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Agro, ditadura e universidade:  Esalq-USP e a modernização conservadora (1964 a 1985)
Agro, ditadura e universidade:  Esalq-USP e a modernização conservadora (1964 a 1985)
Agro, ditadura e universidade:  Esalq-USP e a modernização conservadora (1964 a 1985)
E-book379 páginas4 horas

Agro, ditadura e universidade: Esalq-USP e a modernização conservadora (1964 a 1985)

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Sobre este e-book

Este livro é fruto de uma consistente pesquisa de doutorado orientada pelo saudoso professor José Luís Sanfelice, que, antes de nos deixar, redigiu o esclarecedor prefácio que abre a presente publicação. Trata-se de um trabalho no qual o autor, Rodrigo Sarruge Molina, mobiliza os recursos da ciência da história para recuperar um momento de nosso passado próximo que muito nos ensina sobre a situação atual, tendo em vista que se contrapõe à negação da ciência que se converteu em política oficial do atual governo federal. Desvendando os meandros do ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" como promotora do agronegócio em conluio com as forças da ditadura então vigente e a serviço de interesses estadunidenses, o autor ilumina prospectivamente a situação que estamos atravessando, marcada pelo incremento do agronegócio com a enorme ampliação do uso de veneno na produção agrícola, a deterioração do meio ambiente e o sacrifício dos povos originários, representados pelas populações ribeirinhas, indígenas e quilombolas. Trata-se, pois, de uma leitura necessária, que deve ser disseminada em nossas escolas nestes tempos de obscurantismo que vêm infelicitando a maioria da população brasileira." --- Dermeval Saviani( Professor Titular Colaborador Pleno do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp))
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de abr. de 2022
ISBN9786588717721
Agro, ditadura e universidade:  Esalq-USP e a modernização conservadora (1964 a 1985)

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    Pré-visualização do livro

    Agro, ditadura e universidade - Rodrigo Sarruge Molina

    AGRO, DITADURA E UNIVERSIDADE

    APOIO

    FRENTE DE DEFESA DA DEMOCRACIA LUIZ HIRATA (ESALQ-USP)

    HISTEDBR/UNICAMP

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (UFES)

    RODRIGO SARRUGE MOLINA

    AGRO, DITADURA E UNIVERSIDADE

    ESALQ-USP E A MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA (1964 A 1985)

    Copyright © 2022 by Editora Autores Associados Ltda.

    Todos os direitos desta edição reservados à Editora Autores Associados Ltda.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Molina, Rodrigo Sarruge

    Agro, ditadura e universidade [livro eletrônico] : Esalq-USP e a modernização conservadora (1964 a 1985) / Rodrigo Sarruge Molina. -- Campinas, SP : Autores Associados, 2022.

    ePub.

    ISBN 978-65-88717-72-1

    1. Agricultura 2. Ditadura - Brasil 3. Educação rural 4. Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz - História I. Título.

    22-106388 CDD-378.81612

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz :

    História : Piracicaba : São Paulo : Estado 378.81612

    ALINE GRAZIELE BENITEZ - BIBLIOTECÁRIA - CRB-1/3129

    Bookwire – conversão ePub – maio de 2022

    [livro impresso: ISBN 978-65-88717-60-8; 1. ed. mar. 2022]

    O autor do livro agradece a todos que colaboraram com esta edição por cederem gentilmente o uso das imagens aqui estampadas. O autor declara ainda ter se esforçado para solicitar as autorizações necessárias a todos os envolvidos.

    EDITORA AUTORES ASSOCIADOS LTDA.

