dias por ano.
Da igreja, ele não recebia salário, porque não existia uma relação trabalhista. Apenas a côngrua, uma espécie de ajuda de custo para cobrir despesas pessoais. O valor médio era de R$ 2.500 reais.
Dinheiro, aliás, nunca deveria ser um objetivo para quem escolhe essa missão. A única recompensa é ver a palavra de Deus transmitida pra tanta gente. E se a mensagem for passada com alegria, melhor ainda.
Agora, vivendo uma vida tranquila, dividida entre participar de missas, praticar esporte, estudar e ajudar na organização do local sobrava-lhe tempo para outras atividades paralelas à de um sacerdote.
Logo conseguiu fazer inúmeras amizades e, ria sozinho, quando cruzava pelas ruas com algum ou alguma diocesana.
Ah, se a população soubesse quem de fato eram aquelas pessoas...
Sabia a vida de todos os habitantes da pequena cidade, se não fosse pelas beatas e fofoqueiras frequentadoras frequentes da igreja, seria no confessionário ou ainda em conversas de fim de tarde nos bancos da praça principal.
Sacudiu a cabeça, rindo interiormente, ao lembrar-se das confidências de pessoas respeitadíssimas da sociedade e que, nem por um momento sequer, se poderia suspeitar que fossem capazes de cometer atos muitas vezes pecaminosos.
Assídua frequentadora de seu confessionário era uma moça, que fiel à sua descendência, tinha os cabelos negros e ondulados e, na plenitude de seus 28 anos fazia amizades com rara facilidade. Morava em uma pequena localidade distante oito quilômetros de Cáceres. Passava a maior parte do seu tempo indo e vindo à cidade, ora para fazer compras, ora para ir ao salão de beleza. Ana Paula era seu nome. Seu pai, comerciante à moda antiga,