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Memórias De Elizabetth
Memórias De Elizabetth
Memórias De Elizabetth
E-book137 páginas1 hora

Memórias De Elizabetth

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Sobre este e-book

Elizabetth é uma mulher forte e guerreira passou por várias situações difíceis desde a sua infância. convivência com o pai alcoólatra que agrediam sua mãe. Perdeu o animal de estimação, começou a trabalhar ainda criança para ajudar no sustento da família. ficou órfã ainda criança tendo que cuidar dos irmãos, ela sonha em estudar e proporcionar uma vida melhor para os seus. parte de sua cidade para São Paulo em busca de condições melhores para a sua família, é em São Paulo que a vida dela se torna um emaranhado de nós. No momento que achava está no fim do poço descobriu que o poço era ainda mais fundo, teria que lutar com todas as suas forças para superar. Esta é uma história que você vai rir e chorar e ainda identificar algo que parece com alguma situação que você ou alguém conhecido vivenciou, pois a mesma aborda fatos reais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de mar. de 2019
Memórias De Elizabetth

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    Memórias De Elizabetth - Shirlane Neves

    Acordei mais cedo que de costume e corri até a casa da minha avó. Adorava aquele bolo de fubá que ela sempre fazia. Minha avó morava um pouco distante da minha casa, e meus pais não gostavam que eu fosse sozinha à casa dela. Diziam que era perigoso, essas coisas de gente grande, mas eu não via mal algum, por isso acordei mais cedo, antes da minha mãe – as pessoas do interior acordam bem cedo.

    Cheguei então na casa da minha avó. Quando ela me viu cansada de tanto correr, levou um susto, achou que havia acontecido algo com alguém em casa. Estava cansada porque eu queria chegar logo, antes que meu pai descobrisse que eu tinha saído. Tive que explicar tudo.

    Ela fez aquele bolo que eu amo. Fiquei, claro, muito feliz. Enquanto ela preparava o café, conversávamos:

    — Elizabetth, minha filha, já é hora de você começar a estudar.

    — É o que eu mais quero, vó, mas a escola é longe da minha casa e meus pais falam que é perigoso, que eu não posso ir sozinha, um monte de coisas.

    — Mas ano que vem você terá nove anos e estará mais crescida. Vou falar com seu pai.

    A minha mãe me deu esse nome de Elizabetth em homenagem aos pais dela. Minha avó se chama Elisa, meu avô Beto e minha mãe se chama Sarah, em homenagem à mãe de minha avó. Meu pai se chama Antônio, que era o nome do avô dele. Tenho mais dois irmãos, Diana e Paulo. Diana é o nome da bisavó do meu pai e Paulo foi um nome que minha mãe ouviu no rádio (aliás, era um dos motivos pelos quais meu pai implicava com ela, mas ainda falarei sobre isso com mais detalhes).

    Mais tarde meu pai chega furioso comigo, me dando uma bronca. Minha avó, bondosa como sempre, conversa com ele, tentando acalmá-lo. Quando ele finalmente fica mais tranquilo, ela fala com ele sobre minha educação. No entanto, ele resiste, dizendo que a escola é longe. Vovó, porém, insiste:

    — Tem que dar o melhor para os filhos. A única coisa que você pode dar para ela é incentivá-la a estudar, para que sua filha tenha um futuro melhor que o seu. Além do mais, tem outras crianças da vizinhança que vão começar os estudos. Se for o caso, eu mesma a levarei, até que fique mais mocinha e tome conta dela mesma.

    Meu pai era muito rígido, ignorante e bruto, talvez porque não teve oportunidade para estudar. Começou cedo a trabalhar na roça para ajudar a família, e queria fazer o mesmo comigo. Eu deveria cuidar das crianças e ajudar minha mãe nas tarefas de casa, para sobrar mais tempo para ela poder ajudá-lo. Se eu fosse estudar, não sobraria muito tempo para os afazeres domésticos.

    A vida no interior era muito simples: ajudava minha mãe em casa e minha diversão era subir nos pés de frutas. Adorava uma manga bem madura, ficava contando os dias para que chegasse a época das laranjas bem madurinhas. Tinha a época das frutas maduras, não era o ano todo. Não havia crianças para brincar comigo. As pessoas moravam longe umas das outras.

    Minha mãe fez um balanço debaixo do pé de manga, e ali eu ficava horas balançando. Tinha a companhia da Diana, que era bem mais nova que eu, e de meu irmãozinho Paulo, que ainda era um bebê. Até que encontrei um amigo inseparável. Estávamos sempre juntos, era um corre-corre danado, brincávamos de pique-esconde, eu escondia atrás das árvores, dentro de casa, e ele me achava bem antes de eu estar totalmente escondida.

