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Rosas Fétidas
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E-book167 páginas2 horas

Rosas Fétidas

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Sobre este e-book

Mais uma história de amor intenso. Devastador. Visceral. Apesar de normalmente procurarmos romances com finais felizes – certamente para que a esperança de encontrarmos o nosso grande amor continue viva –, este não é um deles. É um amor real, cheio de influências do externo e interno. É finito. E, ainda assim, infinito. Esta é a história de um amor de verão que não conseguiu ver a primeira folha de outono cair, mas que deixou cicatrizes para uma vida inteira. Um amor que sangrou em cartas escritas ao longo de uma década, um passeio por um amplo roseiral de emoções, repleto de beleza e espinhos. Rosas que completaram seu ciclo, mas que não foram abandonadas ao atingir seu estado pútrido.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de jul. de 2023
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    Pré-visualização do livro

    Rosas Fétidas - Gabriel Azevedo

    O amor nasce entre pessoas e perpetua-se entre os que são iguais. São os pontos em comum que atraem os indivíduos, criam entre eles similaridades de gostos, vontades, desejos... Apenas um conjunto de condições pode separar pessoas e destruir amores: as diferenças individuais, nascidas da parte negra de cada personalidade. Esta breve história de amor aconteceu entre pessoas assim: identificadas por suas similaridades.

    Ambos muito jovens, dezoito e vinte anos; ambos bonitos, ambos educados, ambos portadores do que a sociedade costuma classificar de sex appeal. Ambos oriundos de famílias que se refizeram após separações traumáticas; ambos filhos de mães adoráveis e adoradas, de pais ausentes, de padrastos que se elevaram à categoria de pais.

    Similaridade também de gosto musical, culinário, estético... As pequenas diferenças nesses elementos compensadas pela maior de todas as similaridades: a atração mútua. Uma atração tão intensa, tão completa, tão total, que venceu a discrição e a conveniência, somou gestos e abriu espaços nunca dantes visitados. No entanto, não foi o bastante para destruir as inseguranças que ameaçavam esse amor que nascia. E as fragilidades eram muito extensas para suportar tão avassaladora força, tão inebriantes sensações.

    O primeiro, inseguro de si mesmo, temendo não ser bastante, temendo a concorrência imaginária, usou da única arma que sabia para defender-se: o engodo, a máscara, as ameaças vazias. Deixou de ganhar a amplitude de um universo que se abre ao amor; deixou de ter as maiores asas – que jamais terá – para voar para a amplidão. Perdeu de conhecer mais, de experienciar mais, de compreender o que é ser amado por si mesmo. Permitiu que a insegurança e velhos hábitos perniciosos estragassem um amor tão promissor. Além disso, a plateia de amigos, nem todos sinceros, fazia coro às iniciativas desastrosas, num apanágio cruel do aplauso. Uma perda considerável, a julgar pelo efeito devastador. Por anos, o sofrimento era um horror diuturno, soterrando qualquer tentativa de felicidade.

    O segundo, habituado a defender-se e a ganhar estas pequenas batalhas, desistiu de lutar pelo amor e o retaliou da forma mais brutal: traiu. Buscou o oposto, a antítese, para ofender, para ferir, para mostrar poder – e conseguiu. Mas, também perdeu. Perdeu de conhecer um amor de inigualável grandeza, um amor tão puro e tão intenso, tão cheio de esperanças e glórias que brilharia no espaço, independente, estrela nova; nova constelação, talvez. Perdeu de experimentar a glória de amar para sempre, sem necessidade de busca, sem necessidade de aventurar-se pelas ruas lamacentas à procura de uma nova emoção. Decisões desastrosas tomadas sob o eco de uma sibilação: mais pessoas o desejam, mais pessoas o querem, por que não? ... por que não?.

    Depois desse amor tão grande, tão raro e tão intenso, só lhe resta a vulgaridade desses amores de ocasião, a maior parte arranjada por quem lhe inveja o poder de sedução. E o pior: ele ainda disso não se dá conta, ainda não é capaz de perceber a diferença.

