O Despertar
De Rain Oxford
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Sobre este e-book
Derek, um homem solitário numa jornada sem rumo faz uma parada na cidadezinha Cider Springs. Mas antes que ele possa pegar a estrada de novo, forças antigas despertam e ele é assolado por uma série de eventos acontecidos há muito tempo. Quando os moradores começam a morrer, Derek deve assumir um destino desconhecido e enfrentar o mal sem fim.
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O Despertar - Rain Oxford
Prefácio
– Senhor? – o olhar do jovem soldado transparecia dor e preocupação, não com seus próprios ferimentos, mas com os do seu Comandante. Não havia dúvidas de que os ferimentos eram mortais, por que a espada do inimigo transpassara a túnica em couro e ferro e atingira órgãos vitais. O peito forte fora envolto por bandagens improvisadas e ficava mais ensanguentado a cada penosa respiração. Ele ergueu a cabeça, os cabelos desgrenhados, um sorriso triste lhe contorceu o canto de boca.
- Custou caro vencer a guerra. - Os olhos do comandante desviaram-se para as colinas áridas e irregulares onde muitos de seus soldados tombaram mortos ou agonizantes, e ele sentiu uma dor no peito mais intensa do que a que qualquer arma pudesse causar. Por que seus soldados, seus amigos, morreram aqui! Aqui, nesta terra hostil e tão distante do nosso lar. O olhar dele estava firme e sombrio quando ele se voltou ao jovem soldado.
– O desgraçado do líder deles ainda vive?
– Sim, Senhor.
– Traga-o até mim. Vou falar com este animal antes que ele morra.
O soldado saiu apressado e o comandante buscou algum conforto ao sentar-se nas pedras, sob o sol. Resistiu à vontade de deitar-se, pois sabia que não levantaria mais. Mas deve ter cochilado um pouco por que acordou com a voz suave e o toque gentil do jovem soldado.
– Senhor, nos o trouxemos como o senhor ordenou.
O comandante desanuviou os olhos e encarou o inimigo. Este tinha uma fisionomia cruel, cínica, indecifrável personificação da maldade, tão perverso e destorcido que não restara nele nada de humano. Devagar, sob o olhar de desdém daquele que o subjugara, a expressão de desafio transformou-se numa de ódio e medo.
– Não vou fazer uma lista de todos os seus crimes – começou o comandante. – Você a conhece melhor do que eu, e nenhum de nós viverá o suficiente para fazê-la bem feita. Nós o perseguimos por toda a face da terra para destruir você e seus seguidores, para livrar a terra de sua carne podre e imunda, da sua doença.
O comandante teve um espasmo. Quando tornou a levantar a cabeça, uma gota de sangue brilhou no canto da boca.
– A humanidade não pode existir com seres como você entre nós. Você escolheu servir o Antigo Mal em sua cobiça e desejos, mantendo os antigos rituais, bebendo o sangue e comendo a carne dos homens. Você anda à noite e se alimenta da escuridão. É conhecido por muitos nomes, todos eles amaldiçoados!
– Como você protegeu seus seguidores no mal, deverá protegê-los na morte. Você ficará no túmulo de seus mortos e lá permanecerá aguardando sua própria morte, nas trevas. Sua alma desvirtuada será prisioneira dos símbolos e feitiços da Luz por toda a eternidade. – Cansado, fez um gesto para os guardas levarem o prisioneiro.
Mas o prisioneiro ainda não estava pronto para ir. Ele era enorme, quase da altura do comandante; cada parte do corpo disforme traiu o ódio contido. Encarou aquele que o condenou.
– Você e seu povo tolo e fraco! – A voz soava como um sibilo gutural.
– Você venceu desta vez, mas só desta vez! Faça o que desejar, não importa; você sofrerá e eu rirei. Você não conhece meu poder, mas conhecerá. Eu voltarei para mostra-lo a você!
O comandante observou enquanto os guardas levavam o prisioneiro. Virou-se ao sentir o peso da mão do jovem soldado em seu ombro, e percebeu a ansiedade no rosto do rapaz.
– Você está preocupado?
– Sim, a respeito de muitas coisas Senhor. Ele é poderoso e perigoso.
– Sim, ele é. E isto não deve ser esquecido. – Suspirou e fechou os olhos.
