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Um Apocalipse para o Rei
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Um Apocalipse para o Rei
E-book360 páginas4 horas

Um Apocalipse para o Rei

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Sobre este e-book

O livro Um Apocalipse para o Rei é baseado na leitura do Commentarium in Apocalipsin do Beato de Liébana, códice encomendado pelos reis Fernando I e D. Sancha, no ano de 1047. Portanto toda temática está voltada para a leitura e análise de um documento cristão do século XI. Desenvolvemos nossa argumentação em torno da seguinte pergunta: por que esse códice foi encomendado pelos reis cristãos? Pergunta que nos levou à hipótese de que seria esse um documento utilizado como instrumento político de persuasão dos reis cristãos contra muçulmanos e judeus. Lembrando que tanto o texto escrito quanto suas inúmeras iluminuras contribuíram de forma efetiva para a formação de uma leitura do texto bíblico Apocalipse.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de mar. de 2021
ISBN9786555231922
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    Um Apocalipse para o Rei - Carolina Akie Ochiai Seixas Lima

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Dedico este livro aos meus amores, Adailton, Alissa e Letícia.

    AGRADECIMENTOS

    Ao professor Leandro Duarte Rust que me permitiu trilhar um caminho tranquilo para o desenvolvimento deste projeto que se torna livro. Não mediu esforços para construir a historiadora que nasceu linguista, filóloga e latinista e que agora tem uma outra história para contar. Serei grata por toda eternidade, literalmente, sem força de retórica.

    Devo os mais sinceros agradecimentos às professoras, Raquel de Fátima Parmegiani, Leny Caselli Anzai, Thaís Leão Vieira e Célia Marques Telles e ao professor Bruno Gonçalves Álvaro, que contribuíram com a minha pesquisa que se materializa nesta obra.

    À minha mãe, D. Lu, agradeço por ter me educado, por ter me ensinado princípios que jamais serão apagados ou roubados, por ser exemplo de pessoa, de ser humano, por estar sempre perto de mim e por simplesmente ser minha mãe. Mãe, muito obrigada por tudo!

    Ao meu pai, professor Cyllo (in memoriam), agradeço por ter me ensinado as primeiras palavras em latim, a partir dos nomes científicos dos animais e das plantas e por ter me ensinado, ainda criança, a pesquisar, a ser curiosa, a fazer bem feito tudo. No infinito do universo, no colorido do cosmos, no azul do céu, no perfume das plantas ou na poeira das estradas, onde quer que o senhor esteja, receba meu mais fraterno agradecimento.

    Ao meu marido, Adailton, meu agradecimento especial, meu maior carinho, minha mais profunda gratidão por sempre estar ao meu lado, por sempre me incentivar a estudar e a ir mais longe. Meu companheiro de tudo nessa vida, pai maravilhoso, marido paciente que sempre entendeu meus momentos de imersão nos estudos, dedico esta obra a você, pessoa maravilhosa. Obrigada sempre.

    Agradeço de coração às minhas filhas, Alissa e Letícia, e ao meu genro, Leonardo. A eles, sou imensamente grata, por um simples motivo: por estarem sempre ao meu lado, sempre comigo em todos os momentos em que me cansei de ler, de escrever, de pensar e inclusive naqueles momentos em que minha cabeça estava tão inflada das leituras e dos estudos que eu me confundia com as coisas mais corriqueiras que eles já tinham me dito e que eu repetia tudo de novo. A eles, serei grata por toda a eternidade, sem os quais eu não seria a pessoa melhor que eles ajudaram a moldar nesses longos anos de convivência fraterna e amorosa. Obrigada, meus amores.

    Obrigada a tudo e a todos.

    Dando vida a uma forma, o artista a entrega, acessível às infinitas interpretações possíveis. Possíveis, é importante notar, porque ‘a obra vive apenas nas interpretações que lhe são dadas’; e infinitas não somente pela característica de fecundidade própria da forma, mas porque diante dela coloca-se a infinidade das personalidades interpretantes, cada qual com seu modo de ver, de pensar, de ser.

