Do Texto Teatral Para o Balé: Transmutação de Linguagens em Romeu e Julieta
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Do Texto Teatral Para o Balé - Michelle Aparecida Gabrielli
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA
Para meu avô, Nico (em memória), e para minha avó, Mercedes, que
me ensinaram sobre a vida que dança
;
Para meu pai, Waldeli, que me ensinou a amar e a lutar;
Para Flávio, com quem compartilho vida, amor e felicidade.
AGRADECIMENTOS
Foram muitas as pessoas que, direta ou indiretamente, auxiliaram-me na elaboração desta obra. Recebi contribuições, incentivo e carinho de companheiras(os) de profissão, de luta e de vida. Receio que as palavras não consigam exprimir toda a gratidão que sinto por todas(os) que estiveram, e ainda estão, presentes ao longo dessa trajetória dançada, seja em seu início, meio ou mesmo agora no finalzinho, momento em que a pesquisa transmuta-se em livro.
Agradeço às professoras e amigas Sirlei Santos Dudalski – que me orientou durante o mestrado e fez o prefácio desta obra –, e Fatima Wachowicz, por ter feito parte da minha banca de mestrado e pela orelha deste livro.
Agradeço a minha querida sobrinha ganhada
, Cristall Hannah, por me ajudar na difícil tarefa de encontrar um título para essa obra.
Agradeço especialmente ao meu companheiro, Flávio Boaventura, por ter feito a linda ilustração da capa, que é puro amor e carinho.
A todas(os), os meus mais sinceros agradecimentos e carinho!
PREFÁCIO
Quando nos referimos a Shakespeare, ocorre-nos, inevitavelmente, a vastidão de sua fortuna crítica e o seu colossal prestígio literário. Entretanto, Michelle Gabrielli não se deixou intimidar pelo peso canônico do dramaturgo e soube criar o seu Shakespeare, rompendo fronteiras de saberes, ao fazer dialogar as linguagens verbal e não verbal com criatividade e leveza. Fruto de inovadora pesquisa de mestrado, que tive o enorme prazer em orientar, o trabalho é uma análise do processo de transmutação do texto teatral shakespeariano Romeu e Julieta para a linguagem da dança clássica do balé homônimo, de Kenneth MacMillan, numa reflexão que convida, ao diálogo, teóricos, como Roman Jakobson, Gérard Genette, Julie Sanders e Patrice Pavis, dentre outros.
Vale lembrar que Romeu e Julieta é a peça mais popular de Shakespeare, sendo também a mais coreografada. Além de balés, a tragédia de Shakespeare também originou inúmeros filmes, musicais, anúncios publicitários, histórias em quadrinhos e músicas de rock, tornando-se um ícone do amor romântico. O Romeu e Julieta de MacMillan estreou na Royal Opera House, em Londres, no dia 9 de fevereiro de 1965 e, desde então, eternizou-se como uma das principais versões da peça shakespeariana para o balé. Movimentos inesquecíveis traduzem as emoções e as ideias que brotam da peça. Encontra-se aí a poesia da palavra recriada na poesia dos movimentos do balé, tal como afirma Michelle Gabrielli em seu cuidadoso trabalho de leitura comparada das obras: [...] a palavra faz-se presente na obra coreográfica. O texto transmuta-se para os gestos e movimentos dos bailarinos. Afinal, há muito, já se sabe que o corpo fala.
.
A análise das obras artísticas em questão é feita seguindo os preceitos da tradução intersemiótica propostos por Roman Jakobson. O cenário, o figurino, os objetos cênicos, a iluminação, os movimentos e gestos, enquanto signos artísticos, tanto do texto, quanto do balé, são minuciosamente analisados nas antológicas cenas do balcão e da morte de Romeu e Julieta.
O estudo comparativo entre o texto shakespeariano e o balé é realizado aqui com muita seriedade e desenvoltura, ampliando ainda mais as significações das obras e proporcionando, não apenas aos estudiosos das artes literárias e da dança, mas também aos estudiosos dos mais diversos campos de conhecimento, reflexões fundamentais sobre a relação entre as artes, o diálogo entre diferentes sistemas de linguagens.
Assim, numa linguagem acessível e sensível, para os que buscam os sentidos da aproximação entre a literatura e a dança, para os pesquisadores das artes em geral, ou simplesmente para o prazer do leitor não tão especializado, apresentamos Do texto teatral para o balé – transmutação de linguagens em Romeu e Julieta.
A todos, uma boa leitura.
Prof.ª Dr.ª Sirlei Santos Dudalski
Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa – UFV
APRESENTAÇÃO
Romeu e Julieta pode ser considerada como a maior história de amor de todos os tempos, sendo transposta para as mais diversas linguagens artísticas. Stanley Wells (1996) expõe que a história de Romeu e Julieta pode ser considerada como um dos grandes mitos do mundo ocidental e, provavelmente por esse motivo, tem sido frequentemente adaptada para diversas linguagens artísticas, tais quais: ópera, balé, cinema, literatura, poesia, artes visuais, televisão, dentre outras.