     - A Bruxa

    Da simplicidade

    4 de junho de 2010

    Minha intenção aqui é somente relembrar alguns momentos de quando amei de verdade. Certamente você não sabe, mas foi o único que amei de verdade. Sozinho ou com qualquer outro, desde que nos separamos, minha vida sentimental é uma grande lacuna, um abismo cujo fundo é palco para monstros e demônios famintos.

    Nossos dias eram comuns, é verdade, mas preenchidos de amor. Não existiam grandes surpresas e elas eram desnecessárias, já que aquele sentimento imenso que nos unia dispensava subterfúgios. Meus dias com você eram como fins de tarde na praia: réstias de um sol suave recolhendo-se silenciosa e despretensiosamente para o descanso.

    Lembro-me de um dia específico que fomos à orla pela noite e você estava lindo, vestido em uma blusa verde, calça jeans e tênis branco; os cachos castanho-avermelhados caindo por sobre a testa, os olhos verdes de um brilho estonteante e a pele branca, muito clara, com a luz dos postes. Passamos horas caminhando e conversando sobre a vida. Em um determinado momento, fomos à barraquinha de tapioca e, apesar da minha disfunção alimentar da época, comemos, rindo, brincando, saboreando tudo com a sensibilidade aguçada. Saboreando a comida, saboreando o momento.

    Depois que terminamos, descemos para areia e, frente àquele mar de ondas calmas, sentamo-nos um ao lado do outro, juntos, bem colados. E conversamos mais. Naquele dia, todos os assuntos eram pertinentes: falamos de amores do passado, de viagens que já havíamos feito e queríamos fazer, das nossas famílias, de bandas em comum... Eu amava conversar com você, ouvir sua voz aveludada, seu sotaque carregado. Se eu pudesse, meus pensamentos teriam sua voz.

    Num momento singular, mesmo correndo o risco de sermos vistos, olhamo-nos profundamente e o beijo foi inevitável. Enquanto nossas línguas se encontravam, encontravam-se também nossos corações, transbordando com aquela sensação que parecia se renovar a cada segundo. Ficamos ali mais um tempo, você com a cabeça encostada no meu ombro, eu te envolvendo com braços arrepiados. O silêncio entre nós era agradável. Bastava sentir a brisa quente da noite de verão e observar as ondas lavarem as areias da praia.

    Depois de algum tempo, nossos olhos se encontraram novamente e sabíamos o que queríamos. Saímos da praia e fomos para seu apartamento ali perto. Subimos e não foi necessária mais nenhuma palavra. Beijamo-nos vorazmente e, passo a passo, fomos nos descobrindo mais uma vez. Sempre que fazíamos amor nos redescobríamos. E eram sempre momentos mágicos, de êxtase ímpar. Depois do habitual ápice, deitamo-nos abraçados, em silêncio, sentindo o suor de nossos corpos juntando-se e virando um só. Uma só pele, um só corpo – um só amor.

    Primeiro-primeiro Encontro

    12 de agosto de 2010

    Hoje, dia doze de agosto de 2010, mais de dois anos depois do término do nosso namoro, eu te encontrei no shopping. Um turbilhão de sentimentos ainda não descreve tudo o que aflorou aqui dentro. Assim que meus olhos pousaram na imensidão verde dos seus, relembrei praticamente toda a nossa história em segundos, mas, com toda a força de um tsunami, fui atingido por uma memória específica: o primeiro encontro depois da rave.

    Eu estava muito ansioso, conversando com uma grande amiga pela internet sobre você; sobre o quanto você era lindo, sobre o quanto eu já achava que ia me apaixonar e sobre o momento fantástico que tivemos ao nos conhecermos na rave. Você demorou o que pareceu uma eternidade para chegar à minha casa e eu já estava à flor da pele de tanta ansiedade. Quando chegou, chegou dizendo que era uma pessoa elegantemente atrasada e isso já me conquistou no ato. Não pela frase em si, mas pelo jeito como ela foi falada, seguida de um sorriso de canto de boca, maroto, cheio de intenções. Naquele dia não tinha ninguém em casa e estávamos sozinhos para fazer o que quiséssemos.

