Um Olhar que Atravessa: Análise de Filmes e Obras Estéticas
()
Sobre este e-book
Relacionado a Um Olhar que Atravessa
Ebooks relacionados
A Expressividade da Angústia: Rubião, Kafka e o Expressionismo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFilmosofia no cinema nacional contemporâneo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDecifrando Ana Cristina César Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntremeios: Ensaios sobre Literatura, Cinema e Comunicação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma espécie de cinema Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCinema de Duas Faces Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO enigma vazio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA experiência do cinema Lucrecia Martel: Resíduos do tempo e sons à beira da piscina Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO psicanalista vai ao cinema: Volume 3 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCinema vivido: raça, classe e sexo nas telas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCinema e Antropoceno: Novos sintomas do mal-estar na civilização Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiteratura, Cinema E Sociedade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória pessoal e sentido da vida: historiobiografia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFilosofia e arte Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGuattari/Kogawa: Rádio live. autonomia. japão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTomada de Posse Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAdélia Prado: a poesia no apogeu: Conhecimento para todos, 1 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasImagem Fascista no Cinema: Remakes, Blockbusters e Violência Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTrancos Rápidos: Cinema, Intensidade Urbana e Sobrecarga Visual Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPastichos e miscelanea Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRepresentações líquidas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPor Que Ser Antropólogo? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDevir-Corpo e Educação: O Adoecimento das Professoras e uma Intervenção Grupal Micropolítica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnquanto Deus não está olhando Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA questão do estético: ensaios Nota: 0 de 5 estrelas0 notasClarice Lispector Apesar De Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBarthes em Godard: Críticas suntuosas e imagens que machucam Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRuptura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMadame Bovary de Gustave Flaubert (Análise do livro): Análise completa e resumo pormenorizado do trabalho Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Desejo De Deleuze Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Artes Linguísticas e Disciplina para você
Fonoaudiologia e linguística: teoria e prática Nota: 5 de 5 estrelas5/5Oficina de Alfabetização: Materiais, Jogos e Atividades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLeitura em língua inglesa: Uma abordagem instrumental Nota: 5 de 5 estrelas5/5Desvendando os segredos do texto Nota: 5 de 5 estrelas5/5Falar em Público Perca o Medo de Falar em Público Nota: 5 de 5 estrelas5/5Práticas para Aulas de Língua Portuguesa e Literatura: Ensino Fundamental Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRedação: Interpretação de Textos - Escolas Literárias Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Grafismo Infantil: As Formas de Interpretação dos Desenhos das Crianças Nota: 4 de 5 estrelas4/5Um relacionamento sem erros de português Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGuia prático da oratória: onze ferramentas que trarão lucidez a sua prática comunicativa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Oficina de Escrita Criativa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuestões de linguística aplicada ao ensino: da teoria à prática Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Príncipe: Texto Integral Nota: 4 de 5 estrelas4/5Não minta pra mim! Psicologia da mentira e linguagem corporal Nota: 5 de 5 estrelas5/5Gramática Contextualizada Para Concursos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Gêneros textuais em foco Nota: 5 de 5 estrelas5/5Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDiálogos com a Gramática, Leitura e Escrita Nota: 4 de 5 estrelas4/5O poder transformador da leitura: hábitos e estratégias para ler mais Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Avaliações de Um Olhar que Atravessa
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Um Olhar que Atravessa - Vanessa Brasil Campos Rodríguez
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
À minha mãe,
pela vida e por me mostrar infinitos horizontes...
O meu espírito rebela-se contra a estagnação. Deem-me problemas, muito trabalho, o mais complicado criptograma ou a mais intrincada análise e eu estarei no meu meio.
Sir Arthur Conan Doyle (Sherlock Holmes)
Porque eu só preciso de pés livres, de mãos dadas,
e de olhos bem abertos.
Guimarães Rosa
Sou apaixonado pelo mistério, porque sempre tenho
a esperança de desvendá-lo.
Charles Baudelaire
PREFÁCIO
Me é doce o afogar-me neste mar
Quando a professora Vanessa Brasil me pediu que escrevesse o prefácio do seu segundo livro, Um olhar que atravessa, eu sabia do seu trabalho apenas que ela usava filmes para as suas aulas. O que era algo positivo, que casava com a nossa recomendação aos professores de que procurassem ministrar aulas movimentadas para melhor alcançar o objetivo do aprendizado.
Para me subsidiar para a tarefa, ela me deu um exemplar do seu primeiro livro, Além do espelho, e o texto do novo livro.
Li os dois e devo dizer que foi para mim um alumbramento
, como dizia Manuel Bandeira. Isso porque já li muito na minha vida, e sempre gostei nas viagens de visitar museus, sobretudo de pinturas, onde aprendi muito. Gosto também da boa publicidade, aquela que usa imagens e sons bem concatenados para promover um produto, um destino, uma causa.
