Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Sempre a Segunda Melhor: A história de amor de Nick e Emy, #2
Sempre a Segunda Melhor: A história de amor de Nick e Emy, #2
Sempre a Segunda Melhor: A história de amor de Nick e Emy, #2
E-book299 páginas3 horas

Sempre a Segunda Melhor: A história de amor de Nick e Emy, #2

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Às vezes, ser a primeira não é o que se espera. Às vezes, o amor ganha uma segunda chance.

 

Emilia Moretti, uma bailarina de dezessete anos, está cansada de ser sempre a segunda melhor. E ela vai provar ao mundo que merece ser a primeira. Na próxima exibição da Escola de Artes Cênicas. Aos olhos de seus pais biológicos. E no coração do garoto que ela ama. Ela passa horas ensaiando, horas sonhando em se tornar a número um, horas imaginando como sua vida inteira está prestes a mudar. Mas quando nada sai como planejado, ela precisará perceber o que realmente significa ser a número um. 

 

Nick Grawski tem dezoito anos e não quer mais seguir as regras de seu Paizinho Querido. Ele vai provar que é seu destino ser dançarino, e não advogado, e não vai mais se afastar de Emy só porque seu pai mandou. Nick precisa mostrar à Emy que, desta vez, ele não vai a lugar algum e que não vai partir seu coração de novo. Mesmo quando o mundo dela desmorona, mesmo quando ele descobre que talvez seu pai estivesse tentando protegê-lo o tempo todo, mesmo que apoiar um ao outro seja mais difícil do que se apaixonar. 

 

SEMPRE A SEGUNDA MELHOR é um romance de esperança, corações partidos e sonhos quebrados. É um livro sobre se apaixonar e descobrir que estar em primeiro lugar nem sempre é o que importa.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de mar. de 2023
ISBN9798215437377
Sempre a Segunda Melhor: A história de amor de Nick e Emy, #2
Autor

Elodie Nowodazkij

Elodie Nowodazkij crafts sizzling rom-coms with grumpy book boyfriends and the bold, funny women who win their hearts. Sometimes, she even writes stories that scare the crap out of her. Raised in a small French village, she was never far from a romance novel. At nineteen, she moved to the U.S., where she found out her French accent is here to stay. Now in Maryland with her husband, dog, and cat, she whips up heartwarming, hilarious, and hot romances. Ready to take the plunge? The water’s delightfully warm.

Leia mais títulos de Elodie Nowodazkij

Autores relacionados

Relacionado a Sempre a Segunda Melhor

Títulos nesta série (2)

Visualizar mais

Ebooks relacionados

Romance para adolescentes para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Sempre a Segunda Melhor

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Sempre a Segunda Melhor - Elodie Nowodazkij

    DEDICATÓRIA

    Dedico este livro a toda a minha família: meus pais, minhas irmãs, sobrinhas e sobrinho, meus primos, tias e tios, minhas avós e meu avô.

    Dizem que não podemos escolher nossa família, mas eu escolheria vocês. Toda vez.

    Para meu marido: nós escolhemos um ao outro, e sou grata por decidirmos escolher um ao outro de novo e de novo. Eu amo você.

    CAPÍTULO 1 - EMY

    EU DEVERIA TER FICADO este final de semana na Escola de Artes Cênicas. Deveria ter passado mais tempo ensaiando para a audição da grandiosa exibição de fim de ano. Deveria ter repetido cada movimento até atingir a perfeição...

    Eu nunca estarei pronta.

    Minha garganta se comprime. Preciso de mais horas, mais dias, mais tempo.

    — Quer mais lasanha? — minha avó, Nonna, pergunta. Seu cabelo grisalho é curto e, apesar de as linhas de expressão em seu rosto estarem ficando mais evidentes, apesar de ela estar mais pálida e magra, apesar de estar se cansando com mais facilidade, seu sorriso ainda é o mais luminoso de toda Nova York. — Ou talvez mais salada? — Ela mistura novamente a salada de tomate e muçarela. É a minha avó quem planta o manjericão, e ela acredita que poderia cozinhar usando apenas receitas com esse ingrediente, como bifes ao molho pesto ou sorbet de manjericão.

    — Mais um pouco de salada, por favor. — Eu passo meu prato para ela. O restaurante da Nonna geralmente é luminoso e cheio de risadas, pessoas e garçons tentando não atropelar uns aos outros, mas esta noite estamos só nós duas. Ela abre o restaurante aos domingos no almoço e tira a noite de folga.

