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Viagem pelo Ventre Humano: Pelo de Urso
Viagem pelo Ventre Humano: Pelo de Urso
Viagem pelo Ventre Humano: Pelo de Urso
E-book218 páginas2 horas

Viagem pelo Ventre Humano: Pelo de Urso

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Sobre este e-book

Às vezes, na busca por um título, uma luta silenciosa e oportuna entre a bússola e o sonho ... A bússola indica o norte da jornada a ser realizada enquanto o sonho se empenha em colocar paus (salutares) no rodas. Claro que para o bem maior da descoberta, o inesperado e alguma revelação ...
 
Nosso herói, embora bastante comum, experimentou essa jornada iniciática. Ele tomou o caminho de crianças em idade escolar, em busca de algum tipo de guru quimérico, e então ele fez vários encontros, alguns mais ricos que outros.
 
Mas sua jornada tem esse particular que não acontece na lua, em uma ilha misteriosa, em um balão flutuando à mercê do mundo ou mesmo no centro da terra ... Não! Esta viagem terá lugar no estômago humano, o estômago humano que afirmam conhecer tão bem, mas ainda tão estranho para nós mesmos, lugar paradoxal onde os seres discretos espreitam para operar as polias de nossos disfarces ontológicas ....
 

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento4 de dez. de 2019
ISBN9781393041221
Viagem pelo Ventre Humano: Pelo de Urso

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    Viagem pelo Ventre Humano - Patrick LOISEAU

    Viagem pelo ventre humano

    Conto filosófico de

    Patrick Michel LOISEAU

    ©Copyright Patrick Loiseau – La maison du lérot (2018)

    Traduction portugaise: Aline Sasson

    Existe às vezes, na busca de uma capa, uma luta silenciosa e oportuna entre a bússola e o sonho... a bússola indica o norte da jornada a ser realizada enquanto o sonho se esforça para colocar paus (saudáveis) nas rodas... Claro que para o bem maior da descoberta, o inesperado e alguma revelação...

    Nosso herói, embora bastante comum, experimentou essa jornada iniciática. Ele tomou o caminho de crianças em idade escolar, em busca de uma espécie de guru quimérico, e então fez vários encontros, alguns mais ricos que outros.

    Mas sua viagem tem esse particular de que não acontece na lua, numa ilha misteriosa, num balão à deriva à mercê do mundo ou mesmo no centro da terra... Não! Esta viagem acontecerá dentro do ventre humano, este ventre humano que pensamos conhecer tão bem, mas que permanece estranho a nós mesmos, local  paradoxal onde seres discretos se escondem para fazer funcionar as polias dos nossos disfarces ontológicos ...

    Patrick Loiseau

    Aviso

    Nascido de um flash, uma iluminação súbita, uma fração indolente do tempo ou um impulso irresistível de sobrevivência, esta história poderia ter sido irremediavelmente afogada pela fração seguinte do tempo, condenada pela urgência ou necessidade. Mas as histórias são chamas que nunca se apagam realmente ... Começou em 1990 com um súbito desejo de mergulhar minha caneta em um tempo mais infinito, esse conto dormiu aqui e ali, para acordar de tempos em tempos e então acabar... 28 anos depois, em 2018. Isto quer dizer um ciclo de Saturno.

    Sem dúvida Júpiter, talvez em Mercúrio ou na casa III, estava também escondido para me dar uma mão. Só para fazer da minha caneta algo mais que um equipamento para coçar a orelha.

    Em algum outro lugar 16.01.90

    PARTE 1 – O ventre humano

    ––––––––

    Pelo de Urso

    Pelo de Urso era um velho tresloucado, cheio de loucura e escárnio. Diz-se que ele passeava com ele, em todos os momentos, um saco cheio de chaves que não se sabe para que poderiam servir. Diz-se que algumas dessas chaves eram feitas de metal, outras eram de madeira e que o mistério sempre foi muito bem mantido sobre a utilidade delas. De fato, o que pode ser feito com uma chave de madeira? Todas as hipóteses foram formuladas, mas ninguém as conhece até hoje.

