Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Eleições na União Europeia
Eleições na União Europeia
Eleições na União Europeia
E-book115 páginas1 hora

Eleições na União Europeia

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Sabia que nas eleições europeias de 2014 houve um crescimento eleitoral e da representação, muito significativo, de forças políticas eurocépticas, nalguns casos populistas e até xenófobas e anti-sistema? E que todas as previsões apontam para que as eleições de 2019 conduzam a um Parlamento Europeu ainda mais fragmentado? Face à crescente esfera de poderes da União Europeia, este ensaio reflecte sobre a viabilidade de um equilíbrio entre representatividade e governabilidade no Parlamento Europeu, procurando esclarecer a natureza das eleições europeias e o papel que desempenham, quer no quadro das instituições europeias, quer no mapa político da Europa.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de mar. de 2019
ISBN9789898943644
Eleições na União Europeia
Autor

Nuno Sampaio

Nuno Sampaio é professor e investigador do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, onde realizou o mestrado e se doutorou em Ciência Política e Relações Internacionais, com a tese Democracia e Legitimidade na União Europeia: A escolha do Presidente da Comissão. É licenciado em Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa. Assinou o livro Sistema Eleitoral Português: Crónica de uma reforma adiada (2009) e escreve com regularidade na comunicação social. É assessor para os assuntos políticos da Casa Civil do Presidente da República.

Autores relacionados

Relacionado a Eleições na União Europeia

Ebooks relacionados

Avaliações de Eleições na União Europeia

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Eleições na União Europeia - Nuno Sampaio

    Introdução

    A União Europeia (UE) vive um momento de encruzilhada: enfrenta fortes desafios, quer à escala global, quer no interior e na vizinhança das suas fronteiras. Ao mesmo tempo que os seus líderes expõem a necessidade, e reclamam a ambição, de a UE ser uma protagonista global que possa fazer face às ameaças da ordem mundial, a UE e os Estados­-membros deparam­-se com desafios à representatividade e à governabilidade dentro dos seus próprios sistemas democráticos.

    Neste contexto, torna­-se necessário compreender as eleições europeias à luz desses desafios e da sua própria natureza. O grande dilema é que estas são eleições europeias e simultaneamente eleições nacionais. E talvez, em grande medida, continuem a ser eleições mais nacionais do que europeias. Por isso, continua a ser pertinente perguntar se estas eleições serão verdadeiramente «europeias», ou se não podemos perder de vista que, tendo em consideração a história e a realidade política, estas continuam a ser, sobretudo, «eleições nacionais de segunda ordem», como lhes convencionou chamar a ciência política. Serão as eleições para o Parlamento Europeu (PE) um mecanismo de escolha do presidente da Comissão Europeia (CE) e do embrião de um «governo europeu», ou eleições com a função de eleger apenas representantes?

    Ao mesmo tempo que alguns veem nas eleições europeias uma oportunidade para acentuar o caráter supranacional da UE, transnacionalizar os mecanismos das democracias representativas e eleger um governo europeu, outros alertam para os riscos federalistas e para a necessidade de compreender a realidade da UE tendo em conta a diversidade das democracias que a compõem, preservando os seus elementos intergovernamentais e a soberania dos governos e dos parlamentos nacionais.

    O facto é que o alargamento geográfico, o crescimento dos poderes da UE e a mutação da realidade no início do século XXI, com a globalização e a transnacionalização dos problemas, apresentam desafios sérios de representação e de governabilidade à UE. Se o diagnóstico é em larga medida consensual, as respostas e as soluções preconizadas são difusas. Acresce que estas eleições têm sido palco privilegiado para o crescimento eleitoral de forças políticas de matriz identitária nacional e mesmo antieuropeia.

    Importa, por isso, compreender neste quadro o que tem acontecido nas eleições europeias, em particular nas de 2014, bem como tentar perspetivar o que, à luz do que conhecemos e da realidade política atual, se pode esperar destas eleições e dos seus efeitos para a representação política e a governabilidade na UE.

    Representatividade e governabilidade na União Europeia

    Democracia e legitimidade na União Europeia

    A primeira grande dificuldade em analisar as eleições para o PE, em comparação com outras eleições, prende­-se com a natureza híbrida e diversificada da UE, enquanto entidade política com crescentes poderes, composta por Estados­-membros cujos governos e parlamentos nacionais são democraticamente eleitos.

    No quadro do sistema político da UE, as eleições para o PE desempenham o importante papel de estabelecer um elo de legitimidade democrática direta entre os cidadãos e as instituições europeias. A UE vive numa tensão permanente entre a legitimidade democrática e a eficácia dos seus processos de decisão (Braga da Cruz, 2014). A questão é saber quem toma, como e com que resultados são tomadas as decisões no espaço da UE. Matérias como a imigração e o acolhimento de refugiados são paradigmáticas, quer pela sua complexidade, quer por apelarem aos mais elevados valores que fizeram da Europa o berço do humanismo, quer também por recordarem alguns dos medos mais sombrios da História do continente. Mas esta tensão é ainda mais percetível no domínio da governação económica e financeira, não só pela forma como evoluiu a União Económica e Monetária (UEM), mas sobretudo pelas respostas que tiveram de ser dadas à crise que eclodiu em 2008. Veja­-se a tensão entre as instituições europeias e o governo italiano relativamente ao orçamento apresentado para 2019. No entanto, o pedido de saída do Reino Unido é a consequência mais evidente na história comunitária da disputa entre os poderes da UE e os poderes dos Estados­-membros. Acresce que a disputa e a difusão do poder não são apenas entre os Estados­-membros e a UE, mas também entre as instituições europeias.

    O problema é transversal a diversas áreas; os processos de decisão e as respostas simples são insuficientes ou podem mesmo ameaçar não apenas a UEM mas, no limite, alguns dos valores da civilização europeia que foram o sustentáculo da paz, da consolidação democrática e do desenvolvimento económico e social nos últimos setenta anos. A questão é saber em que medida e de que forma se consegue que essas decisões sejam democráticas e eficazes: que sejam, simultaneamente, legítimas aos olhos dos cidadãos nas quase três dezenas de democracias que compõem a UE e que ao mesmo tempo tenham a capacidade de responder, em tempo útil, a problemas que galgam as fronteiras das comunidades políticas que se forjaram nos Estados, hoje também ameaçados pelas mais variadas formas de localismos, regionalismos e isolacionismos.

    A perceção de que muitas das decisões ao nível europeu não são tomadas por eleitos ou não são escrutinadas pelos cidadãos consolidou a ideia de que existe um distanciamento pernicioso entre os cidadãos e os políticos e tecnocratas sediados nas instituições europeias, a que se convencionou chamar «défice democrático». À medida que as políticas europeias têm cada vez mais influência no dia a dia, a necessidade de que essas políticas sejam sentidas como democraticamente legítimas também aumenta. A ideia de que a UE se deve fundar em princípios democráticos está expressa nos tratados da UE. E também é condição de adesão à UE que um país seja uma democracia. É tal o prestígio que a democracia tem no mundo contemporâneo que não conseguimos conceber que pudesse ser de outra

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1