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Guerras Brasileiras
Guerras Brasileiras
Guerras Brasileiras
E-book846 páginas12 horas

Guerras Brasileiras

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Sobre este e-book

A história militar do Brasil compreende séculos de ações armadas no território que abrange o Brasil moderno e o papel das Forças Armadas brasileiras em conflitos e manutenção da paz em todo o mundo. Por várias centenas de anos, a área foi palco de guerras intertribais de povos indígenas. A partir do século XVI, a chegada dos exploradores portugueses levou a conflitos com os povos indígenas; um exemplo notável é a revolta da Confederação Tamoio . As revoltas esporádicas dos escravos africanos também marcaram o período colonial, com uma notável rebelião liderada por Zumbi dos Palmares. Também foram encontrados conflitos com outras nações européias - dois exemplos notáveis são o caso da França Antártica e um conflito com a Holanda no início do século XVII pelo controle de grande parte do Nordeste . Embora Portugal tenha mantido suas posses durante conflitos com outras nações, perdeu o controle da colônia após a guerra da independência brasileira, que levou ao estabelecimento do Império do Brasil. A história do Brasil após a independência é marcada pelas primeiras guerras territoriais contra seus países vizinhos, que afetaram bastante a formação das atuais fronteiras políticas. Por exemplo, a Guerra Cisplatina, travada no atual território do Uruguai, estabeleceu a independência dessa nação. O Paraguai sofreu grande redução em sua população. A guerra acentuou um desequilíbrio entre a quantidade de homens. Algumas fontes citam que 75% da população paraguaia teriam perecido ao final da Guerra. Dos cerca de 160 mil brasileiros que combateram na Guerra do Paraguai as melhores estimativas apontam cerca de 50 mil óbitos e outros mil inválidos. Outros ainda estimam que o número total de combatentes pode ter chegado a 400 mil, com sessenta mil mortos em combate ou por doenças. As forças uruguaias contaram com quase 5.600 homens, dos quais pouco mais de 3.100 morreram durante a guerra devido às batalhas ou por doenças. O conflito custou, pois, ao Brasil, quase onze anos do orçamento público anual, em valores de pré-guerra, o que permite compreender melhor o persistente déficit público nas décadas de 1870 e 1880. Também chama a atenção, nos números sobre as fontes dos recursos gastos na luta, a participação proporcionalmente pequena de empréstimos externos. O Brasil levou à guerra em torno de 139 mil homens, de um total de pouco mais de 9 milhões de habitantes, ou seja, cerca de 1.5% da população.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de mai. de 2020
Guerras Brasileiras

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    Guerras Brasileiras - Adeilson Nogueira

    GUERRAS

    BRASILEIRAS

    Adeilson Nogueira

    1

    Todos os direitos reservados.

    Proibida a reprodução total ou parcial desta obra,

    de qualquer forma ou meio eletrônico, e mecânico,

    fotográfico e gravação ou qualquer outro, sem a permissão expressa do autor. Sob pena da lei.

    2

    ÍNDICE

    INTRODUÇÃO - ........................................................................................................................08

    GUERRA

    DE

    IGUAPE

    (1534).......................................................................................................09

    ENTRINCHEIRAMENTO

    DE

    IGUAPE

    (1534)................................................................................09

    BATALHA

    DE

    CRICARÉ

    (1558)....................................................................................................10

    BATALHA

    DE

    GUAXENDUVAS

    (19

    de

    novembro

    de

    1614).........................................................13

    BATALHA

    DE

    M’BORORÉ

    (11

    de

    março

    de

    1641)......................................................................16

    INVASÕES

    HOLANDESAS

    DO

    BRASIL.........................................................................................19

    CAPTURA DA BAHIA (1624)......................................................................................................29

    JORNADA

    DOS

    VASSALOS

    (Recaptura

    da

    Bahia)

    (1625)............................................................29

    INVASÃO

    DA

    CAPITANIA

    DE

    PERNAMBUCO

    (1630)..................................................................32

    BATALHA

    NAVAL

    DE

    ABROLHOS

    (12

    de

    setembro

    de

    1631).....................................................42

    PRIMEIRA

    BATALHA

    DE

    SALVADOR

    (março

    de

    1638)................................................................42

    SEGUNDA

    BATALHA

    DE

    SALVADOR

    (maio

    de

    1638)..................................................................42

    BATALHA

    DO

    MONTE

    DAS

    TABOCAS

    (3

    de

    agosto

    de

    1645).....................................................43

    BATALHA

    DE

    CASA

    FORTE

    (17

    de

    agosto

    de

    1645)....................................................................44

    BATALHA

    DE

    TEJUCUPAPO

    (24

    de

    abril

    de

    1646)......................................................................46

    3

    BATALHA

    DOS

    GUARARAPES

    (19

    de

    abril

    de

    1648)...............................................................47

    BATALHA

    DOS

    GUARARAPES

    (19

    de

    fevereiro

    de

    1649).......................................................49

    GUERRA

    DOS

    PALMARES..........................................................................................................52

    GUERRA

    DOS

    EMBOABAS.........................................................................................................52

    BATALHA

    DE

    CACHOEIRA

    DO

    CAMPO.......................................................................................53

    BATALHA

    DO

    CAPÃO

    DA

    TRAIÇÃO............................................................................................56

    GUERRA GUARANÍTICA............................................................................................................64

    BATALHA

    DE

    CAIBATÉ...............................................................................................................70

    INVASÃO

    DA

    GUIANA

    FRANCESA

    (janeiro

    de

    1809)..................................................................71

    BATALHA DE CAIENA................................................................................................................72

    GUERRA

    CONTRA

    ARTIGAS.......................................................................................................73

    BATALHA

    DE

    ARROYO

    GRANDE

    (1816).....................................................................................75

    BATALHA

    DE

    SANTA

    ANA

    (22

    de

    setembro

    de

    1816)................................................................75

    BATALHA

    DE

    TACUAREMBÓ

    (22

    de

    janeiro

    de

    1820)................................................................75

    GUERRA

    DA

    INDEPENDÊNCIA

    DO

    BRASIL.................................................................................76

    REBELIÃO DE AVILEZ (11 de janeiro a 15 de fevereiro de 1822)................................................84

    BATALHA

    DE

    PIRAJÁ

    (8

    de

    novembro

    de

    1822).........................................................................84

    BATALHA

    DE

    ITAPARICA

    (7

    a

    9

    de

    janeiro

    de

    1823)...................................................................85

    4

    BATALHA

    DE

    4

    DE

    MAIO

    (4

    de

    maio

    de

    1823)...........................................................................86

    CERCO

    DE

    CAXIAS

    (Abril

    -

    Julho

    1823).......................................................................................87

    BATALHA

    NAVAL

    DE

    MONTEVIDÉU

    (23

    de

    outubro

    de

    1823)...................................................87

    CERCO DE MONTEVIDÉU (23 de janeiro de 1823 a 8 de março de 1824)........................................................................................................................................88

    GUERRA

    DA

    CISPLATINA...........................................................................................................89

    BATALHA

    DE

    RINCÓN

    (24

    de

    setembro

    de

    1825)......................................................................94

    BATALHA

    DE

    SARANDI

    (12

    de

    outubro

    de

    1825).......................................................................95

    BATALHA

    DE

    JUNCAL

    (9

    de

    fevereiro

    de

    1827).........................................................................97

    BATALHA DE VACACAI (13 de fevereiro de 1827)....................................................................99

    BATALHA

    DE

    UMBU

    (16

    de

    fevereiro

    de

    1827).......................................................................100

    BATALHA DO PASSO DO ROSÁRIO OU DE ITUZAIN (20 de fevereiro de 1827)......................................................................................................................................101

    BATALHA DE MONTE SANTIAGO (7 a 8 de abril de 1827)........................................................103

    CABANAGEM..........................................................................................................................106

    BALAIADA...............................................................................................................................109

    GUERRA DOS FARRAPOS........................................................................................................112

    BATALHA DO SEIVAL (10 de setembro de 1836) Separatistas proclamam a posterior República

    Rio-

    Grandense.......................................................................................................................131

    BATALHA

    DO

    FANFA

    (3

    a

    4

    de

    outubro

    de

    1836)....................................................................131

    BATALHA DO BARRO VERMELHO (30 de abril de 1838) Farrapos massacram tropas Imperiais................................................................................................................................132

    BATALHA

    DOS

    PORONGOS

    (14

    de

    novembro

    de

    1844)..........................................................133

    5

    GUERRA

    CONTRA

    ORIBE

    E

    ROSAS...........................................................................................138

    CERCO

    DE

    MONTEVIDÉU

    (1843-

    1851)....................................................................................147

    CAMPANHA DO URUGUAI (4 de setembro-19 de outubro de 1851).......................................148

    FORTIFICAÇÕES DO PASSO DO TONELERO (17 de dezembro de 1851)......................................................................................................................................149

    BATALHA

    DE

    CAMPO

    DE

    ALVAREZ

    (2

    de

    fevereiro

    de

    1852)...................................................150

    BATALHA

    DE

    MONTE

    CASEROS

    (3

    de

    fevereiro

    de

    1852)........................................................151

    GUERRA

    DO

    URUGUAI............................................................................................................153

    CERCO DE PAYSANDÚ (3 de dezembro de 1864-2 de janeiro de 1865)......................................................................................................................................163

