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Engenharia de resiliência: Fundamentos, aplicações e tendências
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Engenharia de resiliência: Fundamentos, aplicações e tendências
E-book216 páginas2 horas

Engenharia de resiliência: Fundamentos, aplicações e tendências

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Sobre este e-book

A elaboração desta obra se deu como parte do meu projeto de pós-doutoramento, desenvolvido em parceria com o professor Ubirajara Aluízio de Oliveira Mattos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Percebemos que o tema "engenharia de resiliência" ainda pode ser mais explorado no Brasil e que grande parte da bibliografia existente está em outro idioma, o que tornou a publicação de um livro sobre o assunto, em idioma local, oportuno, necessário e interessante. Tomamos como base os grandes autores sobre engenharia de resiliência e dividimos o livro em duas partes. Uma dedicada aos fundamentos relativos à engenharia de resiliência e outra, a estudos de caso e discussões atuais. O livro aborda vários conceitos de engenharia de resiliência. Começamos tratando sobre como, em um mundo de riscos e segurança, na medicina e na vida em geral, sempre se diz que é melhor prevenir do que remediar (HOLLNAGEL, 2009) e que, na verdade, isso quer dizer que é melhor prevenir algo ruim do que ter que lidar com as consequências depois. Trazemos para a discussão a afirmação de Hollnagel (2009) que diz que a prevenção perfeita é impossível e algo sempre pode dar errado; além da tese do sociólogo Charles Perrow, que na sua obra The ETTO observa que os sistemas produtivos ficaram tão complexos que os acidentes deveriam ser considerados eventos normais. Este mesmo autor, no seu livro Normal Accidents, publicado em 1984, observa que os sistemas se tornaram tão complexos que a interação não antecipada de múltiplas falhas irá gerar resultados não desejados, acidentes e desastres.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de abr. de 2023
ISBN9788577858514
Engenharia de resiliência: Fundamentos, aplicações e tendências

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    Pré-visualização do livro

    Engenharia de resiliência - Karoline Pinheiro Frankenfeld

    PARTE 1

    FUNDAMENTOS DA ENGENHARIA DE RESILIÊNCIA

    CAPÍTULO 1

    UM NOVO PARADIGMA DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

    A Engenharia de Segurança do Trabalho (EST) é uma especialização da engenharia 1 voltada para a prevenção de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, tendo como objetivo eliminar ou reduzir fatores de riscos que possam gerá-los, no ambiente de trabalho, e ampliá-los para o meio ambiente, transformando-os em acidentes ampliados 2. Para prevenir os referidos eventos é preciso conhecer as suas causas, seus mecanismos de funcionamento e seus impactos nas saúdes das populações e ambiental. Essas informações permitirão conceber soluções que possam ser implementadas de forma a tornar a situação de trabalho estudada mais segura e saudável para o trabalhador e, como consequência, mais produtiva e rentável para a empresa, além de evitar catástrofes e colocar em risco a vida de comunidades próximas ao empreendimento.

    Conhecer as suas causas, seu funcionamento e seus impactos implica em observar o trabalhador realizando as suas atividades, investigando nelas, dentre outras características, os seus objetivos de como produzir produtos e/ou prestar serviços; como essas atividades se realizam; quais recursos tecnológicos são utilizados para a sua realização (materiais, normas/regras); o tempo de duração e o ambiente onde elas ocorrem.

    O paradigma marxista3 trouxe grandes contribuições para a EST, tanto no seu enfoque (ao se preocupar com a saúde e segurança do trabalhador e não apenas com o retorno financeiro para a empresa) quanto no seu método científico de investigação das condições de trabalho4, referenciado pelos conceitos de processo de trabalho e organização do trabalho. Como conceito epistemológico, paradigmas podem ser definidos como realizações científicas que geram modelos que, por período mais ou menos longo e de modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para os problemas por elas suscitados (KUHN, 1978). Podemos, portanto, considerar o paradigma como um princípio, teoria ou conhecimento obtido a partir de uma pesquisa em dado campo científico que servirá como referência para futuras pesquisas5.

    A EST, assim como outras especialidades e áreas do conhecimento científico e tecnológico, tem se apropriado de diversos paradigmas ao longo da sua evolução, como os paradigmas cartesiano, holístico e da complexidade6. Neste livro será abordado um novo paradigma que pode trazer grandes avanços para a EST, orientando o desenvolvimento de estudos e pesquisas no campo desta especialidade – A engenharia de resiliência.