Mas nunca entrei tão fundo nas obras quanto o faz a professora Vanessa nos seus livros.
Ela esquadrinha cuidadosamente cada obra para entender as razões que levaram o autor a estruturá-la como o fez. E a analisa baseando-se nos conceitos freudianos e nas ideias de outros autores, principalmente as do seu principal orientador, o professor González Requena, todos estudiosos que procuram entender as motivações humanas.
Frequentemente ela compara a concepção da obra a outras, literárias e das artes plásticas. Eu já conhecia quase todas as obras analisadas no primeiro livro, mas ainda assim aprendi muito e por vezes até entendi realmente algumas delas, como o filme Psicose, de Hitchcock, que vi há muitos anos.
Como boa professora, ela adverte sempre que a análise das obras é uma aventura. Que não existe uma verdade única no entendimento delas, até porque cada um de nós tem uma história pessoal e uma visão de mundo próprias que guiam o estudo que fazemos de cada obra de arte.
Por tudo isso, o livro Um olhar que atravessa – análise de filmes e obras estéticas é uma nova apresentação da metodologia da professora Vanessa. Dessa vez, quatro dos cinco capítulos do livro são análises de filmes. A exceção, o segundo capítulo, é um estudo da peça de Shakespeare, Macbeth, uma das mais famosas deste autor e que também foi filmada duas vezes, sendo a primeira versão a de Orson Welles, que dirige o filme e interpreta o personagem principal.
Todos os filmes escolhidos são obras destacadas, como é o caso de Central do Brasil, de Walter Salles Júnior, analisado no primeiro capítulo, que foi exibido em mais de 20 países, para cerca de cinco milhões de espectadores. Foi também campeão de prêmios: concorrendo em vários concursos importantes, como o Oscar, recebeu 25 indicações, sobretudo de melhor filme estrangeiro, e venceu em 17 delas.
Todos os capítulos que analisam filmes têm ilustrações dos principais momentos de cada um deles, o que facilita a compreensão da análise.
No caso de Central do Brasil, a discussão fica mais rica pela intercalação de citações de outra grande obra brasileira que é o livro Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. Isso porque a trajetória de busca empreendida pelos personagens é pelo interior do Brasil e as citações iluminam a vida naquelas regiões.
O segundo capítulo, sobre os filmes de vampiros, analisa os mais conhecidos dentre eles e começa com uma excelente recuperação histórica do mito do vampirismo desde os egípcios.
O terceiro capítulo discute a peça Macbeth, de Shakespeare, concentrando-se na figura de Lady Macbeth e sua renúncia à sua feminilidade para apoiar a ambição do marido.
O quarto capítulo analisa o filme Melancolia, de Lars von Trier, que se passa pouco antes da destruição da Terra pelo planeta Melancolia. Há uma análise também da melancolia como problema psíquico e a discussão de várias obras famosas, como dois quadros de Bruegel, o Velho.
O último capítulo é dedicado ao filme Crash, que, utilizando a cidade de Los Angeles como pano de fundo, retrata a alienação das pessoas nas grandes cidades, que procuram se defender do contato com outros por medo de serem agredidas.
Nessas aventuras com as obras analisadas, ganhamos muito conhecimento delas e, simultaneamente, conhecimento de nós mesmos.
Em aventuras por vezes enfrentamos mares revoltos, mas, como dizia o poeta italiano Leopardi, em seu poema O infinito
, me é doce o afogar-me neste mar
.
Professor Manoel J. F. Barros Sobrinho
Chanceler da Unifacs
SUMÁRIO
Prólogo
CAPÍTULO I
Central do Brasil, de Walter Salles: odisseia em busca da palavra do pai
Central do Brasil: entrando no sertão
Palavras e confissões
O purgatório e o inferno do significante
Roda mundo, roda pião...
Portadora da mentira
Viagem épica
O centro do texto: o Real
CAPÍTULO II
A imortalidade ao alcance do olhar. O mito do vampiro no cinema
O mito nas origens: o medo da morte
Do sinistro ao sedutor: o vampiro no cinema clássico
Do Drácula adormecido ao vibrante filme de Coppola
Entre brumas, sombras e gárgulas: a paisagem nos filmes de vampiro
A paixão pela eternidade
Capítulo III
A aniquilação da feminilidade. Lady Macbeth, de Shakespeare
Prólogo. Presságios
Abrem-se as cortinas. A aparição da grã-deusa: Lady Macbeth.