    — Pronto. — Ela beberica a água. — Seu pai era uma criança muito fofa. No dia em que me trouxe um buquê de rosas do nosso jardim, eu não tive coragem de falar que ele não deveria tê-las cortado. Em vez disso, tratei de colocar uma das rosas no livro de bebê dele — ela diz, e então respira profundamente, como se estivesse tentando recuperar o fôlego. Ela alisa a toalha vermelha da nossa pequena mesa. Nonna disse que hoje teríamos um encontro de avó com neta, e por isso acendeu velas e até mesmo colocou uma música italiana para tocar de fundo.

    Eu não pude negar o pedido dela, embora devesse estar ensaiando. Não quis dizer não. E não só porque a lasanha dela é a melhor da cidade.

    — Estou conversando muito, mas sei que você tem que ir embora — ela diz, levantando-se e apoiando-se na cadeira.

    — Eu posso ficar — replico.

    — Você é uma querida, mas quando começa a batucar na cadeira é porque está atrasada.

    Eu me encolho; não tinha percebido que estava fazendo isso.

    — O jantar estava realmente delicioso. Obrigada. — Começo a recolher os pratos, mas ela os pega da minha mão.

    — Pode ir, eu cuido disso.

    E há tanta ternura no modo como ela olha para mim que eu quero engarrafar a emoção que sinto e usá-la em um dia ruim, ou quando encontrar Nick, minha eterna paixonite, o melhor amigo do meu irmão, o cara que partiu meu coração no último verão. Eu seguro o braço dela e vamos andando juntas até a entrada. O restaurante cheira a pão fresco e também à alho e manjericão. Tem o cheiro da minha infância, que passei na cozinha com ela e o Poppa.

    Quando tudo era muito mais fácil.

    Eu pego o casaco, tentando não esbarrar nas fotos que estão penduradas nas paredes. A parede de memórias de minha avó, como ela a chama. Muitas fotos de Poppa, do meu pai, da minha família inteira e da Itália. Recentemente ela acrescentou uma do Sr. Edwards, o homem que a está cortejando já faz quase um ano.

    — Boa noite, Bellissima — ela diz, beijando minhas bochechas audivelmente. — Obrigada por passar tempo com a sua avó velha. — Ela dá uma piscadela.

    — Você não é velha.

    — É, está certa. Sou uma anciã. — Ela ri e me abraça mais uma vez. O perfume que minha mãe dá a ela todo Natal é outro lembrete de todos os momentos felizes que passei com ela. Ela tosse e se encosta contra a parede. — Eu sei que você queria ficar este final de semana na escola. Então eu agradeço. — E antes que eu possa responder, ela me empurra porta afora. — Agora, vá. Não quer chegar atrasada.

    — Eu te amo — digo. Coloco o casaco e o cachecol.

    — Também te amo, Bellissima. — Ela faz uma pausa. — E diga a Nicholas que mandei um oi — ela fala.

    Nicholas. Nick. Eu forço meus lábios a sorrirem, eu me forço a não pensar em Nick. Eu me forço a dizer tchau para Nonna.

    — Até semana que vem.

    E olho mais uma vez para ela antes de começar minha lenta caminhada até o metrô. Eu costumava adorar voltar para a escola aos domingos. Costumava esperar Nick na esquina da nossa rua para andarmos juntos. Nós conversávamos sobre o final de semana. Ele me fazia rir e eu tentava não encarar seus lábios enquanto ele falava sobre os pais, a nossa última audição, o videogame que tinha conseguido antes de ser lançado só porque sabia que eu queria jogar e porque conhecia um cara que podia conseguir.

    Mas isso era antes.

    Agora, eu pego o metrô no Brooklyn, que foi para onde minha família e eu nos mudamos depois que o pai do Nick despediu o meu.

    Sozinha.

    Agora, eu não passo cada segundo com Nick, não mando mensagens aleatórias para fazê-lo rir, não sorrio toda vez que o vejo.

    Agora, eu o evito o máximo possível e minto para ele, dizendo que namoro um cara que conheci no restaurante da Nonna.

    Eu reajusto a mochila no ombro e olho para o céu cinzento. Já teve bastante neve, inverno e calçadas escorregadias em Nova York, mas parece que, mesmo em pleno mês de março, isso vai se repetir. Uma quadra antes do metrô, há uma cafeteria pequena aninhada entre prédios maiores. Está lotada, e eu sinto a tentação de empurrar a porta e entrar na fila. Ficar escondida aqui e esquecer a vida real. Esquecer a escola.