    Uma editora educativa a serviço da cultura brasileira

    Av. Albino J. B. de Oliveira, 901

    Barão Geraldo | CEP 13084-008 | Campinas – SP

    Telefone: +55 (19) 3789-9000

    E-mail: editora@autoresassociados.com.br

    Catálogo on-line: www.autoresassociados.com.br

    Conselho Editorial Prof. Casemiro dos Reis Filho

    Bernardete A. Gatti

    Carlos Roberto Jamil Cury

    Dermeval Saviani

    Gilberta S. de M. Jannuzzi

    Maria Aparecida Motta

    Walter E. Garcia

    Diretor Executivo

    Flávio Baldy dos Reis

    Coordenadora editorial

    Érica Bombardi

    Revisão

    Cleide Salme

    Diagramação

    Érica Bombardi

    Capa – Fotografia

    Legenda: Como paraninfo da ESALQ em 1971, ditador Médici e sua equipe inspecionam o campus USP de Piracicaba

    Fonte: Acervo do Museu Luiz de Queiroz (USP/ESALQ).

    Dedicamos este livro a Luiz Hirata (Lua), esalquiano assassinado pela ditadura.

    Embora os facínoras tentem apagar o luar, o brilho das lutas pela libertação do Brasil ainda irradia nessa vastidão do Pindorama.

    SUMÁRIO

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE SIGLAS

    PREFÁCIO

    José Luís Sanfelice

    APRESENTAÇÃO

    Dermeval Saviani

    Olinda Maria Noronha

    CONTEXTUALIZAÇÃO E AGRADECIMENTOS

    INTRODUÇÃO

    CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

    1. Sobre as fontes primárias da investigação histórica

    CAPÍTULO 1: O QUE É A ESALQ?

    1. Breve histórico da centenária Luiz de Queiroz

    2. A Luiz de Queiroz no século XXI

    3. Quem são os esalquianos?

    4. A gênese da escola: Luiz de Queiroz e o projeto coletivo, 1881 a 1892

    5. A consolidação da estatal ESALQ-USP no século XX

    CAPÍTULO 2: O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 1964 E A ESALQ

    1. Os Estados Unidos na ESALQ no contexto do golpe

    2. A questão da terra: golpe, reforma agrária e tensão social

    3. O caso Marcomini: um esalquiano perseguido antes do golpe

    4. O golpe efetivado e a repressão contra os esalquianos

    5. Hoffmann: o esalquiano encarcerado pelo golpe

    6. O Centro Acadêmico Luiz de Queiroz e o golpe de 1964

    CAPÍTULO 3: ESALQ, DITADURA E A MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA DO CAMPO