    O que é certo é que Pelo de Urso teve mais de um artifício e mais de uma malícia para levar sua vida. Ele já havia percorrido o campo e a cidade, montanhas e vales, riachos e desertos sem nunca se arrepender de seu caminho. Corre ainda a lenda de que nenhuma lágrima teria escorrido de seus olhos ou enrugado sua testa.

    Talvez seja verdade, mas ninguém nunca verificou. Eu mesmo, que já o encontrei tantas vezes, não posso afirmar ter visto nenhum sinal nesse sentido. Ele estava sempre presente e ausente ao mesmo tempo, conversando comigo como se fosse apenas um reflexo simpático das minhas próprias respostas. Ele sempre conseguia, com o tempo, estar lá quando era necessário, nunca antes, nunca depois. É por isso que ele foi minha resposta.

    Eu o vi desaparecer um dia quando minha boca tinha acabado de se abrir sobre uma importante questão. Eu acabara de lhe pedir um conselho sobre o exato sentido de minha vida; eu queria que ele me explicasse as regras da existência, que me desse uma ferramenta ou instruções de uso. Qualquer coisa para sobreviver.

    Eu estava, sem dúvida, bem mal naquela época e me parecia que ele era o único que poderia me ajudar. Foi infelizmente naquele momento, o único momento que me pareceu importante na minha desde então frágil existência, que ele decidiu desaparecer.

    Sofri muito com seu desaparecimento. Sem dúvida, no início, por que eu estava decepcionado com sua atitude. Ele, que sempre fora uma presença mágica e saudável, e que desparecia no momento mais crítico! Mas, a reflexão e o tempo me ajudaram, foi pouco a pouco a sua ausência que me desorientou e me fez sofrer. Eu acabara de perceber que estava perto dele e que ele era um precioso aliado. Um elo vital e uma fonte inesgotável. Um relé da minha consciência.

    Então, eu parti sozinho e procurei por ele. A grande busca começou.

    Eu refiz os mesmos caminhos que ele, atravessei as mesmas cidades e corri os mesmos perigos. Aconteceu-me segui-lo, precedê-lo, ultrapassá-lo e até mesmo encontrá-lo. Mas eu não o vi. Nem uma vez desde aquela grande partida a que me habituei e que considero, talvez equivocadamente, como a última. 

    Assim fiz e refiz o mapa mundi, redescobrindo a geografia e a história dos povos simplesmente a partir dos passos dele. A África da minha infância tornava-se outra África, quando eu andava sobre as areias onde seus pés já haviam caminhado. Os mares não tinham o mesmo sabor de quando eu o imaginava antes de ele mesmo pegar um barco. De cada lado da minha memória, descobri, atrás dele, o reverso de outra realidade. A cada passo, fiz descobertas sobre descobertas. E então, de uma descoberta para outra, eu caí no doce aprendizado das revelações. Eu descobri o prazer da abertura para o mundo. Graças à sua ausência que, agora, tinha se tornado mais preciosa do que sua presença virtual.

    Como se voltasse a ser criança, eu reaprendi os gestos, as emoções, as interrogações das minhas primeiras experiências. E reaprendi a crescer.

    Eu percorri o mundo, eu lhes disse, à sua procura.  E eu não o encontrei. Pelo menos não o encontrei em carne e osso. Pois ele se tornara, no decorrer das minhas viagens psíquicas e mentais, cada vez mais próximo e cada vez mais presente, até que tive a impressão de que sob cada pêra, atrás de cada folhagem, dentro de cada xícara de café, ou no cerne de minhas interrogações mentais, um pouco dele - sua respiração - constantemente me chama. Ele estava lá, na verdade! Eu havia me identificado com ele ou ele havia me transmitido, sem saber, um método para existir?