    GUERRA DO PARAGUAI..........................................................................................................164

    CAMPANHA

    DO

    MATO

    GROSSO

    (dezembro

    de

    1864)............................................................179

    BATALHA DE CORRIENTES......................................................................................................185

    BATALHA

    DE

    SÃO

    BORJA

    (10

    de

    junho

    de

    1865).....................................................................191

    BATALHA

    NAVAL

    DO

    RIACHUELO

    (11

    de

    junho

    de

    1865)........................................................192

    BATAHA DE PASO DE LAS CUEVAS (12 de agosto de 1865).....................................................196

    BATALHA

    DE

    JATAÍ

    (17

    de

    agosto

    de

    1865).............................................................................197

    BATALHA

    DE

    PEHUAJÓ

    (29

    de

    janeiro

    de

    1866)......................................................................200

    BATALHA

    DA

    ILHA

    DA

    REDENÇÃO

    (10

    de

    abril

    de

    1866).........................................................202

    BATALHA

    DE

    ESTERO

    BELLACO

    (2

    de

    maio

    de

    1866)...............................................................203

    6

    BATALHA

    DE

    TUIUTI

    (24

    de

    maio

    de

    1866).............................................................................203

    BATALHA

    DE

    CURUPAITI

    (22

    de

    setembro

    de

    1866)...............................................................212

    COMBATE

    DE

    PERU-HUÊ

    (3

    de

    agosto

    de

    1867).....................................................................222

    PASSAGEM

    DE

    HUMAITÁ

    (19

    de

    fevereiro

    de

    1868)...............................................................222

    BATALHA

    DE

    ACAYUAZÁ

    (18

    de

    julho

    de

    1868).......................................................................234

    BATALHA

    DE

    ITORORÓ

    (6

    de

    dezembro

    de

    1868)...................................................................235

    BATALHA

    DE

    AVAÍ

    (11

    de

    dezembro

    de

    1868)........................................................................242

    BATALHA DE LOMAS VALENTINAS (21 a 27 de dezembro de 1868)........................................244

    MANOBRA

    DE

    PIQUISSIRI

    (final

    de

    1868)................................................................................245

    BATALHA

    DE

    PERIBEBUY

    (12

    de

    agosto

    de

    1869)....................................................................246

    CAMPANHA

    DA

    CORDILHEIRA

    (1869-

    1870)............................................................................246

    BATALHA DE ACOSTA NU OU DE CAMPO GRANDE (16 de agosto de 1869)......................................................................................................................................250

    BATALHA

    DE

    CERRO

    CORÁ

    (1º

    de

    março

    de

    1870)..................................................................253

    REVOLTA DA ARMADA...........................................................................................................264

    CASO

    DO

    RIO

    DE

    JANEIRO

    (9-21

    de

    janeiro

    de

    1894)..............................................................268

    REVOLUÇÃO FEDERALISTA.....................................................................................................269

    CERCO

    DE

    BAGÉ

    (28

    de

    fevereiro

    de

    1893).............................................................................274

    CERCO

    DA

    LAPA

    (Jan.-Fev.,

    1894)...........................................................................................275

    7

    BATALHA

    DE

    PASSO

    FUNDO

    (Junho

    de

    1894).........................................................................277

    BATALHA

    DO

    CAROVI

    (10

    de

    agosto

    de

    1894).........................................................................278

    GUERRA

    DE

    CANUDOS............................................................................................................279

    BATALHA

    DE

    UAUÁ.................................................................................................................283

    GUERRA

    DO

    ACRE...................................................................................................................284

    GUERRA

    DO

    CONTESTADO.....................................................................................................288

    PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL................................................................................................296

    BATALHA

    DAS

    TONINHAS.......................................................................................................328

    OFENSIVA DOS CEM DIAS (Da qual participaram os militares brasileiros enviados em missão à França

    em

    1918,

    integrados

    em

    várias

    unidades

    aliadas).......................................................329

    CRISE

    TENENTISTA..................................................................................................................332

    LEVANTE

    DO

    FORTE

    DE

    COPACABANA

    (Julho,

    1922)..............................................................335

    BATALHA

    DE

    SÃO

    PAULO

    (Julho-Agosto

    1924).......................................................................337

    REVOLTA CONSTITUCIONALISTA............................................................................................339

    BATALHA

    DO

    TÚNEL

    DA

    MANTIQUEIRA

    (Jul.-Set.

    1932).........................................................371

    SEGUNDA GUERRA MUNDIAL................................................................................................371

    BATALHA DO ATLÂNTICO.......................................................................................................394

    LINHA

    GÓTICA

    (Setembro

    1944

    -

    Março

    1945).......................................................................398

    BATALHA DE MONTE CASTELLO (25 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945)......................................................................................................................................402

    BATALHA

    DE

    CASTELNUOVO

    (5

    a

    6

    de

    março

    de

    1945)...........................................................405

    8

    BATALHA

    DE

    MONTESE

    (14

    a

    15

    de

    abril

    de

    1945)..................................................................406

    BATALHA

    DE

    COLLECCHIO

    (26

    a

    27

    de

    abril

    de

    1945)..............................................................409

    BATALHA DE FORNOVO DE TARO (28 a 29 de abril de 1945)...................................................409

    GUERRA

    CIVIL

    DOMINICANA..................................................................................................411

    GUERRILHA

    DO

    ARAGUAIA.....................................................................................................413

    OPERAÇÃO

    PAPAGAIO

    (Abril-Outubro

    1972).........................................................................417

    OPERAÇÃO SUCURI................................................................................................................420

    OPERAÇÃO

    MARAJOARA

    (Outubro,

    1973

    -

    Outubro,

    1974)...................................................422

    OPERAÇÃO LIMPEZA..............................................................................................................424

    9

    INTRODUÇÃO

    A história militar do Brasil compreende séculos de ações armadas no território que abrange o Brasil moderno e o papel das Forças Armadas brasileiras em conflitos e manutenção da paz em todo o mundo. Por várias centenas de anos, a área foi palco de guerras intertribais de povos indígenas . A partir do século XVI, a chegada dos exploradores portugueses levou a conflitos com os povos indígenas; um exemplo notável é a revolta da Confederação Tamoio . As revoltas esporádicas dos escravos africanos também marcaram o período colonial, com uma notável rebelião liderada por Zumbi dos Palmares. Também foram encontrados conflitos com outras nações européias - dois exemplos notáveis são o caso da França Antártica e um conflito com a Holanda no início do século XVII pelo controle de grande parte do Nordeste . Embora Portugal tenha mantido suas posses durante conflitos com outras nações, perdeu o controle da colônia após a guerra da independência brasileira , que levou ao estabelecimento do Império do Brasil .

    A história do Brasil após a independência é marcada pelas primeiras guerras territoriais contra seus países vizinhos, que afetaram bastante a formação das atuais fronteiras políticas. Por exemplo, a Guerra Cisplatina, travada no atual território do Uruguai, estabeleceu a independência dessa nação.

    O Paraguai sofreu grande redução em sua população. A guerra acentuou um desequilíbrio entre a quantidade de homens. Algumas fontes citam que 75% da população paraguaia teriam perecido ao final da Guerra.

    Dos cerca de 160 mil brasileiros que combateram na Guerra do Paraguai as melhores estimativas apontam cerca de 50 mil óbitos e outros mil inválidos. Outros ainda estimam que o número total de combatentes pode ter chegado a 400 mil, com sessenta mil mortos em combate ou por doenças.

    As forças uruguaias contaram com quase 5.600 homens, dos quais pouco mais de 3.100 morreram durante a guerra devido às batalhas ou por doenças.

    O conflito custou, pois, ao Brasil, quase onze anos do orçamento público anual, em valores de pré-guerra, o que permite compreender melhor o persistente déficit

    público nas décadas de 1870 e 1880. Também chama a atenção, nos números sobre as 10

    fontes dos recursos gastos na luta, a participação proporcionalmente pequena de empréstimos externos.

    O Brasil levou à guerra em torno de 139 mil homens, de um total de pouco mais de 9

    milhões de habitantes, ou seja, cerca de 1.5% da população.

    GUERRA DO IGUAPE

    A Guerra de Iguape aconteceu entre os anos de 1534 e 1536, na região de São Vicente, São Paulo. Em virtude de uma interpretação particular do Tratado de Tordesilhas, alguns espanhóis, liderados por Ruy Garcia de Moschera, instalaram-se nos arredores da província vicentina. Aliados aos índios carijós, fundaram uma vila (a I-Caa-Para) e venceram algumas batalhas contra corsários franceses.

    Na ocasião do ataque à Vila de São Vicente, os espanhóis contaram com o apoio de Piquerobi, cacique da tribo guaianá, e seu genro, Cosme Fernandes, saqueando e quase destruindo a vila.

    Quando as forças de defesa portuguesas enfrentaram o contingente espanhol, foram prontamente derrotadas. Em seguida, Garcia de Moschera e seus seguidores ocuparam e saquearam São Vicente, levando inclusive o livro do Tombo. No entanto, em virtude das incursões sistemáticas das forças portuguesas (que arregimentaram outros índios rivais, de serra acima, cf. Donato, p. 89), os espanhóis foram forçados a se retirarem, primeiro para a Ilha de Santa Catarina, e, depois, para Buenos Aires ENTRINCHEIRAMENTO DE IGUAPE

    O Entrincheiramento de Iguape localizava-se em Iguape, a cerca de setenta quilômetros ao norte de Cananeia, no litoral do atual estado brasileiro de São Paulo.