    1. O Sistema Nacional de Crédito Rural

    2. A modernização fomentada pelo Estado

    3. A alteração da base técnica dos meios de produção no campo e a exposição agroindustrial na ESALQ

    CAPÍTULO 4: O HERÓI LUIZ DE QUEIROZ VOLTA PARA PIRACICABA E RECEBE A VISITA DOS GENERAIS

    1. 1964 e a reinvenção de um herói: Luiz de Queiroz volta para Piracicaba

    2. A turma do presidente: quando Médici foi o paraninfo de 1971

    3. O futuro presidente do Brasil na ESALQ: a visita do general Ernesto Geisel em 1973

    CAPÍTULO 5: UMA BASE DOS ESTADOS UNIDOS NA ESALQ: ACORDOS USP/USAID

    1. De Ohio para Piracicaba

    2. Agentes da USAID em ação: compressão, intervenção e cooptação

    2.1. Eva Wilson

    2.2. Clyde Allison

    2.3. Alvin I. Moxon

    2.4. John I. Parsons

    2.5. John Sitterley

    2.6. Charles Triplehorn

    2.7. Clair W. Young

    2.8. Walter Harvey

    3. Voltando para casa

    CAPÍTULO 6: ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO: A UNIVERSIDADE PÚBLICA FOMENTANDO O AGRO

    1. A criação da pós-graduação em 1964

    1.1. Um programa que nasce internacional

    1.2. Os egressos da pós-graduação

    2. O estratégico Departamento de Genética

    3. O Centro de Energia Nuclear na Agricultura – 1966

    4. A Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – 1976

    5. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – 1982

    6. Os relatórios anuais da ESALQ: os financiadores das pesquisas

    6.1. Departamento de Genética (1966-1980)

    6.2. Departamento de Química (1966-1980)

    6.3. Departamento de Física e Meteorologia (1966-1980)

    6.4. Departamento de Ciências Sociais Aplicadas e Departamento de Economia e Sociologia Rural (1966-1980)

    6.5. Centro de Energia Nuclear na Agricultura (1966-1977)

    6.6. Centro de Estudos do Solo e Departamento de Solos, Geologia e Fertilizantes (1969-1980)

    6.7. Departamento de Matemática e Estatística (1969-1980)

    6.8. Departamento de Fitopatologia (1974-1980)

    6.9. Departamento de Agricultura e Horticultura (1974-1980)

    6.10. Departamento de Silvicultura (1974-1980)

    6.11. Departamento de Zoologia e Departamento Zootecnia (1974-1980)

    6.12. Diretoria da ESALQ-USP (1966-1980)

    6.13. Conclusão dos relatórios de 1966 a 1980

    7. A graduação: diversificação e reforma universitária

    CAPÍTULO 7: DITADURA NA ESALQ: CENSURA, DELAÇÕES, PERSEGUIÇÕES E ASSASSINATO

    1. A delação de professores e alunos de Piracicaba ao DOPS

    2. A incriminação doméstica: quando o perigo morava ao lado

    3. A vigilância contra docentes e estudantes da pós-graduação

    4. Pós-graduandos fichados e a perseguição contra a ciência

    5. A censura prévia na ESALQ-USP

    6. Luiz Hirata: um esalquiano torturado e assassinado pela ditadura

    CAPÍTULO 8: MOVIMENTO ESTUDANTIL: LUTA E RESISTÊNCIA

    1. Anos de 1960: rebelião caipira contra o golpe civil-militar

    2. Anos de 1970: repressão e resistência no interior

    3. Anos de 1980: a UNE renasce em Piracicaba

    3.1. O 32º Congresso da UNE e a falência do regime

    3.2. Novamente em Pira: 1982 – o 34º Congresso da UNE sob vigilância reforçada

    ALGUMAS CONCLUSÕES

    POSFÁCIO

    Frente de Defesa da Democracia Luiz Hirata

    SOBRE O AUTOR

    BIBLIOGRAFIA E FONTES PRIMÁRIAS

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Diretoria da E SALQ e membros do USDA

    Figura 2 Em junho de 1971, o Consulado dos EUA convidou o presidente do centro acadêmico (C ALQ ) para jantar reservado

    Figura 3 Materiais sequestrados de aluno comunista

    Figura 4 Multinacionais na E SALQ

    Figura 5 Médici, militares e civis no salão nobre da E SALQ

    Figura 6 Geisel no centro acadêmico da E SALQ

    Figura 7 Professores da U SAID /OSU e família no campus da USP de Piracicaba

    Figura 8 Folha de rosto de livro estadunidense introduzido na E SALQ

    Figura 9 Embargo contra Cuba na E SALQ sob ordens do Itamaraty

    Figura 10 Movimento estudantil piracicabano, 1974

    Figura 11 D OPS vigia estudantes de Piracicaba em missa

    Figura 12 Abertura do 32 º Congresso da UNE no Estádio Barão da Serra Negra, Piracicaba

    LISTA DE SIGLAS

    ABCAR Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural

    ACA Associação Cristã Acadêmica

    ADEALQ Associação dos Ex-alunos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    ADUSP Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo

    AERP Assessoria Especial de Relações Públicas

    AESI Assessoria Especial de Segurança e Informação

    AGIPLAN Apoio Governamental à implantação do Plano Nacional de Sementes

    AI Ato Institucional

    AIA American International Association for Economic and Social Development

    AID Associação Internacional de Desenvolvimento

    AIEA Agência Internacional de Energia Atômica

    ALN Ação Libertadora Nacional

    ANDA Associação Nacional para Difusão de Adubos

    APG/FE Associação dos Pós-Graduandos da Faculdade de Educação

    ARD Associate Regional Director

    ARENA Aliança Renovadora Nacional

    ASI Assessoria de Segurança e Informações

    BANESPA Banco do Estado de São Paulo

    BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

    BM&F Bolsa de Mercadorias e Futuros

    BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

    CALQ Centro Acadêmico Luiz de Queiroz

    CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

    CASP Country Analisis and Strategy Paper

    CATI Casa da Agricultura

    CCC Comando de Caça aos Comunistas

    CIE Centro de Informações do Exército

    CIM Centro de Informações da Marinha

    CEBRAP Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

    CEDECA Centro de Ensino a Distância em Ciências Agrárias

    CENA Centro de Energia Nuclear na Agricultura

    CENIMAR Centro de Informações da Marinha

    CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

    CEPEA Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

    CES Centro de Estudos do Solo

    CESP Companhia Energética de São Paulo

    CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

    CETREC Centro de Treinamento de Campinas

    CIA Central Intelligence Agency

    CIDA Comitê Interamericano de Desenvolvimento Agrícola

    CISA Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica

    CLT Consolidação das Leis do Trabalho

    CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear

    CNENA Centro Nacional de Energia Nuclear na Agricultura

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

    CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba

    COPPE Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia

    COPERSUCAR Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool de São Paulo

    COSUPI Comissão Supervisora dos Institutos

    CPC Centro Popular de Cultura

    CPI Comissão Parlamentar de Inquérito

    DANIDA Danish International Development Agency

    DCE Diretório Central dos Estudantes

    DEOPS Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo

    DOCEMADE Rio Doce Madeiras S. A.

    DOI-CODI Destacamento de Operações de Informação-Centro de Operações de Defesa Interna

    DOPS Departamento de Ordem Política e Social

    DPF Delegacia de Polícia Federal

    ELSP Escola Livre de Sociologia e Política

    EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

    EMBRATER Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão

    ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    ETA Escritório Técnico de Agricultura

    FAB Força Aérea Brasileira

    FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

    FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

    FBCN Fundação Brasileira para Conservação da Natureza

    FEALQ Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz

    FESPSP Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo

    FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

    FIPEC Fundo de Incentivo à Pesquisa Técnico Científica

    FLH Frente de Defesa da Democracia Luiz Hirata

    FRDSA Florestas Rio Doce S.A

    FREDELQ Frente Democrática Luiz de Queiroz

    FUMEP Fundação Municipal de Ensino

    HISTEDBR Grupo de Estudos História, Sociedade e Educação no Brasil

    IAA Instituto do Açúcar e do Álcool

    IAC Instituto Agronômico de Campinas

    IBAD Instituto Brasileiro de Ação Democrática

    IBC Instituto Brasileiro do Café

    IBEC International Basic Economy Corporation

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IBRA Instituto Brasileiro de Reforma Agrária