    (Umberto Eco)

    PREFÁCIO

    Pensar com a ciência não é simples. Tampouco fácil ou confortável. É ao custo do sossego interior, da tranquilidade subjetiva, que se treina uma mente cientificamente. Mas sem fazê-lo, a convivência ganha tons mais nervosos e rígidos. Imaginemos um exemplo frugal. Uma pergunta curta, singela, algo como: Para que serve a história? Apresente a dúvida a um público do seu cotidiano e muito provavelmente, prezado leitor, você ouvirá respostas que competirão ferozmente por sua atenção. Ora, ela serve para preservar o passado e manter a tradição – eis, talvez, a opinião da maioria. Ledo Engano! Relatamos a história para expressar o desejo pelo amanhã, para poupar o futuro de erros cometidos – alguém rebateria. Deixem essa alienação romântica de lado. A história é uma crítica de tudo que se tenta negar e encobrir: das opressões justificadas, das misérias silenciadas – raramente faltaria quem disparasse tal juízo. Quantas pretensões! A história não serve para coisa alguma além de entreter, de imaginar épocas que nunca serão nosso presente – quando essa opinião emerge, não há lugar para as demais. Faz tempo que convivemos assim, convertendo perguntas valiosas em globos da morte intelectual: em lugares onde respostas pré-concebidas são trancafiadas até que somente uma saia inteira. No Brasil de 2019, o conhecimento tem sido tratado como um torneio mortífero de opiniões. Convívio áspero, impaciente, algo desolador. Mas podemos encontrar alento na atitude científica. O livro que o leitor tem nas mãos é uma afortunada prova disso.

    Há alguns anos a professora de latim, filóloga e historiadora Carolina Akie Ochiai Seixas Lima se propôs a investigar um manuscrito pertencente a uma das mais difundidas tradições escritas da Idade Média europeia, os comentários sobre o livro do Apocalipse. O tema é um velho conhecido de historiadores, teólogos, filósofos, filólogos. Quando se trata dos Comentários, há uma série de conclusões cristalizadas, de certezas canonizadas. Arrisco-me a dizer que não é improvável encontrar quem pense ser um tema esgotado, como se tudo o que pudéssemos saber a seu respeito já tivesse sido dito. Tal investigação era um desafio imenso. Os estudos acadêmicos não fogem à vida social. Eles também são pressionados pelo antagonismo de opiniões e suscetíveis à lógica que equipara o saber ao privilégio de deter a palavra final sobre algo. As páginas a seguir são movidas pela busca corajosa por renovar a postura científica dos estudiosos a respeito de um tema consagrado; capítulo a capítulo desenrola-se uma saga para refazer o caminho das ideias, para pensar de novo, desassossegar opiniões e redescobrir um velho conhecido.

    Esse enredo se passa ao redor de um manuscrito medieval. Em 1047, um monge da região das Astúrias pôs fim em um longo trabalho quando trançou a última costura na lombada formada por centenas de páginas. Anos de um trabalho paciente resultaram em um volume corpulento, habitado por multidões de profetas, anjos e serpentes iluminados em cores vívidas, arrebatadoras. Quando os olhos pousam sobre o latim elegante, grafado em estilo visigótico, nota-se que se trata de uma versão do Commentarium in Apocalipsin (Comentário sobre o Apocalipse), o venerável texto atribuído ao Beato de Liébana, uma figura envolta em brumas de incertezas, que teria falecido por volta de 798. O manuscrito fora encomendado por Fernando I e Sancha, reis de Leão e Castela, para celebração de dez anos de reinado. É a partir da observação atenta desse documento que Carolina enfrenta a antiga pergunta: qual o valor histórico de uma obra como essa? Traçando relações entre texto e contexto, a autora oferece demonstrações valiosas sobre o vasto campo de possibilidades de estudo: o manuscrito é um objeto multidimensional, seus significados são inesgotáveis. O Commentarium é um artefato genuinamente ibérico, a marca material de uma sociedade em que faiscavam tensões sociais entre três monoteísmos medievais; é igualmente um gesto de poder, uma estratégia discursiva monárquica corporificada em códice; elo da cultura clerical, o manuscrito pertencia a uma tradição, que surgia ressignificado em suas páginas. Camada após camada, a autora escava cuidadosamente partes do manuscrito cujo valor é habitualmente subestimado pelos estudiosos, quando não esquecido. Agindo assim, feito arqueóloga do latim medieval, Carolina Akie Ochiai Seixas Lima trouxe à luz o livro que o leitor tem em mãos. Originalmente uma tese de doutoramento em História, na Universidade Federal do Mato Grosso, em 2018, ele é mais do que isso. É uma recordação prática sobre a importância da atitude primordialmente científica: nós não temos todas as respostas para as perguntas fundamentais. Pensar com a ciência é se deixar estarrecer, é se desembaraçar do óbvio e do habitual, é travar um angustiante face a face com o incerto e desconhecido. A ciência é um esforço diligente para sondar limites, para deixar de ser o que já somos, contemplando o vasto oceano de possibilidades além do horizonte de nossas opiniões.

