O futuro do ecoturismo: cenários para 2025
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O futuro do ecoturismo - Edinelza Macedo Ribeiro
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO SUSTENTABILIDADE, IMPACTO, DIREITO, GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Dedico este livro à comunidade amazonense, como forma de compartilhar os saberes necessários sobre possibilidades concretas de desenvolvimento
por meio da cultura de seu povo.
Agradecimentos
Os esforços dispensados ao longo da realização da presente obra não foram fáceis. No entanto, torna-se gratificante revelar que o primeiro agradecimento é coletivo e dirigido a todos que compartilharam deste desafiante trabalho. Assim, em especial, dirijo este estudo à comunidade amazonense, com os votos de que ele seja útil nas pesquisas e nas práticas das instituições que acreditam ser o ecoturismo uma das alternativas mais viáveis para o desenvolvimento da Amazônia. Aqui, agradeço à professora Arminda Mendonça, que me concedeu horas de entrevista com excelente atenção e disposição.
Ao professor e orientador desse estudo, Elimar Pinheiro, minha gratidão. Aos meus grandes mestres que compartilharam, no trajeto do doutorado, não esquecerei o diálogo construído, as sugestões e as críticas de fundamental importância para meu crescimento intelectual. Com vocês, aprendi que a humildade pode encorajar muitos desafios no mundo do conhecimento.
À minha amiga e coorientadora Marutschka. Seu apoio e segurança com a temática do turismo me reorientaram nos momentos mais difíceis no estudo.
Aos amigos e colegas do curso de doutoramento que partilharam desta árdua trajetória.
Não posso esquecer, em hipótese alguma, do apoio incondicional dos familiares. Meu carinho a João, Caroline, Bruno, Rafael e Lívia. O estresse e a falta de paciência... oh...Acreditem, consegui superar.
A meus familiares Vasco, Regina, Rosinha, Edinéia, Aldemir e aos meus pais, pelo estímulo. À minha mãe, Raimunda Macedo (in memoriam).
À Universidade do Estado do Amazonas UEA/CESP, em especial, a seu atual diretor: Davi Xavier.
Ao apoio logístico de Adjalma (IBGE), Argemiro Neto (IBGE), Ana Lúcia, Elaine Conceição e Paulo Roberto.
À FAPEAM e à Universidade de Brasília – UnB, pelo apoio no fomento de recursos na realização desse estudo.
APRESENTAÇÃO
Estudos prospectivos não são uma constante no Brasil. Em um país onde a cultura do planejamento quase que se resume a elaboração e engavetamento de planos, o estudo do futuro não poderia ser algo pertencente à sua cultura. Como mal se planejam os primeiros passos, um mês ou um ano, não é possível pensar que se planejem os anos que virão, ou mesmo décadas. Há exceções, evidentemente. Um mínimo de planejamento estratégico no campo da energia tem de existir, em particular quanto à demanda, pois os montantes de investimento nesse campo são suficientemente vultosos para se justificar um pequeno esforço de prospecção. Grandes empresas também o fazem, pois a concorrência tornou-se acirrada e o mercado globalizou-se. Mesmo assim, não são todas que o fazem. Assistimos, cotidianamente, a falência de empresas grandes e tradicionais porque não souberam antecipar-se aos riscos e ameaças. Falta de planejamento estratégico – ou planejamento mal feito.
Na órbita da administração pública brasileira o máximo que temos como plano obrigatório é de média temporalidade – 4 anos. É o Plano Plurianual (PPA). Cada governo, no primeiro ano de seu exercício, é obrigado, constitucionalmente, a elaborar um plano para os próximos quatro anos. No entanto, no mais das vezes, trata-se de uma peça de ficção científica.
Os primeiros planos nacionais de maior envergadura surgem ainda no Governo Getúlio Vargas, mas fundamentalmente centradas em obras. No período democrático, com a queda de Vargas, há outras tentativas; a mais famosa de todas é o Plano de Metas, de Juscelino Kubitschek.
Os militares, na Escola Superior de Guerra, foram uma exceção na segunda metade do século XX, na medida em que pensaram o país na longa temporalidade, e chegaram a visualizar suas potencialidades e o papel que poderiam desempenhar no século XXI. Com o golpe militar mantiveram a tradição da corporação e o Brasil conheceu uma sucessão de planos, mais ou menos úteis. O mais importante foi o I PND – Plano Nacional de Desenvolvimento (1970-1974) –, dirigido por João Paulo dos Reis Veloso e Mário Henrique Simonsen. Como nos planos da era Vargas, o centro de interesse eram as obras de infraestrutura, entre elas a Usina de Itaipu e a Transamazônica, pois comunicação, energia e transportes eram considerados os principais gargalos ao desenvolvimento nacional. Em 1974, com a crise do petróleo, foi lançado o II PND, buscando acelerar o ciclo industrial, com grandes endividamentos provindos dos petrodólares. Ainda no final do regime militar, na década de 1980, o planejamento foi relegado para segundo plano. Iniciava-se a década economicamente perdida
, com fim do ciclo de crescimento econômico e descontrole inflacionário.
Fernando Henrique Cardoso, impressionado com a forma como os asiáticos (particularmente a China) definem com antecedência o que querem ser, em que vão investir e qual o papel que vão desempenhar em futuro de 20 a 30 anos, chegou a esboçar um esforço nesse sentido. Gestores foram treinados, cenários foram elaborados, mas não passou disso.