    IHGP Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

    IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

    INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

    INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

    INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

    IPEF Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais

    IPES Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais

    IRI International Research Institute

    ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica

    ITAL Instituto de Tecnologia de Alimentos

    JUC Juventude Universitária Católica

    JURA Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

    MDB Movimento Democrático Brasileiro

    MEC Ministério da Educação e Cultura

    MIC Ministério da Indústria e Comércio

    MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

    OEA Organização dos Estados Americanos

    ONU Organização das Nações Unidas

    ORSTOM Office de la Recherche Scientifique et Technique Outre-Mer

    OSU Ohio State University

    PEAS Programa de Educação Agrícola Superior

    PCB Partido Comunista Brasileiro

    PCdoB Partido Comunista do Brasil

    PDS Partido Democrático Social

    PIB Produto Interno Bruto

    PLANALSUCAR Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar

    PND Plano Nacional de Desenvolvimento

    POLOP Organização Revolucionária Marxista – Política Operária

    PRP Partido Republicano Paulista

    PRODEPEF Programa de Desenvolvimento e Pesquisa Florestal

    PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

    PSB Partido Socialista Brasileiro

    PTB Partido Trabalhista Brasileiro

    PUC-Campinas Pontifícia Universidade Católica de Campinas

    SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

    SIGA Seminário para Interação em Gestão Ambiental

    SNI Serviço Nacional de Informações

    SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

    SUDHEVEA Superintendência da Borracha

    SUS Sistema Único de Saúde

    SUVALE Superintendência do Vale do São Francisco

    TULQ Teatro Universitário Luiz de Queiroz

    UDN União Democrática Nacional

    UEE União Estadual dos Estudantes

    UEL Universidade Estadual de Londrina

    UEM Universidade Estadual de Maringá

    UFBA Universidade Federal da Bahia

    UFES Universidade Federal do Espírito Santo

    UFMA Universidade Federal do Maranhão

    UFPB Universidade Federal da Paraíba

    UFPR Universidade Federal do Paraná

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UFSCAR Universidade Federal de São Carlos

    UFV Universidade Federal de Viçosa

    UNE União Nacional dos Estudantes

    UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

    UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

    UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba

    UREMG Universidade Rural do Estado de Minas Gerais

    USDA United States Department of Agriculture

    USAID United States Agency for International Development

    USP Universidade de São Paulo

    PREFÁCIO

    A presente obra é o resultado de estudos investigativos sobre a história de uma instituição escolar e de pesquisa. A originária Escola Agrícola Prática Luiz de Queiroz, fundada em 1901, destinada ao ensino secundário técnico, foi o objeto perscrutado. Na evolução da sua organização, o estabelecimento veio a ser denominado, posteriormente, de Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a ESALQ-USP, identidade que permanece até os dias de hoje e como homenagem ao seu mentor, um proprietário de terras e empresário que viveu de 1849 a 1898. Localizada na cidade paulista de Piracicaba, com a qual tem íntima relação, a escola emergiu como fruto dos anseios e necessidades da classe ruralista paulista; teve seus primórdios marcados pela inciativa privada, mas acabou por ser absorvida pelo governo do estado de São Paulo e se constituiu em uma das unidades fundadoras da USP, nos anos 30 do século XX. É nacional e mundialmente referenciada pelo seu ensino formador de quadros profissionais e pelas pesquisas desenvolvidas no campo das ciências agrárias. Trata-se, pois, de uma escola centenária consolidada que, para além de toda a sua materialidade objetiva, está também presente em um vasto imaginário acadêmico e popular já merecedores de variados tipos de publicações que os contemplam.

    Estudar a história de uma instituição escolar implica uma série de medidas que as ciências da história vêm constituindo e que necessitam de ser apropriadas pelo historiador como garantias básicas para um resultado de caráter científico. Não é o caso de se abordar aqui o processo pelo qual as ciências da história se erigiram como um campo científico no mundo acadêmico. Apenas se quer registrar que a intencionalidade que move o historiador é o seu propósito em fazer ciência, tanto quanto é trivial reafirmar que o compromisso último é com a verdade possível e, ao mesmo tempo, ciente de que a pretensão de neutralidade é apenas uma falácia. Também não é oportuno resgatar o debate presente nas últimas décadas, que sinalizam as configurações em que as ciências da história e a historiografia vêm se movendo. Seria tudo muito proveitoso, mas oneraria por demais o espaço a ser cumprido por um prefácio. Limito-me, portanto, a sinalizar o ângulo sob o qual o trabalho de Molina está situado: é um trabalho de história de uma instituição escolar, por opção do historiador, a ESALQ-USP.