    A povoação de Iguape, estabelecida pelo desertor espanhol tenente Ruy García de Moschera nas primeiras décadas do século XVI, era habitada por náufragos e desertores espanhóis do rio da Prata, aliados a Cosme Fernandes, o chamado

    bacharel de Cananeia.

    Em 1534, a propósito do massacre dos oitenta integrantes da entrada de Pero Lobo pelos Carijós às margens do rio Iguaçu, pouco depois de partirem de Cananeia (1º de setembro de 1531), Pero de Góis intimou os espanhóis a entregarem o bacharel de 11

    Cananeia e a prestarem obediência ao rei de Portugal e ao governador Martim Afonso de Sousa em trinta dias, sob pena de morte e de confisco de bens. Moschera respondeu que não reconhecia a jurisdição da Coroa portuguesa, uma vez que se encontrava em terras de Castela, criando-se, então, um impasse.

    Na iminência do ataque português, Moschera e o bacharel, apoiados por duzentos indígenas flecheiros, capturaram um navio corsário francês que, pouco antes, aportara em Cananeia em busca de provisões, apoderando-se, então, de suas armas e munições. Em seguida, fizeram cavar uma trincheira em frente à povoação de Iguape, no sopé do morro atualmente conhecido como Outeiro do Bacharel, guarnecendo-a com quatro das peças de artilharia do navio francês. Na sequência, dispuseram vinte espanhóis e 150 indígenas emboscados no manguezal da foz da barra de Icapara, aguardando a força portuguesa.

    Esta, composta por oitenta homens, ao desembarcar, foi recebida pelo fogo da artilharia, sendo desbaratada. Na retirada, os sobreviventes foram surpreendidos pelas forças espanholas emboscadas na foz da barra, onde os remanescentes pereceram, sendo gravemente ferido o seu capitão, Pero de Góis, por um tiro de arcabuz.

    Vitoriosos, no dia seguinte os espanhóis embarcaram no navio francês e atacaram a vila de São Vicente, a qual saquearam e incendiaram, levando, inclusive, o livro do Tombo, deixando-a praticamente destruída e matando dois terços dos seus habitantes.

    Os agressores fugiram, em seguida para o sul, abandonando Iguape.

    Aníbal Barreto (1958) menciona o episódio do saque de São Vicente por Moschera, porém datando-o de 1537 (op. cit., p. 258).

    BATALHA DO CRICARÉ

    A Batalha do Cricaré foi a primeira de uma série de batalhas entre portugueses e índios brasileiros da região da Capitania do Espírito Santo que, posteriormente, ficou conhecida como Guerra dos Aimorés. Ocorreu na confluência dos rios São Mateus e Mariricu, nas proximidades do então povoado do Cricaré, atualmente município de São Mateus. O combate foi travado no ano de 1557 e tinha por objetivo livrar Vasco Fernandes Coutinho, donatário da Capitania do Espírito Santo, e seus homens, do risco de ataque dos nativos.

    Seis embarcações e aproximadamente duzentos homens saíram de Porto Seguro rumo ao Povoado do Cricaré e combateram os índios que se defendiam em três fortificações.

    Após terem destruído duas fortificações, o ataque português perdeu força e tiveram que bater em retirada. A batalha culminou com a morte do principal comandante da batalha, Fernão de Sá, filho do então Governador Geral do Brasil, Mem de Sá.

    12

    Atravessar o oceano Atlântico para fixar residência no Brasil, no século XVI, era considerado uma aventura, pois enfrentar as doenças tropicais, os animais selvagens e os índios antropófagos não eram coisas fáceis. Os primeiros portugueses, liderados por Vasco Fernandes Coutinho, aportaram na capitania do Espírito Santo em 23 de maio de 1535. Junto com o donatário, vieram aproximadamente 60 colonizadores, os quais eram pescadores, mercadores, agricultores, criminosos e degredados.

    No entanto, a chegada destes colonos foi marcada por um cenário de guerra e resistência dos nativos que ali viviam. Índios aimorés, conhecidos por sua bravura, selvageria, destreza com a guerra e por serem antropófagos receberam os portugueses com flechas e só desistiram quando estes revidaram com canhões e armas de fogo.

    Fixando-se em terras capixabas, Vasco Fernandes Coutinho fundou as vilas do Espírito Santo e de Nossa Senhora da Vitória, desenvolveu a agricultura de cana-de-açúcar e montou engenhos para a produção de açúcar. Combateu os Aimorés, os quais se defendiam com armas primitivas, tais como arco e flecha, tacape e bordunas. Estes eram escravizados para o trabalho nos engenhos e as índias estupradas. Muitas delas se tornaram companheiras e esposas dos portugueses. Os índios começaram a entender que aquele povo poderoso estava vindo para ficar e trataram de se defender como podiam, juntando-se até com nações e tribos adversárias para enfrentar os invasores.

    Poucos anos depois, praticamente só, com a mesma nau que viera ao Brasil, Vasco voltou ao Reino de Portugal em busca de ajuda ou a procura de um sócio disposto a compartilhar do projeto de conquista do solo brasileiro. Por quase 7 anos esteve em Portugal e, ao regressar, encontrou a Capitania devastada. Os índios das diversas tribos se organizaram e, mesmo sendo inimigos entre si, uniram-se contra os invasores, devastando tudo que era feito por eles. Os poucos engenhos de açúcar implantados com muita dificuldade e que já tinham propiciado as primeiras exportações para o reino estavam, irremediavelmente, destruídos.

    Vasco Fernandes Coutinho tentou trazer de volta os colonos que se haviam dispersado, para unir forças com os homens que trouxera consigo de Portugal. Mesmo assim eram insuficientes para conter os ataques dos índios e em 1557, persuadido de suas poucas forças e queixas de seus colonos, apela para o terceiro e último Governador Geral do Brasil, Mem de Sá, para acudi-lo antes que todos fossem devorados pelos índios, que eram canibais. O governador do Brasil, que recebera a carta no mesmo momento em que Duarte da Costa lhe transmitia o cargo, tomou providências imediatas: enviou seu filho Fernão de Sá os colonos no Espírito Santo.

    "Como me derão posee do guoverno loguo me derão cartas de Vasco Fernandez Coutinho Capitão da capitania do Espirito Santo em que dezia que o gentio da sua capitania se allevantara e lhe fazia crua guerra e lhe tinha mortos muitos homens e feridos e que o tinhão serquado na villa onde dias e noites ho combatião e que nam podia deixar de se emtregar a que o comesem se ho não socorresem com muita 13

    brevidade [...] e por me não deixar os moradores yr em pessoa mamdei a Fernão de Saa meu filho [...]"

    O capitão-mor da expedição, Fernão de Sá, deixou Salvador no comando da galé São Simão. Junto a ele estavam os capitães Diogo Morim, conhecido como O Velho, que posteriormente tomou o comando da expedição, e Paulo Dias Adorno. Baltazar de Sá, primo de Fernão, comandava a galé Conceição. Em Porto Seguro juntaram-se à expedição os capitães Diogo Álvares e Gaspar Barbosa, com seus Caravelões.

    Ainda em Porto Seguro, Fernão de Sá chegou recebeu a informação que a grande concentração de índios que combatiam Vasco Fernandes Coutinho estava na região da Aldeia do Cricaré. Além disso, a proximidade com a então Capitania de Porto Seguro representava um risco iminente a esta. Sendo assim, a deixa com aproximadamente 200 homens em 6 embarcações e veleja rumo ao rio Cricaré.

    Entrando pela barra do Rio São Mateus, que deságua em Conceição da Barra, a esquadra navegou cautelosamente temendo um ataque surpresa dos indígenas por quatro dias rio acima, contra a corrente, tendo que ser impulsionada com a ajuda de remos, até dar com uma fortificação, próximo à confluência dos rios São Mateus e Mariricu, onde iniciou-se a batalha.

    O assalto se iniciou logo antes do amanhecer, pondo finalmente as proas das embarcações em terra, o que, no rio em que navegavam era permitido apenas a preamar. No entanto, ainda antes de tocarem a praia, foram atacados pelos indígenas, que para tentar conter o desembarque, realizaram um ataque utilizando-se de arcos e flechas. Estes primeiros momentos do encontro portanto se deram ainda no leito do rio. Este ataque foi desencorajado pelo uso, por parte dos portugueses, de artilharia de bordo, fazendo com que os indígenas retrocedessem, debandando para o interior da fortaleza.

    O avanço contra a fortificação indígena se fez a golpes de machado e disparos de arma de fogo, sendo este ataque revidado por nuvens de flechas que eram lançadas pelas frestas da fortaleza e aparadas pelo uso dos escudos portugueses. Rompida a barreira, possibilitando assim o assalto português, estes são recebidos por uma descarga de flechas indígenas, já reagrupados, que, de imediato, causou duas baixas muito comemoradas pelos nativos. Este fato levou a um combate corpo a corpo, onde os portugueses, munidos de espadas, saíram vitoriosos.