    Nós subimos para meu quarto e começamos uma das muitas rodadas de conversa que teríamos naquela noite. Algo muito presente em nosso relacionamento era essa troca. Nunca cansativa – para mim, essa disposição para falar sobre tudo nunca foi cansativa. Naquele primeiro encontro real, descobrimos logo inúmeros pontos em comum e tudo era uma surpresa incrível. A cada eu também!, não acredito!, sério que você também gosta? meu coração se incendiava.

    Claro que nós dois já esperávamos pelo que a noite prometia e, depois de tantos deliciosos assuntos, fizemos amor. Não concretizamos o ato, por assim dizer, mas nos encontramos em nossos corpos pela primeira vez, sem pressa, de maneira veemente e tudo era de um prazer imensurável. Pela primeira vez, pude ver detalhes de seu corpo, provar de você e me deixar levar por aquela ardência que até hoje aqui reside.

    Ao terminarmos, você se deitou no meu peito ainda sem roupas, suado, e começamos mais uma rodada de conversas. Lembro-me muito de quando você falou que um sonho seu era viajar com um namorado. Simplesmente pegar o carro e sair sem rumo para algum lugar longe, de praia, se possível; só você e o namorado. Embora este não fosse um sonho meu, eu sempre quis estar em algum lugar distante com meu namorado, só nós dois, compartilhando cumplicidades e intimidades. No momento em que você falou, compartilhei do sonho. Fomos interrompidos por uma buzina do lado de fora, era sua mãe.

    Naquela época, o quarto estava sem ar-condicionado, mas o buraco na parede onde ele deveria ficar estava aberto e era ao lado da cama. Óbvio que do lado de fora não dava para ver nada, até porque as luzes estavam apagadas e meu quarto era no primeiro andar da casa, mas você ficou morrendo de medo que sua mãe tivesse reparado que estávamos juntos, deitados na cama. Eu logo te acalmei dizendo que não era nem remotamente possível e tudo mais eram gargalhadas.

    Você foi embora e eu voltei para o meu quarto. Deitei-me na cama ainda extasiado, revivendo aquela noite inteira na minha cabeça, sorrindo à toa, fazendo milhões de planos. Em algum momento, lembrei do sonho que você tinha compartilhado e me senti completo. Ali, nascia a paixão ardente por você, meu futuro namorado.

    L’étranger

    26 de agosto de 2010

    A vivacidade das memórias tem sido assustadora nestes últimos dias. Talvez a decepção de ver quem meu atual namorado realmente é tenha chocado com o fato de você ter sido tão incrível enquanto estivemos juntos. Ele é uma pessoa ruim e eu me sinto preso nesse relacionamento. Sinto como se ele estivesse sugando todas as minhas forças, como se nada do que eu fizesse fosse suficiente, mas pelo menos ele diz que me ama. Se não pode ser você, que seja qualquer um.

    Hoje eu estava revivendo aquele dia que você foi me buscar perto da casa da minha avó só para que pudéssemos nos ver e matar tempo juntos. O mais interessante é isso, sabe? A gente nunca precisava planejar muito porque fazer qualquer coisa juntos já era mais que suficiente. Tudo era sempre tão natural que eu nem tinha espaço para criar muitas expectativas, eu sempre tinha tudo com você. Bastava te ver e eu estava completo.

    Antes de continuar escrevendo sobre esse dia, no entanto, preciso esclarecer quem é esse tal de L’étranger, que dá nome a este capítulo, e a razão pela qual eu precisava tanto recuperá-lo naquela época. Seu nome, aqui, foi adaptado. Você deve lembrar que o nome que eu usava vem de uma vilã de uma saga literária famosa da qual eu era fã quando o adotei. O que uso aqui, porém, faz sentido, uma vez que, em tradução livre, significa algo como o estrangeiro.

    Essa máscara que eu usava trazia consigo uma personalidade marcante que pretendia ser absolutamente forte. Afastava-se do contato humano buscando demonstrar que não dava muito valor a carinhos e afetos

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