    Sabe-se que, dependendo dos recursos teórico-metodológicos do historiador, o estudo da história de uma instituição escolar converte-se, quase sempre, em um bom pretexto para algo um pouco mais abrangente; não porque o historiador assim o deseje por antecipação, mas sim pela natureza da construção do conhecimento histórico. É como aquela imagem, sempre reiterada, de que ao observador encantado pela beleza de uma árvore não lhe é recomendado perder a visão do bosque que a circunda. Nas ciências da história, o inventário de um objeto particular, sem colocá-lo no cenário geral no qual se encontra inserido, é um procedimento muito limitado, às vezes necessário, mas quase sempre de resultados empobrecidos. Logo, o estudo da história da ESALQ-USP exigiu de Molina muito mais que inventariar exaustivamente os arquivos e as fontes, um trabalho sempre árduo, que exige muita determinação e que ele realizou ao longo dos anos. Foi um mergulho profundo nos dados empíricos, aliás o lugar de onde vem a possibilidade do conhecimento, ao mesmo tempo que desenvolveu sua opção epistemológica. O resultado, ou seja, a narrativa construída pelo autor sobre a ESALQ-USP, apresentada agora ao público, é gratificante. Dado o seu caráter inédito, com base na força das evidências, nós podemos ter acesso a novos conhecimentos sobre a instituição estudada.

    O estudo da história da ESALQ-USP acabou por revelar, além de grandes dimensões do interior e do cotidiano da própria instituição, aspectos substantivos do ensino superior do Brasil. Vejamos: o ensino superior, por essas terras invadidas pelos colonizadores europeus portugueses, se principia tão somente após a chegada da família real, portanto, três séculos após a conquista de ocupação europeia. Início tardio se comparado aos empreendimentos da mesma natureza desenvolvidos nos territórios americanos de colonização espanhola. A expansão quantitativa do ensino superior brasileiro aconteceu de forma modesta, após a independência e ao longo do período imperial, e esteve marcado por três características essenciais: foi sempre organizado em cursos ou faculdades isoladas; cumpriu o papel de formador de quadros necessários à burocracia estatal ou privada e, de forma acentuada, constituiu-se em um diferenciador simbólico entre as classes sociais. Respondendo às necessidades das elites econômicas e do Estado que as representava, o ensino superior manteve-se muito elitizado. O acesso a ele explicitava uma posição de classe numa sociedade em que a mão de obra se manteve escrava até o final do século XIX. O título genérico de doutor era valorizado como forte sinalizador da origem social do seu portador, um privilegiado na sociedade de profundas desigualdades.

    Após a Proclamação da República, a evolução do ensino superior não se deu de forma muito diferente, embora as elites tenham zelado o suficiente pelos seus interesses. A República não aconteceu em decorrência de uma revolução, mas tão somente de um acerto pela hegemonia no poder de Estado, resolvido entre as frações da classe dominante e com alguma cooptação dos setores militares e classes médias. A manutenção dos privilégios das oligarquias, sem alterações maiores na estrutura social, foi a tônica até 1930, data que sinaliza novos golpes e acertos entre os poderosos travestidos, em parte da nossa historiografia, sob o rótulo da Revolução de 30. A originária ESALQ-USP surge sintomaticamente naquele contexto do republicanismo dos fins do século XIX e início do XX, respondendo aos anseios privados modernizadores da fortíssima classe ruralista paulista. Não demorou muito para que o estado de São Paulo assumisse o desenvolvimento do projeto educacional de uma fração de classe, encampando o interesse privado no âmbito das despesas públicas.

    Nos anos 20 do século XX, o ensino superior no Brasil deu início à sua organização em forma de universidade. Como primeira universidade pública, realmente sucedida, considera-se a hoje denominada Universidade Federal do Rio de Janeiro, criada em 1920 como Universidade do Rio de Janeiro e que se materializou, apenas alguns anos depois, passando a ser chamada de Universidade do Brasil e, pretensamente, um modelo a ser seguido por todo o ensino superior. Com ela, herdeira de cursos superiores que vinham desde o Império, também se incrementava um tipo de universidade que surgia pela aglutinação ou justaposição de instituições, faculdades e cursos diversificados e antes isolados, mas agora reunidos sob o rótulo de universidade, embora isso pouco significasse para uma nova mentalidade efetivamente universitária, científica, acadêmica e organizacional. Entretanto, esse é mais um dos traços marcantes do desenvolvimento do ensino superior no Brasil: a expansão de novas universidades pela aglutinação de faculdades, cursos e centros diferenciados pré-existentes, provedores de um ensino especialista e profissionalizante com forte controle estatal.