    Mas, em vez de entrar, continuo marchando em frente. Passo por um grupo de estudantes conversando sobre a festa épica à qual foram ontem e mal consigo desviar de um casal que está se sentindo tão à vontade em sua demonstração pública de afeto que quase posso escutar meu irmão dizendo a eles para irem para um quarto. Encontro um assento vazio no metrô e me sento.

    E minha mente começa a jogar o mesmo jogo de sempre. Se a terceira pessoa que entrar no vagão for uma mulher, eu vou falar com Nick. Conversar de verdade. Confessar que não estou namorando ninguém.

    A primeira pessoa a entrar é uma mulher com o cabelo na altura dos ombros e um sorriso enorme que deixa à mostra uma fresta entre os incisivos; ela está segurando a mão de outra mulher de cabelo escuro, a segunda pessoa a entrar no vagão. A primeira mulher beija a namorada na boca e depois sussurra algo em seu ouvido. Ambas começam a rir. A terceira pessoa a entrar é um homem. Ele não está usando um casaco, apesar da temperatura congelante. Sua camisa da Hugo Boss aperta seus músculos e sua calça jeans custa mais do que um semestre inteiro na Escola de Artes Cênicas. Com base no preço de suas roupas, ele está sem casaco não porque não pode comprar um, mas sim por uma questão de estilo. Uma opção de moda que pode fazê-lo congelar até a morte.

    Talvez eu possa considerar o casal como uma só pessoa e, se o próximo passageiro for uma mulher, então falarei com Nick.

    Um grupo de homens entra no metrô.

    Eu afundo no meu assento.

    O universo fez sua declaração: não vou conversar com Nick hoje.

    Meu telefone vibra no bolso traseiro e eu o retiro de lá. Uma mensagem do meu irmão, não de Nick.

    Desculpa não ter ido para casa no final de semana, este experimento está me matando. Ele pode me matar, literalmente. Brincar com vírus é perigoso.

    Eu abro um sorriso. Roberto pode ser um tanto dramático, mas também é um gênio da física e da medicina e de tudo mais em que toca. Ele vai se formar na faculdade dois anos adiantado e salvar o mundo.

    Eu digito de volta: "Tenha cuidado".

    Sempre.

    Eu me aconchego novamente no assento, tentando arduamente não me lembrar do que Roberto disse sobre a quantidade de vírus, bactérias e tudo o mais presente no transporte público. Um cara sentado dois bancos depois do meu está comendo iscas de frango e sou cercada pelo cheiro. Não estou com fome (não depois de comer lasanha com a Nonna), mas o cheiro faz com que eu me lembre das noites despreocupadas que passei no telhado da casa de Nick há dois anos, durante o feriado de Ação de Graças. Nessa época as nossas famílias ainda se davam bem; foi também quando decidimos que não queríamos simplesmente sentar àquela mesa chique, com refeições chiques e os amigos chiques deles. Nós pedimos frango frito, subimos no telhado e conversamos a noite toda. Nós três: Roberto, Nick e eu.

    Uma garotinha com cabelo liso e preto e olhos amendoados entra junto com sua mãe no vagão. Ela sorri abertamente e aponta para o assento na minha frente.

    — Podemos nos sentar, mamãe? — A mãe assente. 

    Elas se sentam na minha frente, a menina aconchegada na mãe. Seus casacos roxos combinam, tendo um boneco de neve no bolso da frente. A menina olha ao redor e então se levanta para tocar minha mochila.

    — Lola — a mãe chama e ela se senta de novo, ainda encarando minha mochila.

    Seu rosto se ilumina e seu sorriso fica ainda maior. Ela me lembra das crianças no pôster de um evento que aconteceu há duas semanas para aumentar a conscientização sobre a Síndrome de Down.

    — Você é bailarina? — ela pergunta lentamente, com um quê de risada na voz, apontando o dedo para os adesivos na minha mochila: sapatilhas de balé e uma dançarina de tutu.

    — Sim, sou — respondo, tentando ignorar a sensação que surge no meu estômago com essas palavras. Não sei o que é, mas é indesejável. Sinto falta da felicidade que costumava animar o meu peito quando eu falava sobre a dança.

    — Eu tenho Síndrome de Down — diz ela de forma trivial. E antes que eu possa reagir, ela continua: — Mas vou ser jogadora de basquete. — A mãe beija o alto de sua cabeça.