    Enquanto isso, cuidou-se para que as embarcações fossem manobradas para o meio do rio, para que estas não ficassem encalhadas com o advento da maré baixa. Além disso, esta estratégia teve por base a utilização da artilharia de bordo, que desde o início da ação bombardeava o arraial inimigo.

    Em terra, após os acontecimentos na primeira frente de batalha, e, havendo mais uma vez uma debandada indígena, estes reagrupam-se em uma segunda fortificação, logo posta abaixo pelos portugueses, iniciando assim um novo combate corpo a corpo. Não fazendo frente à investida portuguesa, os nativos mais uma vez bateram em retirada, 14

    retrocedendo até uma terceira fortificação. Neste ponto, a sorte do combate virou em desfavor dos portugueses, com a retirada vitoriosa do restante da tropa em direção à praia. Variam as versões para justificar a manobra, sem dúvida não prevista dentro do esquema do combate até então.

    [...] pelejaram tão bem que tinham já a cerca rendida, si os acudissem com duas panelas de pólvora, que nunca lhes quizeram levar. Os Portuguezes, descuidados com a victoria, sem se poderem aproveitar, pela inadvertencia, das armas de fogo, forão desbaratados, e postos em retirada.

    Avançando demais na batalha, Fernão Sá, acompanhado de outros nove combatentes, quase obteve êxito em render a última fortaleza, só não o conseguindo pelo fato de terem ficado sem pólvora, batendo então em retirada. Percebendo os indígenas que os portugueses retiravam-se do campo de batalha, abandonam a última fortaleza, perseguindo-os até as margens do rio. Os portugueses no entanto foram pegos de surpresa,pois, à beira do Cricaré não encontravam-se mais as embarcações.

    Fernão de Sá foi morto juntamente com Manuel Álvares e Diogo Álvares, ambos filho de Diogo Álvares Correia, o Caramuru – lampreia em tupi – e mais três soldados. sendo que os demais conseguiram se salvar a nado.

    Após este revés, a esquadra portuguesa bateu em retirada rumo à vila de Vitória sob o comando de Diogo Morim. Mem de Sá, posteriormente, enviou seu sobrinho Baltazar de Sá até a Capitania do Espírito Santo, ao comando de uma nova esquadra, sendo realizada uma grande matança de índios, pacificando a Capitania por um breve período. Além disso, Mem de Sá sugeriu, em carta à regente Dona Catarina, sua encampação para fundar uma cidade real, a fim de proteger as Capitanias do sul, o que acabou não acontecendo, dada a fundação da cidade do Rio de Janeiro.

    BATALHA DE GUAXENDUVAS

    A Batalha de Guaxenduba foi um confronto militar ocorrido em 19 de novembro de 1614, próximo de onde hoje se localiza a cidade de Icatu, no estado do Maranhão, no Brasil, entre forças portuguesas e tabajaras, de um lado, e francesas e tupinambás, de outro. A batalha foi um importante passo dado pelos portugueses para a expulsão definitiva dos franceses do Maranhão, a qual viria a ocorrer em 4 de novembro de 1615. A expulsão dos franceses possibilitou que grande parte da Amazônia passasse para domínio português e, posteriormente, brasileiro.

    Em 1555, os franceses tentaram estabelecer uma colônia no Rio de Janeiro, a França Antártica, que foi extinta em 1560. Em 1612 no Maranhão, com o apoio dos indígenas locais, os franceses novamente tentam estabelecer uma colônia no território pertencente a Portugal: em 8 de setembro, foi fundada a povoação de Saint Louis e 15

    iniciada a construção do Forte de São Luís do Maranhão acima de um morro em frente o mar onde hoje existe o Palácio dos Leões.

    Ciente da presença dos franceses ao norte da capitania do Maranhão, Gaspar de Souza envia tropas de Pernambuco. Em 23 de agosto de 1614, Diogo de Campos parte do Recife com 300 homens e, no Rio Grande do Norte, se junta a Jerônimo de Albuquerque, que leva consigo um grande contingente de indígenas. A expedição portuguesa com 500 homens liderados pelo capitão-mor Jerônimo de Albuquerque acampa na barra do rio Perejá (Periá) com a intenção de buscar um local para edificar uma fortificação, enfrentando falta de alimentos e de água de qualidade. Um grupo de 14 exploradores portugueses descobre um local adequado para a construção de um forte, e a expedição novamente zarpa em 2 de outubro de 1614. Em 26 de outubro, chegam a uma área chamada de Guaxindubá pelos indígenas, na margem direita da Baía de São José, entre muitas ilhas e canais estreitos. Ali, na praia de Guaxenduba, sob a orientação do engenheiro Francisco Frias de Mesquita é construída uma fortificação de forma hexagonal à qual é dado o nome de Forte de Santa Maria, a cerca de 20 km da atual sede do município de Icatu, diante das posições francesas no Forte de São José de Itapari, instalados em São José de Ribamar.

    Uma vez estabelecidos, os portugueses passam a trabalhar na construção e vigilância do forte e no reconhecimento da região. Num primeiro contato com os portugueses, alguns indígenas da Ilha diziam que a mesma estava cheia de franceses, outros, que eles haviam ido embora.

    Em 30 de outubro, um grupo de indígenas da ilha matara quatro índias e um índio que acompanhavam os portugueses, fazendo-os desconfiar dos nativos e acreditar que haviam sido enviados pelos franceses para reconhecer seus navios. Nos dias do final de outubro, os portugueses no forte de Santa Maria e na ilha de Santana observam o movimento de navios franceses na Baía de São José e o desembarque de peças de artilharia.

    Em 10 de novembro de 1614, o sargento-mor do Estado, Diogo de Campos, após se desentender com Jerônimo de Albuquerque, envia um grupo de marinheiros para defender as embarcações que estavam ancoradas ou encalhadas no estuário, pedindo que ficassem vigilantes. Na madrugada de 11 de novembro, os franceses, guiados por Monsieur de Pézieux, Monsieur du Prat e François Rasilly, se aproximam dos navios silenciosamente. Quando percebem o ataque, os marinheiros tocam as trombetas e alertam os soldados do forte, que disparam a artilharia sem cessar, entretanto, não gerando nenhum efeito nos franceses. Os marinheiros abandonam e deixam livres as embarcações, das quais três são capturadas pelos franceses: uma caravela, um patacho de guerra e um barco que estavam mais afastados da terra.

    Na manhã de 19 de novembro de 1614, os soldados portugueses notaram que, ao lado do forte de Santa Maria, o mar estava repleto de embarcações a vela e à remo se aproximando da costa. Para atacá-los no desembarque, Diogo de Campos dirigiu-se à praia com 80 soldados portugueses, mas, percebendo que o número de inimigos era 16

    muito maior, retrocedeu. Logo, havia centenas de combatentes na praia. Os franceses dispunham de 200 soldados, muitos dos quais eram fidalgos, em duas tropas, levando coletes de aço, espadas e mosquetes de grande qualidade. Contavam com 50 canoas e 2500 índios, incluindo 2 mil índios de Tapuitapera (atualmente Alcântara) e 100 índios de Cumã (atual Guimarães). Daniel de la Touche, comandante dos franceses, estava no mar com mais 200 soldados liderados pelo cavaleiro François Rasilly. Foi iniciada uma longa troca de tiros e nesse primeiro encontro, foram mortos um soldado português e dois franceses.

    Diante do forte de Santa Maria havia um outeiro a uma distância igual a um tiro de falcão, limitado a norte pelo mar e ao sul pelo rio do qual os portugueses retiram a água. Os franceses desembarcaram pelo mar. Sob o comando de Monsieur de La Fos-Benart, cerca de 400 tupinambás que lutavam pelo lado francês receberam a ordem de fortificar o máximo que pudessem seu topo: construíram, ao todo, 7 trincheiras com pedras grandes, fortificando todo o espaço entre a maré e o topo do outeiro, de modo que as canoas que chegavam ficavam parcialmente ocultas. Por um caminho secreto, Jerônimo de Albuquerque subiu o morro com 75 soldados e 80 arqueiros, enquanto Diogo de Campos atacava os franceses e indígenas que desembarcavam. Em terra, saltou de uma canoa com um trombeta (mensageiro), que levava o brasão de armas reais da França e uma carta em francês escrita por Daniel de La Touche, a qual dizia que os portugueses deviam se render em 4 horas ou seriam massacrados. Diogo de Campos percebeu que a carta era uma tentativa dos franceses de ganhar tempo e obter informações sobre o estado das tropas portuguesas.

    A esta altura, o grupo de soldados e arqueiros que acompanhava Jerônimo de Albuquerque já havia chegado à primeira trincheira. Os índios que a defendiam com os franceses eram uma grande multidão, e neles, os portugueses não perdiam um tiro.

    Daniel de La Touche, Senhor de la Ravardière, observava do mar que o exército francês sofria pesadas baixas: em menos de uma hora, a área ao redor do forte de Santa Maria estava repleta de mortos franceses e indígenas. Ravardière mandou para próximo da praia os navios mais velozes para prevenir maiores danos à sua tropa, mas, sob o bombardeio da artilharia portuguesa, foi forçado a desistir. Havendo os portugueses dominado o outeiro fortificado, Diogo de Campos ordena que eles ateiem fogo a todas as canoas, que estavam abicadas na base do morro.