    Vire a página e verá.

    Prof. Dr. Leandro Duarte Rust

    Departamento de História

    Universidade de Brasília

    APRESENTAÇÃO

    Este livro tem como objeto o Commentarium in Apocalipsin do Beato de Liébana, códice encomendado pelos reis Fernando I e D. Sancha, no ano de 1047. Este documento apresenta-se em letra manuscrita visigótica, em latim eclesiástico. Portanto temos um documento cristão do século XI sobre o qual levantamos a seguinte pergunta, por que esse códice foi encomendado pelos reis cristãos? Pergunta que nos levou à hipótese que defendemos: esse documento pode ter sido utilizado como instrumento político de persuasão dos reis cristãos no contexto de uma religiosidade conflituosa.

    O Commentarium in Apocalipsin foi escrito, em 1047, na região de Astúrias por um monge hispânico, Beato de Liébana, a pedido de Fernando I – Rei de Leão e Castela. O interesse por essa obra se explica pelo fato de que tal códice ganhou notada importância na Alta Idade Média e durante os séculos seguintes por suas fortes descrições e atraentes simbolismos relacionados ao Apocalipse. Sua linguagem apocalíptica vinculada ao Anticristo foi muito importante para os escritos patrísticos e para as homilias no medievo¹.

    A respeito do Beato de Liébana, em Araguz e Martínez (2003) temos, Beato de Liébana (? – 798), também conhecido como São Beato (nome que aparece no calendário litúrgico de santos), um santo católico cuja festividade se celebra no dia 19 de fevereiro, foi monge do Monastério de São Martinho de Turieno (atual mosteiro de Santo Toríbio de Liébana), viveu na comarca cântabra lebaniega na segunda metade do século VIII. Posteriormente foi abade do Monastério de Valcavado e também conselheiro e confessor da Rainha Adosinda (filha de Afonso I, das Astúrias, foi rainha consorte das Astúrias até o ano 783), sua obra mais conhecida é o Commentarium in Apocalipsin, texto enormemente difundido durante a Alta Idade Média devido ao seu enfoque de alcance teológico, político e geográfico, foi escrito para explicar o mais complexo e hermético texto bíblico Apocalipse. Isso faz do texto do Beato um texto de capital importância por sua riqueza iconográfica e por seu valor testemunhal. Pouco se conhece da vida desse lebaniego, seu nome real era Beato (masculino de Beatriz), foi um grande defensor da ortodoxia católica. Ao Beato devemos também o hino O Dei Verbum, de onde pela primeira vez na história se apresenta o apóstolo Santiago como evangelizador da Espanha, criando uma devoção que facilitou o descobrimento de sua tumba por Teodomiro, bispo de Iria Flavia. Esse acontecimento foi fundamental para unir os cristãos do Norte em uma causa comum, a do nascimento de um sentimento nacional, a partir desse momento a Hispânia começou a ser conhecida em âmbito internacional altomedieval. Provavelmente, o Beato foi o primeiro escritor espanhol influente nesse contexto europeu medieval. Gostaria de deixar claro que utilizamos, para esta pesquisa, o códice de 1047, disponível na Biblioteca Digital de Madri, em formato digital².

    Nesse contexto, a encomenda do códice iluminado testemunha o que Bloch (1998, p. 107) chama de prazer universal de contar ou a ouvir contar, pelo fato de que o texto escrito pelo Beato de Liébana era lido e ouvido pelos cristãos. Além disso, o texto contém histórias consideradas universais, como as histórias dos povos da Judeia, a história do dilúvio, a história de Davi, a história de Daniel e muitas outras histórias bíblicas somadas ao conteúdo apocalíptico que é o tema universal e central do texto.