    Origem e evolução da engenharia de segurança do trabalho

    A História sempre foi uma ferramenta científica que auxilia o entendimento de uma situação no presente. Para a engenharia de segurança do trabalho esse fato não é diferente, pois ao longo da sua existência, enquanto especialidade da engenharia, vem percorrendo um longo caminho com a sua origem na formação e atuação nos serviços de Segurança e Saúde do Trabalhador em organizações públicas e privadas.

    Atualmente é de grande interesse, por exemplo, estudar as relações produção-consumo-ambiente e saúde7, não ficando, portanto, restrito ao ambiente de trabalho. E o seu cenário de ações se expande para outras áreas, com participações em discussões e projetos científicos, e negociações intersetoriais.

    Um breve histórico:

    Os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais, embora tenham origem na Antiguidade, seu estudo pela EST somente ganhou importância na sociedade após a Revolução Industrial, com o surgimento da segurança do trabalho nas organizações europeias (MATTOS, 2019). Ela ganhou importância porque naquela época havia necessidade de se regulamentar as condições de trabalho, por meio da promulgação de leis trabalhistas, e com isso prevenir a ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais em crescimento. Muitas empresas cometiam abusos que colocavam em risco a saúde e a vida dos trabalhadores e trabalhadoras8.

    Os estudos iniciais, ocorridos antes da Revolução Industrial, indicam que a segurança do trabalho se origina a partir da prática da medicina nas manufaturas europeias (MATTOS, 2019). O trabalho pioneiro dos serviços médicos nas indústrias, iniciado na década de 1830 na Inglaterra com o médico Robert Baker (1803 – 1880), tinha como objetivo estudar a melhor forma de manter o trabalhador em condições mínimas que o permitisse continuar trabalhando, ou seja, sem estar doente. O objetivo, portanto, era melhorar a produtividade através de atos médicos direcionados às patologias dos trabalhadores. Para muitas organizações, esse princípio tem se mantido até os dias atuais, como veremos mais adiante.

    O termo Safety Engineering, como a EST foi inicialmente concebida, se desenvolveu a partir do século XX, não como uma disciplina específica e unificada9, mas como resultado de diversas áreas de conhecimento. As indústrias e companhias de seguro foram os seus primeiros campos de aplicação. A preocupação não era com a preservação da Saúde do Trabalhador, mas com a redução de acidentes e doenças, visando diminuir pagamentos de indenizações às vítimas e seus familiares, e evitar interrupções na produção. A pesquisa de Frank Bird Jr., em 1954, nos Estados Unidos, em 297 empresas, que resultou na sua famosa pirâmide de eventos, é um marco dessa evolução.

    No Brasil, foi com a portaria ministerial no 3.237/72, que obrigava as empresas com 100 ou mais empregados a constituírem o serviço de engenharia e Medicina do Trabalho, que a EST conseguiu se desenvolver com a criação dos primeiros cursos de especialização. Parte do seu conhecimento vem sendo adquirido por meio da prática nas organizações, com a finalidade de apontar desvios, reconhecer, avaliar e controlar as causas de acidentes e doenças, e da formulação teórica advinda das contribuições de diversas áreas de conhecimentos tecno-científicos, e de teorias baseadas nas ciências da saúde, humanas e sociais, dentre outras. Os currículos mínimos dos cursos de graduação e de especialização em EST10, definidos pelo MEC, têm procurado oferecer ao futuro profissional conceitos e noções sobre essas áreas.

    Modelos de serviços de segurança e saúde do trabalhador

    A EST tem se desenvolvido, em parte, pelas suas competências atribuídas pela NR4 da portaria no 3.214/78 e a resolução no 1.107/2018 do CONFEA, complementadas com as ações definidas nos serviços nos quais atua. A literatura tem mostrado que os serviços de Segurança e Saúde do Trabalhador estruturados nas organizações seguem modelos de serviços que são concebidos segundo abordagens teóricas da relação saúde x trabalho e da legislação nos setores trabalho, saúde e previdência11. A relação saúde x trabalho é uma questão que, por sua vez, tem origem na relação capital x trabalho12.