    Com todas as canoas em chamas, os franceses restantes em terra não tiveram como fugir e tudo o que puderam fazer foi se recolher na fortificação no topo do outeiro.

    Entre eles estavam Monsieur de la Fos Benart e Monsieur de Canonville. Ao final da batalha, próximo ao outeiro, muitos dos soldados portugueses se punham à frente dos mosquetes dos inimigos, que ainda resistiam. Turcou, que era o intérprete dos franceses na comunicação com os índios, foi baleado pelos portugueses, e com ele, Monsieur de la Fos Benart, líder dos indígenas que lutavam com os franceses. Sem orientação, os índios restantes, mais de 600, começaram a fugir, descendo o outeiro e a eles se misturaram os soldados franceses, que não possuíam mais pólvora para atirar.

    17

    Após a Batalha de Guaxenduba, as tropas francesas restantes no Maranhão estavam recolhidas no Forte de Saint Louis. Para ganhar tempo, Ravardière propôs uma trégua aos portugueses e sua proposta foi aceita, ficando estipulado que um oficial português e um francês fossem à França e um oficial português e um francês fossem a Portugal, para procurar nas cortes desses países uma solução para o conflito.

    Com o cessar-fogo anunciado, portugueses, franceses e nativos permaneceram em paz. Em outubro de 1615, chega ao Maranhão o capitão-mor de Pernambuco, Alexandre de Moura, trazendo um reforço de tropas e mantimentos. Por ser de patente superior, assumiu o comando geral das tropas portuguesas. Sob seu comando, os portugueses violaram o tratado feito com os franceses e intimaram Daniel de la Touche a abandonar o Maranhão em 5 meses, comprometendo-se a indenizá-lo. Como garantia de sua palavra, Ravardière entrega o Forte de Itapari Três meses depois, chegaram da Europa Diogo de Campos e Martim Soares, trazendo mais tropas portuguesas e ordens terminantes da corte para os franceses abandonarem definitivamente o Brasil. Em 1º de novembro de 1615, Alexandre de Moura ordenou que o Forte de São Luís fosse cercado e desembarcou suas tropas na ponta de São Francisco.

    O forte foi atacado e, após 2 dias de combates, La Ravardière se rendeu. Em vez de indenizar os franceses, como fora combinado, os portugueses os embarcaram de volta para a França em dois navios, apenas com o que lhes era indispensável. Alguns franceses ficaram no Maranhão, como Charles Des Vaux, que ajudava na comunicação com os nativos; os que permaneceram eram em sua maioria ferreiros. Em janeiro de 1616, Daniel de La Touche foi levado à força para Pernambuco, onde recebeu uma indenização e perdão do governador-geral, para evitar que se juntasse a outros corsários franceses e os liderasse novamente. Em 1619, ao exigir o aumento da pensão estipulada pela Coroa portuguesa, foi preso em Lisboa, permanecendo encarcerado por três anos na Torre de Belém.

    No livro História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará, de 1759, o padre José de Moraes relata a aparição de Nossa Senhora da Vitória entre os batalhões portugueses, animando os soldados durante todo o tempo da batalha e transformando areia em pólvora e seixos em projéteis. Nossa Senhora da Vitória é considerada a padroeira de São Luís e a Catedral da Sé da cidade recebe seu nome e uma escritura em latim, que diz: 1629 • SANCTÆ MARIÆ DE VICTORIA DICATUM •

    1922.

    A batalha de Guaxenduba teria sido uma das primeiras situações de combate em que se noticiou o uso de uma luneta. Diogo de Campos relata:

    Neste tempo com alguns arcabuzeiros, que se chegarão mais, começou o Sargento Mór de travar a escaramuça a ver como se punhão, e havendo cahido dois Francezes, e hum Soldado dos Portuguezes, parou a obra, e o Sargento Mór se veio ao forte, a vêr o que determinava seu Collega, o qual achou com hum oculo de longa vista olhando por uma bombardeira o que os inimigos fazião [...]

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    BATALHA DE M’BORORÉ

    A Batalha de M'Bororé ocorreu entre 11 e 18 de março de 1641 na América do Sul, provavelmente, no atual município de Porto Vera Cruz no Rio Grande do Sul, na qual guaranis que habitavam em reduções dirigidas pelos jesuítas derrotaram os bandeirantes. Foi um importante episódio na história dos trinta Pueblos (Reduções) do Paraguai e da história da Argentina, pois evitou que a região compreendida entre os Rios Uruguai e Paraná, que atualmente pertence à Argentina, se tornasse território brasileiro.

    A partir do final da década de 1620 bandeirantes paulistas destruíram diversas reduções dirigidas por jesuítas que agrupavam, principalmente, nativos da etnia guarani em territórios que pertenciam à Coroa da Espanha segundo o Tratado de Tordesilhas, como ocorreu, por exemplo no oeste do território que atualmente pertence ao Estado do Paraná. Como resultado desses ataques muitos nativos foram escravizados, morreram ou tiveram que fugir. Além disso, a Coroa Espanhola deixava de exercer soberania sobre territórios por onde os bandeirantes passaram e tais territórios foram, posteriormente, incorporados ao Brasil.

    Para impedir a destruição de mais reduções os jesuítas passaram a destacar integrantes que antes haviam sido militares, dentre eles os irmãos: Juan Cárdenas, Antônio Bernal e Domingo Torres para preparar os guaranis para defender-se e conseguiram armas de fogo para defender as reduções de novos ataques dos bandeirantes.

    Os jesuítas Pedro Mola, Cristóvão de Altamirano, Juan de Porras, José Domenech, Miguel Gómez, Domingo de Salazar, Antônio de Alarcón, Pedro Sardoni e Domingo Suárez organizaram a construção de balsas. O comando militar seria dos caciques Ignácio Abiarú, Nicolás Nhienguirú, Francisco Mbayroba e Azaray.

    Além disso, conseguiram fazer com que o Papa Urbano VIII assinasse uma Bula que excomungava àqueles que caçavam nativos das reduções jesuíticas para escravizá-los.

    Esse documento não foi bem recebido em São Paulo, pois a cidade tinha como principal atividade econômica a caça de nativos da etnia guarani para revendê-los como escravos aos senhores de engenho do nordeste do Brasil.

    O jesuíta Antônio Ruiz de Montoya que liderava as Missões jesuíticas no oeste do Paraná, que foram destruídas pelos bandeirantes, foi recebido por Felipe IV e, no dia 21 de maio de 1640, o monarca autorizou o Vice Rei do Peru a fornecer armas aos guaranis e condenou a escravização de nativos que habitavam em reduções dirigidas pelos jesuítas. O governador de Buenos Aires, Pedro de Rojas y Acevedo, temendo a expansão portuguesa, enviou instrutores militares e armas para ajudar a defesa dos guaranis.

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    Em meados de 1640, o jesuíta Francisco Díaz Taño, então Procurador da Província Jesuítica do Paraguai, durante seu retorno da Europa, fez publicar no Rio de Janeiro a referida Bula e a condenação real contra aqueles que escravizavam nativos. Na época, ainda estava em vigor a União Ibérica, circunstância na qual o Rei da Espanha, também era o Rei de Portugal.

    A publicação gerou uma revolta dos habitantes de cidades como o Rio de Janeiro, Santos, São Vicente e São Paulo contra os jesuítas, em um contexto no qual, a escravização dos nativos era uma importante atividade econômica no Brasil.

    Houve uma reunião na Câmara Municipal de São Paulo na qual foi organizada uma grande expedição para atacar e destruir as reduções jesuíticas, vigar a derrota do bandeirante Pascoal Leite Pais em Caazapaguazú, prender os jesuítas e devolvê-los para a Espanha.

    No início de setembro de 1640, partiu de São Paulo uma grande bandeira com cerca de 3.500 homens bem armados, liderados por Jerônimo Pedroso de Barros e Manuel Pérez. Dentre eles Antônio de Cunha Gago, Juan Leite e Pedro Nunes Dias. Esse contingente acampou no Rio Chapecó, onde construíram balsas para atacar as reduções.

    No final de 1640, chegou aos jesuítas, por intermédio de Francisco Díaz Taño, a informação de que a grande bandeira estava a caminho para destruir muitas reduções.

    Mas os jesuítas já contavam com um força estimada em 4.200 homens, centenas de canoas e inclusive uma balsa com uma peça de artilharia. Embora maioria estivesse armada apenas com arcos e flechas, contavam com cerca de 300 arcabuzes e algumas peças de artilharias enviadas de Buenos Aires. Em 8 janeiro de 1641, ao saber do acampamento dos bandeirantes, o padre padre Cláudio Ruyer ordenou o agrupamento do exército guarani nas proximidades do Arroio Mbororé (atualmente denominado como Once Vueltas), na margem ocidental do Rio Uruguai, em território que atualmente pertence à Província de Misiones, na Argentina.

    No dia 25 de fevereiro de 1641, 8 canoas foram enviadas rio acima para coletar informações sobre o avanço dos bandeirantes. Esses guaranis tiveram uma escaramuça com os invasores e ao fugir foram perseguidos por canoas tripuladas por nativos da etnia tupi, mas foram salvos quando se aproximaram do restante do contingente guarani.

    A batalha principal teve início no dia 11 de março de 1641, e durou cerca de cinco dias.

    Os bandeirantes contavam com cerca de 700 canoas.