    Tanto o texto escrito quanto suas inúmeras iluminuras contribuíram de forma efetiva para a formação de uma leitura do texto bíblico Apocalipse, último livro do Novo Testamento da Bíblia Cristã. É nesse sentido, tendo essa tradição como pano de fundo, que realizamos a análise das relações de poder mais efetivas entre a aristocracia, a monarquia, a Igreja e as chamadas minorias muçulmanas e judaicas presentes na Península Ibérica, no século XI.

    O texto escrito pelo Beato marcou profunda e duradouramente a cultura eclesiástica medieval, notadamente da Península Ibérica. Seus comentários ecoaram nas visões sobre a história, na teologia da salvação e na eclesiologia partilhada por bispos e monges ibéricos por inúmeras gerações. Sua obra é diretamente constitutiva do que se pode chamar de tradição cristã.

    Bem como afirma Collins (2010, p. 46), devemos também assinalar que um texto permanece existindo e pode ser reutilizado em vários contextos e em ocasiões diferentes é o que podemos perceber no caso do códice por mim, aqui, estudado. Escrito pela primeira vez no século VIII e encomendado novamente no século XI, em circunstâncias de produção bem diferentes das quais havia sido escrito pela primeira vez, a tradição apocalíptica é reutilizada em favor do reinado cristão de Fernando I e D. Sancha³.

    Para ilustrar, apresento a árvore genealógica dos Beatos, ou seja, seu stemma, as famílias em que os vários manuscritos ilustrados podem ser divididos:

    Fonte: KLEIN, P. K. Beatus a Liébana in Apocalypsin Commentarius. Edition Helga Lengenfelder, München, Germany, 1990.

    De acordo com o stemma postulado por Klein (1990), podemos apresentar as seguintes famílias nas quais se subdividem os manuscritos do Beato, nas bibliotecas de vários países. Em destaque, na Família IIa, o códice utilizado para esta pesquisa:

    Família I

    Madrid, Biblioteca Nacional, Ms. Vtr. 14-1 (olimHh 58); Kingdonof León, ca. 930-950 (=A¹).

    Paris, BilbiothèqueNationale, Ms. Lat. 8878; Saint-Sever (Gascony),between 1028 and 1072 (= S).

    El Escorial, Biblioteca delMonasterio, Cod. &.II.5; Castile, second half of the tenth century (= E).

    Madrid, Real Academia de la Historia, Cod. 33; San Millán de la Cogolla (Castile), early and lat eleventh century (=A²moz and A²rom).

    Santo Domingo de Silos, ArchivodelMonasterio, Fragm. 4; Northern Spain, late ninth or early tenth century (= Fc).

    Burgo de Osma, Museo de la Catedral, Ms. 1; Northern Spain, 1086 (= O).

    Rome, Biblioteca Cosiniana (Academia dei Lincei), Ms. Lat. 369; Spain, eleventh – twelfthcentury (= C).

    Lisbon, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Cod. 160; Lorvao, 1189 (= L).

    Lean, ArchivoHistorico Provincial, Perg.,Astorga 1; Northern Spain (León?), second half of the twelfth century (= Le).

    Paris, BibliothèqueNationale, Ms. Nouv. acq. lat. 1366; Navarre, about 1200 (= N).

    Família IIa

    New York, Pierpont Morgan Library, M. 644; San Miguel de Escalada, (León), ca. 950-960, by the painter Magius (= M).

    Valladolid, Biblioteca de laUniversidad, Ms. 433; Kingdomof León (Valcavado7), 970 (= V).

    Seo de Urgel, Archivo de la Catedral, Cod. 4; Northern Spain (Rioja ?), second half of the tenth century (= U).

    Madrid, BibliotecaNacional, Ms. Vitr. 14-2 (olim B.31); San Isidoro at León, 1047, by the scribe Facundus, for King Fernando I of Castile-León (= J). [OBS: Este é o manuscrito selecionado para esta pesquisa].

    London, British Library, Add. MS 11695; Santo Domingo de Silos (Castile), completed 1091-1109, by the painter Petrus (= D).

    Família IIb

    Madrid, ArchivoHistorico Naciona1, Cad. 1097 B (olimeod. 1240); San Salvador de Tabara (Kingdom León), completed 968-970, by the painters Magius and Emeterius (= T).