    Na versão paulista, o ensino superior em forma de universidade teve suas origens na criação da USP, em 1934. As elites paulistas, parte delas oriunda dos grupos fundadores da originária ESALQ, tiveram que arcar politicamente com as derrotas das autobatizadas Revolução de 1930 e Revolução Constitucionalista de 1932. O fim da República Velha e da política do café com leite, somado à derrota militar de 1932, abalou sensivelmente o poder da hegemonia paulista em nível nacional. Claro estava, novamente, que as elites nacionais faziam os acertos dos seus interesses às vezes discordantes, com golpes chamados de revolução e que, de fato, não alteravam de forma alguma a estrutura social vigente de uma sociedade já ativa, dependente, subalterna à ordem e à lógica capitalista mundial. Na busca da sua recuperação, as elites paulistas propuseram-se vários desafios, e entre eles, após constatar certo desleixo anterior, o empenho em criar condições de uma formação sólida para as classes hegemônicas, para os dirigentes que lhes deveriam representar, bem como para os profissionais especializados na condução da manutenção, e reprodução, da produção material geradora de capital.

    Os anos 30 do século XX constituíram uma década que aglutinou forte debate sobre a educação e já iniciado nos anos de 1920. É mister apontar, como lembrança necessária, o embate entre católicos e pioneiros sobre o balanço que faziam a respeito das condições da educação no Brasil e os diferentes encaminhamentos que sugeriam. O emblemático Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova veio à tona em 1932 e parte dos seus mentores estavam diretamente relacionados ou pertenciam às elites paulistas.

    As elites paulistas e seus intelectuais desejavam ter a sua própria universidade. Assim o fizeram com a criação da USP em 1934, que ostentava em seu brasão de armas, idealizado por José Wasth Rodrigues, a seguinte reveladora inscrição: Scientia Vinces, ou seja: Vencerás pela Ciência. Em 1933, empresários paulistas já haviam fundado a ELSP, que é hoje a FESPSP, ostensivamente dedicada a formar as elites administrativas segundo um modelo sociológico norte-americano. A USP, por sua vez, surgiu em 1934 (decreto n. 6.283/1934), da união de uma criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, concebida como elemento de integração da universidade, com as pré-existentes Escola Politécnica de São Paulo, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Faculdade de Medicina, Faculdade de Direito e Faculdade de Farmácia e Odontologia, Escola de Medicina Veterinária, Instituto de Ciências Econômicas e Comerciais, Escola de Belas Artes e Instituto de Educação, que era o antigo Instituto Caetano de Campos. Prevalecia aqui uma inspiração mais espelhada no mundo acadêmico francês, com empenho em formar professores e especialistas em ciências básicas.

    O estudo de Molina nos permite ver a ESALQ-USP no cenário mencionado, pois conseguimos perceber como a instituição resultou e respondeu ao conjunto de determinações que a configuraram e de que maneira reagiu a elas. O engajamento dela nos ditames dos interesses de uma fração de classe que se tornou cada vez mais hegemônica no campo do desenvolvimento econômico do país, se procurado aguçadamente pelo pesquisador, torna-se evidente pela força dos fatos. Se na ordem global se estabeleceu a vocação natural do Brasil para se constituir em celeiro mundial de alimentos, numa espécie de arranjo de toda a produção capitalista, é mais ou menos óbvio que as instituições de ensino e pesquisas vinculadas à área sejam consideradas estratégicas. É surpreendente e contundente de como se deu

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