Não nasci ontem, pensava eu
De Mónica Ribau
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Sobre este e-book
Numa mão cheia de páginas, são colecionados os dilemas de uma miuda que se foi fazendo mulher dos seus quinze aos trinta anos. As sementes enterradas às pressas entre rabiscos de papel higiénico e guardanapos ou margens do livro de Matemática. Bilhetes de comboio e avião, e até umas notas no primeiro contrato de trabalho e da primeira casa.
E porquê poemas se a vida só cabe no silêncio? Porque o verso sussurra, enquanto o nada ensurdece. E o resto enche, e vai tendo piada.
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Não nasci ontem, pensava eu - Mónica Ribau
Agradecimentos
Um obrigada a todos cujas linhas cruzaram as minhas, e me permitiram tecer o caminho que em verso aqui vomito. São tantos que nunca os conseguirei enumerar. Apenas levar comigo. Num frasquinho, feito qual elixir.
Prefácio
Revejo no olhar da Mónica a doçura e simultaneamente a força de gigante que procuro, se calhar desde que nasci, para aquilo que sou e faço... Talvez seja também por isso que tantas e tantas vezes lhe chamo mágica
: creio que só mesmo os mágicos serão capazes de, ainda que por breves momentos, retirar-nos deste cinzentismo para o qual pandemias, guerras e outras que tais nos parecem querer empurrar.
Eu cá, e sei que a Mónica também não, não me deixarei ficar: prometo lutar, prometo criar e recriar, tendo também por base as palavras dos poemas mas sobretudo a firme convicção de que é mesmo possível nascer todos os dias
!
O humorista Herman José quando lhe pediram para pela primeira vez emitir a sua opinião sobre a Fadista Mariza disse algo verdadeiramente notável e que julgo aplicar-se claramente à Mónica: Hoje é uma explosão pirotécnica num céu rotineiro quase sempre cinzento escuro e de poucas surpresas. Amanhã apanharemos as canas, e perceberemos se o fogo era fátuo, ou se no firmamento ficou uma estrela...
.
Eu cá acredito que vamos encontrar uma estrela... daquelas bem grandes, que a gente cá não faz a coisa por menos!
Luís Rabaça.
1ª PARTE: AS INTRODUÇÕES
Jardim
E eu que de tanto morrer, deixei de contar
As vezes que me fiz nascer, para depois me matar
Experiências a mais. E a menos. Plantadas de heresias
Pontos maiores. Mais pequenos. Cada campa - poesias
E cada flor do meu jardim, de sementes de outra que já fui
Dias fracos, potentes, de mim. Com a garra do que me flui
E regado do sal que conhecem. Suor, sangue, e lágrima de mar
Linhas de fiar que me tecem. O meu jardim. Pronto para eu lavrar.
Temperança que falta, faltou. E faltará. Sempre. No meu mar de balanço.
Que não há dia sem enjoo, que evoluo o tempo todo, sem descanso.
Porque quando meu mar se der em sereno, e não me deixar morrer mais vez nenhuma
Provarei o maior veneno, que é estar vivo sem morte alguma.
E sem sementes para enterrar. E sem jardim para se me fazer.
Viverei feliz. (Dirão.) No meu lugar. Arrumada, como deve ser.
E farão que eu espere a morte, metida nos que não vivem, com medo de morrer.
Revoltados, furiosos... vão encaixotar-me como deve ser.
Guardar-me as cinzas como prova. Mas eu morrerei. Prometo.
E o meu jardim terá sementes de sobra. Prometo.
Que de tanto me matar, deixei de morrer.
E tantas vezes me contei, que posso sempre nascer.
E um dia
E um dia contaremos histórias, nós.
Viveremos de contar as histórias dos dias
Que um dia vivemos só para contar,
para poder viver… só mais um dia, nos dias da morte.
Contada do jeito de quem quer contar.
E numa história viveremos dias, nós.
Contaremos os