Educação em diferentes contextos: O digital e a inclusão
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Educação em diferentes contextos - Conhecimento Livraria e Distribuidora
Sobre os organizadores
Paulo Sérgio Araújo
Doutorando em Ciência da Informação, Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal. Mestre em Ciências da Religião, PUC – Minas. Graduado em Filosofia, PUC – Minas. Graduando em Engenharia de Software - Universidade Estácio de Sá. Professor de Filosofia e Iniciação a Pesquisa - Faculdade ISTA. Gestor de Projetos e Coordenador do Núcleo de Inovação Cocriação e Disrupção Educacional – NICDE – da Coordenadoria de Tecnologia da Secretaria Municipal de Educação de Betim - MG. Diretor, Proprietário e Fundador da Empresa Paideia Conexões Acadêmicas.
Luis Borges Gouveia
Professor Catedrático na Universidade Fernando Pessoa. Doutoramento em Ciências da Computação pela Universidade de Lancaster, Reino Unido. Mestrado em Engenharia Eletrônica e de Computadores, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Licenciatura em Informática, Matemáticas Aplicadas pela Universidade Portucalense. Possui a agregação em Engenharia e Gestão Industrial pela Universidade de Aveiro. Na Universidade Fernando Pessoa é coordenador do programa de doutoramento em Ciências da Informação, especialidade Sistemas, Tecnologias e Gestão da Informação, membro eleito do seu conselho de estratégia. É coordenador eleito do Grupo Informação, Comunicação e Cultura Digital, do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, um dos Grupos de I&D da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Pertence ao conselho consultivo e direção norte da APDSI - Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação, uma ONG Portuguesa com tradição na discussão e divulgação das questões do digital na sociedade, com mais de 20 anos. Desenvolve atividade docente há 30 anos no ensino superior, tendo colaborado com universidades em Portugal e no estrangeiro, nas suas áreas de especialidade. Os seus interesses são o digital e como explorar o seu potencial para melhorar a atividade humana. Os seus interesses são o digital e como explorar o seu potencial para melhorar a atividade humana.
Fátima Paiva Coelho
Doutora em Intervenção Psicopedagógica e Educação Especial pela Universidade da Extremadura (UEX) Mestre em Psicologia Educacional pelo ISPA (Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida), licenciada em Educação Especial, pela escola Superior de Educação de Lisboa. A sua atividade de investigação centra-se nas temáticas da Formação de Professores, Inovação e Intervenção em Contextos Educativos e Educação Inclusiva. Publicou livros, capítulos de livros e artigos científicos da sua autoria ou coautoria. Tem organizado e participado com comunicações em eventos de cariz científico, nacionais e internacionais. Foi presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo de Lagos (CPCJ) e juiz social. Foi também Coordenadora de projetos internacionais e de várias equipas de educação especial. Foi membro da equipa de formadores do Ministério da Educação, na área da educação especial, foi docente convidada em várias universidades e desde 2009 exerce atividade docente na Universidade Fernando Pessoa, onde integra a equipa de coordenação do mestrado em Ciências da Educação: Educação Especial, lecionando várias unidades curriculares. É ainda responsável por acompanhar e orientar várias teses de Mestrado e ou Doutoramento.
PARTE I
PERSPECTIVAS PARA EDUCADORES
1. Formação Continuada para Mediadores Tecnológicos
Tatiana Eliza Gomes de Carvalho da Silva[1]
1. Introdução
A tecnologia por si só não traz melhorias para a educação, é preciso que os professores façam a mediação do trabalho para oportunizar às crianças um ensino de qualidade com acesso às diferentes tecnologias da educação e às diversas oportunidades que elas podem oferecer para a qualidade de um ensino melhor.
Com a visão que a tecnologia pode ser utilizada como uma ferramenta para oferecer recursos inovadores aos alunos e ajudar os professores a criarem novos projetos de ensino com as TDICs, permitindo a educação incorporar novas possibilidades de aprendizagem, que esse capítulo apresenta.