Na área da dança, Romeu e Julieta foi traduzida principalmente para a linguagem do balé clássico, embora outros estilos de dança também a tenham tido como cerne. Sobre isso, Alan Brissenden (2011) afirma que, a cada dia, mais espaço é dado às adaptações da tragédia de Romeu e Julieta.
Desse modo, o objetivo desta obra consiste em analisar, com base na tradução intersemiótica de Roman Jakobson (2010), o processo de transmutação do texto teatral Romeu e Julieta, de William Shakespeare, para a dança, por meio do balé clássico Romeu e Julieta da companhia de dança inglesa The Royal Ballet e coreografia de Kenneth MacMillan, produzida em 1965.
Destaca-se que uma das versões mais conhecidas no balé é a de MacMillan, com composição de Sergei Prokofiev. Os amantes de Verona são interpretados pelos bailarinos Rudolf Nureyev e Margot Fonteyn. Logo, o intento em escolher trabalhar com a adaptação dessa peça para esse balé deu-se não apenas pela temática do amor jovial, mas por sua popularidade em todo o mundo.
Ressalta-se, também, a possibilidade de se descobrir, perceber e criar novas formas de leitura, visualização, aprendizagem e apreensão do mundo que nos circunda por meio da linguagem verbal e da não verbal, permitindo, desse modo, um diálogo entre literatura e dança, a poesia da palavra e a sensibilidade do movimento ou a sensibilidade da palavra e a poesia do movimento.
(BERNARDO, 2003, p. 18).
O corpo desta obra foi construído objetivando reflexões e discussões, cujo intuito foi a compreensão e o aprofundamento do processo de transmutação de linguagens. Realizou-se, assim, uma análise da obra coreográfica Romeu e Julieta, com o objetivo de identificar aspectos da adaptação do texto teatral para o balé. Destaca-se que não se trabalhou com a performance teatral e sim com o texto shakespeariano traduzido por Barbara Heliodora (1997) e que a análise do balé deu-se por meio da obra fílmica.
Sobre a estrutura deste livro, clarifica-se que, na tentativa de aproximá-lo do universo de uma peça teatral ou de um espetáculo de balé clássico, os capítulos foram denominados de atos e as seções foram nomeadas de cenas. A seguir, faz-se uma breve contextualização de cada ato.
No primeiro ato, Do verbal ao não verbal, tem-se como foco a semiótica, no qual se faz um panorama a respeito da origem da ciência dos signos e de suas raízes, sobre as proposições de Roman Jakobson e, finalmente, sobre a semiótica do texto artístico. Apresentam-se, também, algumas questões relacionadas às terminologias empregadas nos processos de adaptação.
O segundo ato, Do ódio ao amor, traz alguns pensares e reflexões acerca da tragédia grega e da tragédia shakespeariana, sobre mitos, novelas e histórias que serviram de inspiração para a elaboração do texto teatral, além de explanar sobre as publicações em forma de quartos, sobre o primeiro folio e, por fim, ressaltam-se os aspectos líricos presentes em Romeu e Julieta, tais como a beleza e a comoção dos versos.
No terceiro ato, Do bater dos pés aos passos codificados, expõe-se algumas considerações sobre a dança no que tange aos seus aspectos sagrados, profanos e artísticos, além de apresentar, sucintamente, a trajetória da dança clássica e o balé Romeu e Julieta, de Kenneth MacMillan.
O quarto ato, Do texto ao balé: (re)contando uma história de amor, apresenta, descreve e analisa, por meio da tradução intersemiótica, a primeira cena do balcão e a cena da morte de Romeu e Julieta. Destaca-se que, nesse ato, são utilizadas nomenclaturas do balé clássico para descrever as cenas. Para melhores esclarecimentos acerca dessas terminologias, ao final do livro apresenta-se um glossário.
Todo esse percurso mira a apreciação comparativa da transmutação do texto shakespeariano para o balé de Kenneth MacMillan (realizada pela companhia de dança inglesa The Royal Ballet). Os teóricos norteadores deste trabalho no campo dos estudos de adaptação são Gérard Genette (2010), Julie Sanders (2006; 2007) e Linda Hutcheon (2011); nas artes cênicas, Patrice Pavis (2008a; 2008b; 2010); e, no campo dos estudos semióticos, para efeito de análise, utilizou-se a teoria de tradução intersemiótica proposta por Roman Jakobson (2010).
Nesse contexto, na tentativa de compreender as escolhas feitas pelo coreógrafo em relação à narrativa da dança e à essência do texto teatral, a articulação entre literatura e dança tornou-se necessária, tendo como foco os seguintes elementos: figurino, cenário, iluminação, objetos cênicos, movimento e gesto.
Michelle Gabrielli
Se te comparo a um dia de verão
És por certo