    — Ela já é uma jogadora de basquete maravilhosa. — A mãe pisca. — Mas também quer ser patinadora de gelo e jogadora de lacrosse e ginasta, dependendo do que vê na TV. — Ela ri e um sorriso dança em meus lábios. Elas parecem tão felizes.

    — Tenho certeza de que será ótima — digo a ela. Ela assente firmemente enquanto eu me despeço. — Vou descer aqui.

    Ela acena de volta.

    — Você também vai ser ótima! — E o voto de confiança dela significa mais para mim do que o último discurso de encorajamento que recebi dos meus professores. Talvez porque ela pareça acreditar, enquanto minha professora estava com um olhar de pena, um que dizia Sou obrigada a te incentivar, mas, na verdade, você é uma droga.

    As audições são daqui a três dias. Três. Dias.

    Eu sei que consigo. Eu sei que tenho o que é necessário.

    Lembrete: se esforce mais.

    CAPÍTULO 2 - NICK

    ACASA CHEIRA a caramelo e canela, o aroma da torta de maçã que nosso cozinheiro fez no jantar de ontem à noite. Acho que ele ficou com pena de mim, já que o jantar de família planejado foi cancelado, e eu tive que comer sozinho e jogar videogame a noite inteira. Ele sabe que torta de maçã com merengue é uma das minhas sobremesas favoritas. Mas minha verdadeira sobremesa favorita é a que Emy fez no verão: cannoli. Logo antes de começarmos a nos beijar. Ela ainda estava com o gosto da sobremesa italiana nos lábios.

    Eu deveria me lembrar de não pensar na Emy, ou no jeito como os beijos dela incendiavam minhas veias, ou na sensação de estar com ela em meus braços. Isso porque ter uma ereção na casa dos meus pais, com eles a apenas alguns metros de distância, não é como quero terminar meu final de semana.

    Fiquei de pé e peguei a mochila, pronto para sair sem nem ao menos me despedir. Acho que ainda estou irritado por terem me dispensado ontem. A maioria dos meus amigos adora passar um tempo longe dos pais, mas é diferente quando estar junto deles é a exceção ao invés da regra. Eu não me incomodaria com alguns jantares embaraçosos, algumas perguntas sobre a escola e a minha vida. Qualquer coisa.

    — Já está indo? — Minha mãe sai da sala de estar, onde estava ao telefone falando sobre um evento social que está organizando há dois meses. Ela não está tão triste quanto antigamente, mas também não parece completamente presente quando está em casa. As sessões de terapia para as quais eles me arrastam pelo menos uma vez por mês ajudaram, mas acho que ela se foca tanto em remendar seu relacionamento com meu Paizinho Querido que não sabe como lidar comigo. Tem vezes em que ela me procura, tirando tempo de sua agenda lotada para falar comigo, e outras vezes nós mal nos vemos durante o fim de semana.

    — Está tarde — respondo, e esfrego a nuca. Sou muito mais alto do que ela, mas quando ela me olha de certo jeito, parece que volto a ser aquele menino de cinco anos que não quer se afastar dela. Na época em que acreditava que meus pais eram heróis. Quero rir do meu eu-passado e dizer para o meu eu-presente cair na real.

    — Desculpe estarmos tão ocupados este fim de semana, mas prometo que semana vem faremos algo divertido juntos.

    — Está bem. — Vou esperar sentado.

    — Como Emilia tem passado? — ela pergunta, estreitando os olhos como se estivesse tentando ver através das minhas mentiras costumeiras.

    — Ela está bem. — Mantenho o tom o mais leve possível; só de ouvir o nome Emilia parece que alguém está me socando bem no peito. Eu estraguei tudo e não sei como consertar. Se eu tivesse um relacionamento normal com a minha mãe, se meu pai não estivesse convencido de que não posso namorar a Emy, talvez eu pudesse pedir um conselho a ela. Emy diz que está namorando. Eu não acredito nela... não por me achar insubstituível, mas porque ela não parece feliz. Se tivesse partido para outra, ela estaria feliz. Não é?

    — Fico feliz em saber — ela responde, tocando um vaso que recebeu da esposa do antigo governador de Nova York, arrumando-o milimetricamente para que fique perfeitamente no centro de um pequeno pedestal. Eu fecho os punhos. E essa é a minha vez de olhar direito para ela: seus lábios estão franzidos, como se quisesse dizer outra coisa, e as mãos tremem ligeiramente, o que só acontece quando ela está preocupada com algo.

