A representação do casamento na obra A Megera Domada e na telenovela O Cravo e a Rosa
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Sobre este e-book
O estudo tem como objetivo identificar as possíveis relações que apontam para uma reflexão crítica sobre o comportamento humano na sociedade renascentista inglesa do século XVI e na sociedade brasileira no século XX, a partir do casamento, um dos principais assuntos abordados na peça teatral ""A Megera Domada"" de William Shakespeare e na telenovela ""O Cravo e a Rosa"" de Walcyr Carrasco.
E, através da Literatura, em um diálogo comparatista, o autor discorre sobre as ações do homem vividas em diferentes lugares e diferentes períodos, bem como as mudanças em torno do casamento ocorridas ao longo dos anos. Nesse viés, a obra convida os leitores para uma reflexão significativa sobre a sociedade.
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A representação do casamento na obra A Megera Domada e na telenovela O Cravo e a Rosa - Valtenir Muller Pernambuco
1 A COMÉDIA ROMÂNTICA SHAKESPEARIANA E A TELENOVELA BRASILEIRA: CARACTERIZAÇÃO INICIAL
Este capítulo tem como objetivo conceituar as características do teatro shakespeariano e da telenovela brasileira. Inicialmente, apresentaremos as características do teatro elisabetano, com ênfase na comédia romântica shakespeariana, gênero ao qual pertence A megera domada, em análise neste estudo. A seguir, serão apresentadas as características da telenovela brasileira, dedicando-se, ainda, parte deste capítulo à identificação das telenovelas produzidas no Brasil a partir da adaptação de obras de Shakespeare. Pretende-se, com este capítulo, iniciar a construção de arcabouço conceitual, a partir do qual será possível desenvolver a análise comparatista.
1.1 A COMÉDIA ROMÂNTICA SHAKESPEARIANA: CARACTERÍSTICAS
O Renascimento foi um movimento filosófico e cultural dos séculos XV e XVI, o qual evidenciou transformações que não mais correspondiam ao conjunto de valores apregoados pelo pensamento medieval. Um aspecto fundamental do pensamento renascentista é o privilégio dado às ações humanas, o que frequentemente se traduziu na valorização de situações do cotidiano e, na arte, na reprodução dos traços e formas humanas. Por outro lado, a valorização das ações humanas é evidência de ainda outra característica do nascente individualismo burguês: o exercício da capacidade de questionar o mundo, aspecto que fica particularmente patente na comédia escolhida para este estudo, como se analisará mais tarde.
A valorização das ações humanas, ou humanismo, acompanha o florescimento da burguesia, o que já vinha acontecendo desde a Baixa Idade Média. De acordo com Souza (2016) a razão era uma manifestação do espírito humano que colocava o indivíduo mais próximo de Deus. Ao exercer sua capacidade de questionar o mundo, o homem distanciava-se da razão e privilegiava as ações humanistas que eram representadas na reprodução de situações do cotidiano e na rigorosa reprodução dos traços e formas humanas, através de um conjunto de temas e interesses aos meios científicos e culturais de sua época.
A relação do Renascimento com a burguesia é perceptível no desenvolvimento das grandes cidades comerciais. Na Itália, Gênova, Veneza, Milão, Florença e Roma tornaram-se grandes centros de comércio, nos quais a intensa circulação de riquezas e ideias promoveram o desenvolvimento das artes. Mais do que enfatizar o mecenato, através do qual até mesmo algumas famílias comerciantes da época, como os Médici e os Sforza, patrocinaram o desenvolvimento da arte e estudos renascentistas, queremos acentuar o papel social dado a essa classe dos negociantes: não é à toa que Shakespeare escolhe a Itália, e a família do rico Batista Minola, como cenário para a análise social levada a efeito em A megera domada.
Iniciado na Itália, o Renascimento espalhou-se por toda a Europa. De acordo com Leandro Luz (2002), a Renascença inglesa teve três principais pilares de sustentação: a razão, como manifestação do espírito humano, que aproximava o indivíduo de Deus; o privilégio às ações humanas – humanismo e o elogio às concepções artísticas da Antiguidade Clássica. Dentro do período abarcado pela Renascença na Inglaterra, o período de maior desenvolvimento econômico e político foi o que corresponde ao reinado da rainha Elizabeth I da Inglaterra, de 1558 a 1603, razão pela qual recebe o nome de período elisabetano.
Dado o foco do presente estudo, limitaremos esta apresentação inicial à exposição acerca do desenvolvimento do teatro na Renascença inglesa, enfocando de modo especial a Shakespeare, o mais destacado dos dramaturgos do período, e autor da peça em análise. Ainda outro recorte se faz necessário: embora Shakespeare tenha produzido tragédias, comédias e peças históricas, além de poemas, este estudo se limitará a caracterizar a comédia romântica shakespeariana, uma vez que é a esse gênero que pertence A megera domada. Para dimensionar esse desenvolvimento, será necessário, inicialmente, reportar-nos aos primórdios do teatro inglês na Idade Média.
