Flexibilidade, gestão de riscos e resiliência na cadeia de suprimentos
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Sobre este e-book
Sua importância advém da falta de convergência sobre esses temas na literatura e nas organizações, da grande dificuldade de aplicação de práticas associadas de uma forma estruturada e integrada e da abordagem geralmente reativa às variabilidades e riscos nas cadeias de suprimentos.
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Flexibilidade, gestão de riscos e resiliência na cadeia de suprimentos - GiovaniI Ortiz Tanoue
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2015 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
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Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Dedico este livro à minha família, que é a motivação dos meus esforços, em especial à minha linda esposa, Renata, pelo seu apoio, companheirismo, amor, carinho e atenção.
Agradeço aos meus amigos, pela boa energia que me passam, e adicionalmente a Deus, pela combinação de fatores que me permitem ser feliz, incondicionalmente.
Giovani Ortiz Tanoue
Que nunca falte
un sueño por el que luchar,
un proyecto que realizar,
algo que aprender,
un lugar donde ir
y alguien a quien querer
(Autor desconhecido)
PREFÁCIO
Foi com grande expectativa, e depois muita satisfação, que li este livro escrito com tanto cuidado e dedicação pelo Giovani, pessoa e profissional que aprendi a admirar, suportado pelo Néocles, grande professor de São Carlos. Ao propor uma obra sobre Gestão da Cadeia de Suprimentos (ou Supply Chain Management – SCM) abordando os temas de Flexibilidade, Gestão de Riscos e Resiliência, ainda mais de forma integrada, os autores correram um grande risco de serem ou genéricos demais ou então prolixos e pesados
em sua descrição para que abordassem o conteúdo necessário.
A importância e atualidade do tema dispensam muitos comentários, mas é válido trazer minha visão pessoal sobre o assunto. Para aqueles que sonham com um mundo de negócios de previsibilidade e estabilidade para então aplicarem seus conceitos e estratégias, recomendo uma profunda revisão de suas premissas. Para mim, fica cada dia mais claro que entramos em uma fase de transição muito forte e longa, fruto de diferentes fontes de instabilidade: novas tecnologias, problemas sociais e ambientais, altíssima conectividade de mercados e pessoas, gerações com novas demandas, uma cultura crescente de empreendedorismo entre tantos outros. Em suma, o mundo em geral, e especialmente o de negócios, será cada vez mais turbulento e dinâmico. Empresas e estratégias que não tratarem dessa nova
realidade de forma contínua estarão destinadas ao fracasso. É nesse contexto que os temas de flexibilidade, gestão de risco e resiliência tornam-se centrais quando falamos de cadeias de suprimentos bem-sucedidas. Todavia estes temas são pouco conhecidos, difundidos e aplicados e daí a riqueza deste livro.
No caso ainda mais complicado da realidade do Brasil, com tantas lacunas para o funcionamento de nossas cadeias, sejam pela questão logística, tributária, políticas e regulamentações macro e microeconômicas, baixo capital humano, entre outros, este livro torna-se praticamente uma obrigação. Acadêmicos e profissionais de mercado que não buscarem apoio nos conceitos e aplicações feitas nessa obra não conceberão cadeias sustentáveis, necessitando sempre improvisar e criar puxadinhos
de última hora para fazer as coisas funcionarem. E o resultado são os problemas que tanto vejo em meus clientes e em minhas salas de aula: baixos níveis de serviços, desperdício de dinheiro e energia, investidores insatisfeitos, comunidades demandantes, profissionais desmotivados e assim por diante. O Giovani se propôs a uma jornada de muita valia para nós e entrega uma obra de muita importância.
O resultado dessa jornada é uma obra clara e didática sobre os três temas propostos, e, ao mesmo tempo, consistente sobre suas contribuições para o mundo de SCM. O livro apresenta de forma muito interessante e agradável, apesar de sua densidade, um fluxo de evolução crescente, chegando então com clareza ao ponto de integração dos temas entre si e com o SCM. A análise de uma cadeia produtiva, apesar de limitada, exemplifica os conceitos e fecha com muita qualidade essa importante obra para o mundo acadêmico e empresarial de SCM, mas também de forma mais expandida para operações e estratégia.
Recomendo então a leitura para dois objetivos, que podem se intercalar no tempo. O primeiro para os leitores, tanto alunos quanto profissionais de mercado, que querem entender o que são flexibilidade, gestão de riscos e resiliência isoladamente. O livro oferece uma ampla e rica revisão de cada tema e depois de sua inter-relação. A rica citação de autores e obra permite ao leitor se aprofundar em qualquer um dos temas e assim ganhar tanto a horizontalidade necessária quanto o aprofundamento que desejar. O segundo é para profissionais de mercado, e não somente de SCM, que precisam buscar fonte de inspiração e sabedoria para inovar e alavancar o nível estratégico de suas cadeias de suprimentos para a nova realidade de mercado. Os mais de 20 quadros de síntese criados até o capítulo 6 são uma rápida e ótima fonte de conhecimento para processos de inovação e planejamento de cadeias, assim como os capítulos 7 e 8 fornecem o pragmatismo necessário para sua aplicação.