    Gerona, Museo de la Catedra1, Ms. 7; Kingdom of León (Tabara ?), 975, by the painters Emeterius and Ende (:::G).

    Turin, Biblioteca Nazionale, Ms. I.II.l (olim lat. 93); Catalonia (Ripoll?,Gerona?), earlytwelfthcentury (= Tu).

    Manchester, John Hylands University Library, Latin MS 8; Castile, late twelfth century (= R).

    Madrid, Museo Arqueológico Nacional, Ms. 2 + Paris, Private Collection (olimMarquet de Vasselot) + Madrid, Biblioteca de la Fundación Zabálburu (olimHeredia Spínola) + Gerona, Museo Diocesano; from San Pedro de Cardeña (Castile), late twelfthcentury (= Pc).

    Paris, BibliothèqueNationale, Ms. Nouv. acq. lat. 2290; from San Andrés de Arroyo (Castile), early thirteenth century (= Ar).

    New York, Pierpont Morgan Library, M. 429; from Las Huelgas, near Burgos (Castile), 1220 (= H).

    Mexico City, Archivo General de la Nación, Ilustr. 4852; Castile, mid- thirteenth century (= Mex).

    Partindo dessa divisão em famílias e do stemma em que se encontram os manuscritos é que posso afirmar que esse objeto de pesquisa pertence à família IIa. Essa divisão pôde me fornecer alguns dados fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa, tais como, a localização dos manuscritos e seus iluminadores, e o fato de ser o manuscrito em melhor estado de conservação.

    A escolha pelo manuscrito que se encontra na Biblioteca Nacional de Madrid justifica-se pelo fato de ser esta a mais importante de todas as cópias espalhadas por bibliotecas do mundo inteiro, a sua importância se dá pelo fato de que esse códice é considerado o mais valioso dentre os ٣٥ exemplares sobreviventes da referida obra. Outro importante argumento para a escolha do códice em questão (ver Família IIa – item 4) está relacionado ao fato de que esse códice, conhecido por hispanistas como Beato de Fernando I y Doña Sancha (também chamado Beato Facundo ou J de Neuss) seria já plenamente Românico e incluso no período Protogótico (ARAGUZ; MARTÍNEZ, 2003) – séculos XI e XII – considerado o mais interessante do ponto de vista filológico.

    Este trabalho realiza o estudo historiográfico do Commentarium in Apocalpisin do Beato de Liébana que contém vinte e quatro tábuas genealógicas da ascendência de Jesus Cristo, nas páginas iniciais e iluminuras que representam os quatro evangelistas, além de imagens de Jesus Cristo, Adão e Eva e outras figuras bíblicas e um texto que inicia o comentário.

    Levamos em consideração o fato de que a obra do Beato de Liébana já foi estimada como um dos textos patrísticos mais utilizados na arte e na literatura, porém muito pouca ou quase nenhuma atenção é dada a ela no que se refere ao cunho político. Portanto, tendo em vista essas questões, selecionei para análise algumas das 116 iluminuras contidas em todo o Commentarium in Apocalipsin.

    Autores espanhóis como Araguz e Martínez (2003) no artigo Las Visiones Apocalipticas de Beato de Liébana, Echegaray (1999) em seu artigo Beato de Liébana y los terrores Del año 800, de forma incansável, tratam das representações imagéticas do Beato como uma das mais extraordinárias manifestações da arte ocidental. Afirmam esses autores, que os Beatos serviram de modelo para artistas de todos os tempos, pois suas iluminuras constituíram um dos grandes valores da arte espanhola, legado que deixou marcas até os nossos dias.

    Ao longo da pesquisa, percebemos que o enquadramento do nosso objeto se dá fundamentalmente pelos enfoques que se concentram na história cultural, na história das mentalidades e na cultura eclesiástica na Idade Média.

    É o que se pode perceber, por exemplo, com Jiménez (2009)⁴ em seu artigo, Beato de Liébana, profeta del milênio, o Apocalipse é um dos livros mais difíceis de entender e mais enigmáticos dos que compõem a Bíblia Cristã. Assim, a obra do Beato segue sendo um dos monumentos iconográficos românicos importantes para a compreensão do último livro revelado da Bíblia

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