    — Eu... — Minha voz falha como a de um menino de treze anos.

    Os dedos dela traçam a estampa do vaso, uma flor azul.

    — Faz muito tempo que não a vemos — diz. Eu aperto ainda mais os punhos, expiro audivelmente, tentando retirar a pressão do meu peito. Minha mãe está melhor, e eu não quero afastá-la, dificultar sua recuperação, a nossa recuperação, ao perguntar o que está na ponta da minha língua. Você sabia? Minha mente grita, implorando a ela que leia meus pensamentos. Sabia que meu pai me chantageou para que terminasse com Emilia e começasse a sair com outras pessoas, especialmente as filhas dos amigos deles, para fechar negócios?

    Ela inclina a cabeça para o lado.

    — Faz tempo também que não vemos o Roberto.

    — Eles estão ocupados. Todos estão ocupados. — Meu tom é um pouco mais sarcástico do que era minha intenção. — Enfim, eu tenho que ir, mas volto sexta à noite ou sábado. — Eu forço meus lábios a abrirem um pequeno sorriso. A raiva que está crescendo dentro de mim não é culpa da minha mãe, e sim minha, por ser um covarde.

    Toda semana eu digo a mim mesmo que vou ter coragem de confrontar meu Paizinho Querido. Toda semana eu me preparo para dizer a ele que não vou mais fazer o que ele manda, que não vou ceder à chantagem. Não vou mais sair com as garotas que ele manda. Toda semana eu falho. Seja porque ele não está em casa, ou porque está com minha mãe e ela não deveria sofrer os danos colaterais. Às vezes, ela parece tão frágil, tão pronta para simplesmente nos abandonar e nunca mais olhar para trás.

    O celular toca e ela levanta um dedo.

    — Espere um segundo — ela me diz antes de atender. De novo, deve ser alguma coisa do evento. Ela veste uma máscara para indicar que não tem nada errado; sua voz fica mais forte, mas não feliz. Tenho certeza quase absoluta de que nenhuma das amigas de almoço dela, que é como ela se refere a elas, sabe de seus problemas.

    Meus pais me arrastam para a terapia para o bem da nossa família. Geralmente eu resmungo muito até chegar lá, mas não é tão ruim assim. Minha mãe se desculpou por ter me deixado para trás quando precisou de tempo para pensar. Ela falou que não foi culpa minha, mas bem que pareceu quando ela fez as malas e tirou férias em um spa por três meses. Eu dirigi até lá para vê-la em seu aniversário, de mãos dadas com Emy. O meu aniversário foi no começo de outubro e ela nem me telefonou. Eu contei isso. Ela chorou, e minha garganta ficou tão comprimida que achei que nunca mais ia ser capaz de respirar normalmente de novo. 

    — O que você quer, Nicholas? — o terapeuta, Dr. Grahams, perguntou durante uma torturante sessão individual que tínhamos que ter antes da reunião familiar. Eu não respondi, e ele rabiscou algo em seu caderno. — Seu desejo de ser aceito por seu pai não deveria ofuscar suas próprias necessidades, a pessoa que você é — disse ele, pedindo que eu não me esquecesse disso.

    Estou tentando.

    — É claro, Laura. Você será a primeira a saber — minha mãe diz, revirando os olhos ao mesmo tempo. — Escute, tenho que desligar. Nick está indo para escola.

    Eu a encaro e então mudo a mochila para o outro ombro.

    Não quero perguntar à minha mãe se ela sabe sobre a chantagem que meu pai faz. Acreditar que ela não sabe é muito mais fácil. Preciso acreditar que um dos meus pais não está tentando me usar.

    Ela desliga o telefone.

    — Diga à Emilia que eu mandei um oi — ela fala, e eu estremeço.

    Que belo jeito de me dar um soco no estômago sem nem perceber, mãe.

    — Claro — respondo. Eu já tinha dito à Emy que sentia muito pelo modo como as coisas terminaram no verão passado. Mas eu nunca contei a ela o porquê. Nunca contei a ela como eu desejava que as coisas tivessem sido diferentes. O quanto eu a quero de volta.

    O terapeuta também nos disse que era importante corrigir os erros, e que a verdade nos libertaria.

    Tá bom.

    Cogitar perguntar à minha mãe se ela sabe sobre a chantagem me deixa mais nervoso do que a audição. E contar

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1