Neste ínterim, entendemos que a relevância do estudo é contribuir com a inclusão digital por meio da ampliação do acesso a computadores, da conexão à rede mundial de computadores e de outras tecnologias digitais, beneficiando a comunidade escolar e a população próxima às escolas e, também, planejar estratégias de ensino e aprendizagem integrando recursos tecnológicos disponíveis e criando situações de aprendizagem que levem os alunos à construção de conhecimento, à criatividade, ao trabalho colaborativo e resultem efetivamente na construção dos conhecimentos e habilidades esperados.
2. A Formação Continuada de Professores no Brasil
A educação surgiu no Brasil em 1549, com a chegada dos sacerdotes jesuítas, com o intuito de salvar os índios
; nesse momento, era distante o compromisso para a construção do conhecimento e desenvolvimento das faculdades humanas. Por ser uma educação doutrinária, voltada para moral cristã, a preocupação com a formação de professores não surge neste momento, tal período, o educador estava a serviço da Igreja com a missão de civilizar
, pacificar
e converter
os índios e tratar da condução da educação para a elite.
Não havia recursos financeiros e materiais para o ensino, o que tornava-o precário. O professor assumia o papel de catequizador e contribuía com controle das massas, seu espaço de ensinamento caracterizado por sala de aula produzia um ensino mecanicista que os preparava para ler, escrever e contar para ser mão de obra. Naquele momento, não pensavam em ensino de qualidade ou simplesmente não sabiam como fazê-lo.
A preocupação com a formação continuada dos professores no ensino básico aconteceu posterior a esse período, até o século XIX nada se fez em relação à formação inicial do professor.
A formação inicial de professores primários surgiu na velha república. A primeira Escola Normal no Brasil foi criada na cidade de Niterói, pertencente ao Estado do Rio de Janeiro, no ano de 1835 e, a partir desta, várias outras foram sendo instituídas. No ano de 1880, foi criada a Escola Normal da corte, que sugeria uma maneira audaciosa de formar os professores na prática, com uma grade de disciplinas que tinham como objetivo um caráter científico para formação deste profissional.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1971, faz a substituição das Escolas Normais pela habilitação específica de Magistério, com a LDB de 1996, a formação de educadores passa a ocorrer em nível superior, em cursos de graduação plena: surgem os Institutos Superiores de Educação e as Escolas Normais Superiores.
A relevância dada à educação popular, nesse período, propiciou a constituição de representações sobre a profissão docente, o professor passou a ser responsabilizado pela formação do povo, sendo portador de uma nobre missão cívica e patriótica.
Falar no período histórico da formação no Brasil perpassa por uma inovação ao exigir uma atualização dos professores. Um bom professor primário era provido de experiência ao ter alcançado um modo de ensinar e mantido essa metodologia com base em modelos de aula criados por ele próprio e utilizado por inúmeras vezes, conhecido como saberes da experiência ou saberes do professor que garantem essa qualidade de ensino.
Para Pimenta (2002, p.20), os saberes da experiência são aqueles advindos da história de vida, das relações que os docentes ou aqueles que estão em formação para exercer este ofício, obtiveram ao longo de suas vidas no contato com a escola.
A história dos professores de primeiro e segundo segmentos no ensino público brasileiro é conhecida como: (…) um grupo tão diverso em seu interior e submetido a condições tão distintas por todo o país (…)
(Vicentini e Lugli, 2009, p.24).
Na década de 50, começa a se questionar essa qualidade de ensino a partir de uma ação Internacional de Combate ao Analfabetismo, no contexto da Guerra Fria, com políticas internacionais de modernização da educação. No Brasil, começam a se efetivar acordos internacionais entre a Organização dos Estados Americanos, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Ministério da Educação (MEC) e o INEP, que mobilizaram especialistas para produção de conhecimentos cientificamente fundamentados sobre o ensino no Brasil, isso acendeu uma base de conhecimento científico sobre o ensino no país.
Os cursos disseminam a ideia de que um bom professor é aquele que se atualiza e mobiliza conhecimentos científicos para o ensino, desconstruindo a imagem do professor que tinha como valor a repetição de uma fórmula que teoricamente dava certo. Esse professor perde espaço e começa a ser desvalorizado, para que emerja a figura do professor que se atualiza, do professor moderno, que usa novos métodos de ensino, referentes à época, como cartazes e lousas, não se amedrontando de mobilizar recursos didáticos pedagógicos.