O jovem tomou a mão dele e ajoelhou-se ao seu lado, ouvindo cada respiração ficar mais fraca e mais curta. Mirou os olhos cinza e sentiu a dor neles ao encontrarem os seus.
– Era meu dever acabar com o mal. À custa de muita dor e de morte eu consegui, e embora sinta um profundo desgosto não me arrependo. Mesmo a minha própria morte não me impediria de fazê-lo de novo. – Moveu a cabeça delicadamente suspirando. A voz tornou-se um sussurro dirigido a ninguém.
– Espero encontrar paz agora. – Os olhos fecharam-se e a boca calou-se. Era como se o esforço em falar houvesse esgotado seus últimos segundos de vida.
No peito do jovem soldado havia uma mistura de raiva e desespero, ele apertou os olhos ao sentir o calor das lágrimas. Gentilmente apoiou a mão do mestre sobre o peito agora inerte. O machado de guerra que se adaptou tão bem à mão dele estava ao lado, o jovem levantou-o e observou o reflexo da luz nele.
Um grito vindo de baixo chamou sua atenção, ele desceu a encosta de pedregulhos até chegar ao pequeno grupo de homens trabalhando na entrada escura de um túnel. O túnel cortava profundamente a base da colina e terminava num salão esculpido na rocha. A porta de ferro à entrada estava fechada. O jovem foi saudado por um soldado ruivo e alto, um dos responsáveis pelos prisioneiros.
– Está feito, senhor. – Ele estava nervoso, ansioso por terminar e ir embora.
– Que bom. - Ele sentiu um peso na mão e deu-se conta de que ainda carregava o machado. Levantou-o e leu a inscrição gravada no metal. Fechou os olhos por um instante e arremessou-o para dentro do túnel.
– Lacrem a porta! E que nunca seja aberto!
Muito tempo após os homens lacrarem a porta de ferro e fecharem o túnel, o jovem soldado ainda ficou parado ali. Deixou a tristeza esvair-se devagar. Estava feito, pelo menos por enquanto. Mas ele ainda podia ver as palavras gravadas no metal: Que o mal caia diante de mim.
O jovem sentiu um calafrio, e apressou-se para se juntar aos outros.
* * *
Por milhares de anos a tumba permaneceu intocada, envolta em magia, esquecida pelas mudanças que remodelaram a região. O contorno das montanhas mudou e ficou mais suave. Rios e lagos foram formados ou secaram para formar-se de novo. Lentamente esculpiram novas maravilhas no seio da terra. E os homens chegaram à nova terra que lhes pareceu boa. O único mal era o que eles próprios traziam com eles. Mas seus pecados eram insignificantes.
Capítulo 1
Numa tarde quente de julho, os pneus do antigo Plymouth conversível abriram sulcos na terra, levantando nuvem de pó e pedrinhas. A estrada não era asfaltada, tinha depressões e buracos que ofereciam toda sorte de perigo.
Derek Hanen segura o volante com a mão esquerda tentando ler o mapa cheio de vincos que está na outra mão. O carro pula toda vez que ele encontra o que procura no mapa demandando sua atenção e fazendo-o perder a localização. Depois de várias tentativas, descontente, jogou o mapa no banco.
– Vire a esquerda na 8-A, que você chega a 395 – disse o frentista do posto.
Derek ficou irritado. O sujeito estava certo, claro, mas esqueceu de comentar que o atalho era uma estrada de terra.
A carroceria verde do Plymouth mostrava que ele já era um carro velho, muito rodado. Os amassados não eram grandes, mas eram muitos. O para-choque dianteiro era salpicado de adesivos que Derek colecionara por cerca de um mês, aí perdeu o interesse. Junte-se a isto, um ano e meio viajando e vagando sem nenhum registro.
Não que ele ligasse para isto. Ele ainda tinha algum dinheiro do último trabalho, no qual assentava tubos para um empreiteiro gordo que gostava de gritar e fumar charutos. O tal trapaceiro também pagava, por fora, a metade do salário definido pelo sindicato. Mas mesmo a metade do salário era bom dinheiro e Derek ficava satisfeito. Quando o dinheiro estivesse acabando, ele pararia em um lugar qualquer e arranjaria trabalho. Alguns trabalhos eram melhores do que outros, mas isto pouco importava, assim que conseguia dinheiro para manter-se por um tempo ele largava o trabalho e pegava a estrada de novo.