Por fim, queria parabenizar ao Giovani e ao Néocles pelo seu trabalho e pela sua contribuição, e desejar aos leitores deste importante livro um ótimo proveito.
Carlos Frederico Bremer
Sócio Sênior da EY (antiga Ernst & Young)
Conselheiro do Instituto Capitalismo Consciente Brasil
Professor da USP, FIA e Fundação Dom Cabral
Engenheiro e doutor pela USP e PhD pela Universidade de Aachen, na Alemanha
APRESENTAÇÃO
Frente ao contexto atual de elevada volatilidade dos mercados associada à busca por eficiência operacional, à ocorrência de eventos de risco e à complexidade das operações nas empresas, a flexibilidade e a gestão de riscos na cadeia de suprimentos surgem como formas de construção de resiliência organizacional. Além da falta de convergência sobre estes temas na literatura, nas organizações há baixo conhecimento e dificuldade de aplicação das práticas associadas de uma forma estruturada e integrada entre as áreas da empresa e os membros das cadeias de suprimentos. Mesmo as organizações centenárias não possuem uma forte cultura em gestão de riscos na cadeia e aplicação formal ou integrada de metodologias e práticas associadas à flexibilidade e gestão de riscos, sendo sua visão e abordagem geralmente reativas.
O objetivo deste livro é apresentar uma abordagem para identificação e direcionamento das práticas relacionadas aos conceitos de flexibilidade e gestão de riscos na cadeia de suprimentos para geração de resiliência, sendo resiliência a capacidade de uma organização retomar um nível de desempenho normal ou superior após uma ruptura, ou a manutenção da estabilidade de seus resultados.
A obra apresenta uma sequência da elaboração de tal abordagem, realizada a partir de uma densa pesquisa bibliográfica para explicitação e inter-relação de tais conceitos e da experiência dos autores em diversas organizações de distintos setores. Ele pode suportar profissionais das organizações a olhar suas empresas e cadeias de valor de forma mais crítica e integrada, bem como acadêmicos a acelerar suas pesquisas ou direcionar os próximos passos a este trabalho realizado.
Ao final, um estudo de caso é apresentado considerando a abordagem proposta para que o leitor possa ter uma referência de sua aplicação e posteriormente utilizá-la na íntegra ou adaptá-la para seu universo de atuação, tipo de negócio ou objetivo específico definido.
O livro possui nove capítulos e pode ser navegado sequencialmente ou de acordo com o interesse do leitor, acessando diretamente cada um dos conceitos, a análise do relacionamento entre eles, a abordagem integrada para identificação de práticas nas empresas ou mesmo o estudo de caso.
O capítulo 1, introdutório, é constituído pela apresentação do contexto associado aos temas apresentados.
Nos capítulos 2, 3 e 4 é apresentado o embasamento teórico que foi utilizado como base para elaboração da abordagem integrada. Há uma revisão bibliográfica e as respectivas análises sobre gestão de riscos na cadeia de suprimentos, flexibilidade e resiliência das organizações. São apresentadas as definições e conceitos associados a cada um dos temas, bem como formas para alcance destes nas organizações e nas suas cadeias. A flexibilidade é desdobrada em dimensões e relacionada a outros termos encontrados na literatura, como rapidez, agilidade e adaptabilidade, dentre outros. A gestão de riscos é avaliada sob a ótica da gestão da cadeia de suprimentos e são abordados critérios de classificação e metodologias de gestão de riscos. No capítulo 5, os conceitos são relacionados e como resultado é apresentado um diagrama de relacionamento entre eles.
O capítulo 6 apresenta a abordagem criada para identificação dos riscos e práticas associadas aos conceitos nas empresas e os capítulos 7 e 8 apresentam o estudo de caso em três organizações participantes da mesma cadeia, identificando-se a importância da flexibilidade e o impacto dos riscos da cadeia no aumento de resiliência das organizações, bem como as práticas associadas aos temas abordados. Finalmente, o capítulo 9 traz um resumo e considerações finais.