    Algumas armas empregadas pelos guaranis eram bastante curiosas como uma catapulta que arremessava troncos em chamas e canhões de taquaruçu revestidos de couro que podiam disparar até quatro vezes.

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    Os bandeirantes foram derrotados na batalha fluvial e depois tiveram o acampamento cercado e foram perseguidos durante a fuga, desse modo apenas cerca de 120

    integrantes da expedição conseguiram retornar à São Paulo.

    Inconformados, os bandeirantes organizaram uma segunda expedição que chegou na região no final de 1641 e conseguiu agrupar alguns elementos da primeira expedição que estavam escondidos nas matas.

    Fizeram um novo acampamento nas margens do Rio Yabotí Guazú mas foram atacados e forçados a fugir.

    Depois dessa derrota, os bandeirantes deixaram de atacar as reduções dirigidas pelos jesuítas freando a expansão da América Portuguesa em direção ao sul, entretanto alguns anos depois ocorreriam novos ataques contra as reduções situadas na região do Itatim, que corresponde ao oeste do atual território do Estado do Mato Grosso do Sul.

    INVASÕES HOLANDESAS NO BRASIL

    As invasões holandesas foram o maior conflito político-militar da colônia. Embora concentradas no atual Nordeste, não se resumiram a um episódio regional. Fizeram parte do quadro de relações internacionais entre os Estados europeus: foi uma luta pelo controle do açúcar, bem como das fontes de suprimento de escravos. Houve duas frentes interligadas, embora distantes: Brasil e África.

    A resistência foi caracterizada por um esforço financeiro e militar baseado em recursos locais e externos. Os recursos levantados na colônia representaram dois terços dos gastos entre 1630 e 1637, com tropas majoritariamente europeias; e quase a totalidade do gasto entre 1644 e 1654, com tropas mormente pernambucanas.

    Embora não aceito por alguns, pode-se falar no surgimento de um sentimento de nacionalismo brasileiro. A Batalha dos Guararapes resultou na vitória do exército patriota, integrado por combatentes das três raças dominantes. Porém, a resistência, com certeza, foi um marco do nativismo.

    O conflito iniciou-se no contexto da chamada Dinastia Filipina (União Ibérica, no Brasil), período que decorreu entre 1580 e 1640, quando Portugal e as suas colônias estiveram inscritos entre os domínios da Coroa da Espanha.

    À época, os neerlandeses lutavam pela sua emancipação do domínio espanhol. Apesar de algumas províncias terem proclamada a sua independência em 1581, a República das Províncias Unidas, com sede em Amsterdã, apenas teve a sua independência 21

    reconhecida em 1648, após o acordo de paz de Münster, quando se efetivou a sua separação da Espanha.

    Durante o conflito, uma das medidas adotadas por Filipe II de Espanha foi a proibição do comércio espanhol com os portos neerlandeses, o que afetava diretamente o comércio do açúcar do Brasil, uma vez que os neerlandeses eram tradicionais investidores na agromanufatura açucareira e onde possuíam pesadas inversões de capital.

    Diante dessa restrição, os neerlandeses voltaram-se para o comércio no oceano Índico, vindo a constituir a Companhia Neerlandesa das Índias Orientais (1602), que passava a ter o monopólio do comércio oriental, o que garantia a lucratividade da empresa.

    O sucesso dessa experiência levou à fundação da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (1621), a quem os Estados Gerais (seu órgão político supremo) concederam o monopólio do tráfico e do comércio de escravos, por vinte e quatro anos, nas Américas e na África. O maior objetivo da nova Companhia, entretanto, era retomar o comércio do açúcar produzido na Região Nordeste do Brasil.

    O Saque do Recife, também conhecido como Expedição Pernambucana de Lancaster, foi um episódio da Guerra Anglo-Espanhola ocorrido em 1595 no porto do Recife, em Pernambuco, Brasil Colônia. Liderada pelo almirante inglês James Lancaster, foi a única expedição de corso da Inglaterra que teve como objetivo principal o Brasil, e representou o mais rico butim da história da navegação de corso do período elisabetano.

    O célebre corsário inglês James Lancaster arrebatou no Recife com auxílio holandês o mais rico butim da história da navegação de corso da Inglaterra elisabetana, durante a Guerra Anglo-Espanhola.

    A União Ibérica colocou o Brasil em conflito com potências europeias que eram amigas de Portugal mas inimigas da Espanha, como a Inglaterra e a Holanda. A Capitania de Pernambuco, mais rica de todas as possessões portuguesas, se tornou então um alvo cobiçado.

    Poucos anos após derrotarem a Invencível Armada espanhola, em 1588, os ingleses tiveram acesso a manuscritos portugueses e espanhóis que detalhavam a costa do Brasil. Um deles, de autoria do mercador português Lopes Vaz, veio a ser publicado em inglês e enfatizava as qualidades da rica vila de Olinda ao dizer que Pernambuco é a mais importante cidade de toda aquela costa. A opulência pernambucana impressionara o padre Fernão Cardim, que surpreendeu-se com as fazendas maiores e mais ricas que as da Bahia, os banquetes de extraordinárias iguarias, os leitos de damasco carmesim, franjados de ouro e as ricas colchas da Índia, e resumiu suas impressões numa frase antológica: Enfim, em Pernambuco acha-se mais vaidade que em Lisboa. Logo a capitania seria vista pelos ingleses como um macio e suculento

    pedaço do Império de Filipe II.

    22

    A expedição de James Lancaster saiu de Blackwall, na Grande Londres, em outubro de 1594, e navegou através do Atlântico capturando numerosos navios antes de atingir Pernambuco. Ao chegar, Lancaster confrontou a resistência local, mas se deparou na entrada do porto com três urcas holandesas, das quais esperava uma reação negativa, o que não aconteceu: os antes pacíficos holandeses levantaram âncora e deixaram o caminho livre para a invasão inglesa, e além de não terem oposto resistência à ação, terminaram por se associar aos ingleses, fretando seus navios para o transporte dos bens subtraídos em Pernambuco. Lancaster então tomou o Recife e nele permaneceu por quase um mês, espaço de tempo no qual se associou aos franceses que chegaram no porto e derrotou uma série de contra-ataques portugueses. A frota partiu com um montante robusto de açúcar, pau-brasil, algodão e mercadorias de alto preço. Dos navios que partiram do porto, apenas uma pequena nau não chegou ao seu destino. O

    lucro dos investidores, entre eles Thomas Cordell, então prefeito de Londres, e o vereador da cidade de Londres John Watts, foi assombroso, estimado em mais de 51

    mil libras esterlinas. Do total, 6.100 libras ficaram com Lancaster e 3.050 foram para a Rainha. Com tal desfecho, a expedição foi considerada um absoluto sucesso militar e financeiro.

    Após a visita de Lancaster, a Capitania de Pernambuco organizou duas companhias armadas para a defesa da região, cada uma delas com 220 mosqueteiros e arcabuzeiros, uma sediada em Olinda e outra no Recife. Anos depois, o então governador Matias de Albuquerque procurou estabelecer posições fortificadas no porto do Recife.

    Foi nesse contexto da União Ibérica que ocorreu a expedição do almirante Olivier van Noort que, de passagem pela costa do Brasil, conforme alguns autores, tentou uma invasão da baía de Guanabara.

    A esquadra de van Noort partiu de Roterdã, nos Países Baixos, a 13 de setembro de 1598, integrada por quatro navios e 248 homens.

    Padecendo de escorbuto, a frota pediu permissão para obter refrescos (suprimentos frescos) na baía de Guanabara, que lhe foram negados pelo governo da capitania, de acordo com instruções recebidas da metrópole. Uma tentativa de desembarque foi repelida por indígenas e pela artilharia da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, conforme ilustração à época.

    Afirma-se que pilhagens e incêndios de cidades e embarcações foram praticadas pela expedição na costa do Chile, do Peru e das Filipinas. Na realidade, sofreu grandes perdas em um ataque dos indígenas da Patagônia (no atual Chile) e das forças espanholas no Peru. Alguns autores atribuem a van Noort, nesta viagem, a descoberta da Antártida. A expedição retornou ao porto em 26 de agosto de 1601 com apenas uma embarcação, tripulada por 45 sobreviventes.

    Incidente semelhante registrou-se com a expedição do almirante Joris van Spielbergen, que realizava a segunda viagem de circum-navegação neerlandesa, entre 1614 e 1618.

    23

    As suas embarcações aportaram em Cabo Frio, ilha Grande e São Vicente, enfrentando resistência portuguesa ao tentar reabastecer nesta última (3 de fevereiro de 1615).

    Na edição de 1648 da obra Miroir Oost & West-Indical (originalmente publicada em Amsterdã, em 1621, por Ian Ianst), a narrativa de Spielbergen é ilustrada por uma gravura de São Vicente, onde retrata o incidente ocorrido em Santos. Apesar de suas imprecisões, essa iconografia descreve os contornos da baía, os rios, as fortificações e o casario.

    Nas proximidades de Almeirim (antiga Aldeia de Paru), os neerlandeses, acompanhados de alguns ingleses, liderados por Pieter Adriaansz, empreenderam uma tentativa colonial com a construção, em 1623, do Forte do Morro da Velha Pobre.