    Embora não fosse mais útil continuar a procurá-lo, já que consegui fazê-lo viver sem que ele estivesse presente, meu apego por sua pessoa tornou-se paradoxalmente mais forte, mais exigente. E eu tinha que vê-lo novamente, pelo menos para lhe dizer como minha busca por ele se tornou uma jornada fantástica, começou como uma busca pelo Graal e continuou como uma conquista da taça de ouro. 

    Não tive tanta sorte porque, depois de cinco anos de caminhada, transporte ferroviário, rodoviário, balsa e fretamento, uma dolorosa provação me esperava no topo da montanha mais alta da paisagem mexicana: um velho pastor sem ovelhas. Ele me contou que o velho guru estava morto!

    A notícia de sua morte me surpreendeu de início.

    E depois do choque, tentei descobrir mais. Onde, quando, como, porque? Foi uma avalanche de perguntas que eu coloquei sobre o meu anfitrião da montanha.

    O velho não me respondia de imediato. Ele deixava um silêncio se instalar entre nós, como se quisesse deixar as palavras ressoando em mim, e o eco responder. Eu até acreditei reconhecer nessa atitude o que eu já havia visto com Pelo de Urso.

    E depois, como se minhas perguntas não tivessem importância, ele me respondia: 

    « O homem de muito longe me deixou uma coisa para você.»

    E ele me estendia sua mão, dentro da qual eu imaginava uma chave do velho guru. A chave não era nem de madeira e nem de metal, mas desenhada a partir de folhas mortas que um tratamento especial devia ter solidificado para impedir que se transformasse em pó.

    Eu sentia então uma emoção particular naquele momento, que até hoje não consigo descrever de verdade. Era uma mistura de felicidade e crise intestinal. Aquilo me fazia bem e mal ao mesmo tempo. E meu corpo, mais do que minha cabeça era o primeiro a sentir. Era, de qualquer forma, um presente maravilhoso.

    O velho continuava:

    O homem tinha palavras estranhas que pareciam endereçadas a você.

    Ele raciocinava, como se para juntar pedaços que pudessem estar espalhados em sua cabeça, pegava sua bengala e começava a desenhar no solo um conjunto de traços e curvas.

    «Ele me disse que a curiosidade o levará até ele.... ele me disse exatamente: « ele virá quando eu terminar minha jornada.»

    E em seguida ele fez como eu, ele gravou rotas na areia e acrescentou: «ele precisará ir até o final das doze noites que o separam daqui até a fronteira leste.»

    Perguntas inundaram minha mente neste momento. Parecia-me que eu já estava entrando em um mundo de fadas, um mundo cerebral, onde os valores humanos e as regras sociais não tinham mais validade.

    Que poder detinha Pelo de Urso para que fosse tão capaz de me fazer acreditar de repente que existia outra vida, uma vida feita de tesouros para descobrir ou planetas para explorar?

    Eu estava lá, numa montanha mexicana, para aceitar o delírio de três peculiares, o velho guru, o velho pastor e eu. Desde que eu não era um homem que quisesse se apegar teimosamente a realidades humanas, eu enfrentei os desejos do velho homem. Eu estava pronto para andar, para andar de novo ao ponto que Pelo de Urso me designou. Isto significava ir para o leste; eu iria direto para o leste. Ele me disse que a marcha duraria doze noites; eu andaria à noite até o décimo segundo nascer do sol.

    Os olhos do velho pastor cintilaram quando ele percebeu que eu estava pronto para o desafio. Os anos que passou nas montanhas o fizeram esquecer as apostas de humanos e estranhos passeios que os homens de baixo às vezes pegam emprestado para dar razões para viver. Ele aprendeu aqui tranqüilidade e silêncio, compartilhando com seus animais apenas uma carícia longa, muda e respeitosa.