Espero que este livro seja de grande valia para estudos futuros, para um melhor entendimento da gestão nas suas organizações e o direcionamento de ações efetivas para alcance dos resultados de negócio esperados de forma sustentável e, principalmente, para a melhoria na vida das pessoas e comunidades que fazem parte das suas cadeias de valor.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Sumário
1
INTRODUÇÃO
2
RESILIÊNCIA ORGANIZACIONAL
2.1 Conceitos gerais e definições sobre resiliência
2.2 Meios para geração de resiliência
3
GESTÃO DE RISCOS NA CADEIA DE SUPRIMENTOS
3.1 Gestão da cadeia de suprimentos
3.2 Conceitos gerais e definições sobre gestão de riscos na cadeia de suprimentos
3.3 Modelos de gestão de riscos na cadeia de suprimentos
3.4 Classificações de riscos na cadeia de suprimentos
3.5 Formas de mitigação de riscos na cadeia de suprimentos
4
FLEXIBILIDADE OPERACIONAL
4.1 Conceitos gerais e definições sobre flexibilidade
4.2 Flexibilidade e outros conceitos relacionados
4.3 Dimensões associadas à flexibilidade operacional
4.4 Meios para geração de flexibilidade nas operações
5
RELACIONAMENTO ENTRE OS CONCEITOS ABORDADOS
5.1 Relacionamento entre gestão de riscos, flexibilidade e resiliência
5.2 Relacionamento com outros conceitos associados
6
ABORDAGEM para identificação das práticas relacionadas aos conceitos Nas organizações e cadeias
7
APLICAÇÃO DO ESTUDO DE CASO EM UMA CADEIA PRODUTIVA
7.1 Caracterização das organizações e da cadeia produtiva analisada
7.2 Flexibilidade nas empresas avaliadas
7.3 Gestão de riscos nas empresas avaliadas
8
ANÁLISE INTEGRADA DO ESTUDO DE CASO
8.1 Análise da flexibilidade na cadeia produtiva
8.2 Análise da gestão de riscos na cadeia produtiva
9
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO PARA COLETA DE INFORMAÇÕES
APÊNDICE B
Material de apoio para a pesquisa de campo
1
IntroDução
A economia vem passando por uma rápida transição. Os mercados estão mais voláteis e turbulentos, e mesmo as cadeias com produtos e serviços estabelecidos são caracterizadas por um alto grau de incerteza e constante mudança. Os produtos cada vez mais se tornam commodities e a concorrência mais acirrada, caracterizando a transformação de uma economia de escala para uma economia de escopo¹.
As modernas cadeias de suprimentos devem ser vistas como cadeias de valor² ou redes de organizações interconectadas com ascendente interdependência. O novo padrão de relacionamento entre empresas de uma mesma rede as induz a um pensamento global para alcance dos níveis de serviço adequados aos clientes e das crescentes expectativas de acionistas em relação à rentabilidade e custos. Neste ambiente, diversos fatores, tanto externos quanto internos às empresas, podem influenciar a seleção de estratégias para sua gestão.
No ambiente interno, a forte pressão pela redução de custos, manutenção de baixos níveis de estoque e alta utilização de recursos gera um conflito entre o nível de serviço a ser prestado e o que a organização está disposta a gastar para sua obtenção – o custo de servir. Variabilidades geradas por problemas operacionais também afetam tanto o nível de serviço quanto o custo de servir das organizações.
No ambiente externo, o maior grau de exigência dos clientes em relação a preço, variedade de produtos e serviços, e excelência no atendimento gera uma grande complexidade no entendimento e cumprimento da demanda, potencializada pela complexidade na realização de previsões de vendas adequadas de volume e da variedade desejada, de produtos existentes ou não. Igualmente, a falta de alinhamento com fornecedores e distribuidores, a propagação de variabilidades e a disputa por margem dentro da mesma cadeia podem contribuir para uma maior complexidade na gestão das empresas.
A crescente busca pela eficiência operacional associada à crescente volatilidade dos mercados aumenta a complexidade das redes de suprimentos, elevando sua exposição a rupturas e comprometendo sua sustentabilidade. Ademais, recentes eventos ao redor do mundo (guerras, desastres ambientais, terrorismo, crises econômicas, ataques cibernéticos etc.) têm frequentemente alertado sobre a contínua mudança e imprevisibilidade nos negócios e ao consequente aumento dos riscos aos quais as cadeias estão submetidas.
No contexto atual de imprevisibilidade e crescente variabilidade, as empresas necessitam de cadeias de suprimentos seguras e resilientes para manutenção de seus negócios. Os velhos paradigmas não têm sido suficientes para a condução das organizações neste ambiente. Seus ganhos estão mais erráticos e mesmo as empresas mais perenes estão encontrando dificuldades em entregar retornos consistentemente superiores.
A resiliência das organizações é afetada pelas variabilidades e eventos ocorridos ao longo das suas cadeias, fazendo sentido a identificação de práticas associadas à gestão de riscos e à flexibilidade para resposta às variabilidades e às rupturas.
A gestão de riscos na cadeia de suprimentos deve ser integrada à estratégia das organizações e cadeias, podendo ser incluídas no seu processo de gestão.
Os profissionais de gestão da cadeia de suprimentos têm sido crescentemente desafiados a pensar nos impactos associados aos riscos presentes em todas as atividades organizacionais e níveis de gestão e aos riscos externos às cadeias. Todavia, ainda há falta de preocupação, comprometimento e experiência de algumas empresas na gestão de tais riscos.
Há maior foco na reação às variabilidades do que na busca de uma nova abordagem mais estratégica e proativa, por meio de processos formais de identificação de possíveis perdas ou eventos de risco, entendimento da probabilidade de ocorrência destes e a possibilidade de perda gerada³,⁴. Os riscos têm sido tratados ou geridos, geralmente, por meio de intuição, experiência e bom senso, e sua gestão realizada para redução de perdas, não para aquisição de vantagem competitiva⁵,⁶.
As organizações enfatizam a análise dos riscos e a construção de planos de continuidade de seus negócios referenciando seus ativos e atividades relacionadas à sua manufatura, transporte, infraestrutura e aspectos comerciais, havendo espaço para a