    Foram repelidos pela incursão portuguesa liderada por Bento Maciel Parente, que os expulsou de volta para a Zelândia, nos Países Baixos. O forte neerlandês foi destruído.

    Em linhas gerais, as invasões holandesas do Brasil podem ser recortadas em dois grandes períodos:

    1624-1625 - Invasão de Salvador, na Bahia

    1630-1654 - Invasão de Olinda e Recife, em Pernambuco

    1630-1637 - Fase de resistência ao invasor

    1637-1644 - Administração de Maurício de Nassau

    1644-1654 - Insurreição Pernambucana

    A invasão de Salvador (1624-1625)

    Cientes da vulnerabilidade das povoações portuguesas no litoral Nordeste brasileiro, os administradores da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (W.I.C.) decidiram pelo ataque à então capital do Estado do Brasil, a cidade do Salvador, na capitania da Bahia.

    Desse modo, no dia 10 de Maio de 1624, uma expedição da W.I.C. com vinte e seis navios transportando um efetivo de cerca de mil e setecentos homens sob o comando do almirante Jacob Willekens atacou e conquistou a capital. Em pânico, os habitantes retiraram-se para o interior. O Governador-Geral, Diogo de Mendonça Furtado, entrincheirou-se no palácio, mas tanto ele como o filho e alguns oficiais foram aprisionados e enviados para os Países Baixos. A administração da cidade passou a ser exercida pelo fidalgo holandês Johan van Dorth. O Governador da Capitania de Pernambuco, Matias de Albuquerque, foi então nomeado Governador-Geral, administrando a colônia a partir de Olinda, e enviando expressivos reforços para a guerrilha sediada no Arraial do Rio Vermelho e no Recôncavo.

    Em 1625 a Espanha enviou, como reforço, uma poderosa armada de cinquenta e dois navios com cerca de doze mil homens sob o comando de D. Fadrique de Toledo Osório, marquês de Villanueva de Valduesa, e do general da armada da Costa de Portugal, D.

    Manuel de Meneses, a maior então enviada aos mares do Sul: a famosa Jornada dos 24

    Vassalos. Essa expedição derrotou e expulsou os invasores holandeses a 1 de maio desse mesmo ano.

    O enorme gasto com a invasão às terras da Bahia foi recuperado quatro anos mais tarde, num audacioso ato de corso quando, no mar do Caribe, o Almirante Piet Heyn, a serviço da W.I.C., interceptou e saqueou a frota espanhola que transportava o carregamento anual de prata extraída nas colônias americanas.

    De posse dos recursos obtidos no saque à frota da prata, os neerlandeses armaram nova expedição, desta vez contra a mais rica de todas as possessões portuguesas. O

    seu objetivo declarado era o de restaurar o comércio do açúcar com os Países Baixos, proibido pela Coroa da Espanha. Uma nova e poderosa esquadra com sessenta e sete navios e cerca de sete mil homens — a maior já vista na colônia — sob o comando do almirante Hendrick Lonck, investirá agora sobre Pernambuco onde, em fevereiro de 1630, conquista Olinda e depois Recife. Com a vitória, os invasores foram reforçados por um efetivo de mais seis mil homens, enviado da Europa para assegurar a posse da conquista.

    A aquisição de mão de obra escrava tornou-se imprescindível para o sucesso da colonização neerlandesa. Por essa razão, a W.I.C. começou a traficar escravos da África para o Brasil.

    A resistência, liderada por Matias de Albuquerque, concentrou-se no Arraial do Bom Jesus, nos arredores do Recife. Através de táticas indígenas de combate (campanha de guerrilhas), confinou o invasor às fortificações no perímetro urbano de Olinda e seu porto, Recife.

    As chamadas companhias de emboscada eram pequenos grupos de dez a quarenta homens, com alta mobilidade, que atacavam de surpresa os neerlandeses e se retiravam em velocidade, reagrupando-se para novos combates.

    Entretanto, com o tempo, alguns senhores de engenho de cana-de-açúcar aceitaram a administração da Companhia das Índias Ocidentais por entenderem que uma injeção de capital e uma administração mais liberal auxiliariam o desenvolvimento dos seus negócios. O seu melhor representante foi Domingos Fernandes Calabar, considerado historiograficamente como um traidor ao apoiar as forças de ocupação e a administração neerlandesa.

    Destacaram-se nesta fase de resistência luso-brasileira líderes militares como Martim Soares Moreno, Filipe Camarão, Henrique Dias e Francisco Rebelo (o Rebelinho).

    Com a invasão da Paraíba (1634) e as conquistas do Arraial do Bom Jesus e do cabo de Santo Agostinho (1635), as forças comandadas por Matias de Albuquerque entraram em colapso e se viram forçadas a recuar na direção do rio São Francisco. Foram personagens importantes nesse contexto Calabar e o coronel Crestofle d'Artischau Arciszewski.

    25

    Vencida a resistência luso-brasileira, com o auxílio de Calabar, a W.I.C. nomeou o conde Maurício de Nassau para administrar a conquista.

    Homem culto e liberal, tolerante com a imigração de judeus e protestantes, que o apoiavam contra o Reino de Portugal na sua conquista do território brasileiro, trouxe consigo artistas e cientistas para estudar as potencialidades da terra. Preocupou-se com a recuperação da agromanufatura do açúcar, prejudicada pelas lutas, concedendo créditos e vendendo em hasta pública os engenhos conquistados. Cuidou da questão do abastecimento e da mão de obra, da administração e promoveu ampla reforma urbanística no Recife (Cidade Maurícia). Concedeu liberdade religiosa, registrando-se a fundação, no Recife, da primeira sinagoga do continente americano.

    Em novembro de 1640, uma expedição da W.I.C., comandada por Jan Cornelisz Lichthart e Hans Koin, tomou a Ilha de São Luís. Colonos portugueses e missionários jesuítas se estabeleceram em Tapuitapera. O principal líder da resistência foi Antônio Muniz Barreiros. Em 1643, chegaram reforços do Pará, liderados por João Vale do Velho e Bento Maciel Parente. As lutas para expulsão do invasor estenderam-se até 28

    de fevereiro de 1644.

    Em dezembro de 1640, Portugal se separou da Espanha, o que possibilitou a formação de uma aliança com a Inglaterra para combater a Holanda.

    As Batalhas dos Guararapes, episódios decisivos na Insurreição Pernambucana, são consideradas a origem do Exército Brasileiro.

    Também conhecida como Guerra da Luz Divina, foi o movimento que expulsou os neerlandeses do Brasil, integrando as forças lideradas pelos senhores de engenho André Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira, pelo afrodescendente Henrique Dias e pelo indígena Filipe Camarão.

    A Restauração Portuguesa em 1640 conduziu à assinatura de uma trégua de dez anos entre Portugal e os Países Baixos. Com este abalo ao domínio espanhol, a guerra de independência dos Países Baixos prosseguiu.

    Na América, o Brasil se pronunciou em favor do Duque de Bragança (1640). Na região Nordeste, sob domínio da W.I.C., Maurício de Nassau foi substituído na administração.

    Ao contrário do que preconizara em seu testamento político, os novos administradores da companhia passaram a exigir a liquidação das dívidas aos senhores de engenho inadimplentes, política que conduziu à Insurreição Pernambucana de 1645

    e que culminou com a extinção do domínio neerlandês após a segunda Batalha dos Guararapes.

    Formalmente, a rendição foi assinada em 26 de Janeiro de 1654, na campina do Taborda, mas só provocou efeitos plenos, em 6 de agosto de 1661, com a assinatura da Paz de Haia, onde Portugal concordou em indenizar os Países Baixos com duas colônias, o Ceilão (atual Sri Lanka) e as ilhas Molucas (parte da atual Indonésia), e oito milhões de florins, equivalente a sessenta e três toneladas de ouro, que foram pagos em prestações ao longo de quarenta anos e sob a ameaça de invasão da Marinha de 26

    Guerra. De acordo com uma corrente historiográfica tradicional em História Militar do Brasil, o movimento assinalou ainda o gérmen do nacionalismo brasileiro, pois os brancos, africanos e indígenas fundiram seus interesses na expulsão do invasor.

    A capitulação neerlandesa no Brasil, assinada em 26 de Janeiro de 1654, melhor conhecida na historiografia em História do Brasil como Capitulação do Campo (campanha ou campina) do Taborda, fixou os termos e as condições pelas quais os membros do Conselho Supremo do Recife entregavam ao Mestre de Campo, General Francisco Barreto de Menezes, Governador da Capitania de Pernambuco, a cidade Maurícia, Recife, e mais forças e fortes junto deles, e os lugares que tinham ocupado ao Norte, a saber:

    a Bahia

    a Ilha de Fernando de Noronha;

    o Ceará

    o Rio Grande (do Norte)

    a Paraíba

    a ilha de Itamaracá

    No Recife e na cidade Maurícia eram entregues:

    o Recife

    a Cidade Maurícia

    o Forte Ernesto

    o Forte Waerdemburch (Forte das Três Pontas)

    o Forte de São Jorge

    o Forte do Mar

    o Forte Bruyne (Forte do Brum)

    o Forte Madame Bruyne (Forte do Buraco)

    o Forte das Salinas

    o Forte Goch (???)

    o Forte Alternar (???)

    o Forte Frederich Heinrich (Forte das Cinco Pontas)

    o Reduto de Pedra (???)

    o Reduto da Boa Vista

    o Reduto Esfalfado (???)