    Abordagens teóricas da relação saúde x trabalho

    As abordagens teóricas da relação saúde x trabalho são Medicina do Trabalho, Saúde Ocupacional e Saúde do Trabalhador (WAISSMANN, 2000). "Essas abordagens resultam de diferentes conceitos e práxis entre diversas correntes que tentaram, ao longo dos últimos séculos, trazer a si a hegemonia do conhecimento. É comum apontarem essas diferenças como sendo de cunho ideológico, materializadas em metodologias e legislações diferenciadas (WAISSMANN, 2000).

    O Quadro 1 resume as características de cada uma dessas abordagens da relação saúde e trabalho.

    Quadro 1 – Características das abordagens da relação saúde e trabalho.

    Fonte: MATTOS (2014).

    No enfoque da Medicina do Trabalho a especialidade médica está voltada, primordialmente, para o tratamento dos efeitos, ou a diminuição de sequelas causadas por acidentes e / ou doenças. Já a recuperação da saúde é um espaço destinado à atuação tecnicista e restrita a médicos, que executam as análises da relação saúde x trabalho. Sua atuação de cunho empírico nas empresas, realizando atendimento clínico singular é uma tentativa de retirar do trabalho a culpabilidade na geração de agravos à saúde. As doenças, distúrbios e disfunções repousam em indivíduos isolados e suas causas são geradas, em especial, pelo meio não laboral (WAISSMANN, 2000).

    Esse enfoque se adequou ao paradigma taylorista13, no qual o médico da empresa passa a selecionar os mais aptos, controlar o absenteísmo e gerenciar o retorno ao trabalho, em casos de doenças e acidentes (SILVA, 2000).

    Um Comitê misto da OIT e da OMS definiu, em 1950, a Saúde Ocupacional como aquela que

    visa a promoção e manutenção, no mais alto grau do bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as ocupações; a prevenção, entre os trabalhadores, de doenças ocupacionais causadas por suas condições de trabalho; a proteção dos trabalhadores em seus labores, dos riscos resultantes de fatores adversos à saúde; a colocação e conservação dos trabalhadores nos ambientes ocupacionais adaptados as suas aptidões fisiológicas e psicológicas; em resumo: a adaptação do trabalho ao homem e de cada homem ao seu próprio trabalho. (ILO; WHO, 1950)

    O enfoque em Saúde Ocupacional se carateriza por incorporar uma equipe profissional na avaliação das condições de trabalho e das suas relações com o trabalho, mantendo o perfil tecnicista destas análises, envolvendo também engenheiros e outros profissionais. Passou-se a valorizar os ambientes de trabalho e os riscos, com as preocupações voltadas para os elementos do processo de trabalho (equipamentos, materiais, instalações etc.) como fontes de riscos e as doenças ocupacionais sendo mais valorizadas do que as demais. A avaliação do adoecer continua singular, não sendo coletivizada. Passou-se à noção das causas de agravos à saúde associadas aos ambientes produtivos com a noção de multicausalidade. Valoriza-se a quantificação dos riscos nos ambientes de trabalho, porém sem associá-los à organização da produção e à interferência humana. Na avaliação do risco, valoriza-se o trabalho prescrito (pensado) em detrimento do trabalho real (executado) (LAURELL & NORIEGA, 1989; MENDES & DIAS, 1991; WAISSMANN & CASTRO, 1991; WAISSMANN, 2000).

    Nesse enfoque, são apontadas como fragilidades (MENDES, 1991) a manutenção de referencial da Medicina do Trabalho mecanicista, as atividades restritamente multiprofissionais, a capacitação de recursos humanos e a produção de conhecimentos e de tecnologia que não acompanharam as transformações dos processos de produção; a avaliação coletiva de Saúde Ocupacional é abordada como objeto de ações de saúde e a manutenção de Saúde Ocupacional, enquanto objeto de intervenção da área do trabalho, em detrimento do setor saúde.

    Esse enfoque, ainda hoje é largamente utilizado no mundo, apesar de mostrar-se inadequado na prevenção dos riscos à saúde decorrentes do trabalho. Vários autores admitem que o seu forte atrelamento ao conhecimento técnico-científico, ocorrido posteriormente, como a incorporação de novos conhecimentos psicofisiológicos e médicos, bem como o reconhecimento

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