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Comunicações
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E-book130 páginas1 hora

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Sobre este e-book

“ComunicAÇÕES” são “ElucubrAÇÕES”. Apresenta pequenos textos que foram escritos no período em que cursei o mestrado e o doutorado em Comunicação e Semiótica, na PUC/SP. São elucubrações acadêmicas, que fala de assuntos variados, mas inteiramente despretensiosos, leves e livres. Não poderia deixar de fora o meu objeto de estudo: o trabalho artístico de Walter Freitas, escritor, dramaturgo e músico da Amazônia, a quem dediquei grande parte da minha vida acadêmica. Apaixonada por sua arte, pesquisei e escrevi duas monografias (em cursos de especialização lato sensu), uma dissertação de mestrado e a tese de doutorado. Em ComunicAÇÕES, apresento um breve momento das elucubrações em torno da obra artística desse autor. Alguém que, um dia, ainda será muito falado e estudado. Devo dizer que essa publicação despretensiosa não revela, nem de longe, a potência e a profundidade desses estudos. Apresenta apenas comunic(ações) iniciais. O princípio de tudo, na mais pura essência das descobertas sensíveis de um mundo novo, que se descortinava: a pesquisa, o estudo e o pensamento intelectual e prático. Por isso, são apenas fruições acadêmicas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de set. de 2022
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    Comunicações - Marlise Borges

    PREFÁCIO

    ComunicAÇÕES são ElucubrAÇÕES .

    Apresenta pequenos textos que foram escritos no período em que cursei o mestrado e o doutorado em Comunicação e Semiótica, na PUC/SP. São elucubrações acadêmicas, que fala de assuntos variados, mas inteiramente despretensiosos, leves e livres.

    Neste período de estudos tive o privilégio de ter como orientadora Jerusa Pires Ferreira, mulher sensível, sábia e encantadora. A partir dela iniciei as leituras sobre literatura de cordel, cultura das bordas, histórias medievalistas, oralidade, memória e a Semiótica Russa (da cultura). Além de intensos debates sobre cultura popular, artes e comunicações. Jerusa fez história na vida acadêmica, com seu jeito livre e irreverente, cujo pensamento teórico e prático insistiu em caminhar sempre pelas bordas.

    Outro professor que tive o prazer de conhecer e conviver na academia, foi Amálio Pinheiro. Ensaísta,

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    tradutor, irreverente, ousado e potente (assim como

    Jerusa), aprendi com ele a importância de estudar a América Latina, experimentando (como ele defende), os modos de conhecimentos não dualistas para o continente. Foi neste período também que tive o primeiro contato com os estudos de Mircea Eliade, especialista do pensamento místico e religioso. Iniciei também as leituras de Boaventura de Sousa Santos, Jesus Martin Barbero, Nestor Garcia Canclini e outros autores da(s) comunicação(ações). Nem preciso dizer que foi também quando conheci o universo da Semiótica da Cultura (ou Semiótica Russa) e grandes pensadores dessa corrente teórica.

    Não poderia também deixar de fora o meu objeto de estudo: o trabalho artístico de Walter Freitas, escritor, dramaturgo e músico da Amazônia, a quem dediquei grande parte da minha vida acadêmica. Apaixonada por sua arte, pesquisei e escrevi duas monografias (em cursos de especialização lato sensu), uma dissertação de mestrado e a tese de doutorado.

    Em ComunicAÇÕES, apresento um breve momento das elucubrações em torno da obra artística

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    desse autor. Alguém que, um dia, ainda será muito falado e estudado. Devo dizer que essa publicação despretensiosa não revela, nem de longe, a potência e a profundidade desses estudos. Apresenta apenas comunic(ações) iniciais. O princípio de tudo, na mais pura essência das descobertas sensíveis de um mundo novo, que se descortinava: a pesquisa, o estudo e o pensamento intelectual e prático. Por isso, são apenas fruições acadêmicas.

    Marlise Borges

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    Comunicação e In-comunicação: Identidade, Homogeneidade e Lógica Binária 1

    1Texto baseado nas aulas do prof. Amálio Pinheiro, no mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica, na PUC/SP, de 2007 a 2013.