    27

    o Forte Príncipe Guilherme (Forte dos Afogados) o Reduto avançado da Barreta (???)

    o Reduto da Barreta

    a ilha do norte da Barreta (???)

    Inclusive 294 peças de artilharia (117 de bronze e 177 de ferro, dos diversos calibres), 5200 espingardas, grande número de espadas, lanças, pistolas e munições.

    E ainda:

    na ilha de Fernando de Noronha os seus fortes;

    na ilha de Itamaracá, o Forte Orange (com treze peças) e a vila de Schkoppe (com cinco peças);

    na Paraíba, a Fortaleza do Cabedelo (com 33 peças), o Forte da Restinga (com dez peças), o Forte de Santo Antônio (com seis peças), o Forte Schoonemborch (com sete peças) (???) e o Forte Guaráu (com três peças) (???);

    no Rio Grande do Norte, o Forte Ceulen (com 31 peças); e

    no Ceará, a Fortaleza Schoonemborch (com onze peças).

    Em consequência das invasões à Região Nordeste do Brasil, o capital neerlandês passou a dominar todas as etapas da produção de açúcar, do plantio da cana-de-açúcar ao refino e distribuição. Com o controle do mercado fornecedor de escravos africanos, passou a investir na região das Antilhas. O açúcar produzido nessa região tinha um menor custo de produção devido, entre outros, à isenção de impostos sobre a mão de obra (tributada pela Coroa Portuguesa) e ao menor custo de transporte. Sem capitais para investir, com dificuldades para aquisição de mão de obra e sem dominar o processo de refino e distribuição, o açúcar português não conseguiu concorrer no mercado internacional, mergulhando a economia do Brasil (e a de Portugal) numa crise que atravessaria a segunda metade do século XVII até a descoberta de ouro nas Minas Gerais.

    Devido à Primeira Guerra Anglo-Neerlandesa, a República Holandesa não pôde auxiliar os holandeses no Brasil. Com o fim do conflito com os ingleses, a Holanda exige a devolução da colônia em maio de 1654. Sob ameaça de uma nova invasão do Nordeste brasileiro, Portugal firma acordo com os holandeses e os indeniza com oito milhões de florins e as colônias do Ceilão (atual Sri Lanka) e das ilhas Molucas (parte da atual Indonésia). Em 6 de agosto de 1661, a Holanda cede formalmente a região ao Império Português através da Paz de Haia.

    A herança das invasões holandesas no Brasil vai além da influência na economia. A ausência de mulheres holandesas no Nordeste Brasileiro estimulou a união e mesmo o casamento de oficiais militares e colonos holandeses com filhas de abastados senhores de engenho luso-brasileiros, e mais informalmente dos praças militares holandeses 28

    com nativas, negras, brancas pobres, caboclas, cafuzas e mulatas locais. Segundo o historiador Eduardo Fonseca, estas uniões teriam gerado, na atualidade, cerca de um milhão de brasileiros nordestinos com ascendência nos cerca de oitenta mil holandeses que estiveram no Nordeste Brasileiro durante esse período, e que esta origem teria inclusive influenciado parte da cultura nordestina. Por exemplo, acredita-se que a rabeca nordestina tenha sua origem no violino holandês.

    Pesquisas genéticas recentes feitas pela Universidade Federal de Minas Gerais apontam que 19% dos nordestinos possuem um marcador genético do cromossomo Y

    (haplogrupo 2) que é comum na Europa. O fato de este haplogrupo ser mais comum no Nordeste Brasileiro (19%) que em Portugal (13%) indica que esse excesso poderia ser devido à influência genética dos colonizadores holandeses na época colonial. Algo semelhante ocorre no sul do Brasil, onde houve muita imigração do norte da Europa e onde também há um excesso do haplogrupo 2 (28%) em relação a Portugal.

    Cronologia

    1599 - Alguns autores computam uma primeira invasão, considerando que a frota do Almirante Olivier van Noort forçou a barra da Baía de Guanabara, na Capitania do Rio de Janeiro, com intenções bélicas. Essa visão é incorreta, uma vez que aquele almirante, em trânsito para o Oriente (Índia, Ceilão e Molucas), apenas solicitou refrescos (suprimentos frescos) de vez que a sua tripulação se encontrava atacada por escorbuto. Diante da negativa, ao desembarcarem premidos pela necessidade, registrou-se uma escaramuça (5 de fevereiro), na qual os neerlandeses foram repelidos, indo obter suprimentos um pouco mais ao sul, na Ilha Grande, então desabitada.

    1609 - Os Países Baixos e a Espanha assinam uma trégua de dez anos. Durante esse período intensifica-se o comércio de açúcar na Europa, principalmente a partir de Amsterdã, um dos maiores centros de refino.

    1621 - Com o encerramento da trégua, empreendedores neerlandeses fundam a Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (W.I.C.), que iniciará a chamada Guerra do Açúcar ou Guerra Brasílica (1624-1654).

    1624 - Uma força de assalto da W.I.C., transportada por 26 navios sob o comando do Almirante Jacob Willekens, conquista a capital do Estado do Brasil, a cidade de São Salvador, na Capitania da Bahia. O Governador-Geral é detido e levado para os Países Baixos. O governo da então capital passa para as mãos do fidalgo neerlandês Johan van Dorth. A resistência portuguesa se reorganiza a partir do Arraial do rio Vermelho, contendo os invasores no perímetro urbano de Salvador.

    1625 - A Coroa espanhola reúne uma poderosa expedição com 52 navios sob o comando de D. Fadrique de Toledo Osório. A expedição, conhecida como Jornada dos Vassalos, bloqueia o porto de Salvador, obtendo a rendição neerlandesa. Os reforços neerlandeses não chegaram em tempo hábil a Salvador, retornando ao perceberem que a capital havia sido perdida. No mesmo ano, Piet Heyn teria tentado invadir a Vila 29

    de Vitória no Espírito Santo. Lá, não conseguiu subir a ladeira que ia ao centro da cidade, pois foi surpreendido pela heroína Maria Ortiz, famosa por liderar a defesa contra os holandeses.

    1629 - O Almirante neerlandês Piet Heyn captura a frota espanhola da prata, o que permitiu à W.I.C. se capitalizar com os recursos necessários a uma nova expedição contra a Região Nordeste do Brasil. Diante dos rumores da preparação de uma nova expedição neerlandesa para o Brasil, a Coroa espanhola envia Matias de Albuquerque para a Capitania de Pernambuco, com a função de preparar a sua defesa.

    1630 - Nova força de assalto da W.I.C., a maior já vista na colônia, transportada por 67

    navios sob o comando de Hendrick Lonck, conquista Olinda e Recife, na Capitania de Pernambuco. Sem recursos para a resistência, Matias de Albuquerque retira a população civil e os defensores, e incendeia os armazéns do porto de Recife, evitando que o açúcar ali aguardando o embarque para o reino caísse em mãos do invasor.

    Imediatamente organiza a resistência, a partir do Arraial Velho do Bom Jesus.

    1632 - Domingos Fernandes Calabar, conhecedor das estratégias e recursos portugueses, passa para as hostes invasoras, a quem informa os pontos fracos da defesa na região nordeste do Brasil. Atribui-se a essa deserção a queda do Arraial (velho) do Bom Jesus (1635), permitindo às forças neerlandesas estenderem o seu domínio desde a Capitania do Rio Grande (do Norte) até à da Paraíba (1634).

    1634 - Em retirada para a Capitania da Bahia, Matias de Albuquerque derrota os neerlandeses em Porto Calvo e, capturando Calabar, julga-o sumariamente por traição e executa-o.

    1635 - Forças neerlandesas, comandadas pelo coronel polonês Crestofle d'Artischau Arciszewski, capturam o Arraial do Bom Jesus, após um longo assédio. Quase ao mesmo tempo outra força, comandada pelo coronel Sigismundo von Schkoppe, cerca e captura o Forte de Nazaré, no Cabo de Santo Agostinho.

    1636 - Arciszewski derrota D. Luís de Rojas y Borja na batalha da Mata Redonda.

    1637 - A administração dos interesses da W.I.C. no nordeste do Brasil é confiada ao Conde João Maurício de Nassau Siegen, que expande a conquista até Sergipe (a sul).

    1638 - Maurício de Nassau desembarca na Bahia, mas não consegue capturar Salvador, nos episódios Primeira Batalha de Salvador e Segunda Batalha de Salvador.

    1640 - Um forte armada luso-espanhola, comandada pelo Conde da Torre, falhou em sua intenção de desembarcar em Pernambuco e sofreu uma derrota estratégica ante a armada holandesa. Com a Restauração portuguesa, Portugal assinou uma trégua de dez anos com os Países Baixos. Nassau conquista os centros fornecedores de escravos africanos de São Tomé e Príncipe e de Angola.

    1641 - Firmado um Tratado de Aliança Defensiva e Ofensiva entre Portugal e a República Holandesa, porém o tratado não é cumprido por ambas as partes e em 30

    consequência não tem efeito nas colônias portuguesas sob domínio neerlandês no Brasil e na África.

    1644 - Suspeito de improbidade administrativa, Nassau é chamado de volta aos Países Baixos pela W.I.C.

    1645 -

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