Por vezes, quando ele olhava para sua própria vida - uma existência sem sentido, perdida - pensava em talvez recompor-se e recomeçar. Talvez até evitar os mesmos erros de sempre. Então a insegurança decidiria por ele, deixando-o com medo de tentar e ele deixaria passar as oportunidades para manter-se na segurança que encontrou nas viagens. Era o momento de curar-se.
Uma lebre suicida invadiu a pista na sua frente, ele puxou a direção para desviar. Conseguiu, sentiu-se aliviado. Olhou pelo retrovisor, só se via um plástico amarelado e poeira. Ele relaxou, suspirou e voltou a atenção para a paisagem no caminho.
Árvores, a maioria abetos e pinheiros, plantados formando um aglomerado raquítico apontando para as colinas baixas como soldados a espera da batalha. Cercas velhas formam barreiras por toda a área. As poucas casas de fazenda que Derek viu pareciam fora do contexto, como se tivessem sido colocadas ali ao acaso.
Uma placa enferrujada e judiada pelo clima despontou na lateral da estrada para cumprir seu papel de informar (ou denunciar) o viajante sobre sua localização:
BEM-VINDO A
CIDER SPRINGS
Popul. 724
Derek diminuiu a velocidade, atento para não ultrapassar o limite permitido, embora não houvesse sinalização a respeito. Entrou na cidade praticamente se arrastando. Uma picape vermelha antiga passou sacudindo tudo seguida pela própria nuvem de poeira e um ronco de carro com problemas.
Cider Springs não era muito diferente das outras cem cidadezinhas de interior pelas quais ele passara. A estrada cortava o centro da cidade e servia como rua principal, por isto alguns estabelecimentos comerciais estavam concentrados próximos a ela, na esperança de atrair clientes. O primeiro a chamar a atenção de Derek foi um prédio com frente falsa com a pintura de uma mão onde estava escrito Loja do Parker. As palavras cerveja gelada
estavam pintadas logo abaixo, a promessa pareceu-lhe irresistível. Ele entrou no estacionamento ao lado da loja.
Algumas fileiras de latas e outras mercadorias o receberam logo na entrada da loja, que estava bem fria. Num canto distante estava a geladeira com as opções de cervejas e refrigerantes. O motor da refrigeração cantarolava uma canção de amor mecânica, sem inspiração, para a caixa registradora. Derek puxou uma lata de cerveja e cruzou a loja até o caixa. Até onde podia ver, ele estava sozinho na loja.
– Olá, tem alguém aí? – Derek abriu a lata. A cerveja refrescou a garganta seca pela poeira e deixou aquela sensação do gelado que até dói.
– Há um cliente aqui. – disse ele em tom de voz mais alto.
Abriram uma brecha da porta atrás do caixa. Viu-se um par de olhos úmidos num rosto magro. Um dos olhos piscou para Derek e a porta foi fechada por alguns instantes. Depois abriu de novo quando o corpo daquele rosto apareceu. Derek teve a impressão de que o senhor era uma mistura estranha de ossos, pele e costeletas.
– Precisei procurar minha dentadura – desculpou-se o velho. – Não consigo falar sem ela. – E deu um sorriso largo como que para exibir os dentes. – O que você precisa filho?
– Já encontrei o que preciso. – Derek ergueu a cerveja pela metade; sacou uma nota de um dólar do bolso da calça e a deu ao velho. – O Sr. Parker é o senhor?
– Sim, eu mesmo. Jeff Parker. Mas sem o senhor. Por aqui todos me chamam de Parker.
– Deu o troco a Derek, saiu detrás do caixa e também pegou uma cerveja.
Derek observou-o abrir a lata e beber. Um pouco da cerveja errou o caminho caindo na camiseta dele juntando-se a inúmeras outras manchas mais velhas. Parker espalhou-a com a mão fazendo-a desaparecer.
– Cidadezinha bacana vocês têm aqui.
– Exagero – arrotou Parker. – É um lugarzinho desprezível, você tem que sufocar até a morte para entrar ou sair dele. A maioria do pessoal não vai embora por que não tem dinheiro, e o resto por que são malucos e gostam do lugar, como eu.
Ele tomou outro gole e levantou