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    Fonte: Google Imagens

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    Em princípio, com uma necessidade de sobreviver às diferenças e às diversidades, o homem começou a criar imagens, mitos, religiões e a formular teorias que o ajudassem a sossegar sua intensa angústia e ansiedade. Era preciso, portanto, voltar sempre à uma ordem anterior, para que o ser humano não se transformasse em algo ruim, deturpado, feio, distorcido. O mundo precisava de algo mais puro e mais original. A partir deste pensamento, duas palavras surgiram e ganharam autonomia: pureza e originalidade. Logo depois, chegou-se finalmente em uma terceira palavra, hoje usada em demasia. Trata-se da palavra identidade. A identidade (aquilo que é idêntico a si mesmo) viria de algo substancialmente coeso e oralizado. Segundo Jesus Martin Barbero (1997):

    O debate sobre a identidade continua em aberto na América Latina. As posições – misturados os

    seus significantes, mas

    entrincheiradas nos significados – já não tem a virulência dos anos 20-40, mas continuam alimentando a razão dualista com que se costuma pensar

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    os processos sociais (BARBERO, 1997, p. 260).

    A separação deveria ser, sempre, um motivo para uma aproximação comunicacional. O interessante seria aproximar-se exatamente daquilo que não se sabe o que é, utilizando-se de vários modos de comunicação (a fala, a língua, a vestimenta, os costumes) para se dirigir ao outro, ao desconhecido. No entanto, embora soubesse que o relacionamento humano é feito de aproximação e separação, o homem não suportava a ideia da separação. Por isso, sempre houve uma tendência a esse contínuo estado de temor, que o fez buscar uma centralidade, um desejo à uma u nicidade interna, causado pelo medo da morte, d o envelhecimento, da destruição e de todos os tipos de perda e separação. O que o homem almejava, na verdade, era aquilo que Barbero (1997), chamaria mais tarde, de contraste entre dois mundos: o que se encontra em cima da experiência cotidiana da vida – mundo da felicidade e da luz, da segurança e da paz – e o que se acha embaixo, que é o mundo do demoníaco e do obscuro, do terror e das forças do mal.

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    Mas essa tendência do ser humano de se afastar daquilo que é complexo, se arrasta por toda a história do pensamento ocidental. Uma ordem seria algo que estivesse mais próximo de uma harmonia, de uma inteireza, e de uma coesão interna. Seria o mundo interno e deveria se separar do mundo externo, o mundo da desordem, da desarmonia, dos equívocos, dos pecados e das deturpações. Então, diante de uma enorme fraqueza, de não saber como explicar a vida e do caráter insuportável da consciência da morte, é que o homem começou a criar esta centralidade homogênea. Para ele, algo deveria ter sido edêmico, paradisíaco e foi perdido. Era uma ordem perfeita e foi destruída.

    Era necessário, então, fazer voltar essa ordem, mesmo que fosse numa outra instância, posterior. Ou seja, sua enorme complexidade conviveu, e ainda convive, com uma enorme consciência de perda. Daí, o aparecimento de uma homogeneização das ideias, que fez com que o homem não conseguisse mais pensar fora de uma lógica binária, das ideias de fronteira, como: identidade x não-identidade, unidade x diversidade,

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    centro x periferia, dentro x fora, espírito x matéria e outras dicotomias.

    Boaventura de Sousa Santos (2008) alerta que é preciso:

    Pensar os termos das dicotomias fora das articulações e relações de poder que os unem, como primeiro passo para os libertar dessas relações, e para revelar outras relações alternativas, que tem estado ofuscadas pelas dicotomias hegemônicas (SANTOS, 2008, p.101).

    Hoje existem várias pesquisas científicas, como as teorias antropológicas, arqueológicas, astrofísicas e outras, desmistificando essa tal ordem anterior. Segundo alguns estudos, quanto mais se aprofundam as investigações, mais se comprova que o que havia antes, a ordem, era, na verdade, mais desordem. E cada vez mais se tem consciência de que o universo, na falta de melhor conceituação, é ordem/desordem.

    Entretanto, o homo sapiens sentiu a necessidade de criar para si um território protetor, para melhor

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    estruturar seus modos de relacionamento cultural e político, onde ele não tivesse que incorporar os riscos da desordem. Foram então construídas linguagens, expressas nos modos de falar, cantar, se vestir, organizar famílias e outros. Linguagens de centro, que foram sendo estruturadas conforme essa ordem e que viriam a afirmar que quem está dentro deste centro está mais próximo de uma essência autoral que f oi perdida. Daí, a necessidade de buscar uma unidade básica fora do real. Esta unidade, ou essência, seria uma espécie de sumo, que nunca pode ser tocado, e que estaria acima do concreto, no mundo espiritual.

    Para Amálio Pinheiro (1983):

    A tradição filosófica ocidental nos faz partir de diferenças entre identidades (essência e aparência, fenômeno e coisa em si, homem e natureza, signo e vida, obra de arte e

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