Segundo Barbara Heliodora (2009), o teatro elisabetano começou a aparecer na metade da década de 1580 quando o teatro medieval já tinha passado. Nos primeiros trinta anos do reinado de Elisabete I, ou seja, até meados da década de 1580, não ocorreram mudanças significativas no teatro inglês. Durante essa época, no entanto, o terreno estava sendo preparado para os acontecimentos que estavam por vir, por meio de uma série de fatores decisivos: em primeiro lugar, data de 1500 o surgimento do inglês moderno. Os ingleses estavam encantados com a grande potência e beleza de sua língua, (HELIODORA, 2008); poetas que surgiram por volta da metade do século encontraram a grafia e a gramática normatizada – a língua se desenvolvia e se tornava um instrumento cada vez mais maleável a serviço da imaginação.
Em segundo lugar, outro elemento fundamental era a possibilidade de trânsito social: a Idade Média se caracteriza pela fossilização da estrutura social, mas o crescimento do comércio e a possibilidade de aquisição de riquezas trouxeram consigo a possibilidade de se alcançar altos cargos, boa posição social e, com sorte, até mesmo a admissão à nobreza. Com estas perspectivas em vista, os que tinham condições iam se preocupando em ter casas mais bonitas, roupas com maior estilo e atividades culturais e artísticas. (HELIODORA, 2008).
Segundo a crítica Bárbara Heliodora, em 1576 um ex-carpinteiro, James Burbage, que optara pelo teatro, considerou que Londres já tinha condições para sustentar um teatro, ou seja, um edifício dedicado à apresentação de espetáculos teatrais. E foi a definição do palco elisabetano, inspirado no uso das carroças dos mambembes medievais, que tornou possível o aparecimento regular de atividades cênicas profissionais. Uma década após ser construído o primeiro edifício teatral batizado de teatro, e graças a todas as experimentações que vinham sendo realizadas por jovens poetas, aparece o fenômeno que chamamos de teatro elisabetano, com a montagem do Tamerlão de Christopher Marlowe, e da Tragédia espanhola de Thomas Kyd.
A forma do palco e a dramaturgia foram mutuamente enriquecedoras: por vezes, as facilidades do palco permitiam ao autor ousar mais em seu texto, por outras, o texto provocava alguma extensão no aproveitamento do espaço cênico, ou seu aprimoramento.
Para Heliodora (2009), uma das marcas básicas do teatro renascentista foi a transição do religioso para o secular, das glórias da vida futura para o gozo da vida presente. A ótica medieval é radicalmente diversa da renascentista em relação a tudo o que acontece, e o ponto de referência agora é o homem. As descobertas abrem horizontes de aventuras, a feição do mundo muda quase que diariamente.
Surge nesse período um primeiro esboço do capitalismo, o dinheiro passa a ter o mesmo valor que a terra, e aparece como força libertadora, já que o comércio rompe não só o imobilismo econômico como também o social. O enriquecimento e o acesso à educação permitem o trânsito de uma classe para outra. Depois de séculos de rígida hierarquia feudal, o homem descobre que tem potencial para alcançar praticamente tudo. (HELIODORA, 2009).
Na qualidade de primeiro país totalmente independente, não subordinado a Roma, a Inglaterra pode permitir ao teatro uma liberdade que o teatro espanhol, por exemplo, não conheceu. O grande florescimento do teatro inglês só chegou, no entanto, no reinado da filha de Henrique VIII, Elizabeth I. A era elisabetana e o século de ouro espanhol formam juntos o último período do teatro autenticamente popular que o mundo conheceu: merece esse nome o teatro que produz obras de alta qualidade e, conquanto escrito em termos de preocupação estética, é acessível e reflete pensamentos e sentidos da vasta maioria da sociedade de sua época, sendo visto e apreciado por uma porcentagem significativa dessa mesma sociedade. É um teatro que atinge o mais alto nível, e por meio do qual as necessidades do gosto popular são atendidas, no entanto sem fazer concessões. Nas considerações de Heliodora, na história do teatro do ocidente é sempre possível constatar uma notável coincidência entre o melhor teatro até hoje escrito e o mais popular, como, por exemplo, com Sófocles, Shakespeare e Molière.
O teatro elisabetano chegou a dominar um país inteiro, em uma época de comunicações precárias, muito diferentes das de hoje. Tornou-se de tal forma popular que conseguiu atrair para si talentos que encontraria sua expressão mais feliz, talvez, em outras formas literárias. Contudo, naquele momento esses escritores sentiram que era preciso escrever para o teatro.
É interessante destacar o uso do termo elisabetano
, normalmente usado a respeito das, aproximadamente, seiscentas peças escritas entre a segunda metade da década de 1580 e 1642, quando foram definitivamente fechados e destruídos pelos puritanos, todos os teatros na Inglaterra. Os Stuarts receberam pronto o ambiente propício e o magistral drama produzido em seu reino foi o impulso inicial do período