A formação continuada de professores que se encontram na prática da sala de aula, certamente, representa um dos grandes desafios na educação. Muitas das inovações tecnológicas e novas concepções educacionais que poderiam ser inseridas no cotidiano escolar não partem das experiências e reflexões com o próprio professor, que conhece as necessidades e contextos em que está inserido.
A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso, é tão importante investir a pessoa e dar estatuto ao saber da experiência (Nóvoa, 1995, p.25).
No que se refere à formação continuada neste estudo, far-se-á indispensável a compreensão de como a teoria e metodologias de programas do sistema educacional podem se relacionar na prática de professores através dos processos formativos implementados no contexto em recorte. Pensar em tecnologia e todos os saberes envolvidos através de seus diversos instrumentos e possibilidades na escola pressupõe refletir sobre o saber docente e a epistemologia de sua prática. É preciso considerar que as estratégias de formação no domínio das TIC devem ser variadas, quer ao nível dos conhecimentos quer ao nível das metodologias (Silva, 1998).
Nóvoa (1995) alerta para o fato da formação docente como importante contribuição para a prática educativa que não requer apenas o domínio de conteúdos disciplinares ou técnicas de transmissão de conhecimentos, mas uma relação efetiva e dialógica entre teoria e prática.
3. Processo Formativo de Mediadores Tecnológicos
Desenvolvido pela Secretaria de Educação a Distância (SEED), por meio da Diretoria de Infra-Estrutura em Tecnologias Educacionais (DITEC), em parceria com as Secretarias de Educação Estaduais e Municipais, o Programa Nacional de Tecnologia Educacional – ProInfo, criado pela Portaria n.º 522, de 9 de abril de 1997, pelo Ministério da Educação – MEC, visa introduzir o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação, além de articular as atividades desenvolvidas sob sua jurisdição, em especial as ações dos Núcleos de Tecnologia. O ProInfo Municipal se ramifica em três segmentos: urbano, rural e upgrade.
O Sistema de Gestão Tecnológica – SIGETEC dá acesso para a captação de tecnologias para as Unidades Escolares, de acordo com o Art. 2 da Portaria 522 do Ministério da Educação: Os dados estatísticos necessários para planejamento e alocação de recursos do ProInfo, inclusive as estimativas de matrículas, terão como base o censo escolar realizado anualmente pelo Ministério da Educação e do Desporto e publicado no Diário Oficial da União
(Brasil, 1997).
Nas formações dos professores eram concedidos temas diversificados dentro da área das tecnologias educacionais, ela tinha a duração de 4 (quatro) horas por encontro. As oficinas eram práticas para que os mediadores já saíssem com materiais produzidos para trabalhar com os alunos e sua duração era de 3 (três) a 4 (quatro) horas, dependendo do tema. Os cursos tinham uma duração maior de 4 (quatro) a 6 (seis) meses com encontros quinzenais e atividades a distância, conforme a descrição abaixo:
Quadro 1. Curso Tecnologias da Informação
Quadro 2. Curso Elaboração de Projetos
Quadro 3. Curso Introdução à Educação Digital
Quadro 4. Curso Redes de Aprendizagem
Junto a essas formações, era realizado o acompanhamento pedagógico através de visitas nas Unidades Escolares. As visitas eram realizadas para acompanhar as atividades e culminâncias junto aos Mediadores Tecnológicos, auxiliar o professor na elaboração do Portfólio, articular atividades com os professores regentes ou montar a grade de horário para atendimento dos alunos. Os Mediadores Tecnológicos têm o papel de registrarem as atividades realizadas com os alunos num Portfólio Digital através do Google Drive. A equipe no NTM compartilha com todos os Mediadores um link de acesso via e-mail, em que eles podem construir individualmente e, até mesmo, simultaneamente, o registro de suas atividades.
4. Considerações Finais
Abordamos, neste capítulo, a importância da associação de fatores, tais como: ações efetivas para o acesso a tecnologias digitais, redes de conexão e a promoção de situações de ensino-aprendizagem na escola na busca por alternativas viáveis de desenvolvimento de conhecimentos, criatividade e saberes diversos.