De olhos sempre abertos
Fecham-se as cortinas. Ser ou não ser feminina
, eis a questão
Capítulo IV
A Melancolia devora o olhar. Ponto de encontro de obras de arte com o filme de Lars von Trier
A melancolia e o temperamento melancólico
Encontros estéticos de melancolia
Capítulo V
CRASH, no limite: espaço do antiflâneur. Reflexões sobre o ser, a cidade e o choque com o Real
O flâneur: um contato prazeroso com a cidade
Crash – espaço urbano, espaço estranho
REFERÊNCIAS
Imagens:
Filmografia citada
Prólogo
Os trajetos da análise
O que o cinema e certas obras de arte têm que nos impressionam tanto? Que magia é esta que nos enfeitiça e contagia? Por que nos emocionamos diante de certas obras estéticas e nos sentimos tocados profundamente? Há algo nelas que faz vibrar, que ressoa e produz eco no espectador ou leitor. Alguns filmes, textos teatrais e pinturas me provocaram ao ponto de me instigar para sua análise, ou seja, para uma leitura detalhada e íntima da obra. Pois é preciso aproximação e intimidade, estar familiarizado, conhecer profundamente o texto que vai ser analisado, seja ele fílmico, teatral ou pictórico. Voltar uma e outra vez à sala de cinema, ao museu, ao teatro; retornar, rever, reler, até o ponto de alcançar um olhar que atravessa a superfície material da obra para encontrar o seu sentido.
Este olhar
que vai além, que é inquieto, necessitado e inquiridor, encontra eco na definição de Cardoso:
Ele perscruta e investiga, indaga a partir e para além do visto, e parece originar-se sempre da necessidade de ver de novo
(ou ver o novo), como intento de olhar bem
. Por isto é sempre direcionado e atento, tenso e alerta no seu impulso inquiridor... Como se irrompesse sempre da profundidade aquosa e misteriosa do olho para interrogar e iluminar as dobras da paisagem [...] que, frequentemente, parece representar um mero ponto de apoio de sua própria reflexão.¹
Diante de um texto que nos emociona, nos interroga, que provoca em nós a emoção estética, desperta nosso desejo e este olhar inquiridor, perguntamo-nos: em que ponto do texto devemos penetrar para analisá-lo? Baseamo-nos na Teoria do Texto proposta por González Requena² que sugere uma nova concepção de texto como algo que se centraliza, que se concentra em torno de um núcleo que o imanta. Para o autor, o texto está orquestrado ao redor de um ponto que atrai todos os outros pontos. Trata-se de um lugar de atração que magnetiza todos os significantes. Um dos passos fundamentais da Teoria do Texto é localizar esse ponto de ignição.
A proposta dessa linha de investigação nos permite percorrer o espaço textual através de trajetos que nos levam a esse núcleo, ao ponto de ignição. A análise deve começar, então:
Por aquilo que não entendo, por aquilo que me faz retornar. Por aquilo que me interessa, na medida em que oferece resistência, por aquilo que me invoca. Diante do texto artístico não existe outra experiência além da nossa. E é experiência do real. Algo que me convoca. Um ponto que queima, pois arde. O real. Isto é, algo que podemos nomear como ponto de ignição.³
O ponto de ignição, como a própria palavra indica, é um ponto ardente do texto, um ponto que queima. Em volta desse ponto se inscreve uma ordem de símbolos, porque não são simplesmente signos, mas signos magnetizados por um ponto que não é um signo. Segundo González Requena⁴ todos os significantes de um texto artístico, simbólico ou mítico apontam em sua direção. Esse núcleo de ignição centraliza a própria interrogação do sujeito que nesse texto se configura.
Os significantes que se encontram no campo de atração do núcleo em ignição são símbolos, porque são significantes magnetizados. Esse ponto magnético está envolvido por certa ordem simbólica que possibilita o trajeto até ele. Mas, ao contrário do que se pode pensar a princípio, esse lugar não é um ponto abstrato. Quando falamos de um ponto de ignição, nos referimos a algo concreto, empírico, preciso e material. Cada um de nós, em nossa experiência estética, sabe, pois já localizou um ponto de ignição. Há um lugar no texto que nos convoca e nos atrai como um vórtice. Neste livro, por exemplo, localizo o ponto de ignição na análise de Central do Brasil, no núcleo da cena em que Dora (Fernanda Montenegro) perde-se na multidão da festa da romaria e desmaia (capítulo I); no personagem de Lady Macbeth, grã-deusa que invoca o fim de sua feminilidade (capítulo III); no ponto fulgurante e ameaçador localizado no céu e que imanta as miradas de certos personagens tanto do filme como das pinturas selecionadas em Melancolia, um ponto em que o