O Governo Lula, por meio do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) chegou a elaborar o Plano Brasil em três tempos, definindo trajetórias até 2022. Também não vingou. Como a maioria dos planos deste país, seu destino foi a gaveta, o esquecimento.
Atualmente há alguns sinais de retomada do planejamento de longa data, com o ressurgimento de interesse pelo longo prazo. Publicam-se livros, oferecem-se cursos, cria-se uma entidade dos estudiosos da prospecção. Enfim, pequenos sinais cuja evolução ainda não é clara.
Durante a segunda metade do século XX o mundo assistiu a uma mudança significativa na forma de planejamento, sobretudo no longo prazo. As projeções foram substituídas pelo estudo de cenários. Em grande parte isso se devia à velocidade que as transformações sociais assumiram no último quartel do século passado, assim como a instabilidade dos sistemas. O primeiro sinal mais evidente das mudanças ocorreu com a primeira crise do petróleo, em 1974, e o segundo na década seguinte, com a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Ninguém foi capaz de prever nem um nem outro acontecimento. O exercício da prospecção estava prisioneiro da ideia de que o futuro era uma simples continuidade do presente. E não é verdade. O mundo mudou radicalmente, caiu a cortina de ferro, encerrou-se o período da guerra fria. A dualidade e disputa do poder mundial entre duas potências foi substituída pelo império americano.
A velocidade e a imprevisibilidade das mudanças, porém, não se restringiram a esses dois eventos. Mudanças tecnológicas nas áreas da computação e da tecnologia da informação, com o desenvolvimento e disseminação do computador e, em seguida, da internet, tornaram o mundo plano
. Criaram novas formas de produção e disseminação do conhecimento, impactaram o estilo de vida das pessoas no mundo inteiro. Por outro lado, a China despertou e começou, desde os anos 1980, a ingressar no mercado internacional, tornando-se, praticamente, a segunda potência mundial. O mundo hoje é menor e mais diversificado. Aprendemos que o futuro não é apenas continuidade do presente, mas que este é grávido de muitos futuros.
Com a nova situação criada, estudos prospectivos e a construção de cenários desenvolveram-se tecnicamente e disseminaram-se entre empresas e governos. Afinal, consistia na resposta a uma demanda comum aos homens, que sempre se perguntaram sobre o futuro, essa moradia privilegiada da incerteza que, com a velocidade das mudanças, tornou-se ainda mais incerto.
O que fizemos aqui foi focar a metodologia de cenário em uma atividade econômica considerada das mais limpas e, por esse aspecto, perfeitamente adequada a um futuro sem destruição da natureza, que a Amazônia merece e nós, seres humanos e brasileiros, necessitamos.
A parte metodológica não consta do livro. Ela foi inspirada em Godet e consistiu, basicamente, em percorrer os passos por ele recomendados em seus trabalhos, que ganharam fama internacional. Primeiramente, identificar as variáveis mais importantes do sistema a ser cenarizado – o ecoturismo no estado do Amazonas. Em seguida, discernir dentre essas variáveis aquelas portadoras de maior capacidade de impacto e alto grau de incerteza, normalmente denominadas de Incertezas Críticas (IC). Elas constituem a matéria prima da construção dos cenários, pois são elas que farão a diferença. Variáveis como envelhecimento da população estarão presentes, com pouca oscilação em qualquer cenário. Contudo, as políticas públicas adequadas ou os efeitos das mudanças climáticas têm forte impacto sobre a trajetória do ecoturismo, mas não se tem certeza de como elas se portarão. Que políticas serão implementadas? Que efeitos terão sobre o ecoturismo as mudanças climáticas? Não se sabe, e elas serão importantes, juntamente com a demanda e as tecnologias apropriadas, inclusive de transporte, para o futuro do ecoturismo.
Com as incertezas críticas definidas foi possível aplicar a matriz de análise morfológica ou matriz de construção de cenários, que consiste na combinação dos seus estados prováveis. Os resultados dessas combinações formam o que se denomina normalmente de arcabouço ou arquétipos dos cenários. A base sobre a qual se deve partir para descrever os cenários futuros percorrendo todas as dimensões previamente definidas: demografia, geopolítica, economia, tecnologia e cultura, entre outras dimensões.
A construção dos cenários naturalmente utilizou dados e projeções existentes, como as demográficas, mas a base primordial foi a visão e interesse dos principais atores em jogo – os empresários, os governos, as comunidades e os turistas. Uma oficina de construção de cenário foi realizada e dela nasceram os três cenários que o livro expõe: otimistas racionais, o canto do uirapuru e ajuricaba. No primeiro, predomina a articulação de poucas ações favoráveis ao desenvolvimento do ecoturismo, que constitui um cenário tendencial, com as principais variáveis comportando-se da mesma maneira ao longo da trajetória; no segundo, o belo canto do uirapuru sinaliza a busca de objetivos ambiciosos e o aproveitamento das oportunidades presentes no contexto externo; no último cenário, variáveis combinam-se para entravar o desenvolvimento do ecoturismo na região.
O último passo consistiu em refletir sobre as oportunidades e obstáculos que se apresentam para o desenvolvimento dos cenários e o que deveria ser feito para se apropriar das oportunidades e vencer os obstáculos. Afinal, os cenários são feitos para serem utilizados, e não apenas admirados.
Em si os cenários não servem para grandes coisas, mas como instrumentos de trabalho podem ser muito úteis para identificar riscos