A partir de um levantamento histórico, refletimos sobre os processos de formação de professores no Brasil, tendo como referência inicial o surgimento da educação no país com a chegada dos sacerdotes, com caráter doutrinário, mecanicista e excludente. É relevante, neste estudo, a reflexão quanto à disparidade temporal entre o surgimento desta Educação, ainda que precária e tendenciosa, e a existência de formação inicial e continuada, apenas a partir do século XIX.
Tais aspectos que remetem ao desenvolvimento da formação de professores no decorrer da história do Brasil parecem indicar a necessidade de mudanças quanto à qualidade do ensino que atravessa as questões relativas a espaços físicos, equipamentos, ideais pedagógicos e, em destaque, a formação qualificada de professores para a educação popular.
Refletir sobre a formação docente, com ênfase no estudo da prática dos profissionais que atuam com tecnologias digitais na escola, é posicionar-se à favor de uma escola de qualidade que compreende seu tempo e a diversidade advinda de um país significativamente múltiplo. Adiciona-se a tal concepção, a necessidade de valorização do professor que, quando mediadas as formações com a prática docente, vivencia conhecimentos capazes de trazer para o cotidiano escolar a presença de diferentes métodos e a utilização crítica e instigante de recursos que promovam experiências ricas em aprendizados individuais e coletivas.
A experiência de formação de mediadores tecnológicos do ProInfo, desenvolvida pela Secretaria de Educação a Distância (SEED) em parceria com as Secretarias de Educação Estaduais e Municipais, pode representar uma oportunidade do uso de tecnologias digitais para enriquecimento das experiências educacionais que se integram a diversos conhecimentos do cotidiano da escola seja para docentes, discentes ou qualquer outro ator da comunidade escolar.
Por fim, em uma breve apresentação do curso de Tecnologias da Informação, trazemos aspectos das tipologias textuais, conceitos e desenvolvimento de currículos pedagógicos, concepções de projetos educacionais, debates a partir de textos informativos em diferentes mídias e a formação cultural e cidadã em rede como algumas das diversas questões possíveis que relacionem a teoria à prática educativa.
Referências Bibliográficas
Brasil. (1996). Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. [Em linha]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. [Consultado em: 25/05/2017].
Brasil. (1971). Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências. [Em linha]. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/legin/fed/lei/1979-1979/lei-5692-11-agosto-1971-357752-publicacaooriginal-1-pl.html>. [Consultado em: 25/05/2017].
Brasil. (1997). Portaria nº 522, de 9 de abril de 1997. Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo). Ministério da Educação e do Desporto. Gabinete do Ministro. [Em linha]. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=236&Itemid=471>. [Consultado em: 20/05/2017].
Nóvoa, A. (1995). Os Professores e sua Formação. 2. ed. Lisboa, Editora Dom Quixote.
Pimenta, S. G. (2002). Formação de Professores: identidade e saberes da docência. In: Pimenta, S. G. (Org.). Saberes Pedagógicos e Atividade Docente. São Paulo, Editora Cortez.
Silva, B. (1998). Educação e Comunicação. Universidade do Minho. Braga, Portugal.
Vicentini, P. P. e Lugli, R. S. G. (2009). História da Profissão Docente no Brasil: representações em disputa. 1. ed. São Paulo, Editora Cortez.
[1] Mestre em Ciências da Educação (UMINHO). Especialista na área de Tecnologias da Educação (PUC), Graduada em Letras (UNESA). Implementou o Núcleo de Tecnologia Municipal de Nova Iguaçu - RJ. Professora de Informática Educativa e Língua Portuguesa.
2. Perspectivas de Professores sobre TIC na Educação sob a Ótica do TPACK - Technological Pedagogical Content Knowledge
Nathália Rodrigues Tiani[2]
1. Introdução
Com o progresso tecnológico das últimas décadas, têm ocorrido fortes mudanças na sociedade, transformando significativamente a forma como nos comunicamos e vivemos. Consequentemente, exige-se que a escola adquira novas competências e estratégias para formar cidadãos que atendam às novas necessidades da sociedade, sendo estes autônomos, competentes, instruídos para aprender ao longo de sua existência