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Tragicrônicas de uma pandemia
Tragicrônicas de uma pandemia
Tragicrônicas de uma pandemia
E-book60 páginas38 minutos

Tragicrônicas de uma pandemia

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Sobre este e-book

O livro agrega vários textos elaborados pelo autor durante o período da pandemia, todos voltados a episódios envolvendo o período de 2019 a 2021. As crônicas escritas buscam trazer uma reflexão do comportamento social, político etc. com alguma pitada de ironia, sarcasmo, tristeza e realidade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de jan. de 2023
ISBN9786553553170
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    Tragicrônicas de uma pandemia - Marcos Augusto Brandalise

    Tragicrônica da vida real apresenta: A carreata e o funeral

    Durante o período de pandemia, em pleno pico de superlotação de leitos hospitalares, todos andavam muito apreensivos. Era de casa para o trabalho e do trabalho para casa — quando muito, uma passada mais do que rápida no mercado ou na farmácia. As redes sociais tornaram-se a melhor companhia e distração, canal de entretenimento, informação, comunicação, discórdia e passatempo.

    Naquele dia, porém, havia um grande alvoroço na internet: a ala dos indignados resolveu promover um movimento para destacar sua insurgência com toda aquela barbaridade que ocorria. Afinal, temos de achar um culpado. Ora era o STF, ora os gestores, ora o morcego da China, ora o dólar, ora o tempo úmido, ora o preço da soja etc. Foi então que se decidiu organizar uma carreata para o dia seguinte, daquelas típicas, a fim de chamar a atenção para a pauta. Às 16h, na praça, todos estavam devidamente caracterizados, inclusive com muitos fogos, bandeiras, som alto e buzinas intermitentes.

    Na noite da véspera à carreata, enquanto todos estavam entrincheirados em seus lares, toca o telefone.

    "Cara, é o Nuno. O Zé morreu. O vírus pegou ele. Tava na UTI, mas não aguentou."

    "Não pode ser! É sério? Mas ele era tão novo, tinha a nossa idade! Que eu saiba, nem comorbidade tinha. Era meio atrapalhado, mas daí a morrer..."

    "Pois é. Triste perder um amigo de infância, né. Amanhã às 16h eu passo aí e vamos no enterro."

    Então, no outro dia, como combinado, os amigos se encontraram e foram rumo ao cortejo. "Vamos só no enterro, né? Velório aglomera demais e pode ser que peguemos o vírus". Ambos queriam prestar homenagem, mas nem tanto assim. Seguiram. Um pouco rindo, um pouco falando e, quando lembravam, também rezavam para a alma do amigo.

    A fila de veículos era enorme; várias pessoas queriam, de alguma forma, despedir-se do amigo/ente querido que tão cedo partiu para a morada eterna. Não se enxergava o início nem o fim do cortejo. Enquanto estavam naquela fila de veículos rumo ao cemitério, foram rememorando fatos vividos com o defunto (quando era vivo, por certo), desde a infância até os últimos contatos que tiveram com ele.

    Eis que no entroncamento de duas principais vias daquela cidade de aproximadamente 50 mil habitantes, o cortejo fúnebre cruza com a carreata do movimento contra-covid-fique-em-casa. Entre um carro que seguia e outro que descia, o inevitável aconteceu: As duas carreatas se misturaram. Dali em diante, o cortejo passou a ser composto também por caminhões, carros e motos caracterizados com bandeiras, som alto e muitos foguetes. Do outro lado, alguns veículos que estavam na fila do rabecão acabaram se perdendo e entrando na carreata.

    "Mas que estranho isso, né, cara. Tu vê, os cara vem prum enterro soltar foguetes? Tá certo que fazia tempo que eu não ia a um enterro, mas não sabia que essas coisas mudavam tanto assim."

    "Nem me fale. Acho que nada é estranho prum morto que, em vida, também foi meio estranho, né (riram). Mas veja que além desses foguetes, também me chamou a atenção aquele cara em cima, no capô do caminhão, gritando ‘Chupa, gripezinha!’. Confesso que achei meio agressivo com o Zé".

    E assim foram até o

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