    Dos jogos humanos, ele conservava apenas uma vaga lembrança, o do olhar que ele tinha sobre os adultos já há meio século. Mas ele já tremia de prazer ao imaginar esse pequeno pedaço de homem que eu representava sair em busca de uma quimera.

    Ele me ajudou a preparar minha viagem, deu-me uma pele de porco para as noites frias e mantimentos uns mais picantes que os outros. Era um truque, ele dizia, para não deixar as idéias tomarem o lugar do estômago.

    Ele me desejou boa sorte e me fez prometer visitá-lo qualquer dia.

    Minha viagem, portanto, começava.

    Os primeiros dias da minha longa marcha foram tão quentes e secos quanto as noites eram glaciais. Cruzei, um a um, os limites que separavam a noite do dia. Atravessei florestas, desertos, aldeias, montanhas e rios e comecei a contar o tempo com meus passos. O contraste entre o dia e a noite gerou pensamentos que tornaram este contraste saboroso. De fato, eu aprendi da noite a distinguir as sombras, a nomeá-las e até a conversar umas com as outras. A noite se tornou um cúmplice absoluto e todo o meu ser mudou ao seu toque. Os dias, em comparação, pareciam desbotados e sem nenhuma mensagem essencial. Eles eram apenas degraus imóveis, degraus modestos para me engolir avidamente à noite que eu esperava impacientemente. Cada crepúsculo anunciava para mim como uma nova porta que eu logo abriria. Minha mente então despertou para sensações, emoções que o dia era incapaz de produzir.

    Eu aprendi primeiro que o preto era uma cor, ao contrário do que dizem as cartilhas escolares. É uma cor porque o preto brilha e a noite nunca é silenciosa.

    Descobri então que a passagem do dia para a noite era uma mudança de tempo e espaço, que os relevos, como sensações e pensamentos, não são nem imóveis nem congelados: eles pertencem, como elas, à sombra ou à luz.

    A própria lua, que ali esculpia a luz fraca de seus brilhos, desapareceu e me permitiu dialogar com outras formas, outras sensações, outros brilhos. Jamais o preto foi tão completo, tanto que acendia em mim as velas mentais.

    Aquele momento foi, sem dúvida, uma experiência a mais a acrescentar à minha existência. Mas eu não tinha, até então, prestado muita atenção à minha maneira de avançar pela vida de compreender os ensinamentos. Minha descoberta do contraste, minha descoberta do dia e da noite ia muito mais longe que uma simples viagem de um ponto a outro. 

    Em um murmúrio, um ligeiro farfalhar, senti os pequenos sopros de vento das palavras que habitam a noite, como uma alma secreta que caminha comigo, soprou-me também uma pista, um mistério para resolver, uma pergunta a fazer, uma resposta a inventa...

    Discretos e invisíveis, esses pequenos ventos jogavam comigo « menos-puco », como diria Anzieu, grudado à noite e à aventura em uma forma de dependência simbiótica para uma total apropriação dos meus passos futuros... Um véu impresso, uma filigrana do futuro...

    E as minhas doze noites passaram assim sem que tivesse realmente contado os quilômetros que me separavam agora do velho pastor. Ele estava longe, e eu o imaginava junto de seus porcos, certamente tocando sua flauta ou degustando uma refeição feita de presunto perfumado e vinho camponês.

    Na madrugada do décimo terceiro dia, eu senti em mim uma profunda fuga tomando conta de mim: eu teria o encontro que me fora prometido por Pelo de Urso.

    O sol nasceu majestosamente, abraçando a grama e pequenas árvores com seus muitos raios. O horizonte parecia calmo, apenas embalado por um pequeno vento que parecia assobiar uma melodia. Esta não era uma visão extraordinária: eu tinha visto muitas vezes belos nasceres do sol e até alguns que já haviam impressionado a minha memória.

    No entanto, havia uma atmosfera particular na paisagem que eu tinha diante dos meus olhos. As cores da folhagem das árvores não eram

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