    Talvez pelo seu faro, o nome dele era Bravo. Veio morar com a gente ainda filhote. O amei desde que o conheci. Brincávamos o tempo todo, ele corria atrás de mim, e, quando cansava, caía no chão, puxava minha roupa e mordia de leve. Era um rola-rola no chão, mas longe dos olhos da minha mãe. Se ela visse, pegava uma vara no quintal ou o cinto do meu pai e dava uma surra em nós dois. Era só ela gritar Elizabetth! Larga esse cachorro imundo, espera aí que você vai ver!, que parávamos logo com a brincadeira. Bravo já sabia, pois já tinha passado por aquela experiência algumas vezes. Ele não era um cachorro sujo, pois tomava banho sempre, mas minha mãe teimava em dizer que ele era imundo.

    O Bravo foi crescendo e logo já era um cachorro grande, mas achava que ainda era pequeno, pois continuava com as mesmas brincadeiras. Sempre que ele pulava com aquelas patas enormes, eu caía feito uma abóbora no chão. Gostava muito dele, era meu amigão. Fui eu quem colocou esse nome nele; achei que ficaria bem bravo quando crescesse, igual a um que havia na casa da minha avó, o Feroz. Morreu logo, já era velho, mas ficava amarrado porque era bem bravo mesmo. Até os outros animais do quintal tinham medo dele. Se algum outro bicho passasse próximo dele, pegava e mordia até matar. Eu também tinha medo dele. Meu Bravo já era bem diferente: alegre, brincalhão e dócil. Foi meu pai quem trouxe ele para casa, ainda bem pequeno. Não sei onde ele o conseguiu, só sei que foi uma alegria só.

    Quando eu fazia alguma travessura e minha mãe ou meu pai me batia, eu chorava. Apenas escutava o choro e lá vinha o Bravo, sentando perto de mim com aqueles olhos tristes e lacrimejados, como se dissesse só eu te entendo, eles esquecem que você ainda é uma criança e que eles também tiveram a sua idade.

    Logo que comecei a brincar com o Bravo, larguei a boneca de pano que minha avó havia feito para minha irmãzinha Diana e eu. Não tinha graça brincar com aquela boneca, não fazia nada, nem um barulhinho, só ficava parada. Deixei só para Diana. Nós não tínhamos brinquedos, pois meus pais não tinham condições financeiras para comprar. O dinheiro que conseguia mal dava para a compra de cereais. Muitas vezes não havia nem café da manhã. A carne era um frango do quintal, eu nem conhecia leite, na maioria das vezes nossa refeição era à base de verduras que minha mãe colhia no quintal.

    Minha infância passa mais ou menos assim, e com muita dificuldade.

    No ano seguinte começam as aulas. De tanto minha avó falar, meu pai resolveu me matricular. Ele veio a mim, me pegou pelo braço, sentei num banquinho de madeira que ficava na sala, olhou firmemente em meus olhos com aquele jeito autoritário que ele tinha, apontou o dedo e disse:

    — Elizabetth, você vai estudar, mas toma muito cuidado. – Em seguida deu um monte de recomendações.

    Não via a hora de ir pra escola, aprender a ler e a escrever e, principalmente, ter outros colegas para brincar.

    Na segunda-feira da semana seguinte começaram as aulas. Bem cedinho chega a minha avó:

    — Elizabetth, vamos? Temos que andar muito!

    Eu já estava pronta, com uma roupa bem simples que minha avó havia confeccionado. Ela tinha uma máquina de costura, pois minha mãe não tinha condições para comprar roupas. Minha avó é quem fazia, e meu coração estava pulando de alegria. Minha mãe me abençoou e partimos.

    Antes de chegar, minha avó me deu uma oração de Nossa Senhora Aparecida. Vovó era bem religiosa, juntava-se com algumas senhoras da redondeza aos domingos para rezar o terço. Disse que a oração era para a santa me proteger na caminhada pela busca do meu futuro.

    O primeiro dia de aula foi mágico e maravilhoso. Só fiquei um pouco tímida, pois não estava acostumada a conviver com tanta gente. As pessoas que eu conhecia eram minha família e as senhoras que rezavam o terço com minha avó.

    Na sala havia uns 35 alunos, e logo me juntei a eles. A professora se chamava Zélia, não sei por quê. Deve ser em homenagem a alguém da família, não sei mesmo o porquê. As pessoas tinham mania de homenagear as outras colocando seus nomes nos filhos. Muitas vezes a pessoa nem conhece a homenageada, igual a minha irmã Diana, que não conheceu a bisa. Eu pelo menos conheço minha avó Elisa e meu avô Beto. Aliás, ele é meio quieto, na dele, mas eu gosto dele mesmo assim.

    A professora Zélia era muito bonita, tinha os cabelos compridos e loiros, era alta, magra e tinha os olhos verdes. Com um sorriso angelical, parecia uma menina. Todos ficaram encantados com a professora. Um dos nossos colegas disse que ela era a mulher mais linda do mundo. Era bondosa, gostava de cantar e brincar com a gente. De vez em quando ela trazia balas e bombons. Era um amor!

    Falei das novidades da escola para a minha família e das novas brincadeiras com minhas colegas. Do que mais gostei foi da merenda. Cada dia uma coisa mais gostosa que a outra, ainda mais pra mim, que mal tinha um pouco de café pra tomar antes de sair de

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